A última vez do Planet Hemp?

, por Alexandre Matias

Não foi brincadeira o que o Planet Hemp fez em seu show de despedida neste sábado, no estádio do Palmeiras. No mesmo ano em que celebram os 30 anos de seu disco de estreia, o grupo decide pendurar as chuteiras no maior show que fizeram em sua carreira e foi impressionante ver que o estádio lotar para compartilhar a Última Ponta (título do show) com eles. O show começou com vinte minutos de dados históricos que misturavam eventos da história recente do Brasil (da ditadura militar ao plano Collor), eventos ligados à maconha no país e a história do próprio Planet Hemp, que só aumentou a expectativa para o início do show, incendiada pelo grupo com “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Ex-Quadrilha da Fumaça”, “Fazendo a Cabeça” e “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”, pesando a mão desde a introdução. E por mais que estejamos acostumados às presenças de Marcelo D2 e BNegão, vê-los juntos no palco ergue suas personalidades para um outro patamar – estamos vendo super-heróis, personagens de desenho animado e protagonistas históricos bem na nossa frente, com suas personalidades opostas e complementares. Isso aumenta ainda mais quando vemos quem são os músicos que estão ao redor deles – de Daniel Ganjaman nos teclados aos DJs Castro e Zégon, além do fundador Formigão e os jovens Planet Pedrinho e Nobru, é um supergrupo carismático no nível do Parliament/Funkadelic – tornando a noite ainda mais emotiva. Entre rodas gigantescas de pogo, celebração a grandes compadres de sua história (da casa de shows Garage a Chico Science) e densas nuvens de fumaça branca, a apresentação se estendeu por mais tempo que deveria – duas horas e meia de show é tempo pacas, ainda mais depois de mais de uma hora de BaianaSystem – mas veio com uma carga de emoção que até o fã mais enlouquecido da banda não estava preparado. E nem estou falando das participações de João Gordo (no bis), Seu Jorge (que tirou onda ao tocar flauta na instrumental “Biruta”), Emicida e Pitty (estes dois últimos vislumbrando eles mesmos fazer seus próprios shows em estádio), mas da presença-surpresa do próprio Mister Niterói, Gustavo Black Alien, que vem passando por uma má fase e por isso não esteve na turnê final do grupo. O anúncio da presença de Gustavo só não foi o melhor momento da noite porque logo em seguida o próprio começou a rimar, reforçando ainda mais o aspecto mitológico, uma vez que três dos principais MCs do Brasil estavam juntos no mesmo palco depois de tanto tempo. A vibração do sábado terminou tão alta que acho pouco provável que este seja mesmo o último show do grupo. Devem tirar um tempo pra descansar mas mostrando, nesse sábado, que o Brasil tem seu Rage Against the Machine pronto para entrar na briga. É só chamar.

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