Supergrass clássico

, por Alexandre Matias

O Supergrass coroou um incrível mês de agosto com um show que será lembrado como o mais perto de uma apresentação de rock clássico que muitos dos presentes irão ver. Por mais que a tônica do grupo enfatizasse os elementos divertidos de seu primeiro disco, que comemorava aniversário e segurava mais da metade do repertório da noite, era evidente a devoção do quarteto à geração de ouro do pop britânico, ecoando Beatles, Kinks, Who, Stones e T. Rex, com acenos para diferentes concentrações de rock direto e fugaz encontradas em momentos específicos das carreiras de outros de seus conterrâneos, como David Bowie, Queen, Led Zeppelin, Clash, Black Sabbath, Cure, Roxy Music, Pink Floyd, Jam, Deep Purple e Smiths. Uma aula de rock mas sem a fleuma acadêmica (ou setentista), justamente por basear-se na cama elástica que é a vibe de I Should Coco. Escrevi sobre o show em mais uma colaboração para o Toca UOL.

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Supergrass revive fase clássica e celebra os anos de ouro do britpop em SP

Enquanto os irmãos Gallagher não dão o ar de sua graça no Brasil, coube a outro grupo com formação fraternal voltar aos bons tempos do britpop em São Paulo neste domingo (31), numa apresentação espetacular – e com muito mais carisma e energia que qualquer aparição do Oasis.

Embora o grupo já tenha entrado nos 50 anos (o baterista Danny Goffey tem 51 anos, o baixista Mick Quinn irá fazer 56 no fim do ano e o guitarrista e vocalista Gaz Coombes, caçula dos três, chega aos 50 só no ano que vem), exibiu vigor e energia desconcertantes, abalroando o público que lotou o Terra SP, na zona sul de São Paulo, para cantar parabéns aos 30 anos de seu primeiro álbum, “I Should Coco” (1995).

Mas a fraternidade Supergrass vai além da química natural do trio central e, como os Gallagher, conta com elementos consanguíneos na formação, primeiro com a presença do irmão mais velho de Gaz na banda.

O tecladista Rob toca com o grupo desde o início da carreira, mas só foi efetivado como quarto integrante da banda a partir do quarto álbum, “Life on Other Planets” (2002) e estava lá no palco mais uma vez revivendo clássicos do grupo. O irmão mais novo dos Coombes, o guitarrista Charly, que mora no Brasil desde 2010, também esteve presente na festa de domingo e participou de uma das músicas com os velhos compadres.

Embora dedicado integralmente ao primeiro disco da banda, o show não ficou preso apenas ao mágico 1995 (ano que também assistiu ao lançamento dos outros dois discos clássicos do britpop: o inatingível “Different Class” do Pulp e o impecável primeiro disco homônimo da banda Elastica).

O grupo usou como desculpa a próxima efeméride: os 20 anos de lançamento de seu quinto disco, “Road to Rouen”, que abriu uma nova camada musical na carreira (e que será relançado em versão deluxe no mês que vem).

Entre o primeiro e o quinto, aproveitaram para visitar os discos intermediários (“In It for the Money”, de 1997, o disco homônimo de 1999 e o disco de 2002 que marcou a entrada de Rob na banda), transformando a apresentação em celebração da fase clássica da banda.

Diferente do que fizeram em Buenos Aires na sexta-feira (29), o grupo não seguiu a ordem do primeiro disco à risca e preferiu entrelaçá-lo com hits de outros anos, embora tenha aberto a noite como sempre fazem nos shows desta turnê, enfileirando as três primeiras músicas do disco clássico – “I’d Like to Know”, ‘Caught by the Fuzz” e “Mansize Rooster” – em sequência, já atordoando o público sem que este pudesse tomar fôlego.

O grupo não acreditava. Era nítida a empolgação dos quatro no palco, desde o sorriso estatelado no rosto de Gaz enquanto cantava, quanto quando agradecia à recepção brasileira e lamentava não ter voltado há mais tempo. A última vez que estiveram no Brasil foi há 19 anos e antes disso há 29, quando ainda moleques, apresentaram aquele mesmo “I Should Coco” num festival que ainda teve – apenas – Pato Fu, White Zombie, Smashing Pumpkins e Cure. Ah, os anos 90…

Costurando músicas, eles passearam pelas 13 faixas do disco de estreia – cuja capa estampava o telão por quase toda apresentação -, tocaram três do segundo (“Late in the Day”, a quarta música do show, o petardo “Richard III” e inacreditável “Sun Hits the Sky”, que abriu o bis), três do terceiro (a contagiante “Mary”, a épica “Moving” e “Pumping on Your Stereo”, que fechou o show), uma do quarto (“Grace”) e uma do quinto (“St. Petersburg”).

Foi bonito vê-los empolgados no palco e empolgando o público na mesma medida, mas deu pra ver o quanto a idade pesa na banda, quando eles reduziram a velocidade na última música do show (antecipada pelo público, cantando o refrão antes de “Pumping on Your Stereo” começar) d no maior hit da banda, a imortal “Alright”. “We are young” (“somos jovens”), canta o primeiro verso da música, carregando uma ironia involuntária, embora o grupo mantenha a juventude espiritual o show inteiro.

Ao tocar o disco de estreia na íntegra, o grupo ainda pode fazer algumas brincadeiras no palco, ao esticar vinhetas como “We’re Not Supposed To” e “Time to Go” com mudanças na formação, com o baterista assumindo o baixo nas duas canções, e tocar uma música que nunca haviam tocado por aqui, a longa “Sofa (of My Lethargy)”, justamente quando convidaram o caçula dos Coombes para tocar violão – com Mick assumindo a guitarra solo e Gaz pegando o baixo.

E por mais que boa parte do público era composto por quarentões e cinquentões contemporâneos dos integrantes da banda (todos sorrindo como se estivessem sendo salvos por Peter Pan), havia uma parcela considerável de jovens no meio da pequena multidão.

Trunfo do selo Balaclava, que trouxe o grupo para o Brasil, e o apresentou para uma geração de ouvintes. Noite maravilhosa.

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