Pop brasileiro ímpar

, por Alexandre Matias

Ao completar três décadas em atividade, o Pato Fu talvez seja o exemplo mais improvável do que é o pop brasileiro. Sem ancorar-se em cânones já estabelecidos, o grupo mineiro traça sua própria linhagem ao enfileirar canções que fogem daquilo que se espera quando falamos do mercado de música para as massas no país ao mesmo tempo em que cria uma sonoridade única, que bebe de diferentes fontes musicais sem parecer derivado deste ou daquele gênero musical ou linha genealógica. Em mais uma bateria de shows celebrando seus três fins de semana abrindo a programação musical do ano do Sesc Pinheiros, o grupo formado por Fernanda Takai, John Ulhoa e Ricardo Koctus lotou três datas no teatro Paulo Autran e enfileirou quase duas horas de hits que, em sua maioria, são tão reconhecíveis e radiofônicos (seja lá o que isso queira dizer hoje em dia) quanto experimentais e ímpares. Amparados pelo baterista Alexandre Tamietti e pelo tecladista Richard Neves, o trio recapitulou o próprio cancioneiro lembrando também de sua história audiovisual, usando um telão para lembrar dos clipes que filmaram em sua trajetória, sincronizando a imagem dos vídeos às canções que estavam sendo tocadas na hora, ao mesmo tempo em que no palco estão em ponto de bala, afiadíssimos tanto no ponto de vista instrumental quanto nas piadas infames trocadas entre os três, exercitando dois pontos específicos da cultura belorizontina (a excelência instrumental e o humor que se finge de bobo). O show foi maravilhoso e desfilou hits inevitáveis (“Sobre o Tempo”, “´Água”, “Antes que Seja Tarde”, “Depois”, “Menti Pra Você”, “Canção Para Você Viver Mais”, “Made in Japan”), versões de sucessos alheios (“Ando Meio Desligado”, “Eu Sei” e “Eu” – esta última com a participação surpresa de BNegão, que saiu da plateia direto para o palco -, canções solitárias na primeira pessoa feitas por artistas tão ímpares quanto o próprio Pato Fu) e clássicos que há tempos o grupo não visitava ao vivo (“Spoc”, “Vida Imbecil”, “Capetão 66.6 FM”, “O Processo de Criação Vai de 10 a 100 Mil”), incluindo uma inacreditável versão ao vivo para a faixa-título do primeiro disco do grupo, Rotomusic de Liquidificapum, que usaram para encerrar a apresentação, exibindo no telão a foto que era a capa da primeira fita demo do grupo (a infame Pato Fu Demo, que guardo até hoje). Um excelente show para começar os trabalhos de 2024. Vida longa ao Pato Fu!

Assista aqui:

Tags: , ,