Ziraldo (1932-2024)

, por Alexandre Matias

Morreu, dormindo na tarde deste sábado, um dos maiores. Ziraldo era mais do que o pai do Menino Maluquinho, best-seller que lançou depois de sua fase áurea como cartunista e quadrinista e selou sua reputação como um dos maiores nomes do traço no Brasil, mas foi um dos principais artistas da contracultura brasileira e incansável defensor das causas sociais. Além de fundador e diretor do Pasquim, jornal de oposição à ditadura militar em plenos anos 70 (o que o levou à prisão por três vezes), o mineiro também foi autor da primeira história em quadrinhos feita por um único autor no Brasil, a eterna Turma do Pererê, lançada em 1960, que foi proibida de circular com o golpe de 64, devido à reputação de seu autor, declaradamente comunista. Seu traço personalíssimo e sua assinatura emblemática eram a tradução gráfica de uma personalidade intensa e implacável, de gênio esquentado e frases fortes, que moldou parte da personalidade brasileira em seus cartuns, nas histórias de seus personagens como a Supermãe, o Mineirinho e Jeremias O Bom e livros infantis imortais como Flicts, O Planeta Lilás, O Bichinho da Maçã, O Menino Marrom, A Fábula das Três Cores, além do já citado Maluquinho, que deu origem a outros livros, filmes e séries, sendo um dos livros brasileiros de maior número de reedições na história. Também é autor dos cartazes clássicos de dois filmes de Ruy Guerra, Os Cafajestes e Os Fuzis, e fez mascotes para os principais times de futebol brasileiros, além de ter incentivado a busca pela identidade nacional brasileira quando foi diretor da Funarte, nos anos 80 (fazendo-o ser rotulado como defensor da “cultura da broa de milho”). Sua influência mexeu até em nosso idioma ao livrar palavrões proibidos pela censura militar, mesmo como interjeições, em expressões reduzidas usadas até hoje (“pô” em vez de “porra”, “ih cacilda” em vez de “ih caralho”, “duca” em vez de “do caralho”, “é ford” em vez de “é foda”) e até pariu uma palavra ao reduzir o termo indicação para apenas “dica”. A importância de sua obra para nossa cultura é gigantesca. Só nos resta louvá-lo.

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