A viagem de Wado ao coração da axé music

, por Alexandre Matias

ivete

“Sempre digo que quando faço uma canção, na minha cabeça, eu sou a Ivete”, me explica Wado sobre o título de seu novo disco, uma viagem ao coração da axé music. “No sentido que acho que aquilo pode tocar a todos. Depois, com uma distância, vejo o que às vezes é e o que não é tão pop assim. Quando percebi que estava compondo muitos axés e que aquilo daria um disco veio o clique. Fiquei rindo por dentro sozinho. Sem modéstia, acho o nome genial, ganchudo, engraçado, foi sorte ter chegado nele. O disco é Ivete, mas em nenhum momento isso é jocoso ou cínico, é axé na vera, acreditando nele, um pouco esquisito porque eu sou um pouco esquisito né?” O cantor e compositor catarino-alagoano resolveu dedicar um disco à música de festa baiana, uma conclusão de uma veia que já havia atravessado seu trabalho em outros discos. A primeira música de divulgação é a faixa que abre o disco, “Alabama”, e a capa, acima, ele antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo.

O disco será lançado no dia cinco do próximo mês e o show de lançamento acontece em São Paulo, no Sesc Bom Retiro, dia 8, e ele segue uma tendência recente de tocar o disco novo na íntegra. “O show é balançadasso, juntei todos os axés de todos os discos e tocamos o novo inteiro, tá muito divertido e pra cima”, fazendo referência à banda com quem toca há mais de oito anos: Vitor Peixoto, Rodrigo Peixe, Bruno Rodrigues, Pedro Ivo e Dinho Zampier. Wado despontou na entressafra entre a geração dos anos 90 e atual cena musical do país e ajudou a consolidar uma ponte entre fãs de música pop e a diversidade da música brasileira. Ele comemora antes de listar os nomes que tem acompanhado: “Acho que a galera sem gênero tá botando pra fuder, o Jaloo, o Rico Dassalam, adoro a Alice Caymmi, Curumin, Felipe De Vas, Cícero, Lucas Santtanna, Silva, Magary Lord, Suinga, Totonho e os Cabra, Criolo, Maira Andrade, Cris Braun, Junior Almeida, Mopho, Jeneci… Tanta gente boa né?” Abaixo, outros trechos da entrevista:

wado-2016

Como esse disco se relaciona com seu trabalho anterior? Tem uma ponte com o Atlântico Negro, mas não só…
Esse disco é uma volta a uma coisa que sempre norteou os discos que faço, que é a paixão pela música brasileira, é um disco brasileiraço, ele conversa muito com o Atlântico Negro, mas o axé e ijexá aparecem aqui e ali desde 2002, como por exemplo, na canção “Sotaque” ou em 2007 em “Fortalece Aí” no disco Terceiro Mundo Festivo. É uma coisa que consumo muito: música festiva da Bahia. Acho que o Ivete conversa muito com esses discos mais sacudidos, isso acaba dando uma leveza boa ele fica perto do Samba 808 também.

Você define axé music como um gênero musical?
O Maestro da Letieres Leite diz que o termo axé music é extrativista e que aquilo são ancestralidades do diálogo África/Bahia. Concordo com as ancestralidades, mas vejo com mais otimismo o gênero, acho que tem uma sonoridade que determina ser um gênero sim. Ele sofre um pouco por ser recentíssimo e, ao mesmo tempo, massivo, tem muita coisa maravilhosa ali. Costumamos ir de carro tocar na Bahia, são oito horas de Maceió, e geralmente vamos ouvindo Luis Caldas, Margareth Menezes, Caetano, Moraes, Reflexus, Gerônimo, Magary Lorde, muita coisa massa. O disco novo do Saulo também tem percussoes super inteligentes, foi produzido por um brasileiro que já tocou com Maira Andrade, o Munir Hossn.

Qual a sua relação com a Bahia? Você já morou lá?
Eu queria tanto morar na Bahia mas nunca consegui, vivo indo pra lá. Pra tu ter uma ideia, em Maceió morei na rua Bahia, na Cruz das Almas. Gosto de ficar por lá, pela Bahia, tenho muitos amigos na cidade, é a nossa New Orleans, O Rio é San Francisco, e São Paulo é Nova Iorque, acho um dos lugares mais divertidos do Brasil.

De onde veio o nome Ivete? Você conhece Ivete Sangalo?
Não conheço ela não, tenho amigos que conhecem, como Zeca Baleiro e o Camelo. O disco chama Ivete porque é meu disco de axé, é o Wado sendo a Ivete, a tentativa disso né, esse é o grande barato, tentar ser sabendo que nunca vai chegar lá, vamos chegar em outro lugar talvez, até mais divertido, sou fã dela, adoro o disco Pode Entrar, é um puta som.

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