Viva Ava

, por Alexandre Matias

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Dona de um dos melhores discos desse ano, Ava Rocha volta ao palco da Serralheira nesta terça e quarta, repetindo um dos grandes momentos da música brasileira em 2015 quando ela deixou embasbacada uma plateia que reunia músicos, artistas e cabeças da atual cena paulistana. Acompanhada de uma banda afiadíssima (o sambista noise Marcos Campello, o guitarrista experimental Eduardo Manso, o baixista harmonizador Felipe Zenícola e a bateria precisa de Thomas Harres), Ava domina o palco sem o menor compromisso, dona de uma presença tão expansiva e intensa quanto a personalidade exposta no disco que leva seu nome completo, Ava Patrya Yndia Yracema.

“No palco eu procuro não reproduzir o disco mas aproveitar alguns elementos que compõem a poética sonora, isso tem sido transcriado pelos músicos que estão tocando comigo ao vivo”, me explica a cantora. “Esse é o show que eu tenho feito por agora, de lançamento do disco, experimentando o repertório do disco e o do show que contempla varias outras músicas e experimentações. Também tem um viés performático, então o palco é um espaço onde eu estou experimentando e desenvolvendo também um pensamento cênico.” Além das músicas do disco, ela ainda cantou músicas anteriores como “Oloruzui” e “Canção de Protesto”, o poema musicado “Spring” e versões para clássicos brasileiros como “Iracema” de Adoniran Barbosa e “Canoa Canoa” de Milton Nascimento, todas registradas nos vídeos que fiz, abaixo:

Pergunto a ela sobre como anda esta nova cena carioca que viu nascer seu novo disco e ela disse que é “uma zona cheia de muros, mas há vontade para derrubá-los e serão”, disse com a convicção de quem mistura experimentalismo free com canções que tocariam numa rádio AM do meio do século passado. “Nenhum ambiente cultural pode fluir pleno numa cidade que vive tantas injustiças, dentro desse sitema corroído”, continua, “há, no entanto, muito desejo e um fortalecimento do ambiente por conta da rede das pessoas que integram esse ambiente: artistas, músicos, compositores, produtores, gestores, críticos, público etc. Enfim há muita explosão criativa, muita experimentação, muita coisa linda acontecendo mas tem essa dificuldade, o espaço social totalmente deteriorado. O ambiente é por tanto de resistência e ardor.” O Rio tem características específicas, mas ela também está falando sobre o resto do Brasil.

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