Um papo com Karina Buhr

, por Alexandre Matias

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Conversei com a cantora e compositora pernambucana Karina Buhr sobre o lançamento de seu novo álbum, Desmanche, em uma entrevista feita para a edição de novembro da revista da UBC – que pode ser conferida também no site deles.

Percussão protagonista

Em seu quarto álbum, Desmanche, a cantora e compositora Karina Buhr canta o peso dos tambores e da situação política no Brasil de 2019

Karina Buhr é sucinta quando pergunto quais as principais inspirações para seu quarto álbum, o recém-lançado Desmanche: “Os tambores e o Brasil”. A explicação vem da situação que nosso país vem passando, às trevas dos novos governos, e da velha paixão de Karina pela percussão, colocada em primeiro plano neste seu quarto álbum. “A ideia foi quebrar totalmente com o que vinha fazendo. Mudei completamente a formação da banda e o modo de gravar, foi uma ruptura”, explica.

Desmanche marca a volta da percussão como elemento central em sua composição.
Meu instrumento é o ritmo, todas as músicas que faço partem daí. Nos outros meus três discos solo os tambores foram tirados no momento dos arranjos, embora a ideia rítmica tenha sido mantida. Alguma coisa no espírito que ia pra um lado mais rock fazia isso acontecer naturalmente. Dessa vez resolvi mudar isso e não só manter as percussões nos arranjos finais, como trazer ela de volta comigo pro palco e tirar a bateria. A percussão sempre foi um elemento central nas minhas composições, mesmo não quando não estão aparentes.

Desmanche é um disco político em vários níveis, não apenas no sentido de um disco de protesto.
Sim, na poesia dele tem a violência do estado racista, o descaso com a moradia da população e o respeito ao chão embaixo dos pés. Em “A Casa Caiu” falo de movimentos por moradia e também do crime de Brumadinho, “Sangue Frio” fala da violência do Estado, “Temperos Destruidores” é sobre as das guerras do mundo “por tempero e deuses”, “Lama” fala da realidade de uma cidade, Recife, de festa e violência. Mas também tem um lado manso, que acho que é o ponto de sobrevivência, um banho num rio de uma outra dimensão, coração transposto e não um leito de rio, “Vida Boa é a do Atrasado” é leve, uma brincadeira, “Chão de Estrelas” fala de festa, tem um mistura de tensão e calma.

Qual o papel da cultura e da música especificamente para enfrentar o desmanche cultural que os atuais governos estão implementando no Brasil?
Acho que a música, qualquer tipo de arte tem o poder de levar a gente pra dentro, de tirar da realidade e ao mesmo tempo de dar forças pra enfrentá-la e também instigar as pessoas pra troca de ideia e pra ação. No momento em que pessoas estão juntas num show, falam sobre letras e músicas e filmes uma potência enorme é gerada e mudanças significativas acontecem. Por mais que isso por si só não resolva nada, mexe como mentes, com ideias, move as coisas. É difícil falar sobre isso no Brasil porque vivemos um apartheid e a música não tem como ficar fora desse contexto. Tem música que é considerada melhor, tem passinho e funk criminalizados, Rennan da Penha preso por fazer girar cultura, diversão e dinheiro na favela. É assunto que não cabe numa resposta de entrevista.

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