This Place is Death trouxe muitas respostas, quase todas pela metade: a doença que matou a equipe de Rosseau, como John deixa a ilha, quem é a mãe de Faraday, a história de Charlotte e mais um player dando as caras no Jogo por trás da história. E no preview do próximo episódio apareceu o pêndulo de Foucault!
E a temporada vai chegando à metade ao mesmo tempo em que a série muda de rumo…
Nota: 7,5.
Putz, não escrevi nada sobre o Little Prince e hoje já é dia do This Place is Death… E olha o nível do episódio…
“Mais j’te l’ai dit, on aurait jamais dû suivre ces maudits chiffres!”
Chegou a hora de quem não assistiu o episódio de quarta passada de Lost, The Little Prince, tirar os olhos desse naco de texto se não quiser ouvir falar de coisas que estão rolando em plena série. Sabe como é, ainda mais com todo esse vai e volta no tempo que tem determinado o ritmo desta nova temporada, saber de qualquer detalhe antes da hora pode comprometer o sabor da mistura de Além da Imaginação com realismo fantástico de novela do Dias Gomes que fazem do seriado tão popular no mundo inteiro. Então zarpa, porque a quinta temporada, em especial, não está fácil.
É nítido como os produtores estão aos poucos nos fazendo acostumar às transições de tempo, nos obrigando a fazer alongamentos nos músculos do cérebro antes de uma possível maratona. O ritmo está aos poucos sendo assimilado e, com ele, alguns pontos de interrogação vão se transformando em exclamações, reticências ou travessões – nunca em pontos finais. A quantidade de dicas e possíveis respostas que Lost já nos sugeriu em 2009 consegue dar à série uma certa normalidade paranóica – afinal, para cada velha pergunta aparentemente respondida, surgem outras tantas, de naturezas cada vez mais diferentes.
Será que dá pra recapitularmos o que já aprendemos até aqui? Dá pra tentar: são tantas dicas e detalhes – e tudo muito esparso, dúbio, incerto – que é inevitável esquecer algumas das pequenas revelações que nos foram feitas este ano. Mas se contarmos da aparição da jovem Danielle Rosseau para trás, a lista de certezas da quinta temporada só aumenta: Daniel Faraday sabe muito mais do que imaginamos e é financiado por Charles Widmore; este por sua vez era um Outro na ilha durante os anos 50 e conviveu com Richard Alpert e uma certa Ellie que pode ser Ms. Hawing, a velhinha que apareceu para o Desmond dizendo que ele tinha que cumprir o próprio destino – e que hoje trabalha com Ben para fazer os Oceanic Six voltarem para a ilha (e que pode ser a mãe de Faraday). Jin ainda está vivo e provavelmente pulando no tempo inconsciente junto com Locke, Sawyer e companhia. Desmond e Penny são pais de um bebê chamado Charlie, os Outros se comunicam em latim entre si; Richard Alpert é muito – muito – velho; Locke parou de andar na primeira temporada porque foi atingido por uma bala na perna naquela mesma realidade, só que num episódio deste ano; os murmúrios na selva podem ser conflitos de realidades temporais, quando a mesma pessoa habita a mesma época graças às viagens no tempo. Esse também é o destino da ilha, que não desapareceu apenas de um lugar, mas de uma época e agora está indo e voltando entre diferentes anos de forma aparentemente aleatória – e estas mudanças de tempo são sentidas de forma brusca (desmaio e sangramento no nariz) aparentemente de acordo com a quantidade de tempo em que você foi esteve na ilha, o que nos leva a crer que Charlotte e Miles tenham um longo passado nela. Dá até pra supor que a equipe francesa de Danielle Rosseau tenha morrido desta “doença”, caso, por algum motivo, tenham disparado o mecanismo de viagem do tempo da ilha.
São apenas suposições – e outras delas surgiram com o aparecimento de novos enigmas em Lost. Uma bomba de hidrogênio, o problema do sangramento no nariz, uma nova companhia aérea, uma Sun pouco amigável, um Hurley completamente perdido, advogados, assassinos contratados, uma nova estação Dharma (fora da ilha?) e a equipe de Danielle Rosseau.
Mas quanto tempo a quinta temporada vai continuar assim? De um lado, os que ficaram na ilha pulando de tempos em tempos sem saber como voltar ao ano em que pertencem. Do outro, Ben e Jack tentando reunir os Oceanic Six para voltar à ilha. Convenhamos: mais dois ou três episódios de clarões de viagem no tempo ou de recursos fracos (Hurley preso? Já tem um mandato para soltá-lo. Quem quer Aaron? Ben) para criar uma certa tensão na jornada dos O6 e mesmo com as certezas que nos foram passadas a série cairia num marasmo semelhante à quando, na terceira temporada, Jack, Sawyer e Kate foram presos pelos Outros.
Contudo, algumas pontas já estão se fechando – a começar pelo curto prazo que Ms. Hawking passou para trazer os Oceanix Six de volta à ilha. Se levarmos em consideração que ela avisou a Ben que ele tinha 70 horas para reunir o povo durante uma noite – e que a ação do episódio passado ocorreu durante um dia e uma noite – temos menos de 50 horas (ou dois dias) para que eles consigam voltar. Alguma dúvida que isso acontecerá em breve?
Vou além: os Oceanic Six já voltaram. No episódio passado, quando a turma de Locke e Sawyer encontrou uma canoa e, sem pestanejar, atirou-se ao mar sobre a mesma e logo depois foi perseguida por outra canoa, com direito a tiros pouco amistosos vindo logo atrás. Se lembrarmos que a primeira canoa foi encontrada ao lado de uma garrafa d’água da empresa aérea Ajira, não é difícil imaginar que Jack, Hurley, Ben, Kate e companhia voltaram para a ilha através de um vôo desta empresa. Traduzindo: não duvide ser descobrirmos em breve que quem estava atirando na canoa eram os próprios Oceanic Six (e alguém foi atingido, depois repare).
O grande trunfo de Little Prince (cujo personagem que batiza o episódio não foi propriamente revelado) foi sua cena de encerramento, quando Danielle Rosseau e sua equipe chegam à ilha em 1988, atrás dos malditos números que estavam sendo transmitidos por rádio. Não custa lembrar que os números apareceram pela primeira vez na série justamente numa transmissão radioamadora, deixada pela própria Danielle Rosseau antes do Oceanic 815 cair. Mas quem estava transmitindo originalmente os tais números – e qual o propósito da transmissão? E por que o bote delestinha o mesmo formato do logo da Dharma?
Dito tudo isso, é bem provável que as duas metades do elenco da série se encontrem em breve e, em poucos episódios, a quinta temporada de Lost seja reinventada do nada, deixando tanto os flashes da turma de Sawyer quanto a volta da turma de Jack no passado. Lembre-se também que Locke é uma figura central na série em 2009 – afinal, tanto ele deve voltar à ilha inconsciente (com os Oceanic Six) quanto ele deve deixar à ilha e mudar de personalidade (com os Outros). Minha teoria é que, indo em direção à Estação Orquídea, Locke irá iniciar sua transformação. Será que ele girará mais uma vez a roda que expulsou Ben da ilha no fim da quarta safra de episódios? Em que sentido? Com isso, será que Locke sairá da ilha ou será mandado para uma outra época na própria ilha?
Independente do que irá acontecer, aposto seriamente minhas fichas nisso. As duas histórias que estamos acompanhando esse ano irão se cruzar em breve, mexendo completamente – mais uma vez – na dinâmica de Lost. Em paralelo, fomos apresentados no episódio passado à equipe de Rosseau, que deve crescer em importância, deixando inclusive alguns personagens na mitologia clássica da série. E assim teremos mais uma vez duas histórias paralelas – os Oceanic Six de volta à ilha e a história desconhecida da equipe de Rosseau (que, a propósito, chegou grávida à ilha – será que assim confirmamos que Alex não era filha de Ben?). Não duvide, no entanto, que essas duas histórias possam se cruzar entre si – e numa mesma época. O que é o mesmo que dizer que os sobreviventes da queda do vôo 815 da Oceanic Airlines irão para 1988 e presenciarão o que cogito ser o grande tema da segunda parte da temporada, a Iniciativa Dharma.
E quer valer que a Sun não vai matar o Ben logo nas primeiras cenas do episódio de hoje porque ele vai conseguir provar para ela que Jin ainda está vivo?
Bem massa essa campanha pro Scifi Channel, que inverte os estereótipos dos filmes B dos anos 50…
Vi no Vida Ordinária.
Agora sim! Sexta passada a parte final de Battlestar Galactica finalmente correspondeu às expectativas em relação ao aguardado final épico. E mesmo sem mais uma vez falar em sua mitologia central– que está sendo cada vez mais deixada para os últimos episódios mesmo – a série presenteou seus fãs com a dramática conclusão do motim iniciado no episódio anterior em uma articulação entre o oficial navegador Felix Gaeta e o vice-presidente Tom Zarek. Colocando o cisma entre humanos e cylons num limite que pôs em risco a vida de praticamente todos os personagens principais da série em um mesmo episódio – e em situações completamente diferentes –, Blood on the Scales é sangue nos olhos.
E nesta curta hora de apresentação, vemos Saul e Adama serem capturados, Gaeta autorizar o ataque à nave de Laura Roslin, Zarek ordenar o frio assassinato de todo o conselho administrativo da frota, Lee e Starbuck encurralados, Saul e Adama anunciados como mortos, Tyrol encarando o cano de uma arma, Anders mortalmente baleado, uma execução em forma de presságio e outras duas de fato. A carga de adrenalina e a forma em que toda a ação polarizou completamente as forças em jogo no capítulo de sexta funcionou como oxigênio puro para pulmões intoxicados pelo pessimismo nos episódios anteriores.
O principal passo dado por Blood on the Scales tenha sido o renascimento do casal real desta corte chamada Battlestar Galactica. Tanto Adama quanto Roslin passam por situações limite em que seus instintos mais básicos são confrontados com sua noção de moral. O almirante Bill deixa a patente em um discurso tenso com Gaeta, em que não há espaço para eufemismos ou cortesias. Espumando de raiva, Adama tinha tanta convicção de que voltaria ao poder quanto que não veria seus inimigos viverem muito tempo – a ponto de ordenar que Gaeta o matasse logo para não correr o risco de perder a oportunidade. Seu intérprete Edward James Olmos sabe medir exatamente o nível dramático para transformar o austero militar em um velho caubói, cuspindo palavrões e desdém sem se preocupar com o que vai acontecer a seguir.
Laura, refugiada na nave dos cylons, recebe a notícia de que Adama estaria morto e, sem nada a perder, ressurge assustadora, grandiosa e apocalíptica numa das melhores atuações de Mary McDonnell na série. Ela reassume seu papel de líder frente até mesmo os próprios cylons, que sempre viram os humanos como menores – até assistir o que a perda de um amor pode provocar num coração humano.
Embrenhados pela nave-mãe, o filho do almirante, Lee Adama, e a piloto Starbuck aos poucos reúnem reforços para tomar a liderança da Galactica à medida em que vão atravessando os corredores da nave em direção à sala de comando, o CIC. O papel de líder começa a tornar-se natural em Lee, cuja química de combate ao lado de Starbuck vai ser inevitavelmente traduzida em romance. Saul se une aos dois, seguido de Sharon e de uma série de outros transeuntes que vão se juntando ao grupo que estava no poder, farto do autoritarismo amador da dupla Gaeta e Zarek, que, por sua vez, torna-se cada vez mais consciente do fracasso de seu golpe. Enclausurados com o velho Adama para que ele tenha consciência dos crimes que cometeu ao se associar com os cylons (“eu amei o inimigo”, diz Adama, com escárnio), eles aos poucos percebem a fragilidade da estrutura que os manteve no poder, que desaba em câmera lenta, terminando com a execução sumária dos arquitetos do golpe. A ótima atuação de Alessandro Juliani é encerrada com uma frase sobre a coceira em sua perna perdida, pouco antes de Gaeta ser executado. A curta frase “It stopped” encerra o episódio, o senso de moral e justiça em relação ao motim e a própria vida de Gaeta, que finalmente percebe onde errou.
Além de tirar Gaeta e Zarek de cena, Blood on the Scales ainda trouxe dois personagens de volta ao palco principal – Gaius Baltar e Romo Lampkin. O cientista canastrão parece acordar de um transe na zona coadjuvante em que passou toda essa temporado, quando se tornou uma espécie de acessório religioso usado por algumas histórias quando estas precisavam de um contraponto de tal natureza. Sua reentrada vem logo após de fazer o coro do desespero – e depois da esperança – ao lado dos cylons que assistem o renascimento de Laura Roslin. Depois, tem um sonho em que vê a morte de Bill Adama para, um pouco antes do final, ser o escolhido por Gaeta para compartilhar seus últimos momentos em vida, em que lembra quando quis ser arquiteto na infância, para construir “restaurantes com formatos de comida”. E em ambas cenas Baltar parece saber um pouco mais do que pode acontecer no futuro – muito suspeito.
Já o advogado cínico que havia defendido Baltar no final da temporada anterior voltou à cena graças ao tribunal a portas fechadas que Gaeta e Zarek submetem o velho Adama. Romo Lampkin é um personagem com jogo de cintura e boas falas, que inevitavelmente tira a pompa e o rigor do texto de Battlestar Galactica para mostrar o jogo de poder e de egos por trás das formalidades e burocracias. É através de Romo que o seriado explicita o jogo político por trás do golpe – ecoando as revoluções russa, francesa, cubana e americana ao mostrar o que acontece quando uma nação se volta contra seu próprio governo – e o ator Mark Sheppard, sem usar os óculos escuros que davam a neutralidade irônica e amoral de Romo em suas aparições anteriores, convence bem como termômetro da sanidade no espaço. Depois do próprio Adama, ele é o primeiro a perceber como a revolução contra os cylons é apenas uma artimanha de Zarek para se tornar ditador – antes mesmo do próprio Gaeta, que, mais tarde, percebeu-se usado. Sem os óculos escuros, Romo parece saltar de coadjuvante a protagonista – a direção valorizou especialmente seu olhar ao perceber que, em vez de fugir, poderia salvar o cylon Sam Anders, que terminou o episódio sangrando mortalmente, amparado em Starbuck. Será que Anders é o primeiro dos cylons finais a morrer? Que implicações isso pode ter para a série?
Outro cylon sem querer mostrou o caminho que iremos percorrer. Rastejando nas entranhas do enorme encouraçado espacial (cuja dimensão pode ser revista especialmente em uma cena em que a nave presidencial, a Colonial I, pousa dentro de um dos hangares de Galactica), o oficial-chefe dos mecânicos Gallen Tyrol ia em direção ao sistema nervoso da nave, para impedir o salto na velocidade da luz e a inevitável debandada de toda a frota. Mas ao frustrar os planos de Zarek e Gaeta da sala de máquinas, Tyrol teve uma visão que pode determinar o futuro da série – e da nave. Não se trata de uma premonição ou revelação de características espirituais – o que vimos pelos olhos do personagem do ator Aaron Douglas foi uma enorme fissura no casco da nave, nos fazendo lembrar que, apesar de todo seu tamanho e proporção, a velha Battlestar Galactica é praticamente um museu ambulante. Já era no início da série, quando fazia sua última viagem antes dos ataques dos cylons às Doze Colônias, e hoje está muito pior.
Não duvide, portanto, se o final de Battlestar Galactica for justamente sobre o final da própria nave – sem poder saltar de um ponto do universo para outro sob o risco de esfacelar-se no espaço, a velha nave pode estar no limite de sua resistência física, em busca de um porto seguro final para deixar humanos e cylons num mesmo planeta e, finalmente, pifar em paz.
E semana que vem parece que ela volta. Sim, o quinto cylon. Pode mandar!
So say we all.
Só perdeu o Radiohead:
Porque o resto…
Que tal todos os palavrões usados em os Sopranos enfileirados como se fosse um projeto de arte? Porque é isso que o projeto Sopranos Uncensored, do diretor Victor Solomon, é.
Tou devendo falar sobre o episódio da semana passada do Lost, vai rolar…
Ih, pelo jeito o tempo vai fechar pro Gaeta…