Nada como o telejornalismo equilibrado. Perceba a ênfase dada ao Obama “socialista”.
Que piada. O pior é que tem brasileiro achando que isso é sério – e adotando essa tônica como postura oficial, presta atenção…
Em rota de colisão com o paradoxo
Antes de começar a falar sobre “Follow the Leader” em si, vale perguntar: essa é a última vez que veremos Daniel Faraday? A própria mãe – grávida dele mesmo (aaah, Lost…) – deu-lhe um tiro fatal e fechou-lhe os olhos encerrando a participação do físico no mundo dos vivos. Mas tem tanta pergunta pra ser respondida sobre o Faraday que eu aposto que sua participação não terminou ali. Lembram-se de sua namorada fritando na cama? Lembram da rata batizada em homenagem à mãe, que não agüentou viajar no tempo? Lembram do estado frágil e tenso que o próprio Faraday ficou em determinado tempo da série (antes de ir para a ilha no cargueiro)? Algo me diz que o caderninho mágico da senhora Hawking vai fazer com que nos encontremos mais uma vez com Daniel – pois ele pode ter conseguido viajar no tempo mesmo antes ou mesmo depois de chegar na ilha, ainda em Oxford ou em… Ann Arbor. Minha aposta é que depois de testar com Theresa, sua namorada, ele resolve fazer a viagem por conta própria mas já conhecendo a lógica da constante – e consegue fazer algumas viagens no tempo, uma deles, a que ele grava o vídeo abaixo ao lado do dr. Chang (outro ponto em aberto – percebam como Faraday reconhece Chang rapidamente e o aborda na primeira vez que o vê, sem apresentações). Eloise ainda conta que a estação Dharma construída em Los Angeles foi feita por “alguém muito especial” – o que me leva a crer que Faraday pode ter voltado para antes de 1954 e criado a estação sob a igreja, ajudado o exército americano a encontrar a ilha e mandar tropas para sua tomada (tropas que foram mortas pelos Outros). Ele pode ter conhecido Chang em 1981, depois do “incidente” e passado as informações que assistimos no vídeo abaixo. E talvez tenha encontrado consigo mesmo em 2007, ciente do que tinha de fazer e contou-lhe toda a história do avião, da ilha e do próprio sacrifício que teria de fazer para que ele passasse por isso. Isso talvez explicasse até mesmo as crises de choro de Daniel, que o acompanham desde sua estréia na série.
Dito tudo isso, que episódio! Follow the Leader está às vésperas de fazer mais engrenagens narrativas de Lost se chocarem e, em vez de causarem atrito, se encaixarão perfeitamente, nos deixando bestas de novo, como já fizeram neste mesmo episódio. Mais do que um preâmbulo para o último episódio da quinta temporada, este décimo quinto capítulo funcionou como um pequeno conto fechado em si mesmo, uma jóia delicadamente lapidada para mostrar aos fãs do seriado que esta quinta temporada não foi em vão.
Afinal, tivemos diversas perguntas respondidas, embora muitas delas tivessem sido criadas apenas para ganhar tempo (quase tudo relacionado à volta dos Oceanic 6 à ilha). Os temas clássicos de Lost seguiram intactos – talvez a maior revelação desta temporada talvez tenha sido o vínculo da ilha com o Egito antigo e, claro, a apresentação do universo Dharma para os espectadores. Mas nada foi dito sobre o monstro, os números, o por quê do vôo 815 ou se Kate vai ficar com Sawyer ou Jack. Em compensação vimos as relações de Widmore e Ms. Hawking, de Charles com a ilha, de Faraday com os pais, a história de Charlotte, uma aparição de Walt, a história da jovem Rousseau e a chegada de sua equipe à ilha, a morte e ressurreição de Locke, uma estátua vista de corpo inteiro (ainda que de costas), quem é quem na Dharma e estamos prestes a ver o incidente que causou a gravação de todos os vídeos de orientação das estações que descobrimos na segunda temporada.
Follow the Leader veio repleto destes momentos, mas meu favorito foi a aparição de Richard Alpert para Locke sendo esmiuçada como um plano do próprio Locke. A cena que antecede a chegada do careca correndo baleado na perna transcende o que eu me acostumei a referir como “Lost clássico” (aquele momento do “oooooh” que fica entre o clichê de revelação e uma reviravolta considerável na trama). Todo o diálogo de Locke com Richard e as observações feitas entre Locke e Ben dão à cena uma profundidade extra, uma camada narrativa surge de forma que estamos assistindo a um making of de uma cena dentro de uma cena. A beleza quase mística da cena – filmada no escuro, à luz de tochas – é refletida por todo o episódio e sublinha um aspecto: talvez toda a trama de Lost tenha sido motivada pelas pessoas que foram suas vítimas. O motivo de cada um daqueles passageiros estar naquele avião que caiu no início da primeira temporada talvez seja justamente esse: são eles que fazem o próprio avião cair na ilha, entre outras coisas.
Após a morte de Faraday e a constatação que Eloise faz que aquele casal – Jack e Kate – veio mesmo do futuro, resta a Jack concluir o plano de Daniel para, quem sabe, mudar a história. O fato de Eloise perceber que eles falam a verdade através da própria caligrafia é um toque de mestre – eles podiam ter trazido um vídeo ou fotos, descrito cenas que iriam acontecer em minutos no futuro, explicarem o funcionamento de aparelhos que ainda nem existem em 1977, mas quaisquer explicações destas seriam subjetivas comparadas ao reconhecimento da própria letra cursiva. Quando ela pergunta como ela não se lembra ter escrito o que está no caderno e ouve o “é porque você ainda vai escrever” – eis um “momento Lost” de ouro. Em outro acontecimento crucial do episódio, vemos Jack se transformar em um homem de fé, cujo credo é piamente racional – ele quer destruir a construção da estação Cisne, para evitar a criação da escotilha, para onde Desmond irá e que será responsável por causar a queda do Oceanic 815. Há lógica nisso, não é simplesmente o papo “a ilha que quis” que Locke sempre saca da cartola.
O problema é que ele quer fazer isso com uma bomba atômica – e quero ver sobrar vila Dharma pra contar a história. Acho mais provável que o Radzinsky e sua turma apareçam no lugar em cima da hora e, antes que Jack brinque de fim do mundo, eles o impeçam mas causem, sem querer, algum vazamento radioativo – o que explicaria inclusive o fato de mulheres não poderem ter filhos na ilha após o tal incidente. Há quem diga, no entanto, que depois de mais de duas décadas de hidrogênio vazando, a explosão da bomba terá um impacto menor do que o original. O submarino já se foi levando Kate, Sawyer e Juliette (em outra ótima cena, desta vez do departamento novela das oito do seriado, quando o casal Dharma reata seus votos de amor e a fugitiva reaparece em cima da hora), que outros se salvarão? O que tem afinal de contas no case de guitarra do Hurley e por que ele se convenceu a voltar no vôo Ajira 316? Sayid ou Jack se sacrificarão para detonar a bomba Jughead?
Em outra grande cena do episódio, Hurley, Jin e Miles são interrogados por Chang sobre sua procedência temporal e, depois de um diálogo hilário entre Hurley e Chang, Miles não apenas confessa que eles vieram do futuro como explica ao pai como proceder com ele mesmo e sua mãe, ele mesmo se tornando o causador de toda a dor que ele carregava pelo pai tê-los abandonado. É uma relação semelhante à decisão de Jack, embora o médico queira a ruptura e não a confirmação do que já aconteceu no passado.
Misture isso ao fato que Locke agora quer “matar Jacob” – seja lá o que isso signifique – e que, provavelmente, ainda veremos no capítulo final referências ao culto da sombra da estátua de Bram e Ilana. E o que Richard Alpert estava fazendo com aquele barco dentro de uma garrafa? Lembrando do Black Rock ou que a ilha em si é como um barco dentro de uma garrafa? E Desmond? Lembrem-se que a ilha ainda não acabou com ele – e a última vez que o vimos foi num hospital. Fora Bernard e Rosie, Vincent, Claire e, claro, o próprio Jacob.
A quinta temporada encerrará nesta semana e revelará uma série de respostas, inevitavelmente. Abrirá, claro, outras tantas perguntas – além de uma grande pergunta, a ser respondida nos primeiros minutos do primeiro episódio da sexta temporada. A impressão que dava é que essa temporada poderia ser resumida em menos capítulos do que 16, mas depois de Follow the Leader, percebemos que, mais do que nunca, algumas cenas fúteis e lentas, serão revisitadas para que, finalmente, saberemos o que há por trás delas.
Meu palpite é que o incidente será causado por Jack (ou quem for) realmente abrirá uma realidade paralela e que o avião da Ajira 316 já caiu nesta versão modificada de 2007 (em que o avião da Oceanic não caiu na ilha) – e a sexta temporada será dedicada a reajustar estes desalinhamentos no espaço-tempo. Toda história de viagem do tempo necessariamente confronta-se com o momento paradoxo e parece que, só agora, já o temos em nossa rota de colisão.
E o Comentando Lost dessa semana conta com um convidado especial – o cantor Bruno Morais, que está lançando seu segundo disco tava de bobeira antes de gravarmos o programa e como ele curte o seriado, foi intimado a participar. Com isso, o programa se alongou mais do que o normal e os papos incluíram O Prisioneiro, Watchmen de novo, Caverna do Dragão, Twin Peaks e teorias sobre o que pode acontecer no último episódio. E você já sabe como funciona: baixe o MP3 abaixo no mesmo computador em que você assistir ao episódio e, quando dermos o OK, você aperta o play e assiste o seriado com nossos comentários. E não se preocupem: os programas relativos aos episódios anteriores também surgirão essa semana.
O velho capitão Kirk vem acompanhando, de longe e online, os desdobramentos da recriação que J.J. Abrams fez da série que encabeçou por toda vida. Até que se submeteu a assistir ao trailer do filme e registrar sua reação no próprio canal do YouTube.
Acho que sua reação talvez tenha sido mais essa:
Essa semana, o velho Kirk encontrou-se com Chris Pine, o ator que faz o novo Kirk, e de novo postou a notícia em seu canal de vídeos:
Não duvide se J.J. Abrams não tiver armado isso com ele e garantir sua participação no próximo filme mesmo após essa rusga em público.
Lost é uma série de ficção científica?
Se antes havia um consenso entre o público de Lost, hoje há dois, bem distintos. Parte de seus telespectadores comemora o fato da série estar passando por sua temporada mais complexa, alinhando cenas dos quatro anos anteriores com acontecimentos inéditos que já haviam sido citados no passado mais a algumas novas narrativas coletivas. São os flashbacks explicados por Faraday, o vai-e-vem entre passado e futuro pelas metáforas pop de Hurley, a saga dos Oceanic Six para voltar para a ilha, a história de Hawking e Widmore e a da Iniciativa Dharma. Para a outra parte do público, no entanto, isso é tudo enrolação, papo furado – os autores se distanciaram dos personagens principais para criar uma história cheia de blábláblá pseudo-científico para explicar o encantamento daquilo que encantava justamente por ser inexplicável. Esta última reclamação reside numa afirmação falsa: que Lost começou a se perder ao tornar-se uma série de ficção científica.
Duas mentiras: Lost sempre foi uma série de ficção científica. O fato de não se passar em um planeta distante ou de não ter alienígenas ou robôs (ainda…) não tira a série do gênero. Do urso polar num ambiente tropical ao monstro de fumaça passando pelos hieróglifos, pelos Outros e pela Iniciativa Dharma, a ilha não pressupunha só mistério, mas também sua explicação. O gênero literário que sempre sublinhou Lost pressupunha a solução para as questões absurdas propostas pela série. Fosse nativo de outra escola narrativa – o realismo fantástico, a mitologia épica ou o teatro do absurdo –, todos os mistérios de Lost seriam simplesmente aceitos e não mais questionados.
A outra afirmação falsa é que Lost nunca foi uma série só de ficção científica – mas gosta de misturar diferentes elementos da tal “caixa mistério” proposta por seu produtor, J.J. Abrams. Não é simplesmente descobrir o que há dentro da caixa, mas o jogo de tentar acertar o que há lá dentro. Antes mesmo da série começar a viajar no tempo (o principal motivo dos atuais detratores se desinteressarem pela série e finalmente perceber o quanto ela é uma ficção científica), Lost já mostrava outros tipos de mistérios quase sempre também abordados pela ficção científica, como eletromagnetismo descontrolado, cura fantástica de doenças, civilização perdida, “o escolhido”, crianças com superpoderes, falar com os mortos.
Se analisarmos a história da ficção científica, ela quase sempre é metáfora para questões existenciais e filosóficas. Das viagens propostas por Julio Verne e H.G. Wells ao monolito de 2001, passando pela cidade-mecânica de Metropolis, os andróides de Blade Runner e os delírios de Philip K. Dick, quase toda a ficção científica pressupõe os clássicos questionamentos feitos pela velha filosofia: quem somos, de onde viemos, para onde vamos, se existe vida após a morte, etc., mas sempre transformados em alegorias sobre outros desconhecimentos – sejam alienígenas, robôs ou viagens no tempo. Em Lost, estas perguntas ressurgem de outra forma, com a ilha mágica assumindo o papel de principal ponto de partida.
He’s Our You veio nos lembrar de outro aspecto relacionado à ficção científica, personificado na figura do Dr. Oldham – o uso de drogas psicodélicas como recurso de expansão da consciência. Essa referência é explicitada quando o pequeno Ben leva um sanduíche para o prisioneiro Sayid junto com o livro Uma Nova Realidade, de Carlos Castañeda. Mais adiante, vemos um pôster da banda Geronimo Jackson que mostra a lagarta fumante de Alice no País das Maravilhas. Logo depois, os Dharma levam o iraquiano para a tenda do místico da Iniciativa, quando Sawyer/LaFleur solta a frase que batiza o episódio: “Ele é o nosso você”, para depois mostrar que os métodos de tortura Dharma não necessariamente infligem a dor para atingir seus intuitos. E assim Sayid é submetido ao método Oldham de interrogatório, graças a uma certa substância que ele força o iraquiano a ingerir.
O que nos leva a repensar o próprio papel da Iniciativa Dharma. Aparentemente, a equipe era formada por um monte de hippies reclusos numa certa ilha dispostos a aprender mais sobre as propriedades sobrenaturais do lugar para o desenvolvimento da humanidade. Mas os caras têm um torturador de plantão? Uma equipe de segurança? Uma cadeia? Fora a trégua com os Outros – tudo indica que estamos longe (ou melhor, cada vez mais perto) de sabermos as reais intenções dos Dharma. Lembre-se que já vimos pelo menos uma cena de lavagem cerebral, quando o namoradinho de Alex, Karl, foi capturado há algumas temporadas. Também vimos a Dharma definir, em consenso, pela morte de uma pessoa. Ou seja: por melhores que sejam suas intenções, elas não são propriamente boas…
Também assistimos à captura de Sayid e a apresentação da personagem Ilana, que aparentemente era uma policial e que agora sabemos ser contratada por alguém (as suspeitas caem sobre Ben, óbvio) para colocar o iraquiano no Ajira 316. Ou seja: Ilana não foi para a ilha por acaso, como creio que Caesar também não.
No mais, o episódio trouxe o que parecia ser uma longa enrolação sobre a relação entre Sayid e Ben, que culminou com o momento “e se matássemos Hitler?” da série. Mas não era em vão – os produtores queriam mostrar as diferenças e semelhanças entre os personagens mais perigosos da série até aqui. O iraquiano e o principal vilão de Lost até aqui se reencontraram em situações diferentes, em que Ben sempre sublinhou a natureza assassina de Sayid – explorada logo no início, quando, ainda na cidade-natal de Saddam Hussein, o pequeno Sayid mata uma galinha para seu irmão, ecoando outra cena de formação de caráter na série, quando Mr. Eko tem de matar uma pessoa para que seu irmão seja salvo. He’s Our You também trata da natureza de Ben – que passa por alguns maus bocados na mão de seu pai, Roger. Assim, aos poucos compreendemos o que ambos têm em comum – e o que faz Sayid tomar a resolução trágica no final do episódio.
Os rumos desta resolução vão ser definidos nos próximos episódios, mas, caso Ben sobreviva, já sabemos de onde ele conhece os personagens principais da série – de sua própria infância (o que explica seu apreço por Juliette, sua familiaridade com Jack, Kate e Hurley e, claro, o fato de ele saber tanto sobre a natureza da Sayid).
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