
Foto: Lorena Calábria
Cadão voltou de Nova York e Thomas voltou de Londres – ambos por curta temporada – e assim o mítico grupo pós-punk paulistano Fellini se reúne mais uma vez nesta sexta-feira, no Sesc Pompéia (mais informações aqui) – e olha só a cara da banda em 2020 no primeiro ensaio do novo show na foto acima… Aproveitando a proximidade do show, a gravadora Nada Nada abriu mais três músicas inéditas que irá lançar na coletânea A Melhor Coisa Que Eu Fiz – inclusive a ótima faixa-título:
Além das novas músicas, a gravadora também fez um vídeo para mostrar como é a versão deluxe do novo lançamento, que estará à venda no dia do show:
Falei sobre as atrações do Nublu Festival deste ano (John Cale, Mos Def, Femi Kuti e as atrações nacionais de abertura) e sobre a vinda do Wu-Tang Clan no programa Metrópolis, marcando o início dos grandes shows internacionais de 2020.
Outros dois trailers apareceram nesta semana apontando os novos rumos que a terceira temporada de Westworld deve dar à série, uma das melhores deste século. Mais do que nos apresentar ao personagem Caleb, vivido pelo Aaron Paul de Breaking Bad, a nova safra de episódios parece mostrar para a Dolores de Evan Rachel-Wood que a separação moral entre seres humanos e robôs não é dicotomicamente biológica, como o seriado fazia parecer até aqui. O encontro entre os dois personagens abre a possibilidade para a protagonista de que nem todos os seres humanos são vilões, fazendo-a ir atrás dos verdadeiros antagonistas da série – e um deles parece ser o novo personagem vivido por Vincent Cassel. Este, por sua vez, colocou a Maeve vivida por Thandie Newton como sua arma, fazendo-a ir de encontro à Dolores, como mostra o final do trailer. Mas em se tratando de Westworld, tudo pode ser jogo de cena para que desviar a atenção.
https://www.youtube.com/watch?v=pDJbFA32_QY&feature=emb_title
Há tantas outras perguntas: e o Homem de Preto que agora descobriu que é um robô? E quem fugiu dentro do corpo da Charlotte Hale vivida por Tessa Thompson? Seria o Teddy de James Mardsen (que nem está creditado na nova temporada)? E esse robô gigante? E o Bernard de Jeffrey Wright? E esse parque temático de segunda guerra mundial que aparece num relance? Um segundo trailer, escondido nas entranhas do site da empresa fictícia Incite (criado para mostrar que boa parte da nova temporada se passa fora dos parques temáticos que conhecemos nas duas fases anteriores), mostra que a temporada não vai ser nem um pouco tranquila…
https://www.youtube.com/watch?v=6Uo1t-Exjes&feature=emb_title
Westworld recomeça no dia 15 de março.
A terceira temporada da melhor série atual estreia daqui a um mês e pouco sabemos sobre ela até agora… A maior novidade recente foi o lançamento do belíssimo cartaz que tenta dar o tom de que esperar da nova safra de episódios, que começa a ser exibida a partir do dia 15 de março.
O slogan que anuncia a temporada conta com um duplo sentido em inglês – “livre arbítrio não é livre” também pode ser lido como “livre arbítrio não é de graça” e isso pode conversar estranhamente com a era que vivemos atualmente, principalmente a partir da linha do tempo que a série mostrou no início do ano, finalmente a localizando num futuro próximo.
https://www.youtube.com/watch?v=aeEn609nkRs
É interessante notar que após os incidentes catastróficos que mudariam a cara do século 21, há a criação de algo referido como “um sistema”, que controlaria a história. Se cogitamos que Westworld não seja um simples playground de bilionários, mas uma realidade virtual em que endinheirados podem fazer o que quiser, a conversa com o slogan do cartaz recém-lançado pode dizer que toda a humanidade que não tem tanto dinheiro, não tem também livre arbítrio – e talvez o tal sistema criado seja uma realidade virtual que abranja toda a população do planeta, encapsulando indivíduos em realidades alternativas – como bolhas de realidade virtual, embora num formato mais próximo de Matrix que dos desertos virtuais imaginados pelo falecido (?) Dr. Robert Ford.
O elenco principal permanece, felizmente. Os sensacionais Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Ed Harris, Jeffrey Wright, Tessa Thompson, Luke Hemsworth, Simon Quarterman e Rodrigo Santoro estarão todos de volta, ao lado de novos nomes, como o Aaron Paul de Breaking Bad, o rapper Kid Cudi, Vincent Cassel, o jogador de futebol americano Marshawn Lynch, entre outros. O personagem de Aaron Paul, inclusive, parece mais próximo da realidade fora do parque temático e nos ajuda a entender o contexto maior do seriado.
A nova temporada terá menos episódios que as duas anteriores, com apenas oito em vez de dez, e deverá ser contada de forma mais linear, sem exigir tanto do espectador. “Essa temporada vai ser menos um jogo de adivinhação e mais uma experiência com os hospedeiros finalmente conhecendo seus criadores”, disse o criador da série Jonathan Nolan em entrevista à revista Entertainment Weekly.
Pois pode vir Westworld, estamos prontos!
O primeiro trailer da quarta temporada de Stranger Things não se passa na cidade original da série, a fictícia Hawkins, e sim na União Soviética, juntando as pontas do final da última temporada ao também revelar que o xerife Jim Hopper está vivo – embora não propriamente bem. Preso do outro lado do planeta, ele teve seu cabelo e bigode raspados e agora trabalha como mão de obra escrava numa ferrovia guardada pelo exército russo.
Além do alívio pela certeza da sobrevivência do personagem vivido por David Harbour o teaser de menos de um minuto atiçou a curiosidade dos fãs para a certeza que aumentará no clima de paranoia da guerra fria durante os anos 80. E também e como tanto Eleven desenvolveu novos superpoderes quanto há um portal interdimensional que eventualmente poderia funcionar como veículo de teletransporte em nossa dimensão, cogita-se até que a nova temporada possa se passar na paisagem gelada da União Soviética e, com isso, permitir que os criadores da série, os irmãos Matt e Ross Duffer possam homenagear outro clássico do horror do período, O Enigma do Outro Mundo, clássico de John Carpenter lançado em 198, que se passa na Antártida. A temporada, no entanto, não tem data de estreia.
Alguém chegou tão rápido no topo tão cedo? Billie Eilish vem colecionando trunfos pesados em sua curta carreira e o feito mais recente foi assinar uma música-tema para um filme de James Bond, tornando-a a artista mais nova a compor uma canção para a longeva série que acompanha o espião britânico. A balada “No Time To Die” tem o mesmo nome do 25° filme da série, que marca a estreia de Cary Joji Fukunaga (o mesmo da série True Detective) na direção e a despedida de Daniel Craig como o agente 007. A nova canção é simples e carrega um pouco da dramaticidade típica das baladas inspiradas no espião, aumentada pelas cordas regidas por Hans Zimmer.
Ao ser convidada para escrever tal canção, ela se junta ao seleto time de artistas que já compuseram canções para o personagem de Ian Fleming, que inclui Duran Duran, Carly Simon, Adele, Sam Smith, Shirley Bassey, Gladys Knight, Garbage, Nancy Sinatra, Chris Cornell, Tom Jones, Alicia Keys com Jack White, Sheryl Crow, Madonna, Tina Turner, A-ha e os Wings de Paul McCartney, entre outros.
O feito é só mais um a tornar a jovem de 18 anos em uma das principais apostas do mainstream fonográfico. Além do desempenho comercial e de crítica de seu primeiro disco, When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, um dos melhores do ano passado, ela ainda levou o título de segundo disco em vinil mais vendido de 2019 (ficando atrás apenas de Abbey Road, dos Beatles, que, por sua vez, além de ter tido uma reedição luxuosa no ano passado, também chegou ao topo da lista dos vinis mais vendidos na década), além de levar quatro dos principais Grammy do ano pra casa (Melhor Novo Artista, Disco do Ano, Canção do Ano e Gravação do Ano), além de apresentar-se na cerimônia de premiação (veja abaixo).
https://www.youtube.com/watch?v=c10pPCe9RIs
E como se não bastasse tudo isso, ela ainda foi chamada para apresentar-se no Oscar, puxando uma versão de “Yesterday” dos Beatles no momento em que a Academia Cinematográfica norte-americana lembrava-se dos artistas que morreram no ano passado.
https://www.youtube.com/watch?v=FKmqtaxIS3Y&feature=emb_title
Vai longe, hein…
2020 começou à toda e eu falei com o programa Metrópolis da TV Cultura sobre alguns dos discos esperados para o ano
O humor inglês fica um tanto sem graça com a partida do lendário Monty Python Terry Jones.
Figura crucial na vida cultural mineira, Marcelo Dolabela havia sofrido um AVC há cerca de um ano e nos deixou neste sábado. Poeta, artista multimídia, escritor, músico e ativista cultural mineiro, ele é mais conhecido por ser autor do clássico ABZ do Rock Brasileiro, uma das primeiras enciclopédias sobre o pop brasileiro, lançada em 1987, por integrar bandas cruciais no underground de Belo Horizonte, sua cidade natal, como Divergência Socialista e Sexo Explícito, e por roteirizar documentários como Uakti – Oficina Instrumental e Arnaldo Batista: Maldito Popular Brasileiro. Abaixo, uma entrevista de 1997 com este herói desconhecido da cena artística nacional.
Obrigado Marcelo.
O querido Bruno Capelas me chamou para fazer a apresentação de seu livro sobre o Castelo Rá-Tim-Bum, Raios e Trovões (Ed. Summus) e é claro que escrevi mais do que precisava – portanto, abaixo, segue a íntegra do texto que foi parar editado na orelha do livro.
Mais do que um sucesso comercial ou um bom sucedido programa infantil para as massas, “Castelo Rá-Tim-Bum” é um fenômeno cultural. Nasceu da experimentações que a contracultura paulistana passou uma década curtindo, dos laboratório de TVs de baixo alcance à performance e à dança, passando pelo Lira Paulistano, pelo cinema da boca do lixo, pela literatura marginal e pelo Teatro Oficina, de onde buscaram inspiração, corações e mentes para compor um programa ao mesmo tempo acolhedor e transgressor, ousado e divertido, metalingüíistico e direto.
“Raios e trovões – A história do fenômeno Castelo Rá‑Tim‑Bum” é um microcosmo de algo que sempre presente na história da cultura brasileira: o momento em que experimentações artísticas provam-se populares, acertando o coração do espectador ao mesmo tempo em que fisga sua inteligência. Sem menosprezar nem ser condescendente com seu público, “Castelo Rá-Tim-Bum” traz sua audiência para a tela, propondo uma cumplicidade inédita que só poderia ser obtida através da metalinguagem que o programa transpirava.
Como Oz, o País das Maravilhas, a Terra do Nunca, o Sítio do Picapau Amarelo e Hogwarts, o Castelo teoricamente é um lugar fictício e fantasioso, em que apenas crianças conseguem entrar por portais mágicos. Este portal é justamente a imaginação e a criatividade, que são colocados em xeque a cada aparição de novo personagem, novo cenário, nova canção. Para isso, foi preciso que uma geração inteira de artistas experimentasse os receosos anos pós-ditadura militar, em que a censura, o autoritarismo e o conservadorismo brasileiro escondiam as garras para fingir que estava tudo bem.
Castelo Rá-Tim-Bum também é mais um dos ingredientes da paulistanização da cultura brasileira, ao lado de fenômenos tão diferentes quanto o futebol paulista, a ida de Fausto Silva para a TV Globo, a ascensão dos Racionais MCs e a criação da MTV – todos estes, diga-se de passagem, umbilicalmente ligados ao espaço de liberdade aberto pelas vanguardas paulistanas dos anos 80.
É essa história que o jornalista Bruno Capelas conta em seu trabalho de conclusão de curso que agora materializa-se livro. Percorre das origens da criação de um programa infantil em uma rede pública de televisão (um ato por si só heroico – e há toda uma tradição nisso) à consolidação de uma linguagem moderna e ousada em grande escala. É o equilíbrio entre ser família e ser vanguarda que tornou Castelo Rá-Tim-Bum tão central no inconsciente coletivo brasileiro no final do século passado e é essa história que Capelas, um dos caçulas da geração do jornalismo pop da internet brasileira, conta tão bem em “Raios e Trovões”.