TV

emicida-faustao

Emicida aproveitou mais uma oportunidade para fazer história durante a quarentena, usando o coronavírus como deixa para escancarar problemas essencialmente brasileiros (como já tinha feito quando fez um show de mais de oito horas transmitido pela internet). E, neste domingo, ao ser convidado para participar do programa de Fausto Silva na Rede Globo, aproveitou para falar sobre o paradoxo entre o abismo social que sempre rasgou o Brasil ao meio e a pandemia que assola o planeta.

“As mudanças que a gente precisa não estão ligadas ao coronavírus. A pandemia não é uma escolinha onde a gente está aqui parado aprendendo sobre a situação e como a gente é humano e precisa ajudar todos os outros seres humanos. Muito pelo contrário. O que eu acredito que a gente está vivendo é um paradoxo muito triste. Por um lado a gente enfrenta um vírus que se espalha muito rápido, mas não tem uma letalidade tão grande. O que é extremamente letal são os abismos sociais que a nossa sociedade produziu e finge que não existem. Todas as pessoas estão sujeitas a se contaminar, mas nem todas as pessoas podem se tratar após se contaminar. Temos uma situação muito emblemática no Brasil que a primeira vítima do coronavírus é uma empregada doméstica que pegou o vírus de sua patroa, aparentemente. Isso é muito simbólico. As pessoas pobres se contaminam mais, tem menos condições de se cuidar e essa letalidade é amplificada não pelo vírus, mas pelos abismos sociais.”

Muito bom, assista ao vídeo:

flaming-lips-bolha

Foi uma das primeiras piadas da quarentena, cogitada pelos próprios Flaming Lips, quando o grupo twittou um quadrinho feito pelo vocalista da banda, Wayne Coyne, cogitando que a bolha que ele usava nos shows do grupo poderia ser uma alternativa para realizar shows neste período de distanciamento social.

flaming-lips-2019-2020

Eis que o programa apresentado pelo humorista norte-americano Stephen Colbert, o Late Show, materializa a ironia do grupo, colocando-o para tocar a eterna “Race for the Prize” frente a uma plateia envolta individualmente pelas bolhas de Coyne.

https://www.youtube.com/watch?v=YUCzn_eMFF4&feature=emb_title

Que tempo doido…

edsullivan

O canal no YouTube do programa do apresentador norte-americano Ed Sullivan (1901-1974) já tinha uma vasta mina de ouro em seu acervo, mas a quarentena vem acelerando este processo – e há alguns dias eles começaram a subir umas pérolas daquelas: os Temptations azeitadíssimos, as Supremes maravilhosas, Marvin Gaye cantando como nunca, Beach Boys mandando “Good Vibrations” (a voz do Carl!), Gladys Knight (que voz!) & The Pips cantando num hospital, os Jackson 5 mandando ver em “Stand!”, Neil Diamond cantando seu clássico “Sweet Caroline”, Smokey Robinson cantando “Yesterday”…

…e pelo visto tem muito mais vindo aí…

scorsese

O que mais Martin Scorsese poderia fazer durante a quarentena senão filmar? Foi assim que ele topou o desafio da historiadora e apresentadora de TV Mary Beard, que está apresentando a série Lockdown Culture, na emissora BBC. E assim, ele fez sua reflexão sobre o confinamento de 2020, filmada com seu celular, e inspirada no filme O Homem Errado, de Hitchcock, e com uma referência do sábio iraniano Kiarostami.

https://www.youtube.com/watch?v=JKtE9uMOlwo&feature=emb_title

lovecraft-country

Mais um trailer de Lovecraft Country, série que une J.J. Abrams a Jordan Peele dentro da mitologia do mestre do horror norte-americano H.P. Lovecraft, também conhecido por sua visão racista da sociedade. E a pergunta que encerra este novo trailer – “O que é a realidade?” – abre a caixa de Pandora que pode justificar as monstruosidades que invadem nossa dimensão…

https://www.youtube.com/watch?v=VJV9acMsDwM&feature=emb_title

A série está prevista para agosto, ainda sem data definida.

nick-cave-mercearia-sao-pedro

Outro dia, Thomas Pappon lembrou em sua página no Facebook sobre a primeira vinda de Nick Cave para o Brasil, no final dos anos 80:

“Um belo dia, tipo no final de 1988, soubemos que Nick Cave & The Bad Seeds viriam, pela primeira vez, ao Brasil. Eu trabalhava na ‘gravadora deles’ no país, a Stiletto, tinha escrito os press-releases dos dois discos lançados ali (Kicking Against the Pricks e Tender Prey) e falava bem inglês. Logo, fui dos primeiros a conhecê-los, num hotel no Rio de Janeiro; conduzi a primeira coletiva, nesse hotel. Lembro que fiz um erro de tradução: o título do romance de estreia do Cave, ‘And the Ass Saw the Angel’, traduzi como ‘E a Bunda viu o Anjo’. Gênio! Mas, no dia seguinte, tomando caipirinha na Barra da Tijuca, onde os Bad Seeds finalmente puderam entrar no mar (levados pelo querido Jose Roberto Mahr), o Blixa Bargeld (guitarrista alemão, líder dos Einstuerzende Neubauten) gentilmente me corrigiu: É ‘E o Burro Viu o Anjo’, uma citação bíblica. Valeu, Blixa. Foi mal.

Eles fizeram dois shows: em 12/04/1989 no Scala (Rio), e em 15/04 no Projeto SP (São Paulo). E hoje, tive a dupla surpresa de ver que o show em SP foi filmado, e que foi bom mesmo, como eu lembrava. PS: Cheguei em cima do show, vindo de BH, onde fui visitar minha namorada. Quando o empresário deles, o Rayner, me viu, disse: ‘Pô, onde você estava? Tentamos te achar. Queríamos que tua banda (o Fellini) abrisse o show!'”

E tá aí o show que Thomas comentou, em toda sua glória em baixa resolução no YouTube, tirado de um VHS que gravou o programa que cobriu o show na época para a TV aberta (pois é…):

“From Her To Eternity”
“Deanna”
“City Of Refuge”
“The Mercy Seat”
“500 Miles”
“Jack’s Shadow”
“Sugar Sugar Sugar”
“Black Betty”
“Train-Long Suffering”
“Muddy Waters”
“Saint Huck”
“New Morning”

Neste show, Cave conheceu Viviane Carneiro, sua futura namorada e mãe de seu filho brasileiro Luke, e passou a morar em São Paulo, até 1993 (a foto na Mercearia, que ilustra o post, foi pinçada de um especial que o UOL fez sobre esta temporada paulistana do cantor).

dark-3

A série alemã Dark anuncia sua terceira e última temporada para o final deste mês e a minha dica é reassistir as duas primeiras temporadas neste mês para que sua cabeça não funda de vez!

wilco2020

“Não esqueça de dizer aos seus amigos, quando vê-los de novo: ‘Eu te amo'”, cantam em uníssono, os integrantes do Wilco em “Tell Your Friends”, balada que lançaram no programa Late Show, do humorista Stephen Colbert, nesta quarta, em uma vídeo que os reuniu à distância, cada um com sua família:

https://www.youtube.com/watch?v=ZxnVYd3TpJs&feature=emb_title

A faixa cita clássicos do rock para lembrar e celebrar da importância do amor, da amizade e da presença em tempos de isolamento social e está para download no Bandcamp da banda, revertendo o arrecadamento da venda do novo single para a ONG World Central Kitchen, que está colaborando com alimentos para comunidades mais pobres nos EUA.

No mesmo programa, o vocalista Jeff Tweedy mostrou uma versão solitária para um dos clássicos da banda, “Jesus Etc.”

https://www.youtube.com/watch?v=MJF6BunIdF0

felipe-neto-roda-viva

A entrevista que Felipe Neto deu ao Roda Viva nesta segunda-feira não é importante só pelas questões políticas que levantou. Esquece esse papo de “nova liderança política” ou que ele talvez seja de esquerda – ele mesmo se posiciona entre o Ciro e o Amoedo, o que o tira para longe de qualquer alinhamento ideológico vermelho. A entrevista foi importante do ponto de vista comportamental.

O Brasil é um país que finge que não fala palavrão e onde a imprensa não declara voto, o que torna a visão da realidade quase sempre turva, só para ficar em dois exemplos rasos. Com quase uma década de traquejo de vídeo, Felipe vestiu a carapuça de YouTuber bem sucedido para ser recebido pelo programa de entrevistas da TV Cultura e seu sucesso empresarial é crucial para trazê-lo para este debate – não apenas seu impacto cultural. E ele usou isso como seu cavalo de Tróia para levantar questões que, quando vemos sendo tratadas na mídia convencional, sempre vêm cheias de dedos ou são tratadas como nichos esquisitos.

Felipe Neto falou sobre chamar o fascismo e o golpe de 2016 por estes nomes, algo que fez vários jornalistas menosprezarem sua fala como se ele fosse apenas um adolescente – ele tem 32 anos. Ele também criticou o paywall destas mesmas empresas e falou sobre o problema da CNN Brasil com todas as letras. Contou como parou de comer carne, zombou da noção de meritocracia e atacou a intolerância, o machismo, a homofobia e o racismo.

Tudo parece óbvio e é exatamente este meu ponto – na imprensa comercial, não é. Tudo que o YouTuber falou é repetido por centenas de milhares de pessoas no Brasil rotineiramente, mas não encontra eco nos meios de comunicação. Ou quando aparece, são tratados de forma isoladas, como se fossem realidades separadas, não parte de uma mudança maior que já está em andamento. Fala-se muito – demais até – sobre a onda reacionária que invade o mundo, mas estas transformações personificadas em Felipe, e em vários outros influenciadores, digitais ou não, deste século, estão em andamento, mas não são reconhecidas pela mídia convencional.

TVs, rádios, jornais e revistas continuam tratando a internet como um mundo à parte, um parque de diversões virtual, uma vida paralela, quando é notório que foi ela quem elegeu o pulha que hoje ocupa o Planalto e vem desconstruindo completamente nosso dia-a-dia, para o bem e para o mal. Ao aparecer no programa como uma típica cria da internet – e mostrando que ele não é um esquisito, nem um nerd, nem um bitolado, Felipe Neto conseguiu furar a bolha da mídia tradicional para mostrar que a internet é maior do que este retrato frio e sem graça que a mesma retrata em suas páginas e programas, fingindo que nada mudou.

Mas tudo mudou.

tiaomacale-littlerichard

Estava conversando esses dias com o Gabriel Thomaz, dos Autoramas, sobre música e entre papos sobre o rock de Brasília, refrigerantes e Brazilian Boogie, falamos sobre a morte de Little Richard. E além de ele me dar a dica sobre o disco Wild And Frantic, de 1966, que o próprio Little Richard dizia que tinha Jimi Hendrix na guitarra, ele ainda comentou que havia postado no Facebook a homenagem que o o coadjuvante figuraça dos Trapalhões Tião Macalé fez em um dos quadros mais clássicos sobre a malandragem do Mussum, quando ele puxa “Jenny Jenny” do falecido arquiteto do rock depois do Mussa puxar “Lá No Morro”, do Fundo de Quintal.