E Nathalie Alvim encerrou a série de apresentações solo que as quatro integrantes do grupo vocal Gole Seco vem apresentando dentro da temporada que elas estão fazendo no Centro da Terra nesta segunda-feira, ao reunir uma banda formada por Wagner Barbosa (teclados, baixo e synths), Ivan Liberato (guitarra) e Marco Trintinalha (bateria híbrida). Ancorando sua apresentação em seu primeiro EP, chamado Outro, ela aproveitou para apresentar músicas inéditas e visitar composições alheias com sua bela voz e sua presença de palco cativante, como quando visitou “Virgem” de Marina Lima acompanhada apenas de seu guitarrista ou “Soluços” de Jards Macalé acompanhada de suas parceiras de Gole Seco num arranjo escrito por ela mesma. Mas ainda não é o fim da temporada Gole a Gole, que aproveita que o mês tem cinco segundas-feiras para encerrar com uma apresentação inédita do grupo, que acontece no último dia deste mês.
“Que Xou da Xuxa é esse?”, esbravejou espantada Letrux logo no início de uma de suas apresentações no Sesc Vila Mariana neste fim de semana. Sampleando a mistura de frustração e indignação do meme recente de uma fã infantil para o contexto do show de seu terceiro álbum, Letrux Como Mulher Girafa, a vocalista Letícia Novais espantou de vez o fantasma da pandemia que ainda ficava à sombra nas últimas vezes que a vi ao vivo, ainda mostrando seu excelente Aos Prantos, segundo disco de tema trágico que teve a má sorte de ser lançado no dia em que o Brasil entrou em quarentena, há longos quatro anos. A nuvem preta que pairava sobre aquele disco e suas apresentações ao vivo já dissipou-se no horizonte (embora ela tenha feito questão de frisar que ainda sente sua inevitável presença), mas no novo show, ela juntou a força animal que dá o tom do disco para retomar a luz solar que vibrava com ela no palco, mesmo nos momentos noturnos, sejam pela melancolia ou pelo clima de balada. E foi nesse ritmo que ela abriu a noite, invertendo expectativas ao começar com a música que seria o bis, a contagiante “Flerte Revival”, chamar a banda para a frente do palco para saudar o público e apresentá-la músico a músico como se o show já estivesse no fim. Ela mesma abriu o show de fora do palco, vestida de leão, e com essa energia não deixou o clima cair em momento algum, mesmo que um fã estivesse disposto a passar o show inteiro conversando com ela – saia justa que Letícia tirou de letra. Ladeada por seus principais braços – o tecladista Arthur Braganti e a guitar heroine Navalha Carrera, ambos brilhando em momentos específicos – ela comandava uma banda que não perdia o pique, mesmo nos momentos mais intimistas e combinou músicas de seus três álbuns sem tirar o foco do disco mais recente, lançado no ano passado, sua arca de Noé particular em que reuniu canções animalescas para expurgar os anos de trevas que atravessamos. E ainda prometeu um show em que vai tocar seus três discos na íntegra. Um show intenso como sempre, mas, principalmente, alto astral.
O senhor Fabio Massari comemorou tornou-se oficialmente sexagenário nesta sexta-feira num evento em que redefiniu o conceito ligado à nova idade, afinal o Fabrique recebeu uma tríade de apresentações ao vivo que reuniu velhos roqueiros que vão para muito além do estereótipo ligado à vertente clássica do gênero, que quase sempre resvala num conservadorismo estético e, portanto, político. A bordoada sonora à qual o público que encheu a casa de shows na Barra Funda foi submetido a anticlichês que superaram probabilidades sonoras neste que esperamos que seja apenas a primeira edição do Massarifest, que poderá se tornar um encontro anual de cabeças abertas esperando por doses cavalares de ruído experimental, um recorte caro à audição do aniversariante. Perdi o show de abertura dos pernambucanos dos Devotos, mas cheguei a tempo de ver Paulo Barnabé desvirtuando andamentos e expectativas enquanto contrapunha vocais e letras tensas à frente de sua Patife Band, que além de engalfinhar-se em solos e mudanças de tempos entre a erudição e o jazz de vanguarda, ainda desfilou pérolas de seu disco de formação – o Corredor Polonês, de 1987, que inaugurou o que chamamos hoje de math rock -, fazendo o público cantar músicas como a faixa-título, “Tô Tenso” e a adaptação do “Poema em Linha Reta” de Fernando Pessoa, tocado logo após o pianista Paulo Braga entortar um improvável “Parabéns a Você”.
Mas as coisas ficaram pesadas mesmo quando o quinteto japonês Acid Mothers Temple subiu ao palco. Liderados pelo inacreditável guitarrista Kawabata Makoto e por seu comparsa Higashi Hiroshi, impávido nos synths apocalípticos, a instituição psicodélica do outro lado do mundo veio ao Brasil pela segunda vez com o novato Jyonson Tsu, que, além de cantar também alterna entre um alaúde grego chamado bouzouki e uma guitarra Telecaster japonesa dos anos 70, e uma cozinha inacreditável formada pelo baterista Satoshima Nani e pelo baixista Wolf. E apesar de Makoto ter o holofote sempre que começa a solar, é impressionante o que o baixista e o baterista fazem quando passam a conduzir as bases para o improviso sonoro, fundindo elementos de rock progressivo alemão a doses cavalares de noise e protopunk, transformando o grupo em uma usina de ruído rítmico de tirar o fôlego. Mas não há como desviar o olhar do guitarrista fundador da banda, que encarna um Jimi Hendrix alienígena, que empilha camadas de microfonia enquanto transforma seu instrumento em uma antena elétrica que capta ruídos do espaço sideral em músicas que ultrapassam os dez minutos. A apresentação culimou com uma tour de force de Makoto, quando este entregou seu instrumento para o público tocar antes de pendurá-lo no teto do palco, deixando-a sozinha ressoando ecos do cosmo. E quem ficou até o final ainda ouviu, sem saber, uma música nova dos Boogarins que o Mancha, que estava discotecando entre as bandas, tocou logo que a banda japonesa terminou.
Há um tempo venho falando que há uma nova geração na cena musical brasileira que está vindo com tudo. Uma molecada de parcos 20 anos que escuta todo tipo de música, vai atrás das referências, quer saber mais e mete a mão na massa, sem medo de quebrar a cara – afinal as coisas só acontecem quando elas são feitas. E nesta quinta-feira pudemos assistir a uma apresentação exemplar que não apenas mostra que essa geração não está para brincadeira, como estabeleceu um novo padrão de excelência. Quando Thalin, VCR Slim, Cravinhos, Pirlo e iloveyoulangelo subiram no palco do teatro do Sesc Pompeia para mostrar ao vivo aquele que é um dos principais discos de 2024, eles extrapolaram todas as expectativas e não apenas fizeram o melhor show do ano como elevaram o disco a um outro patamar. Podendo exibir no palco o disco Maria Esmeralda como o que ele realmente é – uma obra conceitual, com começo, meio e fim, que mistura referências gringas e brasileiras para contar uma história de perda, dor, sofrimento e redenção. E fizeram isso não apenas chamando quase todos os convidados do disco (Doncesão, Servo, Yung Vegan, Quiriku e Rubi – só Tchelo Rodrigues ficou de fora), como criando toda uma ambientação para apresentar tudo de forma espetacular: do cenário minimalista que criava uma sala de estar com sofá e poltrona, às projeções que misturavam cenas em preto e branco gravadas previamente com imagens captadas durante o próprio show, à luz de Olivia Munhoz e um roteiro redondo e fechado como um filme (com direito a créditos finais e sem bis), num show enxuto de menos de uma hora em que todos puderam brilhar sem perder o compromisso com o todo. Desde as bases disparadas por VCR Slim e Pirlo, aos vocais de Iloveyouangelo, Cravinhos (que também tocou lindamente violão e guitarra) e, em especial, a força que é Thalin, um MC único, de flow interminável, carisma natural e diferentes personagens em sua voz, a grande estrela da noite. Mas mesmo o brilho inacreditável dele não tirou o foco da história que estava sendo contada, que não pode ter a presença de Marília Medalha (escalada para a apresentação, não se sentiu bem para subir no palco, mas passa bem), mas teve duas faixas inéditas, participação de Matheus Coringa e fez o quinteto atingir um novo padrão de excelência tanto para os artistas de sua geração para os das anteriores. Parabéns ao Sesc Pompeia, que peitou uma ideia ousada de jovens que estão com sangue nos olhos e mostram os novos horizontes que estão despontando. A lua cheia no final só consolidou uma noite perfeita. O bom da música, já disseram, é que quando ela bate não dó.
Esta quarta-feira assistiu a um acontecimento ímpar e insólito: Jards Macalé tocando no palco do Picles! Não pelo fato do Macalé ser um gigante da MPB que só toca em casas de grande porte ou que o Picles nunca tenha recebido artistas maiores que o underground, mas pelo fato de conectar duas histórias contraculturais ainda em curso. Por toda sua vida Jards tocou para milhares ou dezenas de pessoas, com banda ou só com seu violão, então o palco do Picles em si não era uma novidade, mas pelo fato de sua presença dar uma espécie de bênção ao sobrado mais agitado do bairro de Pinheiros, chancelando a trajetória do Picles a uma história de cultura marginal que atravessa a história do Brasil. Sentado em uma poltrona de hotel cinco estrelas (especialistas em cadeiras devem reconhecer melhor o trono dado ao mestre), Jards subiu com seu violãozinho e contando causos entre as várias pérolas que trouxe para a noite, premiou o público da noite com uma apresentação de mais de uma hora, feliz e falante. No repertório, clássicos de seu primeiro álbum (“Farinha do Desprezo”, “Revendo Amigos”, “Mal Secreto” “Movimento dos Barcos” e “Let’s Play That”), vários hinos dos anos 70 (como “Negra Melodia”, “Boneca Semiótica”, “Anjo Exterminado”, “Soluços”, “Só Morto” e “Sem Essa”), duas bossas-novas (“Corcovado” e “O Pato”, em que fez um scat como se fosse uma dessas aves – ou seria um squack?) e músicas mais recentes (como “Falam de Mim”, “Meu Amor Meu Cansaço”, “Coração Bifurcado” e a novíssima instrumental “Um Abraço do João”, quando contou a história já clássica de seu telefonema para João Gilberto), boa parte delas cantada em uníssono pelo público fanático que lotava o Picles. A emoção era recíproca e Jards chegou a esquecer como se começava uma de suas músicas mais emblemáticas, “Vapor Barato”, que emendou com “Hotel das Estrelas” quase no final. Quando o encontrei depois do show, ele me explicou que sempre confunde o começo de “Vapor Barato” com “Movimento dos Barcos”, porque as duas começam com o autor falando em estar cansado. “Os anos 70 eram muito cansativos”, confessou, tirando todo o glamour que damos àquela década. E Jards repete o feito nesta quinta, quando toca pela segunda vez no Picles – também com ingressos esgotados.
Não foi apenas uma maravilha o encontro do Bufo Borealis com o guitarrista Lucio Maia no palco do Centro da Terra nesta terça-feira. A apresentação, batizada pela banda instrumental de Um Passo à Frente, realmente avançava adiante a cada minuto em que a noite mergulhava em sua escuridão, cada vez mais mexendo nas cabeças e corações do público que encheu o teatro para entrar naquela viagem. O amálgama jazz funk idealizado por Rodrigo Saldanha, Juninho Sangiorgio, Anderson Quevedo, Paulo Kishimoto, Tadeu Dias e Vicente Tassara começou a noite mostrando músicas de seu terceiro álbum, que ainda não tem data de lançamento definida mas deve sair entre este ano e o próximo, para só então receber o guitarrista pernambucano. Acompanhado do Bufo Borealis Lucio primeiro mostrou músicas de seu único álbum solo, o disco batizado com seu nome que lançou em 2019, para depois seguir o sexteto em composições de seus discos anteriores. E a cada nova jam, que atravessava minutos como se fossem horas e segundos ao mesmo tempo, o encontro das duas partes ia mostrando-se mais intenso e próximo, mas ninguém estava preparado para o que aconteceu quando os músicos caminharam rumo ao delírio cósmico que nos proporcionaram ao entrarmos num dos maiores momentos de melancolia psicodélica já ouvidos, quando erigiram um monumento não-palpável à tour de force que George Clinton provocou seu guitarrista Edie Hazel (à época da gravação, em 1971, com parcos 17 anos) a celebrar a dor da perda e a alegria da luz em homenagem à passagem de Jimi Hendrix. Ouvir “Maggot Brain”, do Funkadelic, esticada por dezesseis minutos no palco do Centro da Terra foi certamente um dos grandes momentos de 2024 – e não apenas para quem esteve presente nessa sessão especial. Afinal, essas frequências sonoras ainda estão por aí…
Que preciosidade a apresentação de Giu de Castro nesta segunda, quando o Gole Seco fez a terceira noite de sua temporada no Centro da Terra. Enquanto suas colegas Niwa e Loreta Colucci desdobraram seus trabalhos autorais nas noites anteriores, Giu, que ao contrário das duas primeiras (ainda) não tem seu primeiro disco solo, resolveu transformar o palco em sua primeira obra musical autoral, dividindo-a em quatro partes. Na primeira sentou-se ao piano para cantar duas músicas próprias sem letras, melodias profundas e apaixonadas cantaroladas sobre as teclas. Na segunda parte, convidou a poeta Antonia Perrone para acompanhá-la ao piano, enquanto Giu cantava versões musicadas por ela mesma – mais densas e pesadas que as primeiras – de poemas escritos por aquela amiga, depois de apresentar o contexto da criação ao projetar no telão uma conversa por Whatsapp entre as duas. Na terceira parte, chamou Loreta, Niwa e Nathalie Alvim, suas companheiras de grupo vocal, num jogo de luz e sombras e juntas cantaram a noturna “Noite Passada Uma Coruja Pousou no Meu Parapeito e Disse” e uma versão musicada para “Distante Amor”, do poeta alemão Goethe. Mas o centro da noite foi a última parte, quando apresentou Manual do Tempo de Um Dia, composto em parceria com o poeta e ator Gabriel Góes, separando quatro belíssimas canções univitelinas com a ajuda do piano de Nicholas Maia e do próprio Gabriel, que além de interpretá-las cenicamente e fazer pontuais segundas vozes, também fez as artes em texto no telão que também contextualizavam o processo criativo dos dois num híbrido de vídeo-arte com poesia concreta e, de novo, conversas de whatsapp. Manual… é uma obra pronta que mistura música, teatro, poesia e performance e é um começo arrebatador para uma carreira solo autoral – pois mesmo que as letras não sejam de Giu, as músicas e a concepção da apresentação são. “Compor um disco usando a mesma poesia”, como resumia um dos versos. Ela voltou para o bis quando cantou sozinha o poema de Goethe ao piano. Obrigado Giu pela linda noite mágica, – que espero ver rodando muito por aí…
“São Paulo tem a melhor plateia da turnê”, disse Colin Caulfield, baixista do Diiv, que apresentou-se neste domingo no Cine Joia. Entre camadas pesadas e oníricas de microfonia e sussurros adocicados, a banda nova-iorquino apresentou-se pela segunda vez no país desfilando as músicas de seu disco mais recente, o excelente Frog in Boiling Water. Liderada pelo guitarrista e vocalista Zachary Cole Smith, a banda ainda conta com o segundo guitarrista Andrew Bailey e o baterista Ben Newman na formação, todos trabalhando nessa mistura de ruído com gosto de sonho que caracteriza o som do grupo, que localiza-se entre o noise, o shoegaze e o dream pop, com altas doses de guitarras pós-punk que ecoam do Cure ao Sonic Youth. Sem trocar muitas palavras com o público, a banda preferiu colocar imagens no telão, que misturavam infomerciais com sites com teoria da conspiração, trechos de telejornais e registros de redes sociais, marcas e logotipos, além de textos que explicavam, de forma irônica, o que a banda estava fazendo. O som do Joia, que normalmente pena quando recebe este tipo de artista, estava jogando bem a favor e, mesmo não estando muito alto (talvez exatamente por isso), deixava tanto a banda se ouvir quanto o público identificar cada instrumento e as contribuições de cada músico para o a carga sonora do grupo. Ao final da apresentação, pouco antes de anunciar a última música, o grupo engatou “Blankenship” e fez a plateia jogar-se numa imensa roda de pogo, a maior que já vi no Cine Joia – além de puxar um coro “olê olê olê Diivêêêêê Diivêêêêê”, o que encantou a banda a ponto do baixista fazer o comentário do início do texto. Noitaça!
E ainda deu tempo de passar no novo endereço do Porta, que saiu da Rua Fidalga e foi parar no quarteirão entre a Inácio Pereira da Rocha e a Cardeal Arcoverde, na fronteira entre os bairros de Pinheiros e Vila Madalena, do lado do Ó do Borogodó e em frente ao cemitério. Depois de dois anos criando público e alimentando uma cena underground, alternativa e também pop, Paula Rebellato e os irmãos Bruno e Raphael Carapia mudaram de endereço para uma casa espaçosa, de pé direito alto, com direito a mezzanino, vitrais coloridos e isolamento acústico perfeito, abrindo a casa pela primeira vez neste sábado, sem cobrar ingresso, para orgulhosos mostrar o novo espaço que estão inaugurando. A noite começou com os shows do Rádio Diáspora e das Mercenárias, mas só consegui chegar a tempo de ver a última apresentação da noite, a banda Madrugada, que conta com Paula e Raphael na formação e que agora tem dois bateristas – Yann Dardenne e Cacá Amaral – e cujo groove é completo com o baixo de Otto, irmão de Yann. A anestesia kraut a que o grupo submeteu as mais de cem pessoas que se espremiam na nova casa, numa verdadeira coluna social da cena indepnedente de São Paulo, coroou uma noite em que o novo estabelecimento mostrou a que veio. Viva o Porta!
Depois do show catártico de lançamento de seu Novella no mês passado, quando reuniu o maior público para uma apresentação somente sua na Áudio, Céu fez um show irrepreensível ao apresentar-se no Sesc Vila Mariana neste sábado. Ao contrário do show anterior, em que pode passear pelo repertório de toda sua discografia e contou com participações especiais, desta vez a noite focava no disco recém-lançado e abria exceções apenas alguns hits dos quase vinte anos da carreira da cantora paulistana. O fato de ter feito uma série de shows internacionais antes de lançar o disco no Brasil a colocou em sincronia perfeita com a banda que já a acompanha há quase dois anos, com Thomas Harres na bateria e disparando efeitos, Leo Mendes no cavaquinho e na guitarra, Sthe Araújo nas percussões e o fiel escudeiro Lucas Martins no baixo, os dois últimos dividindo os vocais com Céu – e cantando muito! – sem se sentirem intimidados pela voz da dona da noite. Com um vestido preto longo chiquérrimo e de cabelo preso, esta mostrava completo domínio do palco, ainda mais com o auxílio de duas feras do backstage – o som perfeito do mestre Gustavo Lenza e o jogo de luzes mágico de Franja, cada vez mais conversando com o ritmo da banda. Mesmo com o foco em Novella, o show teve momentos dedicados a outras joias de sua coroa, como um momento dedicado ao disco Tropix e quando “Bubuia” transformou-se em “Cangote”, ambas pinçadas de seu melhor disco, Vagarosa. Seu disco de estreia, que ela lembrou que completa duas décadas no ano que vem, também foi visitado, primeiro quando “Mora na Filosofia” de Monsueto invadiu o hit “Malemolência” e depois quando ela desenterrou “Mais Um Lamento” no bis. Os dois únicos lapsos que aconteceram durante a noite (quando Céu cantou antes da hora na introdução de “Contravento” e quando Thomas não disparou os efeitos no início de “Reescreve”) não chegaram a macular a apresentação, primeiro por terem sido discretos e rapidamente corrigidos (e com bom humor) como pareceram sublinhar a natureza humana do novo disco, que Ceú fez questão de frisar logo no início do show. A noite terminou com “Rotação” e Céu despediu-se do palco certa de que é dona de um dos melhores shows do Brasil.