Quem me acompanha sabe que eu sou completamente fissurado por João Gilberto – e sempre fico de olho na mina de ouro que é o canal no YouTube mantido pelo caçador de pepitas do mestre Pedro Fontes, o Esqueleto Lavrador. Ele agora pinça duas joias direto da TV alemã em 1968, quando João apresentou-se ao lado do francês Pierre Le Marchand (tocando chimbal) e do alemão Hans Koller (no sax) dentro do programa Monsieur 100.000 Volt, apresentado pelo francês Gilbert Bécaud (cujo programa era batizado em homenagem a seu apelido, por ser muito esquentado) na emissora ZDF (Zweites Deutsches Fernsehen, a TV pública da então Alemanha Ocidental). O programa, exibido originalmente em novembro daquele ano, reúne dois momentos mágicos como só João sabe fazer, cantando “O Samba da Minha Terra” de Dorival Caymmi e “Garota de Ipanema” de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, ambas em trechos coloridos com uma imagem linda de encher os olhos. Isso sem contar o som, que delícia…
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Repetindo a dobradinha que já tinha feito com o compositor britânico Tim Phillips há dois anos, quando os dois regravaram “Who By Fire” do Leonard Cohen e a canção tradicional folk “Run On” para a trilha sonora da primeira temporada série irlandesa Mal de Família, PJ Harvey mais uma vez visita uma canção alheia – e que canção! – ao regravar nada menos que “Love Will Tear Us Apart”, música-símbolo da carreira do Joy Division. Lógico que é um deleite ouvir o timbre de Polly Jean declamando as palavras pesadas de Ian Curtis, mas a produção de Phillips plástica e oitentista deixa a música aquém do lugar que poderia chegar – e precisava desse vocoder quase no final da música?
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Ícone do humor brasileiro, Ary Toledo, que morreu neste sábado, era um resistente. Começou na carreira artística ainda adolescente, mas só aos 27 anos passou ao dedicar-se ao humor, afiando um estilo que, em vez de criar personagens ou bordões, como muitos de seus contemporâneos, o tornou um especialista em contar piadas – apimentar e adocicar histórias cômicas com o auxílio de olhares, caras imprevisíveis, silêncios, caras e bocas, quase sempre de conotação sexual e de duplo sentido. Tanto que, 60 anos depois, seguia fazendo exatamente isso, associando seu nome a essa categoria do riso concentrada em pequenas historietas sórdidas. Começou no rádio e logo depois foi para a televisão, além de ter tentado brevemente carreira na música e no cinema ndos anos 60 e foi preso na ditadura militar por causa de uma piada (“quem não tem cão caça com gato, que não tem gato caça com ato”). Era o principal nome de um serviço prestado pela estatal de telefonia brasileira chamado “Disque Piada”, em que o público ligava para um número (em Brasília era 137) para ouvir uma piada nova todo dia, contada por ele. Foi casado com sua eterna musa, a vedete Marly Marley (que faleceu em 2014), por 40 anos.
Morreu nesta sexta-feira o ator cearense Emiliano Queiroz, mais conhecido pelo papel de Dirceu Borboleta, aspone do vilão Odorico Paraguaçu na novela e depois minissérie O Bem Amado, de Dias Gomes, que extrapolou a obra original e foi parar na Escolinha do Professor Raimundo, do conterrâneo Chico Anysio. Sempre foi um rosto conhecido pelo público das novelas desde que começou a atuar nelas, em 1965. Fez parte do elenco de clássicos do gênero como Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Roque Santeiro, Pecado Capital, Maria Maria, Estúpido Cupido, Pai Herói, Ti Ti Ti, Cambalacho, O Outro, Bebê a Bordo, Top Model, Rainha da Sucata, Barriga de Aluguel, Que Rei Sou Eu?, Deus nos Acuda, A Próxima Vítima, e das séries Tenda dos Milagres, Tereza Batista, Anos Rebeldes, Hilda Furacão, Chiquinha Gonzaga, Sítio do Picapau Amarelo, além de ter participado da primeira versão teatro de O Pagador de Promessas e de ter vivido o travesti Geni na primeira montagem da Ópera do Malandro de Chico Buarque. No cinema esteve no elenco de Navalha na Carne, Dois Perdidos numa Noite Suja, Independência ou Morte, O Grande Mentecapto, Tiradentes, O Xangô de Baker Street e Madame Satã, entre outros. Morreu de ataque cardíaco após passar dias internado num hospital no Rio de Janeiro.
Embora sempre referido como jornalista, Cid Moreira, que morreu nesta quinta-feira, era só um locutor. Sua voz retumbante foi uma das inúmeras a ganhar território nacional graças à supremacia cultural da TV Globo durante a ditadura militar e quase sempre funcionava como a voz do status quo, dando com seu grave timbre a versão oficial para acontecimentos cotidianos. Unanimidade em seu tempo à frente do Jornal Nacional, deixou a bancada do programa para ler a Bíblia em outra emissora, o que diz muito sobre seu papel histórico. Prefiro lembrá-lo quando seu patrão teve de curvar-se a Leonel Brizola e o obrigou judicialmente a ler em voz alta aquilo que boa parte do país sabia ou suspeitava. Assista abaixo: Continue
Apesar de apenas ter atingido a fama global quando começou a aceitar papéis no cinema e na TV que encaixavam-se em sua persona de matrona desde o fim do século passado, Maggie Smith, que morreu nesta sexta-feira, já era considerada uma grande dama do teatro inglês desde os anos 60, quando foi descoberta por Laurence Olivier quando havia começado a atuar National Theatre inglês e passou a interpretar peças clássicas sob sua tutela, vivendo fortes personagens femininas do teatro grego, Shakespeare, Ibsen e Noël Coward, atuando ao lado de nomes como Richard Burton, Elizabeth Taylor e Orson Welles e ganhando prêmios por suas performances. Ainda nos anos 70, quando atingiu sua maturidade artística, começou a atuar no cinema e na TV, primeiro em produções inglesas (principalmente comédias e adaptações de Agatha Christie) e depois em filmes norte-americanos (dirigidos por George Cukor, Robert Moore e Alan Pakula, por exemplo). Quando recebe o título de Dama (equivalente feminino do Sir inglês) pela Rainha Elizabeth II em 1990, começa a ser chamada para produções maiores, trabalhando em filmes com Spielberg e na série Mudança de Hábito, que forjaram a imagem pública que a tornou mais conhecida atualmente, ao viver personagens refinadas e esnobes no filme Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman, que foi a inspiração para a série que ajudou a coroa sua reputação anos mais tarde, Downton Abbey, além de ter trabalhado em quase todos os filmes da série Harry Potter.
Personagem único na história do Brasil, Sílvio Santos, que morreu neste sábado, misturava dois papéis que normalmente andam separados na cultura brasileira: era um homem de negócios, de bastidores e das sombras ao mesmo tempo em que era protagonista, estrela e comunicador. Empresário de si mesmo, transformou-se num produto que era a melhor propaganda de seu negócio e quando chegou ao ápice, durante a ditadura militar, assumiu ser um manipulador de opinião pública que fazia isso descaradamente. Enquanto todos os magnatas da comunicação no mundo escolhem seus testas de ferro para emplacar sua visão de realidade, Sílvio Santos fazia isso ele mesmo, misturando ares de gestor, self-made-man e popstar. Uma figura tão carismática quanto vil, tão amada quanto odiada, igualmente puxa-saco e idolatrado, num retrato deformado – e de alguma forma fiel – à natureza social do brasileiro.
Rubens Antônio da Silva, mais conhecido como Caçulinha, nos deixou no inicio desta semana. O multiinstrumentista tornou-se um nome nacional ao assumir a direção musical e o papel de principal coadjuvante do programa Domingão do Faustão, desde que o apresentador Fausto Silva saiu do Perdidos na Noite da Bandeirantes para a TV Globo — e o levou a tiracolo. Mas quando isso aconteceu, há quase 40 anos, ele já tinha escrito seu nome na história da música brasileira ao colaborar com praticamente todos os grandes nomes deste cânone, de João Gilberto a Luiz Gonzaga, passando por Roberto Carlos, Elis Regina, Gonzaguinha, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Jair Rodrigues, Erasmo Carlos, Wilson Simonal, Dominguinhos, Maria Bethânia e Milton Nascimento, além de ter feito parte da história de nossa TV em programas como Essa Noite se Improvisa, Os Trapalhões, Balão Mágico, Raul Gil, Clube do Bolinha, Almoço com a Estrelas, A Praça é Nossa e o programa do Ratinho. Estava internado há dez dias, recuperando-se de um infarto.
Conhecida como a Brenda do seriado Barrados no Baile, que fez sucesso no início dos anos 90, a atriz norte-americana Shannen Doherty morreu neste sábado. Com parcos 53 anos, ela foi vítima de um câncer que lhe acompanha desde 2015. Ao contrário de todo o resto do elenco do seriado, ela ainda conseguiu emplacar um segundo personagem em sua breve carreira, ao viver uma das jovens bruxas da série Charmed. No ano passado, ela anunciou a doença, que incialmente começou como um câncer de mama, havia espalhado para seu corpo, primeiro para os ossos e depois para o cérebro.
E conforme previsto, a Apple TV anunciou – com um teaser que não revela praticamente nada – a data de estreia da segunda temporada do seriado Ruptura: 17 de janeiro do ano que vem! Sim, ainda tá muito longe, mas se lembrarmos que essa temporada quase não sai por problemas internos da produção, só o fato de terem anunciado uma data já é ponto a favor.
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