Trupe Chá de Boldo 2023: “Água um dia o asfalto fura”

, por Alexandre Matias


(Foto: Adelita Ahmad/divulgação)

A Trupe Chá de Boldo está lentamente voltando. Depois do período pandêmico, o grupo paulistano começa a mostrar as cores do novo disco, Rua Rio, inspirado pelo bairro do Bixiga, que tornou-se tão central para a banda, que há anos ensaia num estúdio na rua 13 de maio. “Saracura”, composta por Remi Chatain e Gustavo Galo, celebra um dos inúmeros rios sufocados pela cidade, justamente que passa pelo bairro eternizado por grandes nomes do samba paulistano, lar de teatros clássicos como o Oficina e o Sérgio Cardoso e amálgama de culturas que se encontram em suas ruas, seja italiana, nordestina ou negra. “Sabíamos da existência do Rio Saracura no bairro por conta dessa proximidade, mas também pela memória do samba, de composições do Geraldo Filme, por exemplo”, explica a banda em uníssono. “E, de repente, em meio a descoberta do sítio arqueológico onde se pretende construir a estação do metrô – ‘pretende’ pois há resistências populares a esse projeto -, a canção veio a tona como um modo de afirmar as águas, a força irrefreável dos rios em uma cidade com tanto asfalto, com tanta destruição de vitalidades.” “Saracura” é a primeira faixa de Rio Rua a vir a público, nesta sexta-feira, mas o grupo liberou pra ser ouvida em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.

Ouça abaixo.

“Os rios em São Paulo são praticamente subterrâneos, undergrounds”, continua a banda. “De tempos em tempos eles sobem a uma altura inimaginável dando uma espécie de recado revoltado”. A conexão com o bairro também trouxe as primeiras participações especiais do disco também para o single, quando o grupo recebe Thobias da Vai-Vai e Jady Silva, ambos da escola de samba Vai-Vai, outro patrimônio do Bixiga – a canção não começa com o nome da escola de samba por acaso. “Quando partimos para o estúdio não pensamos duas vezes em convidar o Thobias, uma das vozes da Vai-Vai, um dos grandes intérpretes de samba da cidade, e a Jady Silva, instrumentista da escola, uma virtuose em seu instrumento e que nos últimos tempos acompanhamos como fãs pelas redes”, continua a banda, que suspira feliz com a beleza do próprio single: “E é tão bonito o nome do rio, Saracura, isto é, além da ave, do voo, uma saúde, uma saída para um momento violento de grande parte da sociedade, do homem, do capitalismo, em relação às forças da natureza.” Que venha Rio Rua!

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