A minha coluna no Caderno 2 de ontem foi sobre os três bate-papos que realizei na Expo Y, semana passada.
O papel da opinião
O que é importante na internet
A velocidade e o excesso de informações da era digital tira o prumo de muita gente, tanto de quem começa a correr atrás de qualquer pequena novidade ao menor movimento quanto para quem se fecha completamente para o que se passa entre computadores e celulares. Talvez justamente por isso a opinião se torne um dos valores mais prezados desta época.
Por um lado, parece que todo mundo tem a obrigação de ter opinião sobre qualquer assunto – e, claro, usá-la nas caixas de comentários de blogs, redes sociais e outros ambientes virtuais. Por outro, os assuntos também vão ficando cada vez mais repetitivos e parecidos, caindo no problema indicado pelo escritor norte-americano Eli Pariser em seu livro The Filter Bubble. Ele alega que, à medida que as pessoas só querem falar sobre os mesmos assuntos de sempre, acabam se fechando nos temas de sempre e, aos poucos, fogem dos debates que interessam à sociedade.
Daí a importância de se ter opinião e de valorizá-la. Esse foi o tema debatido nas três entrevistas que fiz, em nome do caderno que edito, o Link, durante o evento Expo Y, que ocorreu na semana passada, no Pavilhão da Bienal, em São Paulo.
Para conversar sobre o assunto, chamei três nomes que já se tornaram referência em suas áreas: Bia Granja, organizadora do festival de internet YouPix, Tiago Dória, do blog que leva seu nome, e Carlos Merigo, editor-chefe do blog Brainstorm9. Cada um deles se tornou autoridade nos assuntos com que lidam diariamente, em seus veículos. O YouPix, de Bia Granja, começou como uma revista e se tornou o maior evento de cultura de internet no Brasil (ela faz questão de frisar a diferença entre “cultura de internet” e “cultura digital”. O Tiagodoria.com era um blog de links interessante que, aos poucos, foi começando a falar de suas principais áreas de interesse – comunicação e tecnologia – e em menos de uma década se tornou uma das principais referências online sobre as transformações que acontecem no jornalismo com a chegada das mídias digitais. Caminho parecido com o traçado por Merigo, que se especializou em publicidade, sua área de atuação.
Os assuntos abordados foram os mais diversos dentro de suas áreas, mas todos chegaram a um mesmo consenso: que não adianta ter opinião sem ter responsabilidade sobre ela, que ser transparente e franco é uma obrigação e que é preciso respeitar o leitor e que isso não necessariamente quer dizer publicar o que ele quer ler, mas também o que ele nem sequer imagina que quer ler. Valores que já tinham sido estabelecidos no mundo offline e que, aos poucos, começam a fazer a diferença também online.
Depois do papo de ontem com a Bia, a Expo Y começa com uma conversa que tenho com o Tiago Dória, a partir das 14h. O assunto, com nas outras mesas da parceria da Expo Y com o o Link Estadão, continua sendo o papel da opinião em tempos digitais, só que com a Tiago, o foco será mais em mídia, jornalismo e cultura digital. Depois da Bia e do Tiago, amanhã será a vez do papo com o Carlos Merigo, sobre publicidade. Quem vai?
Que frase:
“As melhores mentes da minha geração estão pensando em como fazer as pessoas clicarem em anúncios. Isso é um saco!”
Jeff Hammerbacher, no novo livro The Filter Bubble, destacado pelo Tiago Dória. A imagem eu tirei daqui.
Lost é apenas o começo.
Acredito que muito do impacto de Lost reside no fato de ser a primeira grande série que estreou com a internet mais consolidada entre as pessoas. Esse detalhe potencializou todo o ecossistema criado em torno da série.
O interessante é que a série ajudou a quebrar e a provar certas premissas.
Primeiro, provou que o consumo de vídeos de longa duração na web era viável. Meio óbvio falar isso hoje em dia, mas até pouco tempo atrás existia um mito de que as pessoas somente teriam paciência para assistir a vídeos de até 3 minutos na web. Hoje é comum conhecer pessoas que assistiram a toda série sem nunca terem se sentado diante de uma televisão. Consumiram tudo em frente a tela de um computador.
Mais: Lost também provou que um modelo menos restritivo de distribuição é possível.Um dia após a exibição na TV, os episódios eram disponibilizados no site da ABC, inclusive via streaming, tecnologia cada vez mais endossada pela indústria de música e filmes.
Aliás, Lost foi uma das primeiras séries a estar disponível na loja online iTunes, chegando a servir de carro-chefe para a inauguração da versão alemã da loja da Apple.
Depois de Lost será difícil assistir a uma série como antes. Sem ter a alguns cliques de distância os episódios para assistir quando e onde quiser, as teorias das conspirações, as comunidades online para discutir cada detalhe da série, os remixes publicados no YouTube, os ARGs, enfim todo o rico ecossistema criado em torno da série.
No caso de Lost, assistir a um capítulo era apenas o início da experiência. Reflexo de que, hoje em dia, o consumo de um conteúdo (seja uma notícia, música, filme) deixou de ser apenas o ponto de chegada. É o início da experiência.
* Tiago Doria é um dos poucos caras que escreve sobre mídia e tecnologia no Brasil que precisa ser lido sempre