O solo do Bonifrate também é outro que tá indo pras cabeças nesse balanço de fim de ano. Comigo concorda o Tiagostini:
A síntese da safra atual está em “Cantiga da Fumaça”, música de Um Futuro. Partindo de terra arrasada (“as ruas andam vazias, o bonde sem condutor”), Bonifrate cria em quase seis minutos um hino de renovação pessoal e coletiva. Se há quem diga que não existe amor em SP – ou em qualquer outro lugar -, o cantor propõe aqui uma alternativa: pega tudo que quiser, guarda na memória e se una com sua gangue de almas destemidas. É hippie ao extremo, mas de forma natural. “Cantiga da Fumaça” tem a aura daquelas canções que encerram ciclos. Culpa, talvez, da simplicidade do aranjo, levado por um violão lento e pontuado por frases longas e sentimentais de harmônica. Soa como Dylan em 65 com “Like a Rolling Stone”. Não que Bonifrate tenha tais pretensões, e nem é o caso de se ater ferrenhamente à comparação. A época é de revoluções pessoais, íntimas, particulares. Exatamente como sugere a canção.
Dá pra ouvir o disco inteiro aqui.
Bonifrate – Cantiga da Fumaça (MP3)
Tiago lembra que o Cérebro Eletrônico já está na produção de seu próximo disco – devidamente registrada num diário online – cujas novas faixas (como “Cama” no vídeo acima) devem aparecer no show que a banda faz na festa do Scream & Yell, tocada pelo próprio Tiago ao lado do Mac, o dono do site, que agora rola na Dissenso, a casa que o Elson abriu em Pinheiros.
Foto: Liliane Callegari
“Outro dia dei uma dura numa menina que toda vez que me encontra fica dando conselhos batidos. A pessoa não tem noção de como é a minha vida. Primeiro reclama que você não leva metais pro Studio SP. Velho, eu já pago do bolso pra três caras, como é que eu vou levar metais? E se levar, ninguém vai ouvir por que o som é uma bosta. E eu não consigo ensaiar. A vida é outra. Não tem mais o negócio de chamar o iluminador, fazer cenário e etc. Então eu fazia aquele som, nego não ouvia, não tinha lugar pra tocar e eu fui sacando. Não é também que mudei só porque neguinho queria me ouvir, porque aí pode parecer meio ridículo. Lógico que eu já gostava de outras coisas. Só acelerou o processo. Então, se (violão de) sete cordas não dava mais, vamos logo chamar um guitarrista. Só que eu queria juntar o guitarrista com o sete cordas, que se recusou a fazer isso. Tudo vai acontecendo e vai te acelerando na vida, te joga pra um lado e pra outro. Não tem muito glamour intelectual. Claro, tem no sentido de você sacar as coisas e ir tocando. Eu podia deprimir, ter o perfil do gênio que não consegue… Porém, como estou a fim, eu vou tocar. Então a menina vira pra mim, no Rio de Janeiro, e fala: “Gostei muito do seu show, mas você devia ter tocado algumas covers conhecidas, pras pessoas saberem de onde você vem”. No Rio ninguém tem dinheiro pra me levar, então arrumei uma banda carioca pra tocar. Dream team: Kassin, Domenico e Bubu. Puta banda foda. Passei de cara 10 faixas, os caras tiraram, fiz um ensaio de três horas e toquei. Pô, estou no Rio de Janeiro, fazendo meu melhor, não gostou do show, beleza, mas não fala de coisa que não tem a ver! O mundo não é assim. Eu não estava com a minha banda, não ensaiei, não ganhei dinheiro – aliás, paguei pra ir – não dá pra ter metais. Esse show que ela queria ver eu já fiz, no Sesc. Tinha metais, piano de cauda, figurino, cantoras, já foi. Você estava nesse? Não? Esquece. Agora é rock n’ roll. É vida real. Minha geração é essa também, faz do jeito que dá. Neguinho pode achar que é meio capenga, mas a gente ainda faz muito. Tudo isso melhorou. E toda vez que encontro com músico de fora de São Paulo, então, parece que a gente mora em Nova York. Salvador é um deserto, terra arrasada. Tem gente foda fazendo musica foda e se fudendo na Bahia, em Belo Horizonte, Recife, no Rio de Janeiro. O Kassin toca mais em São Paulo do que no Rio. O Brasil não expande, vai ficando cada vez mais só em São Paulo. E não é nem no interior. Acabei de passar no primeiro edital da minha vida, no Sesi. Vou tocar em Marilia, Franca. A chance de tocar para quatro pessoas é enorme. Não tem mercado. Mas beleza, vou ser pago pra isso. Fui tocar no Sesc Ribeirão Preto e tinha mais gente no palco do que na platéia. Em São Paulo não, se você tocar uma vez por mês está bom”
E por falar em música brasileira, quem desanda a falar sobre o papel da cena atual e sua importância é o Rômulo Fróes, que deu essa imensa entrevista ao Marcelo e ao Tiago em que dá seus pitacos sobre a situação da música brasileira do século 21. Deixa a preguiça de leitor de Twitter de lado e vá fundo.
Recém-paulistanizado, o catarina Tiago Agostini ouviu o questionamento acima de uma conterrânea e compilou faixas onipresentes nas pistas de dança de indie rock de São Paulo em dois arquivos. Algumas (como ele mesmo diz “‘Surfin’ Bird’ com os Raimundos”, por exemplo) passam longe do estereótipo, mas no geral a coletânea dá uma boa idéia de como dançam os indies – e, independente de pista, ficou bem boa.
E atenção: os links para download foram atualizados.
Disco 1
Radio 4 – “Enemies Like This”
Maximo Park – “Our Velocity”
Kaiser Chiefs – “Everyday I Love You Less And Less”
The Rapture – “Get Myself Into It”
Weezer – “Pork And Beans”
The Killers – “Mr. Brightside”
The Pipettes – “Pull Shapes”
The Sounds – “Queen Of Apology”
Scissor Sisters – “I Don’t Feel Like Dancing”
Justice – “D.A.N.C.E.”
MGMT – “Kids”
Klaxons – “Golden Skans”
The Go Team – “Panter Dash”
Los Pirata – “Nada”
The Clash – “London Calling”
Pulp – “Disco 2000 (Nick Cave Pub Version)”
Morrissey – “First Of The Gang To Die”
The Twilight Singers – “Underneath The Waves”
New Order – “Bizarre Love Triangle”
Franz Ferdinand – “All My Friends (LCD Soundsystem cover)”
Amy Winehouse – “Tears Dry On Their Own”
Disco 2
Black Rebel Motorcycle Club – “Six Barrel Shotgun”
CSS – “Left Behind”
The Strokes – “Juicebox”
Eagles Of Death Metal – “Only Want You”
Bloc Party – “Banquet”
Supergrass – “Alright”
Hot Hot Heat – “Bandages”
Peter Bjorn & John – “Young Folks”
Black Kids – “I’m Not Gonna Teach Your Boyfriend How To Dance With You”
The Ting Tings – “That’s Not My Name”
Radiohead – “Idioteque”
A-ha – “Take On Me”
Joy Division – “Love Will Tear Us Apart”
Violent Femmes – “Blister In The Sun”
Raimundos – “Surfin Bird”
David Bowie – “Rebel Rebel”
The Libertines – “Can’t Stand Me Now”
Queens Of The Stone Age – “No One Knows”
Franz Ferdinand – “This Fire”
The Smiths – “This Charming Man”
R.E.M. – “It’s The End Of The World As We Know It”