Em tempos de quarentena, eu e Polly Sjobon resolvemos falar sobre arte, cultura, solidão e reclusão, cutucando questões que são sempre associadas a grandes nomes da nossa história. Por que se retirar da vida pública? A solidão é amiga da criatividade? A popularidade é inimiga da inspiração? E falamos sobre Stanley Kubrick, Dalton Trevisan, Thomas Pynchon, Greta Garbo. Rubem Fonseca e J.D. Salinger, na edição desta semana do Polimatias.
E por falar no Jonny Greenwood, ele novamente assina a trilha sonora de um filme de Paul Thomas Anderson, o que, desta vez, também o transforma no trilheiro da primeira adaptação de uma obra de Thomas Pynchon para o cinema. E entre as faixas da trilha, que, além de composições próprias, ainda tem músicas de Les Baxter, Neil Young, Can, Minnie Ripperton, entre outros, Jonny resgatou uma música que havia composto com o Radiohead pouco depois da gravação do último disco do grupo, King of Limbs, de 2011, mas que foi descartada pela banda em seguida. Greenwood não quis desperdiçá-la e chamou meio Supergrass (Gaz Coombes e Danny Goffey) e a Joanna Newsom pra recriá-la para a nova trilha. Ei-la:
E já que estamos falando do filme, vocês já viram o outro trailer, né?
A impressão é que vamos assistir ao Big Lebowski do Paul Thomas Anderson, seja lá o que isso queira dizer.
Tava falando do livro de Thomas Pynchon que o Paul Thomas Anderson vai adaptar para o cinema e eis que surge o trailer de Inherent Vice, realocando tensões faciais e expressões fechadas para a década da vez.
Muito climão, pouca sustança – essa parece ser a tônica de quase todos os filmes de PTA (costumo brincar que o Paul Anderson que temos que dar atenção é o Paul W.S. Anderson, esse sim bem resolvido). Não que seja um mau diretor, mas ele viaja no próprio ego e erra feio a mão em filmes que contam com atuações espetaculares, deixando a direção bem aquém da interpretações fantásticas vividas por alguns dos grandes atores de nosso tempo. Claro que Inherent Vice vai ser melhor do que todos esses filminhos que tentam requentar o Scorsese de Goodfellas (como Trapaça ou O Lobo de Wall Street, do próprio Scorsese) e certamente encabeçará listas de premiações no ano que vem. Mas não me iludo, mesmo sendo o filme que vai apresentar Pynchon para as massas.
Mesmo que Inherent Vice seja um livro menor de Thomas Pynchon, a idéia de levá-lo para as telas – e, portanto, para um público maior – de Paul Thomas Anderson talvez não pareça ser a burrada que eu havia imaginado.
O filme estréia neste sábado no New York City Festival e o New York Times nos antecipa que talvez o próprio Pynchon, conhecido por ser o maior escritor recluso norte-americano depois de Salinger, esteja presente no filme fazendo uma ponta. O escritor vem aos poucos saindo da casca: primeiro foi uma participação nos Simpsons em 2003 (numa participação sensacional, em que ele, com a cabeça coberta por um saco de pão, vendia fotos com “o famoso autor recluso”) e em 2009 ele mesmo narrou o trailer do livro que Paul Thomas Anderson transformou em filme.
Por isso não é de se estranhar que participe de um filme inspirado numa obra sua – a dúvida fica apenas sobre como acontecerá esta participação. Pynchon é desses autores norte-americanos da segunda metade do século passado que fundem conhecimento enciclopédico com situações bizarras e inusitadas em longos romances que misturam eventos históricos e mundanos, como Don DeLillo, Robert Anton Wilson, David Foster Wallace e Philip K. Dick. Certamente um filme inspirado em qualquer um de seus livros desperte um novo interesse do público em relação à sua obra. E sempre é bom saber que livros como V, O Leilão do Lote 49 O Arco Íris da Gravidade ou Vineland podem ganhar novos leitores.
Mesmo que pra isso seja preciso mais um filme do Paul Thomas Anderson.
Mas a idéia errada de Gondry só parece ser superada pela de jerico do Paul Thomas Anderson, que quer adaptar um livro (menor, tudo bem) do Pynchon… Não bastasse Sangue Negro ser um exercício de vontade de ser gente grande que desperdiça duas grandes atuações, agora o cara me vem com essa… O bom é que ele também está cogitando fazer um filme sobre a história da cientologia (um roteiro conhecido online há um tempinho, chamado de The Master) e isso não me parece ser uma má idéia… Ainda mais vindo do cara que nos deu Boogie Nights e Embriagado de Amor (e nem comece com Magnólia, por favor…).
Eis o trailer do próximo livro de Thomas Pynchon, Inherent Vice, que teoricamente é narrado pelo próprio Pynchon – o último escritor recluso (ainda depois que Salinger morreu, Rubem saiu de casa por um rabo de saia e Dalton apareceu num livro de outra pessoa). Mas como a Raq bem notou, Pynchon soa muito parecido com um velho conhecido nosso…
Gênio recluso por gênio por recluso, eu prefiro um que faça uma ponta nos Simpsons: Salinger morreu, mas Thomas Pynchon segue vivo e publicando.