Sem embaraço

Desembaraçou! Sempre é bom ver um artista desabrochar e nesta terça-feira tivemos mais uma oportunidade no Centro da Terra de ver outra carreira musical tomando corpo naquele palco pela primeira vez. Quando Leon Gurfein me falou que queria soltar seu canto profissionalmente no palco, minha intuição disse que seu senso estético espalharia-se facilmente para a música. Há uma década convivendo com artistas de diferentes portes pelos bastidores (Leon faz cabelo, maquiagem e produção visual para nomes como Ava Rocha, Liniker, Tulipa Ruiz e Johnny Hooker, entre outros), ele mostrou sua familiaridade com o palco a partir de sua paixão pela música, que começou pela coleção de discos do pai nas proximidades daquele mesmo teatro, como fez questão de contar nos vários momentos em que conversou com o público e transformava o palco em seu salão e num divã ao mesmo tempo. A apresentação começou com uma cama ambient proposta por sua banda, que Leon batizou de Las Gatas Embarazadas, e Helena Cruz (guitarra, baixo e synthbass), Lauiz (teclas e MPC) e M7i9 (sintetizador, flauta, guitarra e saxofone) emudeceram a plateia por longos minutos, deixando a expectativa palpável para que a estrela da noite entrasse e cantasse suas próprias músicas – parte delas em espanhol – e versões, duas delas divididas com Manu Julian, que subiu ao palco para cantar duetos com Leon em versões em castelhano para “Little Trouble Girl” do Sonic Youth e em português para a clássica “Sea of Love”. Leon encerrou a noite misturando músicas de Ava Rocha, d’O Terno, Portishead e Luiza Lian a “Lágrimas Negras” e “Jorge da Capadócia”, como se invocasse proteção de seus orixãs pessoais da música para aquele momento, antes de cantar mais uma canção própria para fechar a noite. Ele nem esperou sair do palco para anunciar o bis, quando voltou à primeira música da noite acompanhado de um coral estelar formado por Manu, Lorena Pipa, Thiago Pethit, Laura Lavieri, Luiza Lian e Ana Frango Elétrico, espalhando a catarse que claramente sentia para o resto do teatro. Agora já está no mundo!

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De volta a “Romeo”

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O cantor e compositor paulistano Thiago Pethit aproveitou a quarentena para lançar uma versão remix para o hit “Romeo”, carro-chefe de seu disco de 2014, Rock’n’Roll Sugar Darling. A nova versão da música composta por ele e com Helio Flanders vem com novo título e como “Romeo+” apresenta-se com arranjo de cordas e metais assinado por Augusto Passos e Diogo Strauz, este último o produtor de seu disco mais recente, Mal dos trópicos – Queda e ascensão de Orfeu da Consolação, lançado no ano passado. O novo arranjo cita “All Mine”, clássico do grupo inglês Portishead, ao mesmo tempo em que Thiago consagra a citação a “Girassóis de Van Gogh”, música do rapper baiano Baco Exu do Blues que já vinha cantando em seus shows. Ficou ótimo.

Vida Fodona #616: As 75 melhores músicas de 2019

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Cinco horas de música – e feliz 2020!

Stormzy – “Vossi Bop”
Sophia Chablau + Uma Enorme Perda de Tempo – “Idas e Vindas do Amor”
Lucas Santtana + Duda Beat – “Meu Primeiro Amor”
Shawn Mendes + Camila Cabello – “Señorita”
Dua Lipa – “Don’t Start Now”
Lana Del Rey – “Fuck it I Love You”
Brockhampton – “Sugar”
Thiago Pethit – “Noite Vazia”
Sharon Van Etten – “Seventeen”
Chemical Brothers – “Got To Keep On”
Rakta – “Fim do Mundo”
Emicida + Dona Onete + Jé Santiago + Papilion – “Eminência Parda”
Clairo – “Bags”
O Terno – “Eu Vou”
Taylor Swift – “I Think He Knows”
Nill + Mano Will + Melk – “Jive”
James Blake + Rosalía – “Barefoot In The Park”
Beabadoobee – “I Wish I Was Stephen Malkmus”
Teago Oliveira – “Corações em Fúria (Meu Querido Belchior)”
Luisa e os Alquimistas – “Furtacor”
Yma + Lau – “Sun and Soul”
Wilco – “Before Us”
Saskia + Edgar – “Tô Duvidando”
Rakta – “Flor da Pele”
Mark Ronson + Lykke Li – “Late Night Feelings”
Jonnata Doll e os Garotos Solventes – “Edifício Joelma”
Lana Del Rey -“The Greatest”
Black Alien – “Take Ten”
Caribou – “You and I”
Guaxe – “Desafio do Guaxe”
Haim – “Summer Girl”
Deerhunter – “Timebends”
Lil Nas X + Billy Ray Cyrus – “Old Town Road”
BaianaSystem + Manu Chao – “Sulamericano”
Luedji Luna + Djonga – “Saudação Malungo (Nyack & Plim Remix)”
Chico Bernardes – “Sem Palavras”
Boogarins – “Sombra ou Dúvida”
Emicida + Majur + Pabllo Vittar – “AmarElo”
Weyes Blood – “Movies”
Jards Macalé – “Pacto de Sangue”
Ana Frango Elétrico – “Chocolate”
Tyler the Creator – “Earfquake”
Michael Kiwanuka – “Hero”
BaianaSystem + Antonio Carlos & Jocafi + Edgar + BNegão – “Salve”
Kaytranada + Kali Uchis – “10%”
Bárbara Eugenia – “Perdi”
Nill – “Mulher do Futuro Só Compra Online”
Toro y Moi – “Ordinary Pleasure”
Lulina – “N”
Metronomy – “The Light”
Siba – “Carcará de Gaiola”
Tyler the Creator – “I Think”
O Terno – “Pra Sempre Será”
Mateus Aleluia = “Confiança”
Weyes Blood – “Everyday”
Anderson .Paak + André 3000 – “Come Home”
Angel Olsen – “Lark”
Douglas Germano – “Tempo Velho”
Luiza Brina + César Lacerda – “De Cara”
Sessa – “Dez Total (Filhos de Gandhy)”
Lana Del Rey – “Hope Is A Dangerous Thing For A Woman Like Me To Have-But I Have It”
Juliana Perdigão – “Só o Sol”
Luisa e os Alquimistas + Catarina Dee Jah – “Sol em Câncer”
Jards Macalé – “Limite”
Def – “Alarmes de Incêndio”
Karina Buhr – “Amora”
Céu – “Make Sure Your Head is Above”
Alessandra Leão + Mateus Aleluia – “Ponto para Preto Velho”
Boogarins – “As Chances”
Lizzo – “Juice”
Billie Eilish – “Bad Guy”
Angel Olsen – “All Mirrors”
Ana Frango Elétrico – “Promessas e Previsões”
Douglas Germano – “Valhacouto”
Siba + Alessandra Leão + Mestre Anderson Miguel + Renata Rosa – “O Que Não Há”

As 75 melhores músicas de 2019: 68) Thiago Pethit – “Noite Vazia”

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“…mas quem mentiu fui eu”

Thiago Pethit no CCSP

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O cantor e compositor paulistano Thiago Pethit convidou o grupo de tambores femininos Mbeji para lançar seu disco Mal dos Trópicos neste domingo, às 18h, no Centro Cultural São Paulo (mais informações aqui).

CCSP: Setembro de 2019

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Que tal os shows de setembro de 2019 no Centro Cultural São Paulo?

4/9) Apeles + Bernardo Bauer – Eduardo Praça (Ludovic, Quarto Negro) apresenta o novo álbum de sua nova banda, com abertura do cantor e compositor mineiro, na sala Jardel Filho, às 21h.
5/9) Danilo Penteado + Guilherme Kafé + Igor Caracas – Três multiinstrumentistas, cantores e compositores apresentam seus respectivos discos de estreia, com cada dois deles sempre funcionando como banda de apoio, de quem estiver mostrando suas canções, às 21h.
8/9) O Som Nosso de Cada Dia – O clássico grupo de rock progressivo completa 45 anos de atividade lançando disco inédito, Mais um Dia, às 18h.
12/9) Selvagens à Procura de Lei – O grupo cearense comemora 10 anos de atividade começando a mostrar canções de seu próximo álbum, Paraíso Portátil, às 21h.
14/9) Rei Sem Coroa – Espetáculo concebido por Paulo Carvalho e Kassin, vasculha o repertório que João Gilberto tocava nos shows mas nunca registrou em disco. Nina Becker, Mãeana e Pedro Sá completam o time desta apresetanção, às 19h.
15/9) Thiago Pethit – O cantor e compositor paulistano apresenta pela segunda vez o show de seu novo álbum, Mal dos Trópicos, às 18h,
19/9) Juliana Perdigão – A cantora, compositora e musicista mineira apresenta as canções de seu disco mais recente, Folhuda, às 21h.
26/9) Saskia – A MC e produtora gaúcha lança seu disco de estreia, Pq, às 21h, num show gratuito.
28/9) Firefriend + Anvil FX – As duas bandas paulistanas misturam seus universos indie e eletrônico numa mesma apresentaççao, às 19h.
29/9) Gang 90 – O grupo celebra os 35 anos da passagem de seu fundador Júlio Barroso no show A Nossa Onda de Amor Não Há Quem Corte, às 18h.

Falando sobre cultura independente

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Participei esta semana do podcast São Paulo: Capital da Cultura, feito pela Secretaria de Cultura, com apresentação do Leo Madeira. Os outros convidados da edição foram o Thiago Pethit e a Claudia Assef e conversamos sobre música independente.

Os 25 melhores discos brasileiros do início de 2019

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Eis os 25 melhores discos brasileiros do primeiro semestre de 2019 de acordo com o júri de música popular da Associação Paulista de Críticos de Arte, do qual faço parte.

Alessandra Leão – Macumbas e Catimbós
Ave Sangria – Vendavais
BaianaSystem – O futuro não demora
Black Alien – Abaixo de Zero: Hello Hell
Boogarins – Sombrou dúvida
China – Manual de Sobrevivência Para Dias Mortos
Clima – La Commedia é Finita
Djonga – Ladrão
Dona Onete – Rebujo
Douglas Germano – Escumalha
Fafá de Belém – Humana
Hamilton de Holanda – Harmonize
Jair Naves – Rente
Jards Macalé – Besta Fera
Jorge Mautner – Não Há Abismo Em Que o Brasil Caiba
Larissa Luz – Trovão
Nômade Orquestra – Vox Populi
O Terno – Atrás / Além
Odair José – Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio
Pitty – Matriz
Rakta – Falha Comum
Tássia Reis – Próspera
Thiago Pethit – Mal dos Trópicos
Tiago Iorc – Reconstrução
Yma – Par de Olhos

Além de mim, votaram Marcelo Costa (Scream & Yell), José Norberto Flesch (Destak) e Lucas Brêda (Folha de São Paulo).

Thiago Pethit entre o mundano e o mitológico

Foto: Rafael Barion

Foto: Rafael Barion

“Antes de tudo, eu queria que este disco chegasse às pessoas como um alento. Um alento sobre o luto, sobre a dor, o mal estar”, me conta por escrito Thiago Pethit, sobre seu recém-lançado quarto disco, Mal dos Trópicos (Queda e Ascensão de Orfeu da Consolação). “Não como uma bobagem tipo ‘calma gente, vai ficar tudo bem’. Mas o contrário. Um ‘talvez não fique tudo bem, e o que a gente vai fazer?’. É primeiro uma aceitação do luto, de que os pesadelos e todas as paranoias que pairaram sobre o nosso futuro podem se tornar concretas. E para que a gente possa refletir sobre tudo isso e a partir daí conseguir juntar forças, é necessário olhar para essas sombras.”

De certa forma é isso que ele traduz no clipe de “Orfeu”, lançado em primeira mão no Trabalho Sujo, descobrindo cenas bucólicas no pesadelo urbano paulistano através dos drones pilotados pela diretora Camila Cornelsen, adornado por traços e letras do próprio Thiago. “Então eu não quis fazer um disco escapista – para bater cabelo e fingir que ta tudo certo na sexta à noite. Não creio que seja um momento solar, de celebração. Se é para celebrar eu armaria uma festa fúnebre, distópica, empesteada. Mas a Mamba Negra e as músicas do Teto Preto por exemplo já fazem isso muito bem. E sob um ponto de vista bastante pessoal, também não creio que seja hora de meter o louco e botar pra quebrar tudo sem antes alguma reflexão, uma estrategia. Por isso, a dor, o abandono e destruição, e algum acolhimento nessas palavras e nesse mito que fala sobre luto e renascimento sob uma ótica pagã.”

“É um disco denso e mais maduro também. Sinto que é um disco adulto, sabe? Mais íntimo, mais ‘fora do palco’. E mais brasileiro também que os meus outros. Acredito que esse é o disco que eu sempre quis fazer mas não só eu não estava pronto pra ele como também o mundo ao redor não parecia pedir tanta densidade assim. A realidade está bastante densa”, continua. “A beleza há de salvar o mundo – essa ideia tem me acompanhado desde sempre. Onde tem luz tem sombra, é isso. O disco trabalha o tempo todo nestes paralelos: sujo e belo, tropical mas sombrio, mundano e mitológico. Queda e ascensão. O lirismo do disco talvez seja nessa crença, ainda que desesperançosa, de que o veneno da cobra ainda possa nos servir como cura. Uma crença nas Bacantes, no renascimento, na antropofagia.”

Ele segue explicando as inspirações do disco: “Foram muitas, na verdade. Meu processo criativo é sempre muito intuitivo, vou criando uns mosaicos malucos na minha cabeça com montes de peças que não parecem se encaixar a princípio. Olhando pra trás, eu diria que o primeiro ‘sintoma’ me ocorreu em 2016 e eu não o entendi. Deixei de canto até 2018, quando finalmente o mosaico parece que se formou e consegui enxergar o quadro que vinha pintando sem perceber. Estávamos passando pelo processo político de impeachment da Dilma. O Brasil já estava um caos, e eu tinha uma intuição de que minha turnê ‘Rock N Roll Sugar Darling’ já não correspondia às demandas de comunicação daquele momento. Não sabia dizer bem o por quê: mas de lá pra cá, havia uma sensação de mal estar geral sobre os rumos do país e uma turnê de um disco celebrativo e festivo, parecia fora de hora. Ainda tinham muitos pedidos de show e convites para tocar em festivais, mas pra mim era hora de encerrar esse projeto e começar outro. O nome Mal dos Trópicos por exemplo – a ideia desse mal estar, como uma peste tropical que nos assolava, surgiu nessa época. Tinha também saudade de cantar, como quem canta intimamente voz e violão, de voltar a escrever canções que pudessem flertar com poesia. Esse arquétipo do poeta, do Orfeu, eram coisas que já estavam lá na minha cabeça também. Mas parecia tudo muito precoce. Em 2017, eu encerrei a RnR Tour e decidi que não teria pressa. De lá pra cá, muita coisa aconteceu comigo e com o mundo em volta. Muitos desses signos pessoais e externos foram ganhando interpretação e tudo isso foi desenhando esse Orfeu da Consolação.”

Deixo-o continuar escrevendo: “Foi um processo muito, muito diferente dos meus anteriores. A começar pelo fato de que fiquei de 2014 à 2017 sem escrever nenhuma música sequer. Cheguei a achar que era isso e que talvez eu não conseguisse ou não tivesse mais um barato em escrever. Quando criei aquele projeto sobre as obras da Patti Smith, eu dediquei muito tempo às pesquisas literárias: desde os poemas dela, do Burroughs, Rimbaud, coisas pelas quais ela é apaixonada e que pareciam necessárias para entender as letras dela e as referencias todas com mais autoridade. Me lembrei de quando eu era adolescente e escrevia poesias na maior ingenuidade sonhando com essa ideia romântica que eu tinha do que era ser poeta. Acho que por contato com essa literatura voltei a escrever textos, cronicas do meu dia a dia, alguns poemas. Nada que se pretendia ser música.”

“Então apareceu ‘Rio’ e logo depois ‘Orfeu'”, ele menciona duas faixas centrais de seu novo disco. “Eu escrevi as letras e automaticamente tive vontade de descobrir como seria cantá-las. Trabalhei essas músicas sozinho na minha sala, durante meses e meses e não conseguia imaginar que elas seriam parte do meu trabalho. Pareciam mais como se eu estivesse fazendo exercícios de composição. Mas estranhamente, era a primeira vez desde o Berlim, Texas que eu senti muito prazer nisso. No ato de fazer e completar cada música. Um prazer meio apaixonado pela coisa. Com o tempo, o mundo e o mercado vão deixando a gente mais cínico, eu acho. Dessa vez, como eu não pretendia exatamente chegar a lugar nenhum e nem mostrar aquilo pra ninguém, eu era só esse prazer mesmo. Então aconteceu: os temas desses poemas que eu vinha musicando começaram a girar em torno de assuntos similares, uma mesma sensação a ideia mitológica, épica. Algo que me fez lembrar daquele nome que surgiu na minha cabeça lá em 2016 ainda: Mal dos Trópicos. E então eu soube que eu tinha um disco em mente e isso seria inevitável. O desejo de voltar pra música já estava ali me devorando”, prossegue.

E conta como aconteceu seu encontro com o produtor Diogo Strausz, no início do ano passado. “Eu sabia que tinha um disco e sabia também que esse disco seria um desafio pra mim mesmo. Não queria fazer nada com pressa e nem uma dessas produções expressas e imediatistas, meio sons genéricos modernos que o mercado fica empurrado pros artistas naquele desejo de fazer sucesso. Não fazia também a menor ideia de como eu poderia juntar esses temas mitológicos, as referencias eruditas de Villa-Lobos e Bach, e uma sonoridade contemporânea e mais suja como o trip hop. Só chamei o Diogo, que eu conhecia pouco e admirava de longe, no momento em que eu entendi muito bem onde queria chegar e o porque estaria escolhendo ele para ser meu maior colaborador neste projeto. E de fato ele foi um grande parceiro. Difícil mesmo foi conseguir agrupar tantos conceitos, tantas mensagens e ideias e referencias numa identidade só. Acho que eu e o Diogo passamos mais tempo conversando do que de fato criando ao longo dos meses. Foi um processo muito íntimo. Entre eu e ele. E eu sozinho com essas músicas e ideias. Foram quase dois anos de processo criativo silencioso. Segurar essa onda toda e não pensar nos boletos, isso foi complicado.”

E conclui: “Pra mim, ser artista e comunicador implica em bastante responsabilidade, sabe? Me parece péssimo pensar que na quarta à noite eu poste nas minhas redes uma frase de indignação sobre alguma tragédia dentre as muitas que estamos vendo e já na quinta eu esteja divulgando uma música que não tem nada a ver com minha postura em relação ao momento. Não é sobre se posicionar politicamente, ou como se tivéssemos a obrigação de falar de todos os assuntos. Mas é sobre essas camadas mais sutis de leitura e comunicação com o público. Eu preciso, pois pra mim é muito importante, saber que estou gerando através do meu trabalho alguma inspiração que faça sentido rumo aquilo que eu acredito. Orfeu pode ser um mito sobre o fim do amor. Pode ser sobre o artista que perde a inspiração. O poeta que perde a musa. Um povo que perde a crença e a esperança. Pode ser sobre a usurpação das coisas belas, justas, proporcionais. A usurpação das leis e democracias, e as consequências de tudo isso.
Acredito que o álbum, assim como o mito, possa abrir diversas leituras e identificações.”

Vida Fodona #586: Rita Lee tamo junto

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Sem baixar a cabeça.

Jards Macalé – “Limite”
Rita Lee – “Ando Jururu”
Scott Walker – “The Seventh Seal”
Thiago Pethit – “Mal dos Trópicos”
Tantão e Os Fita – “O Sinistro”
Rakta – “Flor da Pele”
Baggios + BaianaSystem – “Deserto”
Francisco El Hombre – “Chão Teto Parede”
Teto Preto – “Gasolina Aditivada”
Against All Logic – “Some Kind of Game”
Drake – “Nice for What”
N*E*R*D – “Things Are Getting Better”
Rodrigo Campos – “Joguei o Jogo”
Paul McCartney – “Man We Was Lonely”
Mopho – “Uma Leitura Mineral Incrível”