Morreu, nesta terça-feira, o último sobrevivente da The Band, lendária banda que acompanhou Bob Dylan em sua fase elétrica e que ajudou o mundo do rock entender que música de raiz norte-americana não era só o country. Garth Hudson também não foi apenas o último a entrar no grupo – quando ainda acompanhavam o herói roqueiro canadense Ronnie Hawks no comecinho dos anos 60 e atendiam pelo nome de The Hawks -, como também era o integrante mais velho, três ou quatro anos a mais que o restante do grupo, o que, mesmo quando essa diferença de idade torna-se irrelevante após o início dos 20 anos, dava um ar de irmão mais velho e às vezes até de figura paternal para o grupo canadense. Ao escolher o antiquado órgão Lowrey como se principal instrumento – um contraponto quase ancestral em relação às marcas que mais faziam sucesso entre seus contemporâneos naquele período, como Hammond e Fender Rhodes -, deu ao grupo um ar de mistério e longevidade que seria a essência da banda depois que ela começou a andar com as próprias pernas, no meio dos anos 60. Dylan os convidou para acompanhá-lo numa histórica turnê pela Inglaterra em 1966, quando tocava metade do show só ao violão e a outra metade acompanhado pelo grupo, o rock mais alto que o antigo império havia ouvido, e o teclado de Hudson ligava todo o espalhafato ruidoso dos outros instrumentistas como um cimento em forma de microfonia que parecia ter sido feito séculos atrás. Sua presença dava um ar arcaico e solene ao som emitido por Dylan e sua nova banda, que referida por ele apenas como “a banda”, que foi responsável por consolidar o jovem bardo estadunidense como uma voz superior a todos os outros nomes da dita fase clássica do rock – e além disso podia tocar saxofone quase de surpresa no meio dos shows. Depois de acompanhar Dylan, o grupo que havia assumido o nome de The Band lançou dois álbuns – Music from the Big Pink e um com o próprio – que os colocou na história do rock, além de inventar, dentro do novo mundo da música pop, uma música caipira da América do Norte que não soava conservadora, reacionária ou preconceituosa, mas consciente de sua importância pátria sem cair nas caricaturas do patriotismo. O vínculo com Dylan atravessou os anos 70 quando o grupo acompanhou o velho compadre em uma longa turnê (quase toda recém-lançada em disco na íntegra, na caixa Bob Dylan & The Band – The 1974 Live Recordings, que expande o disco duplo Before the Flood, lançado naquela época, para apenas 27 discos diferentes) e viu surgir, com o nome de The Basement Tapes, num álbum extemporâneo gravado nos anos 60 e lançado só no meio da década seguinte. Este laço culminou em tornar a importância da The Band imprescindível para a música de seu país e após encerrar as atividades, uma década após sua fundação, em um registro ao vivo tornado histórico ao ser dirigido por Martin Scorsese no musical The Last Waltz. Hudson, como os outros integranres do grupo, seguiu e carreira solo e colaborou com grandes nomes de sua geração, como Emmylou Harris, Van Morrison e Leonard Cohen. A banda voltou à atividade em 1983, mas terminou três anos depois quando o baterista e tecladista Richard Manuel cometeu suicídio em 1986. Em 1999, o baixista Rick Danko morreu dormindo e o baterista Levon Helm morreu de câncer em 2012. Há dois anos foi a vez do guitarrista Robbie Robertson, deixando Hudson como o solitário representante vivo de um dos grupos musicais mais importantes da história dos EUA. Agora a banda está completa.
Entre as diversas fases clássicas de Bob Dylan, sua volta aos palcos em 1974 está entre um dos momentos mais intensos de sua carreira e esse registro volta em formato pleno quando o mestre anunciou mais um projeto para envernizar ainda mais seu legado: a caixa The 1974 Live Recordings reúne nada mais nada menos que 431 diferentes versões de suas canções espalhadas por 27 CDs, 417 delas nunca ouvidas pelo grande público, e será lançada no próximo dia 20 de setembro. Desde que sofreu um acidente de moto em 1966, Dylan distanciou-se dos palcos e passou a fazer esparsas apresentações ao vivo ou aparições em programas de rádio ou TV enquanto lançava discos que aumentavam ainda mais sua importância ao mesmo tempo em que desafiavam as expectativas dos fãs.
O misterioso acidente do dia 29 de junho – que na época especulava-se sobre um atentado feito pelo FBI que poderia até mesmo ter tirado sua vida – nunca foi propriamente esclarecido, ninguém sabe se ele sofreu apenas ferimentos leves, se havia realmente se machucado ou se o acidente realmente aconteceu, mas veio num momento providencial para a carreira do artista, que vinha atraindo a ira dos antigos fãs enfurecidos por sua traição ao folk ao abraçar instrumentos elétricos ao lado de uma banda de rock, os canadenses Hawks, que agora se chamavam de The Band. A turnê que realizou na Europa no mês anterior deixou o grupo abalado por seus shows terem sido recebidos com agressividade e a nova popularidade de Dylan, não mais o grande nome do folk e agora um astro do rock, havia o colocado em um ritmo de trabalho que lhe exigia demais, principalmente em relação à sua presença. Fora da arena pública pode fazer discos sem a cobrança de colocá-los em turnê e quando sentiu-se à vontade para voltar à estrada, chamou a mesma The Band – agora um grupo estabelecido, com vários discos lançados – para atravessar as 30 apresentações em 42 dias (muitas vezes tocando dois shows no mesmo dia) naquilo que o crítico musical Robert Christgau descreveu como se o autor “atropelasse suas velhas músicas com um caminhão”, tamanha carga de energia em todas as noites. E além de revisitar vários clássicos de sua carreira, apresentou versões ao vivo pela primeira vez para faixas que gravou no período recluso dos palcos, como “All Along The Watchtower”, “Forever Young” “Most Likely You Go Your Way (and I’ll Go Mine)”, que quase sempre abria ou fechava os shows, Dylan também tocou músicas de sua carreira pregressa que quase nunca tinha tocado ao vivo, como “Hero Blues”, “Ballad Of Hollis Brown” e “Song to Woody”. A turnê gerou o disco ao vivo Before The Flood, que trazia na capa uma das invenções de Dylan nesta turnê, quando todo o público levantava isqueiros acesos, transformando a plateia num céu estrelado.
As músicas do duplo ao vivo são as únicas já ouvidas desta turnê, agora inteiramente reunida nessa ousada caixa de discos, que também terá uma versão compacta em três LPs lançada pela gravadora de Jack White, Third Man Records. As duas versões já estão em pré-venda e uma das versões para “Forever Young” (esta gravada no show da tarde do dia 9 de fevereiro, em Seattle) foi lançada para antecipar a novidade – ouça abaixo, além de ver a maravilha que é esse novo box set (que ainda vem com um encarte com texto escrito plea jornalista Elizabeth Nelson) e todas as faixas de cada um dos 27 discos:
E se os Talking Heads ressuscitaram graças a um dos melhores filmes feitos a partir de um show de todos os tempos (ao relançar o Stop Making Sense dirigido por Jonathan Demme nos cinemas), eis a deixa para falarmos de The Band: afinal a clássica banda canadense também é objeto de um dos melhores shows já filmados, quando decidiu encerrar suas atividades no dia de ação de graças de 1976. A derradeira apresentação aconteceu no Winterland Ballroom, em São Francisco, na Califórnia, quando o grupo chamou um elenco de convidados de cair o queixo: desde os seus primeiros “patrões” (Ronnie Hawkins e Bob Dylan, que acompanharam como banda de apoio em diferentes momentos de sua carreira) a estrelas do panteão do rock como Neil Young, Joni Mitchell, Van Morrison, Ringo Starr, Muddy Waters, Ronnie Wood, Emmylou Harris, Dr. John, Paul Butterfield, Eric Clapton e Neil Diamond. Para registrar este momento ninguém menos que Martin Scorsese na direção e o filme desta última apresentação voltará aos cinemas norte-americanos no mês de novembro, quando completa 45 anos (o filme foi lançado dois anos depois do show). A nova versão traz uma introdução narrada pelo saudoso Robbie Robertson, guitarrista do grupo e trilheiro de Scorsese que nos deixou este ano. Tomara que também venha para o Brasil, porque é um filmaço e um showzaço ao mesmo tempo. Veja só um trechinho abaixo:
Mais um integrante da Band parte deste plano, desta vez seu líder e guitarrista Robbie Robertson, que já tocava com Bob Dylan antes que sua banda, os Hawks, se tornassem a banda de apoio do bardo norte-americano para, aí sim, assumir o nome de The Band. Por oito anos, o canadense Robertson e seus compadres revisitaram o cânone da canção norte-americana à luz do rock de sua geração e o final da banda (imortalizado no clássico filme The Last Waltz), deu início à sua parceria com Martin Scorsese, com quem trabalhou em inúmeros projetos (O Rei da Comédia, Cassino, Gangues de Nova York, A Ilha do Medo, O Lobo de Wall Street, O Irlandês e o próximo filme do nova-iorquino, Killers of the Flower Moon, que será lançado no fim do ano).
Segunda-feira é dia de Vida Fodona ao vivo no twitch.tv/trabalhosujo, às 21h – este foi o programa da semana passada.
Feelies – “Everybody’s Got Something To Hide (Except Me And My Monkey)”
Thurston Moore – “Hashish”
Can – “Vitamin C”
Ultramagnetic MCs – “Give The Drummer Some”
Zapp & Roger – “More Bounce to the Ounce”
Dr. Dre + Snoop Dogg – “The Next Episode”
Usher + Ludacris + Lil’ Jon – “Yeah”
Christina Aguillera – “Genie in a Bottle”
Flight Facilities + Giselle- “Crave You”
Dexy’s Midnight Runners – “Come On Eileen”
Malu Maria – “Diamantes na Pista”
Bárbara Eugenia – “Perdi”
Chromeo – “6 Feet Away”
Angel Olsen – “New Love Cassette (Mark Ronson Remix)”
Beastie Boys – “Gratitude”
Cream – “Swlabr”
Mutantes – “Mágica”
Paul McCartney – “Check My Machine”
Erasmo Carlos – “Mané João”
Tim Maia – “O Caminho do Bem”
Bob Dylan – “False Prophet”
Neil Young – “Homegrown”
Norah Jones – “To Live”
The Band – “Orange Juice Blues (Blues For Breakfast)”
Supercordas – “6000 Folhas”
Boogarins + O Terno – “Saídas e Bandeiras No. 1”
Maria Bethania – “Estácio, Holy Estácio”
Paulinho da Viola – “Falso Moralista”
Gilberto Gil – “Back in Bahia”
Itamar Assumpção – “Prezadissimos Ouvintes”
Lô Borges – “Canção Postal”
Chico Buarque – “Caravanas”
Criolo + Milton Nascimento – “Cais”
Josyara – “Mansa Fúria”
Metá Metá – “Trovoa”
Esse não é mais ao vivo.
Led Zeppelin – “Dancing Days”
Kassin + 2 – “Bow Road”
Trupe Chá de Boldo – “Jovem-Tirano-Príncipe-Besta”
Spoon – “Don’t You Evah”
Supercordas – “Ruradélica”
The Band – “This Wheel’s On Fire”
Ava Rocha – “Mar ao Fundo”
Brockhampton – “Sugar”
Saskia – “27 Sabiás fala Brasilês”
Luiza Lian – “Sou Yabá”
Pedro Pastoriz – “Fricção”
Maglore – “Me Deixa Legal”
Red Hot Chili Peppers – “Mellowship Slinky in B Major”
Kiko Dinucci – “Desmonto sua cabeça”
Specials – “Nite Klub”
The Comet is Coming + Kate Tempest – “Blood Of The Past”
Mais conhecido como “o disco marrom” devido à cor de sua capa e a ausência de título, o segundo disco do grupo canadense The Band completou meio século de vida no último dia 22 de setembro – e o grupo resolveu revisitá-lo em uma caixa de discos que inclui versões remasterizadas, sobras de estúdio e a íntegra do show que o grupo deu no festival de Woodstock, que até hoje nunca foi oficializada pelo grupo. A caixa, batizada oficialmente de The Band 50th Anniversary Edition Box Set, será lançada dia 15 de novembro e traz dois CDs, dois discos de vinil 180 gramas, um documentário em Blu-ray, um sete polegadas com uma versão alternativa da segunda faixa do disco, “Rag Mama Ray” (que o grupo lançou na internet ao mesmo tempo em que anunciou a caixa comemorativa, ouça abaixo) e um livro de capa dura. A nova mixagem foi feita a partir das fitas masters originais e acompanhado pelo guitarrista Robbie Robertson.
A caixa, já em pré-venda, consta com os seguintes itens:
CD 1: The Band
“Across The Great Divide”
“Rag Mama Rag”
“The Night They Drove Old Dixie Down”
“When You Awake”
“Up On Cripple Creek”
“Whispering Pines”
“Jemima Surrender”
“Rockin’ Chair”
“Look Out Cleveland”
“Jawbone”
“The Unfaithful Servant”
“King Harvest (Has Surely Come)”
“Up On Cripple Creek (Earlier Version)”
“Rag Mama Rag (Alternate Version)”
“The Unfaithful Servant Alternate Version)”
“Look Out Cleveland (Instrumental Mix)”
“Rockin’ Chair (A Cappella / Stripped Down)”
“Up On Cripple Creek (Instrumental Mix)”
CD 2: Live At Woodstock, 1969 (Original Rough Mixes)
“Chest Fever”
“Tears Of Rage”
“We Can Talk”
“Don’t Ya Tell Henry”
“Baby Don’t You Do It”
“Ain’t No More Cane On The Brazos”
“Long Black Veil”
“This Wheel’s On Fire”
“I Shall Be Released”
“The Weight”
“Loving You Is Sweeter Than Ever”
“Get Up Jake (Outtake – Stereo Mix)”
“Rag Mama Rag (Alternate Vocal Take – Rough Mix)”
“The Night They Drove Old Dixie Down (Alternate Mix)”
“Up On Cripple Creek (Alternate Take)”
“Whispering Pines (Alternate Take)”
“Jemima Surrender (Alternate Take)”
“King Harvest (Has Surely Come) (Alternate Performance)”
Blu-ray: The Band
“Across The Great Divide”
“Rag Mama Rag”
“The Night They Drove Old Dixie Down”
“When You Awake”
“Up On Cripple Creek”
“Whispering Pines”
“Jemima Surrender”
“Rockin’ Chair”
“Look Out Cleveland”
“Jawbone”
“The Unfaithful Servant”
“King Harvest (Has Surely Come)”
“Up On Cripple Creek (Earlier Version)”
“Rag Mama Rag (Alternate Version)”
“The Unfaithful Servant Alternate Version)”
“Look Out Cleveland (Instrumental Mix)”
“Rockin’ Chair (A Cappella / Stripped Down)”
“Up On Cripple Creek (Instrumental Mix)”
Documentário: Classic Albums — The Band
LP duplo: The Band
LP 1
“Across The Great Divide”
“Rag Mama Rag”
“The Night They Drove Old Dixie Down”
“When You Awake”
“Up On Cripple Creek”
“Whispering Pines”
LP 2
“Jemima Surrender”
“Rockin’ Chair”
“Look Out Cleveland”
“Jawbone”
“The Unfaithful Servant”
“King Harvest (Has Surely Come)”
Compacto “Rag Mama Rag”
“Rag Mama Rag”
“The Unfaithful Servant”
Mesmo com sol…
Paul Simon – “Wristband”
Glue Trip – “Le Edad del Futuro”
Whitney – “Follow”
Beach Boys – “‘Till I Die”
Sebadoh – “Everybody’s Been Burned”
Yo La Tengo – “Our Way to Fall”
Belle & Sebastian – “A Summer Wasting”
Neil Young + Sadies + Garth Hudson – “This Wheel’s on Fire”
The Band – “The Weight”
Bob Dylan – “Tangled Up in Blue”
Arnaldo Baptista – “Será Que Eu Vou Virar Bolor?”
Sonic Youth – “Incinerate”
Cramps – “Human Fly”
Autoramas – “Carinha Triste”
The Fall – ” Victoria”
Ira! – “Farto do Rock’n’Roll”
Doors – “Soul Kitchen”
Blood Orange – “E.V.P.”
Jamie Xx + Romy Madley Croft – “Loud Places (John Talabot’s Loud Synths Reconstruction”
Lana Del Rey – “Blue Jeans (Penguin Prison Remix)”
Tame Impala – “Let it Happen (Soulwax Remix)”
BaianaSystem – “Azul”
Beck – “Jack-Ass”