Garth Hudson (1937-2025)

, por Alexandre Matias

Morreu, nesta terça-feira, o último sobrevivente da The Band, lendária banda que acompanhou Bob Dylan em sua fase elétrica e que ajudou o mundo do rock entender que música de raiz norte-americana não era só o country. Garth Hudson também não foi apenas o último a entrar no grupo – quando ainda acompanhavam o herói roqueiro canadense Ronnie Hawks no comecinho dos anos 60 e atendiam pelo nome de The Hawks -, como também era o integrante mais velho, três ou quatro anos a mais que o restante do grupo, o que, mesmo quando essa diferença de idade torna-se irrelevante após o início dos 20 anos, dava um ar de irmão mais velho e às vezes até de figura paternal para o grupo canadense. Ao escolher o antiquado órgão Lowrey como se principal instrumento – um contraponto quase ancestral em relação às marcas que mais faziam sucesso entre seus contemporâneos naquele período, como Hammond e Fender Rhodes -, deu ao grupo um ar de mistério e longevidade que seria a essência da banda depois que ela começou a andar com as próprias pernas, no meio dos anos 60. Dylan os convidou para acompanhá-lo numa histórica turnê pela Inglaterra em 1966, quando tocava metade do show só ao violão e a outra metade acompanhado pelo grupo, o rock mais alto que o antigo império havia ouvido, e o teclado de Hudson ligava todo o espalhafato ruidoso dos outros instrumentistas como um cimento em forma de microfonia que parecia ter sido feito séculos atrás. Sua presença dava um ar arcaico e solene ao som emitido por Dylan e sua nova banda, que referida por ele apenas como “a banda”, que foi responsável por consolidar o jovem bardo estadunidense como uma voz superior a todos os outros nomes da dita fase clássica do rock – e além disso podia tocar saxofone quase de surpresa no meio dos shows. Depois de acompanhar Dylan, o grupo que havia assumido o nome de The Band lançou dois álbuns – Music from the Big Pink e um com o próprio – que os colocou na história do rock, além de inventar, dentro do novo mundo da música pop, uma música caipira da América do Norte que não soava conservadora, reacionária ou preconceituosa, mas consciente de sua importância pátria sem cair nas caricaturas do patriotismo. O vínculo com Dylan atravessou os anos 70 quando o grupo acompanhou o velho compadre em uma longa turnê (quase toda recém-lançada em disco na íntegra, na caixa Bob Dylan & The Band – The 1974 Live Recordings, que expande o disco duplo Before the Flood, lançado naquela época, para apenas 27 discos diferentes) e viu surgir, com o nome de The Basement Tapes, num álbum extemporâneo gravado nos anos 60 e lançado só no meio da década seguinte. Este laço culminou em tornar a importância da The Band imprescindível para a música de seu país e após encerrar as atividades, uma década após sua fundação, em um registro ao vivo tornado histórico ao ser dirigido por Martin Scorsese no musical The Last Waltz. Hudson, como os outros integranres do grupo, seguiu e carreira solo e colaborou com grandes nomes de sua geração, como Emmylou Harris, Van Morrison e Leonard Cohen. A banda voltou à atividade em 1983, mas terminou três anos depois quando o baterista e tecladista Richard Manuel cometeu suicídio em 1986. Em 1999, o baixista Rick Danko morreu dormindo e o baterista Levon Helm morreu de câncer em 2012. Há dois anos foi a vez do guitarrista Robbie Robertson, deixando Hudson como o solitário representante vivo de um dos grupos musicais mais importantes da história dos EUA. Agora a banda está completa.

Tags: , ,