Mestra das citações, quase um JJ Abrams indie: Phoenix, demo lo-fi de hit dos Strokes, pai-e-filha, Guitar Hero, Stephen Dorff, irmã caçula da Dakota Fanning… Duvida que Somewhere é hit? Resta saber se é bom.
A Thaís foi uma das 500 pessoas que estiveram no show de volta que os Strokes deram na quarta passada e eu pedi pra ela me deixar postar seu relato sobre o evento aqui no Sujo – e ela deixou. Valeu, Thaís 🙂
Eu não sabia. Não sabia que eles estavam planejando um retorno, e não sabia que esse retorno seria assim, surpresa, under the radar, completamente underground (ninguém sabia, aparentemente). Foi o email de um amigo conectado ao povo do Dingwalls dizendo que estava na luta pelos tais ingressos que me atiçou a curiosidade. Ele não me disse mais nada, e daí, pelos poderes do Google e do twitter, começou a maior caça ao tesouro desde 2007, quando o festival Glastonbury retornou depois de um break e 135 mil tickets foram vendidos em 1hr e 45min (eu também estava entre esses felizardos).
As 6 da tarde do dia 8, só o site da revista NME tinha se ligado na primeira pista. A banda havia postado no twitter (que eu não seguia) a imagem de um logo extremamente parecido com o deles onde se lia “Venison”, e na sequência, uma foto do canal que passa por Camden Town. Eles traçaram o tal logo ao site do Dingwalls, que incluiu em sua programação um show do tal Venison no dia seguinte, e uma única descrição: “Formely known as The Shitty Beatles.” Tickets seriam vendidos somente através do site da casa dali a 3 horas, as 9pm.
Obviamente, 3 horas no mundo virtual é MUITO tempo, ainda mais pra fãs tão dedicados como os do Strokes, e o site da casa caiu, quarenta e cinco minutos antes. Nove da noite o mundo estava dando reload na página inicial, e nada do link dos ingressos aparecer. No twitter, amigos frustrados já haviam desistido da idéia 20 minutos depois, mas dando um search em “strokes”, achei o username “VenisonFans”, conta de uma fã die-hard irlandesa que, até agora não sei como, tinha o link alternativo que levava aos benditos tickets. O momento que ela postou o link foi exatamente o momento que eu comecei a segui-la, e well, 20 libras mais tarde, eu era a felizarda recipiente de 2 ingressos (e confesso: podia ter comprado mais 2, já que meu BF conseguiu acessar o link ao mesmo tempo no computador do lado…mas deixamos pra lá, num raro momento anti-lucro).
Cheguei tarde, meia hora antes de as portas abrirem, e a fila estava curta e excessivamente calma. Uns poucos indie kids devidamente trajados em seus skinny-jeans-skinny-jaqueta-de-couro combo posavam com plaquinhas onde se lia “DESPERATE STROKES FAN, WILL PAY £XX FOR PAIR OF TICKETS” (valores entre £50 e £100), e um repórter da rádio BBC6 perguntava ao povo na fila quanto cada um tinha pago pelo seu (horas antes, um amigo disse no Facebook que a mesma rádio divulgou oferta de 6 mil libras.) Um espanhol se aproxima: venderia os meus por £300? No, thanks. Okay, £400? Hm. No, thanks, go away, antes que eu mude de ideia.
Na fila descubro feliz que seremos cinco brazucas (no final do show, éramos 7 – dois malucos conseguiram entrar no “jeitinho,” OF COURSE), e as portas abrindo, me dou conta do real tamanho do Dingwalls. É minúsculo pra uma banda desse porte. Tem um palquinho baixo, uma pistinha escura, duas bancadas/degraus, e um bar no fundo. Devagar, o lugar foi enchendo com calma, todo mundo se distribuindo de acordo: ninguém correu, ou se empurrou, ou deu de babaca. Parecia que aquele era só mais uma gig de uma banda qualquer, mas algo me dizia que a calmaria não ia durar, e do alto do meu 1 metro e meio, escolhi a bancada esquerda pra me posicionar estrategicamente. Iria tentar driblar os seguranças-armários e fotografar/filmar tudo para os incontáveis fãs malucos que me adicionavam no twitter aos quilos (graças a irlandesa die-hard, que me achou e divulgou).
Realmente, a calmaria não durou. Ás 9:20pm, Julian, Albert, Fabrizio, Nick e Niko, subiram no palco e 400 pessoas entraram em êxtase coletivo. Iniciando com “New York City Cops”, os 5 fizeram um set histórico só, SÓ com os maiores hits da banda desde 2001, em um clima de puro rock’n’roll: palco pouco iluminado, teto pingando o suor condensado de uma platéia que gritava todas as letras como se fosse rasgar as cordas vocais pra sempre (e Julian, mesmo assim, não deixou de cantar um segundo), em uma pista que se movia como uma serpente humana de tão sincronizados que eram os pulos. Foi uma paulada atrás da outra: “Modern Age”, “Hard To Explain”, “Soma”, “You Only Live Once”… a hora que o clássico riff de “Last Nite” entrou, foi como se todo mundo tivesse sido abençoado pelos deuses do rock: nós, os brazucas, a essa altura nos abraçávamos e dava parabéns uns aos outros, não acreditando na própria sorte. Julian, bem-humorado, brinca com um tênis perdido de algum fã, e agradece dizendo “You guys are the shit.”
Uma hora depois, a banda pausa e deixa a platéia, completamente fora de si, gritando “VENISON! VENISON!” Cinco minutos depois, retornam pra mais cinco musicas, e encerram com “Take It or Leave It.” They leave it, rápidos como entraram, sem apresentar nenhum material novo. Ninguém parecia decepcionado.
Tive sérias dificuldades pra filmar. Primeiro, de medo de ser arrastada pra fora por um dos armários, segundo, por medo de perder aquele momento único. Eu queria mesmo era ter me juntado a serpente humana (morreria esmagada, provavelmemte), mas a vontade de dividir foi maior e eu tentei ser firme. Falhei, claro. O resultado, altamente tremido, está entrando aos poucos no meu canal do youtube, que os malucos do twitter divulgaram ao redor do mundo.
No final, nós 5, mais uma francesa que fala português, e os dois brazucas penetras, fomos pro bar ao lado comemorar, cada um segurando orgulhoso sua camiseta com o logo da Venison. Não sem antes esbarrar em Chris Martin, aquele do Coldplay, saindo do show tão feliz quanto nós.
“Eu gosto de estar no meio da moçada para saber como a juventude se sente”
Blogs ao redor do mundo se perguntam qual foi o motivo dessa aparição, se não foi uma indulgência elitista sem sentido, já que não houve nenhuma musica nova. Eu nem quero saber. Foi um privilégio sem tamanho ter acesso a um evento desse, sem hype, sem mídia, organizado, freqüentado e apresentado por paixão.
Como disse meu amigo Thellius:
@thellius Imagine [going] back to 2001 in NYC undergrounds and see The Strokes playing in a very small venue an all-hit gig for 400 insanely lucky people. 10 June 2010 03:25:06 via web
@thellius That was my night. Best gig of my life. 10 June 2010 03:25:21 via web
Olha a cara de felicidade da Thaís, no meio da foto
ps: fotos e vídeos tudo meu, então DEEM CREDITOS, GENTE DA MIDIA BRAZUCA, tb sô jornalista pô. 🙂
Outro brasileiro tava lá no show, o Victor Bianchin, que deu o seguinte relato ao Move That Jukebox e eu publico parte dele aqui.
Cheguei em Camden umas 18h e dei umas voltas ao redor do lugar. Não tinha ninguém na frente do Dingwalls, o que eu estranhei, mas tinha uma galera na porta do fundo. Perguntei pra uma menina se aquilo era a fila pros Strokes e ela confirmou que sim. A maioria ali não tinha ingresso. Os que tinham, compraram no eBay ou no Gumtree por 150, 200, 250 libras. Ouvi uma história de uma menina que não só tinha pagado 200 libras pelo ingresso, como tinha pegado um avião até Londres só pelo show. Era insano.
Conforme o tempo foi passando, várias celebridades foram entrando: Zane Lowe, o apresentador. Nick McCarthy, do Franz Ferdinand. Luke Pritchard, dos Kooks. Gente do The Cribs e do Biffy Clyro. O Coldplay inteiro (Chris Martin posou pra fotos antes de entrar). E nós lá. Eu já tinha perdido as esperanças. E aí o show começou.
Consegui entrar porque, durante a espera, dei uns xavecos num funcionário da casa. A resposta dele era sempre a mesma: “desculpe, mas não dá”. Só que aí, na terceira música do show, ele veio pra mim na fila com um ingresso de convidado. A galera voou em cima, mas o ingresso era pra mim e os seguranças me ajudaram a ficar com ele.
Agradeci mil vezes ao cara e entrei. Porra, era lindo. O Dingwalls tem uma pista com degraus, tipo o Via Funchal (SP), mas guardadas as devidas proporções, claro. No Dingwalls só cabem umas 400 pessoas. Eu fui pra frente tanto quanto deu, mas preferi não descer no gargalo porque a coisa ali tava infernal. Muuuuuito empurra-empurra, não ia dar pra curtir o show. Então fiquei de boa no segundo degrau.
Eu pirei muito, mas MUITO com as músicas. Um clássico atrás do outro, foi muito foda. Tocaram varias das minhas preferidas, como “Hard to Explain” (entrei com ela rolando), “Someday”, “You Only Live Once” e “Juicebox”. Fecharam com “Heart in a Cage” e Take it or Leave it”, e o lugar quase veio abaixo. O pessoal cantou junto todas as músicas, batendo palma e gritando o quanto dava. O lugar estava quente, mas melhor que o Franz em SP nesse ano, e o teto pingava água do vapor que subia. Juro, parecia que tinha goteiras em todo o galpão, era incrível a quantidade de água pingando. Você olhava pras paredes e elas estavam molhadas.
Apesar do calor, Albert Hammond Jr. passou o show inteiro de blazer e Julian Casablancas de jaqueta de couro e óculos de sol. Só o Nick Valensi que optou por uma regata larguíssima, que deixava à mostra seus bracinhos finos e seu peitoral, que não é lá muito bombado. Nikolai Fraiture ficava no canto quietinho e Fab Moretti tocava a bateria com muita energia. Strokes é muito foda.
Julian passou o show inteiro falando “I’m just fuckin’ around”. Ele também falava bastante com o pessoal no gargalo, dava as mãos e tal. Em um momento, ele disse “this is like the first show we do in 4 years, so thank you”, e o povo vibrava, e ele respondia “this is too much, guys, this is too much”.
Falando em gargalo, a coisa ficou tensa por ali. Os seguranças desceram até ali e meio que ficaram protegendo as três primeiras filas, que tinham gente quieta. Eles formavam uma barreira que não deixava o pessoal pulador bater neles. E como eles faziam isso? Dando empurrões animais que faziam belas “ondas” na platéia. De cima, de onde eu tava, dava pra ver bem.
Um dos seguranças era um armário de 2 metros de altura e uns 130 kg, no mínimo. O cara era um gigante. Vi ele pegando pela gola da camisa e levando pra fora pelo menos 3 malacos causadores. Imagine ser arrastado pra fora de um clube por um gigante. Era tragicômico.
Foram umas onze musicas no show e mais umas cinco no bis. Adorei todas. Strokes é muito bom e o show foi histórico, de verdade.
Depois do show, o Victor ainda encontrou o Nicky do Franz e foi lá bater uma foto
Sábado passado, no festival da Ilha de Wight. Podem não mostrar músicas novas, mas a banda tá tinindo.
É óbvio que o show-susto que os Strokes anunciaram pra ontem já está online:
É a primeira vez que a banda toca junto desde 2006.
Alguém conhece alguém que foi?
Olha o setlist:
“New York City Cops”
“Modern Age”
“Hard to Explain”
“Reptilia”
“Whatever Happened”
“You Only Live Once”
“Soma”
“Vision of Division”
“I Can’t Win”
“Is This It”
“Someday”
“Red Light”
“Last Night”
“Under Control”
“12:51”
“Juicebox”
“Heart in a Cage”
“Take It Or Leave It”
Na sincera? Esperava um monte de músicas novas e talvez o anúncio do novo disco – no meu delírio mais entusiasmado, imaginava a banda lançando o disco online da noite pro dia, sem aviso, se “vazando online a si mesmo” como o Radiohead ensinou. Ia ser a grande volta por cima dos Strokes e eles podiam até fazer umas músicas fuleirinhas que ninguém nem ia ligar. E aparentemente o que se viu foi uma banda se autocelebrando, acelerando o próprio processo de auto-Creedence Clearwaterização (pobre John Fogerty) de si mesma. Como se anunciassem do jeito mais pessimista que os anos 00 acabaram, que é hora de começar uma nova década, the dream is over, what can I say, quem não dormiu no sleeping nem sequer sonhou.
Mas ainda fico na esperança de que os caras me surpreendam. Se fizerem isso com música boa, melhor ainda.
Vinícius segue o jogo com uma carta forte:
À minha vem a seguir. A entrevista, respondo essa semana.
Gravando o quarto disco.
Na real, do Julian mostrando pra banda uma idéia que ele teve pra uma música…