Silvio Luiz (1934-2024)

, por Alexandre Matias

Nesta quinta-feira morreu um herói. Sílvio Luiz era mais do que um dos melhores locutores de futebol da história do Brasil, ele me ensinou, ainda moleque, a sutil diferença entre reconhecer a importância e gostar. Cresci corintiano ouvindo-o empolgar-se pelo time que era do nosso coração e sendo severo quando precisava, sem que fosse preciso cornetar ou falar mal só pela paixão de torcer, me fez entender que a isenção é uma máscara malfeita, que todo mundo sempre vai ter o seu lado, o seu favorito, o seu querido. Mas seu Silvio mostrava que a paixão não podia ser cega e que não dava pra passar pano pra ninguém. Lições morais do futebol que carrego pra vida, inclusive profissional. E seu compromisso, jornalístico (afinal, um narrador de futebol deveria considerar-se um jornalista), era com os fatos, o que o fazia não gritar gol – e sim um de seus inúmeros bordões, o “foi, foi, foi, foi, foi, foi ele!”, que lhe dava tempo para conferir o nome e o número do jogador e dar mais detalhes sobre o que tinha acabado de acontecer. E se for falar em bordão, não tem pra ninguém: “olho no lance”, “eeeeeeeeu vi!”, “acerte o seu aí que eu arredondo o meu aqui”, “no gogó da ema”, “no paaaaaaau”, “manda o sapato daí”, “pelo amor dos meus filhinhos”, “balançou o capim no fundo do gol”, “o que é que só você viu?” e “no meio da caneta”, sempre com sua voz rasgada e grave, macia e estirada, costurando palavras improvisadas na hora misturando o tom informal da conversa na arquibancada do jogo com uma crônica bem humorada e ao mesmo tempo cética, que transformou expressões clássicas como “minha nossa senhora” e “pelas barbas do profeta” em suas. Ele já estava mal e foi internado duas vezes este ano, esta última, sem volta. Mas viveu quase 90 anos intensos, sempre reconhecido pelo público de pelas torcidas – não só a do nosso time. E a notícia de sua morte ainda nos lembra que ele foi o primeiro brasileiro a veicular um palavrão na TV brasileira, quando deu o microfone a um jogador, que xingou o juiz de “filha da puta” – isso em 1953. Obrigado, mestre! Vai em paz.

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