Durante a apresentação do grupo Kneecap no festival de Glastonbury deste ano, o MC Mo Chara perguntou se o público iria ver o show de Rod Stewart, rindo que ele “é mais velho que Israel” – o que é verdade. O cutucão não foi sobre a idade do velho mod, mas sobre o fato de que há tempos o vocalista inglês abraça opiniões políticas toscas – desde os anos 70, quando apoiava o político conservador Enoch Powell por ser contra os imigrantes que vinham para a Inglaterra, até atualmente, quando, além de ser amigo pessoal de Donald Trump, também apoia outro político de direita, Nigel Farage. Mesmo se posicionando recentemente contra Benjamin Netanyahu e ameaçando terminar a amizade com Trump caso ele continue a apoiar Israel, o velho roqueiro ainda carrega – com razão – a pecha de conservador, mas conseguiu pelo menos um bom momento em seu show no festival, quando chamou o rolling stone Ron Wood para reviver um velho hit dos Faces, banda que tinham no final dos anos 60, antes de Wood entrar nos Stones, “Stay With Me”, em sua apresentação no domingo.
Assista abaixo: Continue
Confesso que não havia entendido quando Maria Beraldo e Zélia Duncan escolheram o disco ao vivo Antônio Carlos Jobim em Minas para ser recriado em apresentação dupla neste fim de semana, no Sesc 14 Bis. O show de 1981, lançado apenas em 2004 como o primeiro lançamento em parceria da gravadora carioca Biscoito Fino e da família do maestro, reúne vários de seus clássicos, mas como o próprio Tom fala durante o concerto, realizado no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, ele não era muito afeito a apresentar-se ao vivo e vários de seus discos em estúdio são trabalhos muito mais emblemáticos de sua carreira do que aquele registro ao vivo, embora menos memoráveis. Levando em conta que o show é temperado por longas – e ótimas – falas de Tom entre as músicas e que o único instrumento tocado – o piano – não é o instrumento-base de nenhuma das duas cantoras, restava a expectativa sobre como aquele registro seria recriado em outro palco. O resultado veio numa bela apresentação que equilibrava música e teatro com ambas encarnando Tom sem precisar estar no piano de cauda – ou melhor, nos pianos, ambos pilotados por Chicão Montorfano (parceiro de Maria no Quartabê) e Julia Toledo, tocando de frente um para o outro. Beraldo e Duncan, vestidas por Simone Mina, ocupavam todo o resto do palco, repetindo as falas de Tom Jobim na íntegra ao mesmo tempo em que intercalavam suas belas vozes complementares em clássicos da música brasileira como “Desafinado”, “Corcovado”, “Se Todos Fossem Iguais A Você”, “Dindi”, “Retrato Em Branco e Preto”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Samba De Uma Nota Só”, “Lígia”, “Por Causa De Você”, “Chega De Saudade” e várias outras, tocadas na ordem do disco. Além das falas decoradas naturalmente, as duas movimentavam-se pelo palco e pelo público, girando ao redor do piano, trocando cadeiras de lugar, jogando bolinhas de pingue-pongue uma na outra e fazendo caminhadas sincronizadas pelo palco em um ótimo exercício cênico, dirigido por Vinicius Calderoni. A luz soberba de Olívia Munhoz – quase sempre monocromática e valorizando o contraste claro-escuro – amarrava toda a condução de palco numa apresentação magistral, que abriu exceção ao discos em dois momentos, quando as duas, apresentaram-se individualmente com suas guitarras, cantando músicas que as conectaram à notícia da morte de Tom, em 1994: Zélia cantando “Sem Você” (lembrada por Chico Buarque naquele fatídico dia) e Maria cantando “Eu Te Amo” (gravada por ela em seu primeiro disco, Cavala). A apresentação de sábado terminou com as duas desconstruindo “Águas de Março” – e aproveitando o 28 de junho do Dia do Orgulho LGBT – para fazer breves alterações na letra original. Quando “um sapo e uma rã” tornam-se “uma sapa e uma rã” e o “resto de mato” vira “resto de matagal”, em referência à música que as duas gravaram juntas no disco mais recente de Beraldo, Colinho. Emendaram o bis vindo para a beira do palco com suas guitarras e cantando “Garota de Ipanema”, deixando o clássico chapéu panamá branco de Tom sozinho no centro do palco. Bem bonito.
#mariaberaldo #zeliaduncan #tomjobim #sesc14bis #trabalhosujo2025shows 125
Enquanto assiste dois de seus sucessores assumirem o verão de 2025 – especificamente Lorde e Pulp, dois dos nomes que ela citou no festival de Coachella para tomar o bastão que ela passou após o verão Brat interminável que tocaram no Glastonbury deste ano -, Charli XCX foi ainda além na longa despedida de seu disco do ano passado ao, no final de sua apresentação no festival inglês atear fogo ao painel verde-limão que acompanha suas apresentações, causando uma série de questionamento em seus fãs. Será que é mesmo o fim da era Brat? Será que ela seguirá destruindo os ícones do seu disco nos próximos shows? Será que ela pode revelar novidades enquanto enterra seu passado? Enquanto as perguntas pairam no ar, ela segue com a turnê do álbum de 2024 deixando as músicas e sua performance ainda mais agressiva, para deleite de todos.
Assista abaixo: Continue
Apesar de já estar sendo cogitado desde antes do Glastonbury começar, a apresentação das Haim no festival inglês aconteceu no início da noite do sábado, quando as irmãs californianas tocaram pela primeira vez desde o lançamento de seu quarto álbum, músicas deste seu I Quit num show que não estava anunciado na programação. Diferente dos outros dois shows secretos – o de Lorde foi composto basicamente das músicas de seu disco deste ano enquanto o do Pulp trouxe apenas duas do recém-lançado More -, elas equilbraram a apresentação com músicas do novo álbum e hits dos discos anteriores. Mas não levantaram a bandeira do verão Haim – e olha que a Charli falou delas…
Assista abaixo: Continue
O trio de rap irlandês Kneecap já era uma das principais atrações do festival de Glastonbury deste ano mesmo antes do festival começar. Famoso por sua posição ativa contra o genocídio promovido por Israel contra o povo palestino, o grupo teve a transmissão de seu show no festival norte-americano Coachella cortada no momento em que gritaram “Palestina livre” aos microfones e sua escalação para o festival inglês foi criticada por muitas autoridades daquele país, incluindo o primeiro ministro Keir Stammer. O rapper Mo Chara, que foi acusado de terrorismo na Inglaterra por levantar uma bandeira do grupo Hezbollah no palco em um show em Londres no ano passado, teve tais acusações retiradas antes da apresentação do sábado, o que fez com que ele entrasse em cena anunciando que era “um homem livre”, lotando um dos palcos menores do festival, em que o público carregava dezenas de bandeiras da Palestina. “Os editores da BBC vão ter trabalhão”, brincou Chara ao ver o número de bandeiras à sua frente. Fazia referência ao fato de que a emissora estatal inglesa recusar-se a transmitir o show do grupo, que puxava coros contra o primeiro ministro inglês e o estado de Israel, sempre a favor dos palestinos. O trio irlandês não foi o único artista a falar contra o genocídio que está acontecendo em Gaza durante o festival: a dupla de grime Bob Vylan tocou um pouco antes do Kneecap fazendo o público gritar “Palestina livre” e “Morte à IDF” (sobre as Israel Defense Forces) em plena transmissão do festival pela BBC, que cortou o sinal do grupo na mesma hora. A banda australiana Amyl and the Sniffers também aproveitou o festival para criticar a indiferença dos países ocidentais à tragédia em Gaza; o vocalista da banda Inhaler, Elijah Hewson, dedicou uma música às pessoas da Palestina; o baterista dos Libertines, Gary Powell, ergueu uma bandeira da Palestina e o próprio festival abriu espaço para a ativista Francesca Nadin falar sobre a situação que Gaza atravessa atualmente. Pelo visto o festival deste ano foi o ponto de virada para as discussões sobre o assunto em eventos de larga escala, inclusive do outro lado, quando, por exemplo, o vocalista do grupo The 1975, Matt Healy, disse que preferia não falar de política com sua música, sem se referir aoassunto estava preferindo se silenciar. Um mané isentão.
Assista abaixo: Continue
Mais uma vez Dua Lipa agrada ao público de um dos países por onde tem passado, rendendo uma versão de tirar o fôlego para um hit manjadaço. Foi assim nessa sexta-feira, quando, ao apresentar-se em Dublin, na Irlanda, preferiu não ir no óbvio, ao homenagear o U2 e, invertendo as letras, preferiu celebrar o maior hit de, como ela mesma disse antes de cantar a versão, “uma saudosa lenda irlandesa”, ao anunciar sua leitura para “Nothing Compares 2 U” que, apesar de escrita pelo Prince, tem sua versão definitiva gravada por Sinéad O’Connor, que morreu precocemente há dois anos. E, pra variar, Dua Lipa mostrou o quanto canta absurdamente em uma versão para se ouvir de joelhos.
Assista abaixo: Continue
O show da Lorde não foi o único show surpresa desta edição do festival de Glastonbury, na Inglaterra, nem foi também o único a receber o bastão da Charli XCX pra ser o anfitrião do verão deste ano no hemisfério norte, quando uma atração chamada Patchwork, que ninguém nunca tinha ouvido falar, revelou-se ser o próprio Pulp, tocando há exatos 30 anos e quatro dias após sua clássica aparição na edição de 1995 daquele mesmo festival. Depois de fazer mistério com pessoas com capas de chuva no palco de mãos dadas, quando o telão perguntou para o público se eles estavam pronto para o verão do Pulp, uma das promessas feitas por Charli quando ela começou a despedir-se de seu longo verão Brat no festival de Coachella, nos EUA, deste ano. “O motivo pelo qual tocamos aqui 30 anos e quatro dias atrás foi porque o guitarrista dos Stone Roses, John Squire, quebrou sua clavícula e recebemos o convite apenas dez dias antes do show… Dez dias!”, o próprio Jarvis Cocker lembrou durante a apresentação deste ano. “Estávamos mais nervosos do que nunca. Mas hoje é diferente… Me sinto bem sossegado e vocês?” O show do grupo ainda contou com um rasante da esquadrilha da fumaça inglesa e com ninguém menos que a jovem Olivia Rodrigo (será que era ela mesmo?) curtindo no meio da plateia. Bom demais esse verão Pulp!
Assista abaixo: Continue
E por falar no Glastonbury desse ano, imagino que vocês não devem dar a menor pelota pra filha do J.J. Abrams (que tem crescido cada vez mais como popstar), mas essa versão que ela fez pra “Just Like Heaven” no festival inglês ficou joia.
Assista abaixo: Continue
Além de criar o hype pro seu novo disco de forma cirúrgica: escolhendo músicas-chave para abrir o tema de seu novo álbum Virgin e sua sonoridade para o público ao mesmo tempo em que cria a tensão necessária entre aparições presenciais e presença digital que ela aprendeu com o Brat da Charli, de quem ela recebeu o bastão. Virgin, que foi lançado nessa sexta-feira, ainda não é uma obra-prima, mas é ótimo de ponta a ponta, completo e bem resolvido, retomando a promessa que era a artista neozelandesa quando lançou seu primeiro disco, o excelente Pure Heroine, e corrigindo os desvios comerciais que fez ao tornar-se uma artista pop para além do circuito indie (com seu segundo disco, Melodrama, que é bom, mas exagerado) e da fase hippie–chic do disco Solar Power (que a gente perdoa porque era pandemia – e nos deu pelo menos um hit). Fora que, uma vez lançado, o disco ganha uma vida para além da expectativa de sua autora, que mais uma vez, com maestria, soube aproveitar o momento fazendo uma aparição surpresa no festival inglês de Glastonbury, quando abriu os trabalhos na sexta-feira ressignificando o horário das 11h30 da manhã num festival deste porte no que seria a princípio um DJ set, mas que no fim foi um show de verdade, em que ela pode tocar, na íntegra, o recém-lançado álbum, Excelente.
Veja abaixo: Continue
Eita que ninguém tava esperando por essa. O melhor rapper do mundo atualmente chega por aqui no dia 30 de setembro, em apresentação única no estádio do Palmeiras. As vendas começam a partir do dia 30 de junho para clientes pré-selecionados e para o público em geral no dia 2 de julho, a partir das 11h da manhã, neste link. E a abertura do show, pra melhorar, é da dupla sensação argentina Ca7riel & Paco Amoroso. Quem vem?