De volta ao velho Galaxie 500

Outro show incrível foi o de sexta passada que, com a mesma banda que visitou os screentests de Andy Warhol capitaneada pelo casal Dean & Britta, homenageou a banda original de Dean, o Galaxie 500. Foi um show autenticamente emotivo, solene e intenso – como era o velho G500. E a proximidade entre público e palco oferecida na Choperia do Sesc Pompéia fez que músicos e fãs pudessem estar sintonizados na mesma freqüência. Filmei algumas músicas – e meu vídeo favorito é o de “Night Nurse”, por motivos pessoais.


“Temperature’s Rising”


“Decomposing Trees”


“Strange”


“Tugboat”


“Listen the Snow is Falling”


“4th of July”


“Moon Palace”


“Night Nurse”


“Ceremony”

Dean Wareham e Britta Philips tocando para Andy Warhol

O show de ontem foi lindo.


“Richard Rheem” / “Ann Buchanan” / “Teenage Lightning and Lonely Highways”


“It Don’t Rain on Beverly Hills”


“Herringbone Tweed” / “I Found it Not So”


“I’ll Keep it With Mine”


“Eyes in My Smoke”


“I’m Not a Young Man Anymore”


“Knives From Bavaria”


“Tiger Lily”

E hoje, quem vai?

A conexão Andy Warhol / Galaxie 500

Entrevistei o Dean Wareham ontem sobre os shows de hoje e amanhã aqui em São Paulo, para o Caderno 2

Uma visita a Andy Warhol
Dean Wareham, líder do Luna, homenageia o papa da pop art

“Neste exato momento estou preso no trânsito de São Paulo”, disse Dean Wareham, em entrevista por telefone. Isso foi ontem de manhã, o tempo estava fechado e ele havia acabado de chegar à cidade, onde fará dois shows, hoje e sexta-feira, no Sesc Pompeia.

Líder da mítica banda indie norte-americana Galaxie 500, ele vem ao Brasil pela segunda vez, quando faz duas apresentações diferentes, duas homenagens, uma a Andy Warhol e outra à sua banda original.

O primeiro show é creditado a ele e à mulher, Britta Philips, que também o acompanha em sua banda atual, o Luna. Britta também toca na sexta, embora ele seja anunciado como um show mais de Dean do que propriamente do casal, uma vez que Britta não fazia parte do Galaxie 500.

“Os dois concertos têm a mesma formação e estamos tocando há tanto tempo que praticamente não ensaiamos mais”, explica Dean Wareham, antes de dizer que, para os shows brasileiros, retomaram músicas do Luna, com quem veio ao Brasil em 2001. “Tocamos aqui exatamente uma semana após o atentado do 11 de setembro, por isso tenho boas lembranças daqui. Mesmo com o trânsito e a quantidade enorme de pessoas em qualquer lugar, a comida e o calor humano local nos fizeram muito bem numa época bem difícil de estar em Nova York”, lembra ele.

O espetáculo de hoje já vem sendo exibido desde o início do ano passado. 13 Most Beautiful… Songs for Andy Warhol’s Screen Tests traz a banda tocando sobre a projeção dos testes de elenco do pai da pop art, closes extremos em nomes conhecidos como Lou Reed, Dennis Hopper, Nico e Edie Sedgwick.

Além de músicas compostas para o show, também há versões para Bob Dylan (“I’ll Keep It With Mine”, que Dylan compôs para Nico) e do Velvet Underground (a rara “I’m Not a Young Man Anymore”). Feito para ser apresentado em museus e exposições de arte, o show já passou por retrospectivas de Warhol na Opera House de Sydney, no Lincoln Center de Nova York e no Museu de Arte Contemporânea de Chicago.

Mas passar por esses palcos fez o casal e sua banda terem vontade de voltar às casas de show, criando o que será apresentado na sexta, Dean Plays Galaxie 500 Songs. Para combinar com as duas atmosferas diferentes, o concerto de hoje ocorre no Teatro do Sesc Pompeia e o de amanhã na Choperia.

Ouça Ringo: ouça Yusef Lateef

O mestre multiinstrumentista vem ao Brasil este mês (toca em São Paulo dias 12 e 13 agora), nos conta o Ronaldo, que puxa o Ringo pra dar o aval.

Damo Suzuki em São Paulo

E por falar em krautrock, lembrei de quando o Damo Suzuki – o mítico vocalista do Can, sem dúvida a banda mais importante da história do gênero – passou pelo Brasil, em 2005, no festival 4Hype, que rolou no Sesc Pompéia, e fui ver se tinha algum vídeo disso no YouTube.

E, para a minha surpresa, descobri não só que tinha, quanto eles tinham sido subidas no site pelo próprio Paulo Beto, o PB, que estava pilotando instrumentos eletrônicos no mesmo palco que Damo vociferava seus grunhidos zen. Além do PB, a banda montada para o festival era um mini quem-é-quem do rock experimental paulistano do começo do século 21, reunindo nomes como o Cacá do Objeto Amarelo, o Maurício Takara do Hurtmold, o Sérgio Ugeda do Diagonal, o Miguel Barella (que já passou por inúmeros projetos desde os anos 80), entre outros que não me recordo. O show foi tão hipnotizante quanto o do Hallogallo, mas ia para um nível de agressividade e força que não havia na apresentação do trio de Rother. Afinal, era quase uma big band.

Este mesmo evento ainda contou com apresentações do Wolf Eyes, do austríaco Fennesz, o escocês Kode9, DJ Dolores, Toni da Gatorra, Akira S. & As Garotas que Erraram, Tecno Show e Lívio Tratenberg e eu pude entrevistar e servir de intérprete dos quatro estrangeiros em bate-papos abertos ao público na tarde do dia da apresentação de cada um deles. O papo com o Damo foi especialmente legal porque aconteceu no mesmo dia do papo com o Steve Goodman, o Kode9, que além de ser um dos pioneiros na divulgação do dubstep no Reino Unido, também tem um trabalho como pesquisador e historiador de música contemporânea, e dono de gravadora. Em vez de fazer dois papos separados, juntamos Damo e Steve numa mesma conversa que fluiu para muito além da própria trajetória dos artistas e possíveis observações destes sobre a música experimental no mundo na época, e virou uma discussão boa abordando diferentes visões do que pode ser considerado música hoje em dia – indo para a raiz da definição de conceitos tão diferentes quanto estética, mercado e produção.

Os vídeos acima são curtos e só dão uma idéia do que aconteceu no Teatro do Sesc Pompéia naquele dia – transe coletivo que só poderia ser reproduzido na íntegra, não em pequenos trechos. E é nessas horas que eu lembro que o Sesc grava e arquiva bonitinho todos seus shows. Imagina a quantidade de pérola que os caras não têm guardado nesse baú…

Stereolab em São Paulo

Na mesma vez que vieram ao Rio, a banda também passou por São Paulo, onde fez dois shows memoráveis no teatro do Sesc Pompéia (quem mais estava lá?). Mas desses shows, só dois trechos ao vivo apareceram online, até agora:


“Escape Pod”


“Op Hop Detonation”

Mas há dois trechos de entrevistas para o Eurochannel. No primeiro, Laetitia fala da reação inesperada que tiveram do público brasileiro:

…no segundo, Tim Gane fala sobre como lidar com gravadoras, sejam elas independentes ou não.

Engraçado ver esta entrevista dez anos depois…

Jonathan Richman em São Paulo


Jonathan Richman – “Cosi Veloce!” / “Let Her Go Into The Darkness”

Aproveito a deixa do Coachella do Bruno para falar de dois shows que vi nas últimas semanas. O primeiro foi o de Jonathan Richman, pai dos Modern Lovers, um dos sujeitos responsáveis por manter acesa a tocha do foda-se entre o Velvet Underground e os Ramones no início dos anos 70. Desde os Modern Lovers – e isso faz teeeempo -, que o sujeito não volta ao rock de verdade, preferindo ficar na posição de trovador ao violão, cantando músicas próprias e alheias ao violão como um velho bardo da Idade Média enquanto se dirige ao público batendo papo o mesmo tanto que toca música. Além do inglês nativo, Richman já gravou em francês, italiano, espanhol e hebreu, e ele curte a conversa com sua platéia enquanto se apresenta ao lado do baterista Tommy Larkins. Eu já tinha visto o sujeito se apresentando nesse formato em Paris, cidade em que ele tem um culto forte, e o clima de reencontro pairava mais sobre o show do que qualquer outro – eram fãs revendo o velho ídolo de sempre, as músicas completadas pela audiência como um diálogo (veja versão que filmei de “I Was Dancing in a Lesbian Bar“, com um clima quase um karaokê de turma), quase todo em francês. Por isso fiquei curioso – e um tanto quanto cético – quando soube que Richman viria ao Brasil e estava sendo vendido como um velho ídolo punk. Além de ser o oposto do tipo de apresentação que ele faz hoje, some-se a isso o fato de que ele não sabia falar a nossa língua e pronto, tínhamos uma receita para uma falha de comunicação – e não para um diálogo.


Jonathan Richman – “Blowing in the Wind” / “I Was Dancing in a Lesbian Bar” / “Pablo Picasso”

Não que o show não tenha sofrido com isso, mas o atrito foi bem menor do que o possível – e em grande parte devido à benevolência do público, disposto a cooperar. E foi preciso que Richman enrolasse a letra de “Blowing in the Wind” para que os presentes entendessem a lógica do show. Desculpando-se por não falar português com frequência, Richman compensava a falta de entrosamento racional com dancinhas e cocalhos, numa tentativa ridícula – mas felizmente eficaz – de conectar-se com o público. Em vinte minutos todos já tinham entendido qual era – e depois de mais uma hora Richman fechou o show como se estivesse se despedindo de um público que já conhecia faz tempo.


Jonathan Richman – “Arrivederci”

Todo mundo ama Lulina

E como não adorá-la? Filmei o show que ela deu na terça no Sesc Pompéia, que teve participação do Bruno Morais.

Muito foda.

Mockers tocando Beatles

Que show! Três quintos do Cidadão Instigado – o guitarrista Régis Damasceno, o baixista Rian Batista e o baterista Clayton Martin – respondem como Mockers nas horas vagas, um grupo dedicado a tocar apenas versões de músicas dos Beatles de 1966 em diante. Na ativa desde o ano passado, só consegui vê-los em ação nesta quinta, quando o grupo apresentou-se dentro do Toca Aí, o mesmo projeto do Sesc Pompéia que botou o Instituto tocando Pink Floyd.

Por motivo de agenda, o grupo não pode se apresentar na Choperia, onde queriam e vem acontecendo os shows do projeto (o Forgotten Boys tocou Rolling Stones semana passada, não fui, mas já já posto uns vídeos que achei no YouTube do show). Sorte nossa. O Teatro funcionou perfeitamente para o tom ao mesmo tempo austero e informal da apresentação. Ao confrontar os três músicos olhando uns para os outros (devido ao desenho do teatro, cujo palco é ladeado por duas platéias), o show ganhou uma sensação de intimismo que parecia bater de frente com o aspecto clássico do repertório – tom que era quase sempre destruído por Rian, que insistia em dirigir-se ao público em inglês, trazendo todo o humor dos Beatles para um palco estritamente psicodélico.

E como tocam esses três. Mais do que chancelar a química musical que os três já trazem do Cidadão, o show serviu como apreciação de três grandes músicos. Clayton rezou a cartilha de Ringo Starr à risca, trazendo ao palco alguns dos momentos mais brilhantes do subestimado Ringo em seu instrumento – crescido à sombra do rock paulistano influenciado pelos anos 60, Clayton deixou os trejeitos e influências de Keith Moon e Nick Manson (característicos de seu jeito de tocar) para debruçar-se sobre a técnica do baterista beatle como sua única Bíblia pessoal. Rian, mais do que quebrar o gelo com suas piadas geniais e ridículas, tratava o baixo melódico de Paul McCartney com reverência e estilo, além de garantir os vocais mais agudos sem muita preocupação. E Régis, que nasceu abençoado por um timbre de voz que quase, quase, chega ao mesmo do de John Lennon, segurava não apenas as guitarras de John e George Harrison num único instrumento, como ainda o colocava para fazer as vezes dos teclados de algumas canções.

Foi memorável. Consegui filmar quase todas as músicas da noite (com a exceção das três primeiras – “Two of Us”, “She Said She Said” e “Taxman” – e das duas últimas – “Birthday” e “Tomorrow Never Knows” com direito à citação de “Within You Without You”), mas se eu fosse você não perdia o próximo show.

Estes são os Mockers

E por falar no Régis, nas horas vagas do Cidadão Instigado, os três elementos acima (Régis, Clayton e Ryan, que são 3/5 da banda de Fernando Catatau), atendem como The Mockers, uma banda especializada em tocar Beatles pós-66. Eles tocam quinta que vem, dia 21, no Teatro do Sesc Pompéia, no mesmo projeto em que o Instituto tocou Pink Floyd, o Toca Aí. Nesta quinta agora, dia 14, é a vez dos Forgotten Boys tocando Rolling Stones, mas acho que eu nem vou nesse…