A segunda aula de Bibliografia da Música Brasileira, curso que estou ministrando com a Pérola Mathias no Sesc Avenida, aconteceu nesta quinta-feira quando escolhemos a bossa nova como ponto de partida para falar sobre como nossa música é representada por nosso mercado editorial. Começamos pela onda do final dos anos 50 que tomou o mundo na década seguinte pois, desde sua incepção, ela inspirava não apenas a discussão sobre sua natureza como via isso traduzido em livros, a começar pelo clássico O Balanço da Bossa e Outras Bossas, de Augusto de Campos. Também mostramos como os livros acabaram, num segundo momento, colocando o baiano João Gilberto no centro deste período, algo que antes era difuso como um movimento que não era propriamente um movimento, mas que foi crucial para que pensássemos em nossa música de forma ensaística, jornalística, crítica, acadêmica e cronista, usando justamente os livros como ponto de partida. Esqueci de tirar foto, então fica aí a lombada de alguns livros que discutimos nesta aula. A próxima é sobre samba.
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Começamos o curso Bibliografia da Música Brasileira nesta quinta-feira no Sesc Avenida Paulista. Eu e Pérola vamos atravessar março e abril falando de livros que nos ajudam a compreender o papel da música brasileira em nossa história, mas nessa primeira aula, em vez de falarmos sobre livros e autores específicos, preferimos falar sobre como o mercado editorial brasileiro praticamente dava de ombros para esse tipo de literatura e como a partir da redemocratização esse cenário foi mudando com a publicação de vários livros que questionam a história oficial da música no Brasil ao trazer novos pontos de vistas para diferentes épocas da música no país.
Fevereiro chegando ao fim e começo com as novidades de março, quando faço mais um curso no Sesc Avenida Paulista, desta vez em parceria com a minha comadre Pérola Mathias. No curso Bibliografia da Música Brasileira, apresentamos livros básicos para o entendimento da nossa história musical. Desde obras publicadas no início do século passado a livros que começaram a ser publicados no final do século 20 a partir do fim da ditadura militar que se dedicam a pesquisas mais profundas sobre a música brasileira e seus principais artistas e agentes sociais, vindas de profissionais de diferentes áreas de atuação, como jornalistas, historiadores, sociólogos e pesquisadores. São oito aulas que abordarão diferentes momentos de nossa identidade musical a partir de livros como O Samba Agora Vai… de José Ramos Tinhorão, Nada Será Como Antes de Ana Maria Bahiana, Samba – O Dono do Corpo de Muniz Sodré, Chega de Saudade de Ruy Castro, Eu Não Sou Cachorro Não de Paulo César de Araújo e Da Lama ao Caos de Lorena Calábria, entre outros. As inscrições podem ser feitas neste link.
Ao apresentar seu Favelost neste sábado no Sesc Avenida Paulista, Fausto Fawcett reuniu uma banda que deu um sabor ao mesmo tempo novo e retrô ao seu poema épico e decadente sobre a megalópole do terceiro mundo. Ao lado do casal Leela (Bianca Jhordão e Rodrigo Brandão, ambos empunhando guitarras, Bianca às vezes arriscava-se no theremin), ele substituiu a cozinha de uma banda de rock pelos sintetizadores de Paulo Beto, soando simultaneamente dance e rock e deixando sua verborragia apocalíptica, ir rumo à psicodelia dançante da Manchester do final dos anos 80, a famigerada Madchester, mas com o tempero sensual, decadente e brasileiro característico de sua poética. Misturando samples de Rolling Stones, Led Zeppelin, Bee Gees e “Please Don’t Let Me Be Misunderstood” no meio de pérolas de seu repertório como “Facada Leite Moça”, “Santa Clara Poltergeist”, “Drops de Istambul” e “Caligula Freejack”, ele ainda recebeu a presença de Edgard Scandurra e Fernanda D’Umbra, com quem tocou “De Quando Lamentávamos o Disco Arranhado” da banda desta última, o Fábrica de Animais. O espetáculo ainda teve os visuais do diretor Jodele Larcher e a reverência ao hit imortal “Kátia Flávia”, revisitado com direito a parte dois, quando a protagonista sai do submundo cão para assumir o “supermundo cão” fazendo OnlyFans para agentes de inteligência e do crime organizado em troca de segredos de estado. E, de repente, em 2024, as hipérboles de Fausto não parecem tão exageradas quanto eram no século passado. Showzaço.
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Quem foi ao Sesc Avenida Paulista nesta quinta-feira pode aproveitar mais uma avalanche sonora provocada pelo Test em sua versão hiperbólica, a Test Big Band, e só quem esteve presente tem noção do impacto que foi essa primeira apresentação que o grupo faz neste formato depois da pandemia. Além dos heróis João e Barata, os responsáveis por esse cataclisma de som que o público pode assistir, eles contaram com Sarine na percussão, Bernardo Pacheco no baixo, Alex Dias no contrabaixo acústico, Rayra da Costa nos eletrônicos, Livia Cianciulli no saxofone, Romulo Alexis no trompete, Flavio Lazzarin na bateria, Tomas Moreira, Chris Justtino e Jonnata Doll nos vocais e Maureen Schramm na luz. Vida longa ao Test!
Feliz por conseguir realizar o retorno da Test Big Band depois do período pandêmico nesta quinta-feira, no Sesc Avenida Paulista. Uma das principais bandas da cena noise brasileira, a dupla Test, formada por João Kombi (guitarra e vocais) e Barata (bateria), já extravasaram há muito tempo os limites do metal e do grindcore e hoje são uma usina compacta de barulho extremo. Mas esse elemento compacto vai para as cucuias no formato Big Band. Fui apresentado a essa formação – quando a dupla expande-se para a quantidade de músicos que eles conseguem colocar no palco – quando era curador de música do Centro Cultural São Paulo e reunimos dez músicos além da dupla na mítica Sala Adoniran Barbosa. Desta vez Barata e João são acompanhados por outros onze músicos: Sarine (percussão) e Bernardo Pacheco (baixo), que já tocam com os dois quando o grupo torna-se um quarteto, além de Alex Dias (contrabaixo acústico), Rayra da Costa (eletrônicos), Livia Cianciulli (saxofone), Romulo Alexis (trompete), Flavio Lazzarin (bateria), Tomas Moreira, Chris Justtino e Jonnata Doll (vocais) e Maureen Schramm (luz). A apresentação dessa parede sonora acontece no Sesc Av. Paulista a partir das 20h. Os ingressos já estão esgotados, mas quem conhece o Sesc sabe que, chegando na hora, sempre corre o risco de sobrar um ou outro ingresso. Vamos?
E como não se pode ganhar todas, pelo menos vi o comecinho de uma das duas apresentações que Mariá Portugal está fazendo no Sesc Avenida Paulista. Em vez da big band que reuniu para o lançamento de seu ótimo disco solo Erosão, desta vez a baterista formou um sexteto da pesada: Joana Queiroz (clarinete e clarone), Rômulo Alexis (trompete), Alex Dias (contrabaixo acústico), Allan Abbadia (trombone) e Thiago França (saxofone). Só consegui assistir ao primeiro ato, “Cheio/Vazio”, em que marca o tempo para entradas de sessões de improviso enquanto canta “passeio pelos aposentos, vejo os vestígios e quase escuto sua música tão particular que ainda parece reverberar e me divirto”. Ainda tem outra apresentação dela neste domingo, às 17h30.
Na primeira das duas apresentações que está fazendo em São Paulo, no Sesc Avenida Paulista, a guitarrista norte-americana Ava Mendonza desconstruiu seu instrumento despedaçando riffs e solos em cima de bases tensas e fritas conduzidas pela cozinha do grupo de jazz Full Blast (uma espécie de Morphine do mal), formada pelo baixista Marino Pliakas e pelo baterista Michael Wertmueller. Os dois criam uma atmosfera densa e quase táctil: Wertmueller deixa sua bateria soar quase como IDM eletrônica, enquanto Pliakas conduz suas duras linhas de baixo em algum lugar entre o hardcore e o industrial. Esta combinação transforma-se numa rede de segurança em que a guitarrista pode atirar-se sem medo, soltando ainda mais seu instrumento e fritando todo o público com ela. Neste sábado tem mais, vale conferir.
Redondinho os shows que os Pelados fizeram neste fim de semana no Sesc Avenida Paulista. Tocando na ordem e na íntegra seu disco mais recente, o sensacional Foi Mal, o quinteto paulistano entregou-se ao delírio idílico indie encapsulado no disco do ano passado, mostrando todas as cores de pérolas como “Coquinha Gelada After Sex”, “A Linha Tênue Entre Gostar e Não Gostar”, “Foda Que Ela Era Linda”, “Julho de 2015”, “Música de Término” e “Yo La Tengo na Casa do Mancha”, tocadas com o entrosamento típico de uma banda de garagem: Manu Julian completamente entregue à canção, Vicente Tassara deixando baixar a vibe de guitar hero anos 90, enquanto a bateria e o baixo de Theo Cecato e Helena Cruz estavam completamente sintonizados, temperados pelos timbres retrô do moog Lauiz Orgânico. Entre piadas infames e diversos pedidos de desculpas que ecoavam o nome do disco, o quinteto foi acompanhado pelo guitarrista Thales Castanheira, aumentando o volume e a parede de microfonia, sem que isso tirasse a doçura e a complexidade de canções-chave. Entre as faixas do disco (incluindo uma versão Pixies para “Ser Solteiro é Legal!!!”), eles ainda tocaram uma música do disco anterior, uma versão para uma música do disco solo de Lauiz e uma inédita, aos poucos apontando os próximos passos. Com pouca conversa entre as músicas – papo que quase sempre ficou a cargo seu humor larrydavidiano do tecladista Lauiz e -, o grupo mostrou que está cada vez mais coeso musicalmente, funcionando como um mesmo organismo com a pressão e ruído necessários (e consequentes leveza e melodia) para uma banda de sua estirpe. Fico imaginando essa apresentação num inferninho…
Acompanho os Pelados desde antes da pandemia, quando estavam começando a programar os primeiros shows de seu terceiro disco ainda não lançado, o primeiro sem o nome original da banda, Pelados Escrotos. Sem poder lançar o disco formalmente, a banda passou por uma transformação radical durante este período, negando a natureza clean e correta do disco Sozinhos, de 2020, quando se enfurnou no estúdio caseiro Orgânico (do tecladista Lauiz) para, em dez dias, compor e gravar um disco na contramão do que se espera de uma gravação profissional, lançando o excelente Foi Mal, meu disco nacional favorito do ano passado. O minidocumentário 2 e 2 são 5, feito pela produtora Tuqui Filmes a partir de registros caseiros que a banda fez durante a gravação, flagra o processo a que o grupo se submeteu e estreia em primeira mão aqui no Trabalho Sujo.