Sérgio Mendes (1941-2024)

, por Alexandre Matias

Sérgio Mendes, que morreu nessa sexta-feira nos Estados Unidos, provavelmente vítima dos efeitos a longo prazo da covid-19, foi o artista brasileiro mais bem sucedido internacionalmente. Embora ainda ofuscado pelo gigantismo de Carmen Miranda, que foi a primeira popstar em escala global do planeta (e não apenas brasileira), o músico, compositor e arranjador fluminense foi quem desbravou o caminho para a bossa nova tornar-se um sucesso mundial, abrindo à facada a estrada que ligava o Rio de Janeiro a Los Angeles, capital da indústria fonográfica nos anos 60. Ele foi para os Estados Unidos ainda em 1961, quando gravou com músicos como Cannonball Adderley e Herbie Mann, tocando bossa nova em shows nos EUA e na Europa antes de Tom Jobim sonhar em compor “Garota de Ipanema”. Fez parte do Sexteto Bossa Nova, que acompanhou artistas brasileiros na fatídica apresentação no Carniege Hall em Nova York e desde então seguiu naquele país. Foi a partir do tranalho do músico nascido em Niterói que mestres da música brasileira como Jobim, João Gilberto, Eumir Deodato, João Donato e dezenas de músicos e intérpretes cruzaram a fronteira rumo ao hemisfério norte, conseguindo trabalhos e talentos reconhecidos no exterior. Mendes tornou-se o maior destes nomes depois de alguns anos já nos Estados Unidos, quando, por sugestão de Herb Alpert, da gravadora A&M, passou a gravar músicas em inglês, além de versões em português cantadas por duas vocalistas, uma norte-americana (Lani Hall) e uma brasileira (Bibi Vogel) no grupo que montou quando saiu da gravadora Atlantic, o Brasil 66. A sonoridade palatável da bossa nova de Mendes aliada aos vocais híbridos das vocalistas deste novo grupo o transformaram em um sucesso gigantesco mesmo para os padrões dos EUA a partir da versão que o grupo fez para “Mas Que Nada”, de Jorge Ben. Era o começo do estrelato internacional de Sérgio Mendes, que lhe garantiram, com o tempo, um Grammy, um Oscar e 14 músicas entre as 100 mais tocadas nos Estados Unidos, além de parcerias com Stevie Wonder, Justin Timberlake e Black Eyed Peas, amizades com Frank Sinatra, Pelé, João Gilberto, Tom Jobim, Mick Jagger, Elton John, Michael Jackson e Burt Bacharach, além de ter sido um dos poucos brasileiros que conheceu Elvis Presley. Um monstro sagrado, vai em paz.

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