Sambanzo no Prata da Casa 2012

, por Alexandre Matias

Aos poucos uma frase foi se formando na minha cabeça. O Sambanzo é a melhor banda do Brasil hoje.

Claro que ao mesmo tempo em que a torcida pra que ela fosse verdadeira surgia, uma série de ressalvas vinham surgindo para tentar contestá-la. Mas o fato é que há fatores que implicam fortemente para que essa afirmação seja verdadeira. Primeiro, porque passamos por um momento em que artistas solo estão produzindo mais do que grupos de artistas. Segundo, que os inevitáveis concorrentes na categoria (Nação Zumbi, Cidadão Instigado, Instituto, + 2) não lançam coisas novas há um tempo. E, terceiro, porque, como pudemos assistir na terça passada no Sesc Pompéia, estamos diante de uma usina sonora de ritmo e harmonia que carrega o público pra onde quiser.

Começa que a banda é liderada por Thiago França – integrante do Marginals e do Metá Metá, músico da banda de Criolo e um dos principais novos músicos do país, se firmando cada vez mais como representante da música instrumental brasileira em um instrumento de sopro, o saxofone. Entregue ao transe rítmico do grupo, Thiago desbrava as fronteiras de seu timbre em solos agressivos, riffs hipnóticos ou repetições em tom de mantra, sempre se entregando cegamente à música e contando com efeitos elétricos como parceiros no mergulho no próprio som.

Ao seu lado, fazendo as vezes de fiel escudeiro, outro grande músico brasileiro do século 21, Kiko Dinucci também empunha sua guitarra como facão na picada aberta por Thiago, ecoando música africana, carimbó, reggae, cumbia e calipso, mas sem deixar sua veia rock de lado, usando distorções e microfonias um pouco além da sutil moderação. Ao seu lado, o baixista Marcelo Cabral funciona como rede de segurança para as acrobacias de Kiko, e o produtor de Criolo cria uma base firme o suficiente para que Kiko e Thiago se entreguem na dobradinha de melodia e harmonia que conduzem sem perder a fluidez que deixa a música escorrer por minutos que parecem horas, no melhor sentido.

Amparando a linha de frente, não corre atrás. O baterista Welington Moreira é classudo e econômico, mesmo deixando-se levar pelo afro beat, não perde a fleuima de baterista de jazz – deixando espaços de som abertos o suficiente para que, junto à percussão temperada de Samba Sam, que também distorce seus instrumentos com o auxílio da eletricidade, criem uma atmosfera rítmica complexa e direta.


Sambanzo – “Capadócia”

A revelação surgiu no meio de “Capadócia” (acima) quando, de repente, parecia que eu tava assistindo a um show da turnê européia dos Talking Heads na Europa, com Adrian Belew na guitarra, em 1980. E permaneceu durante todo a apresentação, na medida em que o grupo transformava a choperia do Sesc Pompéia em múltiplos ambientes, a cada música: um salão de festas de terra batida no norte do Brasil, um baile clandestino caribenho, um terreiro de macumba, um clubinho abafado de jazz, o espaço sideral.

Não é pouco. Fiz mais vídeos aí embaixo, mas não perca a oportunidade de assiti-los ao vivo ainda esse ano.


Sambanzo – “Bragadá” / “Risca-Faca”


Sambanzo – “Etiópia”


Sambanzo + Juçara Marçal – “Man Feri Man” / “Latina”

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