Depois de divulgar os 50 indicados a melhor disco do ano na semana passada, o júri da comissão de música popular da Associação Paulista de Críticos de Arte (do qual faço parte ao lado de Marcelo Costa, Adriana de Barros, José Norberto Flesch e Pedro Antunes), é a vez de anunciarmos os indicados a outras três categorias da premiação, artista do ano, show do ano e artista revelação. E eles são:
Davi Moraes celebrou o legado de próprio pai nesta quarta-feira, dentro do projeto Releituras proposto pelo Centro Cultural São Paulo, com a participação de velhos compadres. A começar pela própria banda, que entre músicos que trabalham há tempos com o filho de Moraes Moreira, ainda contava com o mestre Jorge Gomes, irmão de Pepeu, ele mesmo um dos Novos Baianos originais. Davi até passeou pela banda que colocou seu pai no mapa ao entoar “Preta Pretinha”, mas preferiu focar na carreira solo do saudoso baiano, em clássicos imortalizados por si mesmo (“Pombo Correio”, “Coisa Acesa”, “Sintonia”) ou por outros intérpretes (como “Eu Também Quero Beijar”, mais conhecida com Pepeu Gomes, “Bloco do Prazer” e “Festa do Interior”, eternizadas por Gal Costa) e hinos do carnaval como “Chama Gente” e “Vassourinhas” (que cantou ao lado da comadre Marcia Castro) e “Dodô no Céu” (que contou com Beto Barreto, do BaianaSystem, na guitarra baiana), além de tocar uma música do próprio Baiana, “Systema Fobica”, quando Russo Passapusso subiu ao palco para atiçar o público da Sala Adoniran Barbosa, emendando “Colégio de Aplicação”. Foi bonito.
Mais um banho de axé que é esse show que o Russo Passapusso formou ao lado da sua dupla de ídolos Antonio Carlos e Jocafi aconteceu nessa sexta-feira, na Casa Natura Musical, que ainda contou com a presença de Karina Buhr em duas canções. Não bastasse o encontro mágico deste trio, que, mais uma vez, usa o recurso cênico da mesa de boteco para recuperar as energias dos veteranos da música baiana, a banda formada para acompanhar esse encontro é inacreditável: Curumin, Zé Nigro, Lucas Martins, Saulo Duarte, Maurício Badé, Edy Trombone, Estefane Santos e o maestro Ubiratan Marques, além da participação do ator Luiz Carlos Bahia. No final da noite, o vocalista baiano emendou duas faixas de seu primeiro disco solo (a faixa-título “Paraíso da Miragem” e “Paraquedas”) e transformou tudo em vibração curativa junto ao público que era exatamente o que ele estava precisando, num final emocionante. É o melhor show brasileiro atualmente, se passar por perto, não deixe passar – que a alma sai nova em folha.
Assista aqui.
Agora sim o C6Fest disse a que veio. Depois de um primeiro dia irregular (pouco público, atrações que não empolgaram tanto e pouca circulação entre o público de diferentes palcos, o que não valorizava a ótima estrutura do evento), o festival feito pelo time que criou o Free Jazz e o Tim Festival em outras aeons mostrou não só que está disposto a entrar de vez no mapa cultural de São Paulo como superou quaisquer outros festivais realizados por aqui desde os tempos do saudoso Planeta Terra. A utilização dos espaços do Parque Ibirapuera e um elenco ousado e pouco trivial transformou o festival em uma experiência única, que talvez só pecasse pela falta de sinalização entre o Auditório do parque e a área comum em que se localizavam outros dois palcos, maior distância a ser percorrida pelo público – ou será que monitores humanos usando lâmpadas e megafones para apontar o caminho são mais eficazes do que placas bem posicionadas?
Se o show do Alto da Maravilha passar perto de você, não pense duas vezes: vá. O acontecimento que é o encontro do segundo disco solo de Russo Passapusso com a triunfal volta da dupla Antonio Carlos e Jocafi já havia causado abalos sísmicos emocionados ao ser capturado em disco num dos registros mais impressionantes do ano passado, mas ganha outra camada no palco. A começar pela banda, que era capitaneada pelo trio de produtores do disco, todos lá: Curumin na bateria, Lucas Martins no baixo e Zé Nigro nos teclados e synths. Ao redor dos três, o ás da guitarra Saulo Duarte, uma dupla de metais de tirar o fôlego – Edy Trombone e Estefane Santos -, a percussionista Loiá Fernandes e o maestro Ubiratan Marques (da Orquestra Afrosinfônica) no teclado elétrico. Só essa banda era o suficiente para fazer qualquer casa cair.
Mas à frente desta vinha esse trio maravilhoso e, não menos importante, alto astral. O encontro de Russo Passapusso com seus mestres Antonio Carlos e Jocafi é uma injeção de otimismo mútua e as três partes são imediatamente contagiadas por essa força conjunta, uma vibração positiva que espalhou-se pelo teatro do Sesc Pinheiros como rastilho de pólvora e antes que a primeira música, “Aperta o Pé”, terminasse o público já estava de pé sacudindo os quadris e batendo palmas sem que nenhum dos três chamasse por isso. O cenário espertamente coloca os três em uma mesa de bar, sublinhando a naturalidade do encontro ao mesmo tempo que funciona como base para a dupla que, só de carreira, tem mais de meio século: Antonio Carlos está com 85 anos e Jocafi com 79. Mas a idade não é um problema para os dois que constantemente levantam-se da mesa para cantar e dançar junto ao público.
À frente dos dois, feliz feito pinto no lixo, está Russo Passapusso. O carisma e empolgação do vocalista do BaianaSystem talvez sejam suas principais características no palco, mas ao lado dos ídolos, elas se potencializam ao cubo. E Russo, completamente extasiado ao colocar suas canções em movimento, transmite essa energia para os outros no palco e para todo o público, funcionando como norte emocional de toda a noite. E não bastassem suas qualidades de showman, ele esmerilha na condução da meteorologia sentimental da noite, regendo todo o Sesc Pinheiros para o lado que lhe interessa – por vezes, deixa todos em ponto de bala, por outras, aciona a melancolia ou deixa a doçura tomar conta, mostrando como, não bastasse tudo isso, ele ainda é um cantor emocionante e um compositor preciso. E ainda estica o tapete vermelho não só para a dupla de veteranos como para cada um dos músicos da banda – todos têm seu momento para brilhar sozinhos. Ele mal cumprimentou formalmente o público, mas estava em constante comunicação, explicando cada detalhe daquele encontro – e frisando a conexão entre o urbano e o sertanejo como duas matrizes baianas importante tanto para sua própria formação musical como a de seus convidados.
E assim passeamos não só pelo acachapante repertório do disco Alto da Maravilha (“Mirê Mirê” composta com Gilberto Gil, “Pitanga”, “Catendê” e minhas favoritas “Vapor de Cachoeira” e “Veneno”) como canções das duas metades desse encontro (“Você Abusou” e “Kabaluerê”, da dupla de baianos, e músicas do primeiro disco de Russo). Entre estas “Paraquedas” foi a escolhida para encerrar a noite, que não teve bis, e estendeu-se por quase quinze minutos, quando Russo guiou a todos por uma versão inacreditável de seu primeiro single, fechando, mentalmente, um ciclo pessoal. Veio, viu e venceu – pra nossa felicidade. Um dos shows mais impactantes que vi nos últimos anos – e que tem que rodar o Brasil inteiro. É a dose de energia positiva que 2023 precisa para seguir seu árduo caminho pela frente.
Depois de já ter anunciado Kraftwerk (pela primeira vez no Brasil sem um de seus fundadores, Florian Schneider, que morreu em 2020), Weyes Blood e Tim Bernardes tocando Gal Costa em sua escalação, o festival C6Fest, produzido pela Dueto de Monique Gardenberg que fazia o Free Jazz e o Tim Festival, acaba de anunciar sua formação completa. O evento acontece no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 20 de maio, e no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, entre os dias 19 e 21 do mesmo mês e traz, na escalação final, nomes novíssimos como Arlo Parks, Black Country New Road, Samara Joy e Dry Cleaning, grandes nomes da última década como War on Drugs. Christine and the Queens, The Comet is Coming e Jon Batiste e veteranos como Underworld e Juan Atkins, entre várias outras atrações. No time brasileiro, há um tributo a Zuza Homem de Mello (que foi curador do Free Jazz e do Tim Festival) com a Orquestra Ouro Negro, Fabiana Cozza e Monica Salmaso, Russo Passapusso com a Nômade Orquestra, Caetano Veloso e uma homenagem musical ao ano de 1973 com Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Arnaldo Antunes, Tulipa Ruiz, Linn da Quebrada, Giovani Cidreira e Jadsa. Os ingressos começam a ser vendidos a partir do próximo dia 5 e separei mais informações sobre horários e preços abaixo.
Milton Nascimento, Anelis Assumpção, Ratos de Porão, Ana Cañas, Rachel Reis, Russo Passapusso, Antonio Carlos e Jocafi e a Espetacular Charanga do França foram os destaques de 2022 de acordo com o júri da Associação Paulista de Críticos de Arte, da qual faço parte, ao lado de Adriana de Barros, José Norberto Flesch, Marcelo Costa, Pedro Antunes, Roberta Martinelli e Tellé Cardim. Veja abaixo quem foi o vencedor de qual categoria.
O ano está quase no fim mas ainda dá tempo de anunciar os indicados em quatro categorias relacionadas à música brasileira em 2022 segundo o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), do qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Milton Nascimento, Juçara Marçal, Anelis Assumpção, Josyara, Don L, Gloria Groove, Rachel Reis, Maglore, Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins, Bruno Morais, Urias, Ana Canas, Bala Desejo, Liniker, Pelados, Planet Hemp, Ratos de Porão, Bebé e Letieres Leite dividem as indicações de artista do ano, revelação, produção musical e show do ano. O resultado final da premiação acontece no início de 2023 e abaixo seguem os cinco indicados em cada categoria.
Eis a lista com os 50 melhores álbuns de 2022 de acordo com o júri de música popular da Associação Paulista dos Críticos de Arte, do qual faço parte. A seleção reflete o quanto a produção musical brasileira ficou represada nos últimos anos e esta seleção saiu de uma lista de mais de 300 discos mencionados por mim e pelos integrantes do júri, Adriana de Barros (editora do site da TV Cultura e colunista do Terra), José Norberto Flesch (que tem seu canal no YouTube), Marcelo Costa (do site Scream & Yell), Pedro Antunes (do vlog Tem Um Gato na Minha Vitrola) e Roberta Martinelli (dos programas Sol a Pino e Cultura Livre). Eis a lista completa abaixo:
Nesta terça-feira, dia 7 de dezembro, faço a mediação de mais um bate-papo com artistas sobre como transformar um disco em show. Depois de conversar com a Céu sobre seu Apká! e com Luiza Lian sobre seu Azul Moderno, agora é a vez de bater um papo com o BaianaSystem sobre como eles transformaram seu ótimo O Futuro Não Demora em Sulamericano Show, o show mais recente que fizeram. O papo acontece no canal do YouTube do Centro de Música do Sesc e vou conversar com o vocalista Russo Passapusso, o guitarrista Roberto Barreto, Filipe Cartaxo, responsável pela concepção visual do grupo e a iluminadora Ligia Chaim. O papo acontece a partir das 20h neste link.