Tudo Tanto #002: MP3 em 78 rotações

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Na minha segunda coluna na Caros Amigos eu falei do projeto Goma Laca, cuja edição de 2014 teve Letieres Leite comandando disco e show com Lucas Santtana, Karina Buhr, Juçara Marçal e outros recuperando pérolas esquecidas da música brasileira registradas em discos de 78 rotações. Fiz uns vídeos desse show:

MP3 em 78 rotações
Projeto Goma Laca resgata canções da primeira metade do século passado nas vozes de novos nomes da música brasileira

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Quem chegasse no Centro Cultural São Paulo (CCSP), próximo à Estação Vergueiro do metrô paulistano, no início da noite do dia 23 de agosto poderia achar que a nova música brasileira estivesse celebrando João Donato. Numa banda comandada pelo maestro Letieres Leite, o mago baiano dono da Orkestra Rumpilezz, Lucas Santtana, Duani e Karina Buhr repetiam os versos de “Cala a Boca, Menino” que Donato eternizou em seu clássico Quem é Quem, de 1973.

Mas “Cala a Boca, Menino”, embora tenha sido popularizada por João, não é nem de Dorival Caymmi, cujo crédito estampa o rótulo do velho vinil. Na verdade suas origens remontam à capoeira do início do século passado e o primeiro registro musical desta canção não apareceu sequer em vinil. A faixa foi registrada pelo mítico Almirante em 1938, na mesma época em que o sambista levou pela primeira vez ao rádio um instrumento “rudimentar e bárbaro” (palavras da época) chamado berimbau.

A faixa foi regravada na terceira edição do projeto Goma-Laca, núcleo de pesquisas sobre a música brasileira da primeira metade do século 20 desenvolvido pelo jornalista Ronaldo Evangelista e pela pesquisadora Biancamaria Binazzi. Desde 2009 a dupla fuça velhas bolachas que rodam a 78 RPM e desenterra pérolas para serem regravadas por novos nomes da música nacional.

A pesquisa é feita principalmente na discoteca Oneyda Alvarenga, do próprio CCSP, que conta com um acervo de mais de 44 mil discos brasileiros e uma das maiores coleções de discos em 78 rotações do Brasil. “Chamamos a discoteca de ‘Casa do Goma-Laca’, não só pelo acervo mais por seu conceito”, explica Biancamaria. “Ela foi criada em 1935 pelo Mário de Andrade, quando ele era diretor do departamento de cultura de São Paulo e a ideia dele era criar um espaço para músicos, que permitisse acesso à música ‘estranha aos ouvidos’. Ele queria promover o acesso à música regional do Brasil e à musica de concerto contemporanea, ir muito além do que tocava no rádio, o que de certa forma é o que fazemos com o Goma Laca. Como dizia o próprio Mário: ‘buscar fazer coisa nova, desencavando passados’”.

A edição de 2014 além da gravação e único show também se materializou em disco (as outras edições só foram disponibilizadas em MP3) e focou especificamente no que eles rotulam de “afrobrasilidades”. O disco reuniu Karina Buhr, Lucas Santtana, Russo Passapusso (que não pode comparecer ao show e foi substituído pelo carismático Duani) e Juçara Marçal para que eles pudessem reviver músicas com títulos como “Minervina”, “Babaô Miloquê”, “Guriatã” e “Passarinho Bateu Aza” (com ‘z’ mesmo), tudo sob a batuta – a flauta, no caso – suingada do maestro compenetrado e possuído que é Letieres Leite, que releu as velhas e ingênuas canções com um groove denso e ancestral, mas sem perder o vínculo com a tradição.

O disco pode ser comprado pelo site www.goma-laca.com, que ainda conta com as faixas das edições anteriores em MP3 para quem quiser apenas ouvi-las – além das versões originais imortalizadas em discos prensados numa mistura de cera de carnaúba com pó de goma laca. O núcleo de pesquisas segue à toda: “A ideia é continuar fazendo shows, rodas de escuta, programas de rádio, discos e o que pintar relacionado a esse universo setenteônico”, conclui Biancamaria.

O Ecossistema da Música em 2014

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O primeiro curso Trabalho Sujo no Espaço Cult, na Vila Madalena, começa na próxima segunda e as inscrições podem ser feitas até o domingo. No curso, reuni velhos conhecidos e nomes de peso do cenário cultural brasileiro para conversar sobre as mudanças que estão acontecendo no mercado musical nos últimos anos. Em todas as aulas, mediarei um papo sobre diferentes facetas deste cenário, dissecando ao lado de nomes que lidam diretamente com áreas codependentes como as transformações da era digital estão mudando nossa relação com a música. Mais detalhes no site do Espaço Cult, que mudou de endereço e agora fica na Rua Aspicuelta, número 99. O time reunido é de primeira: João Marcello Bôscoli, Pablo Miyazawa, Evandro Fióti, Roberta Martinelli, Airton Valadão Jr., Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Maurício Tagliari, Carlos Eduardo Miranda, Ronaldo Evangelista, Fabiana Batistela, Marcos Boffa, Patrícia Palumbo, Lucio Ribeiro, Ricardo Alexandre e André Forastieri.

O Ecossistema da Música em 2014

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Estão abertas as inscrições para o curso O Ecossistema da Música em 2014, que coordeno no final de agosto lá no Espaço Cult na Vila Madalena. Reuni uma turma boa pra participar de dez encontros em que discutirei como a música vem se transformando como negócio nos últimos anos e em que pé estamos no ano em que estamos. Abaixo segue a descrição do curso e quem quiser se inscrever pode acessar este link e seguir as coordenadas.

 

Quem é João Donato

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Não é uma pergunta. Um dos nomes mais importantes da música brasileira se explica ao teclado, conversando fiado, esquecendo-se dos anos e lugares pois sua entrega é total à música. No último dia do mês passado, celebrando o aniversário do clássico disco Quem é Quem, de 1973, João Donato revisitou seus próprios standards em excelente companhia. Num show bolado pelo compadre Ronaldo e apresentado no teatro do Sesc Pinheiros, João recebeu novos e velhos amigos – as cantoras Mariana Aydar e Tulipa Ruiz (que arrepiou os pelos da nuca do público numa “Até Quem Sabe?” deslumbrante), o mestre Marcos Valle e uma versão amaciada do Bixiga 70 – e fez um show sublime, uma ode à sua própria musicalidade preguiçosa e audaz. Fiz uns vídeos e postei aí embaixo, quem quiser conferir se estou exagerando é só apertar o play – e boa viagem (e quem quiser saber mais sobre o Quem é Quem, o Ronaldo criou uma tag em seu blog só pra falar do disco)

 

Garimpando vinil

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Eugênio e Ronaldo estão fazendo uma série de vídeos sobre garimpar discos de vinil em sebos e já entrevistaram o Peba, o Maurício, o Gorky, o Bruno e o Yoka, além de mim, no vídeo abaixo.

 

ANALÓGICODIGITAL DOIS MIL E CREIZE

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Ah, a festa do sábado passado… Só quem foi sabe. As fotos do Dan, abaixo, só dão uma idéia…

 

ANALÓGICODIGITAL VERÃO 2013

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Chegou aquela hora. Aquele momento em que todas as forças se juntam para celebrar uma nova fase, uma nova etapa, um novo começo. 2013 já tem seus quase vinte dias de existência, mas a chuva e o frio em São Paulo não deixaram o ano e o verão começar plenamente – e isso é um trabalho para ANALÓGICODIGITAL. Aquele momento em que corações e mentes se unem num espaço mágico no centro da metrópole para transformar uma madrugada de sábado para domingo numa experiência psicodélica sonora que só quem já passou por lá tem idéia do que esperar.

Depois de subir a escada espiral atrás da discreta portinha em um prédio quase em uma das esquinas do Largo do Paissandu, você tem duas opções – seguindo o corredor por um dos lados, você passa pelo bar e por uma área de convivência até cair na pista Analógica, capitaneada pelo Veneno Soundystem. E o trio Peba Tropikal, Maurício Fleury e Ronaldo Evangelista recebem o argentino El Hermano del Espacio e o mestre MZK – todos armados com seus bolachões pretos cheios de grooves de diferentes épocas, países e gêneros musicias, sempre prontos para derreter as mais rígidas convicções pelo movimento dos quadris. Seguindo no outro rumo, os corredores lhes levam para o inferninho da pista digital do Trabalho Sujo de Alexandre Matias, que recebe Danilo Cabral, Luiz Pattoli e Babee Leal para mais uma celebração da história da música pop em ordem cronológica. Será que é a última vez que esse set acontece? Se eu fosse você, na dúvida, não perderia por nada.

Juntos, Veneno e Trabalho Sujo causam a ANALÓGICODIGITAL, uma grande celebração de todas as camadas do prazer a partir da boa música e do encontro com pessoas incríveis. Uma festa que já entrou na história e nos corações de seus frequentadores, sempre de surpresa, sempre alto astral, sempre sempre.

E não custa lembrar que só entra com nome na lista!

ANALÓGICODIGITAL VERÃO 2013
SÁBADO 19 DE JANEIRO DE 2013
VENENO + TRABALHO SUJO
No som os DJs: Maurício Fleury, Ronaldo Evangelista, Peba Tropikal, MZK, Hermano Del Espacio, Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Danilo Cabral e Babee Leal.

Trackertower
Rua Dom José de Barros 337, esquina com av. São João
$25 (lista: baile@venenosoundsystem.com – só entra com nome na lista!)

Como foi a ANALÓGICODIGITAL dos 17 anos do Trabalho Sujo

Quem foi, sabe como foi foda. Eu, Babee, Pattoli e Danilo usamos os 17 anos do Trabalho Sujo como desculpa para executar um velho plano – tocar toda a história da música pop em ordem cronológica desde o aparecimento do rock’n’roll, em 1955. Não precisou nem entrar nos anos 60 para engatarmos uma noite incrível, superlotando a pistinha digital da Trackers numa madrugada antológica, que com certeza terá repeteco. Terminamos às sete da matina, com a Malg registrando o registro de um #CliMatias – as minhas fotos de previsão do tempo no Instagram.

O Dan tirou umas fotos que mostram como foi o sábado passado, sente só aí embaixo:

 

ANALÓGICODIGITAL: 17 ANOS DE TRABALHO SUJO

E quando você menos espera, do nada, pinta aquela festa clássica na Trackers em que o Trabalho Sujo e o Veneno Soundsystem juntam forças para criar uma dimensão paralela de delírio sensual arco-íris de prazer e muita acabação feliz.

Desta vez o motivo da festa são os dezessete anos do meio de comunicação de ALEXANDRE MATIAS, que segura a pista digital com uma proposta épica: contar a história da música pop desde a metade do século passado até novembro de 2012 em ordem cronológica. Para isso, ele convocou os novos residentes das Noites Trabalho Sujo BABEE LEAL, LUIZ PATTOLI e DANILO CABRAL para essa maratona histórica. Quem viver, verá!

Do lado analógico, o trio MAURÍCIO FLEURY, RONALDO EVANGELISTA e PEBA TROPIKAL – bastiões dos grooves em vinil desde antes da volta do vinil virar moda – tem dupla participação especial. Pra começar, paulistano radicado em Belim GARRINCHA, especializado no suíngue tropical, traz suas bolachas pra mostrar pra gente como é que ele defende a bossa brasileira na Europa. E o crooner BRUNO MORAIS mostra sua coleção de discos num set cheio de manha.

Um sábado com tudo para ser ÉPICO!

ANALÓGICODIGITAL
SÁBADO 10 DE NOVEMBRO DE 2012
VENENO + TRABALHO SUJO (17 anos)
No som os DJs: Maurício Fleury, Ronaldo Evangelista, Peba Tropikal, Bruno Morais, Garrincha, Alexandre Matias, Luiz Pattoli, Danilo Cabral e Babee Leal.
Trackertower – Rua Dom José de Barros 337, esquina com av. São João
$25 (lista: baile@venenosoundsystem.com – só entra com nome na lista!)

Trabalho Sujo, 17 anos

O aniversário é no fim do mês, mas a comemoração vai ser nesse sábado. Preparem-se.