Falando sobre Crumb

Esqueci de linkar aqui no Trabalho Sujo um papo que tive com o pessoal do Lasercast sobre o senhor Robert Crumb, ainda no ano passado. Os compadres do podcast do site Raio Laser, ótima iniciativa brasiliense de acompanhar as transformações do quadrinho mundial, Ciro Marcondes, Marcio Jr. e Lima Neto me chamaram para falar sobre um dos principais nomes da história do quadrinho mundial dentro da seção Quadrinistas Além pois traduzi alguns livros deste mestre no início do século. Um papo excelente que inevitavelmente falou sobre a influência do sujeito inclusive no quadrinho nacional.

Ouça aqui.  

Facebook, por R. Crumb, há 40 anos

Via Dangerous Minds.

R. Crumb e OccupyWallStreet

Em entrevista ao Mother Jones:

MJ: I read on your website that one reason for going to France was that you had become disgusted with America. What do you mean by that?
RC: Well, the corporatization of culture. We lived in inland California, the Central Valley, and we witnessed over a period of 20 years of this invasion of shopping malls and corporate businesses and everything, and it lost all of its old character. Any kind of authentic character that it had was rapidly getting lost. The expanding urban development was just horrible to behold.

MJ: Have you been following Occupy Wall Street at all?
RC: Oh yeah, it’s great stuff. I think they should stay there, and persist and persist until they have some effect. I don’t know what effect they can have. I was thinking about it last night, I was laying in bed, thinking, “Can this thing have any effect on the wealthy establishment?” They’re so entrenched, they’re so powerful. I don’t know if they even care that people go there and demonstrate. What will it take, an armed revolution? That’s violent, and I’m kind of against violence. Violence begets violence, and then you get leaders who are violent men. And you don’t want that. You don’t want some Stalin in there as your left-wing leader. But it’s a great thing to see. I kinda thought that the American youth were very complacent and indifferent about all that, or just didn’t know what to do. But somebody got this thing going.

Mais uma dica do Ramon.

Ainda Crumb


Foto: Tasso Marcelo, via Jotabê

Todo mundo já sabe que a mesa de Crumb e Shelton na Flip foi uma piada sem graça com momentos de vergonha alheia. Assisti a menos que dois minutos da transmissão online – que eu nem sabia que ia rolar – e desliguei quando o assunto descambou pra história da vida sexual do casal Crumb. TMI, nobody deserves.

Mas a vinda do pai do quadrinho underground americano ao Brasil ao menos proporcionou bons momentos, como esse encontro de Crumb com Rafael Coutinho, mediado pela Mona Dorf:

E a própria mesa realizada em São Paulo, longe da redoma de literatura-cosplay que é a Flip, foi bem melhor do que a participação oficial, pelo que consta:

Sua visita ainda valeu uma ida de Crumb à loja de discos, devidamente stalkeada pelo Mac, e um ótimo papo de comadre da Raq com as esposas dos dois visitantes, Aline e Lora. E a própria Raq ajuda a tirar a aura de grosso e inconveniente que parece ter grudado à personalidade do sujeito :

Ontem joguei aqui algumas frases ditas por Crumb durante a entrevista, e o post foi linkado num blog que chamava para o que seria um ”show de grosserias e mau humor” do cartunista. Daí reli e pensei que talvez, fora de contexto, pudesse sim ter essa leitura. Mas não é assim. Crumb é muito menos ranzinza do que parece. Ou melhor, ele reclama mesmo de tudo, mas está longe de ser grosseiro. Ele se sente sufocado com o assédio, é fato, detesta ser fotografado como se fosse galã e reage quase como criança. Ele é, como definiu Aline, “um cara doce”. O que não significa que não seja também um bocado debochado.

Se alguém tiver mais dúvida, dá uma sacada no documentário que leva seu sobrenome, que está sendo relançado agorinha mesmo, em reedição da Criterion, com os seguintes extras:

• New, restored high-definition digital transfer
• 2010 audio commentary with Zwigoff
• 2006 with Zwigoff and critic Roger Ebert
• Outtakes and deleted scenes
• Stills gallery
• A booklet featuring an essay by critic Jonathan Rosenbaum

Aliás, se você não sabe nada sobre Crumb e não entende porque esse velho magrelo é tratado – com razão – como um deus, o documentário do Zwigoff é a melhor introdução ao tema.

Crumb na cachaça

Enquanto isso, na Flip, o Crumb e Shelton conhecem a marvada brasileira. Vi aqui. A Liv corrige: era só Coca-Cola…

Crumb, Shelton e eu

A vinda de Robert Crumb e Gilbert Shelton à Flip deste ano foi recebida com entusiasmo por muitos e por desdém por alguns, que reclamam da ausência de literatura da festa em Parati. Como não me animo a ir em eventos de escritores e sou avesso a botecos (já me basta ficar sentado na hora de trabalhar), comemorei mais a vinda dos dois como mais uma vitória da combalidade contracultura, que restou ser paga para posar de outsider nesses tempos neocon (eles já estão passando, perceba). Mas ao mesmo tempo a conjunção de dois patronos do quadrinho underground acendeu uma lâmpada num quarto emocional do meu cérebro. Foi com Crumb e Shelton que eu comecei a traduzir livros.

Eu havia acabado de ser demitido da Conrad e fazia os cálculos para ver se a vida de frila pagaria minhas contas. E entre os frilas que pintaram um dos primeiros foi o convite do Rogério para uma tradução. Rogério no caso é o de Campos, que até hoje está na Conrad, que fundou com o Forastieri ainda com nome de Acme. Os dois já não andavam bem entre si – o que culminaria, mais tarde, com a saída do André da Conrad – e quando o Rogério soube que o André havia me dado o cartão vermelho, me chamou para frilar. Não gostei muito de ver que entraria no meio da rusga dos sócios por causa de um frila, mas quando o Rogério me disse que era para traduzir o primeiro lançamento do Crumb pela Conrad, o álbum Zap Comix, não esquentei com a briga do casal e além da proverbial colher estava disposto a gastar todo um faqueiro para entrar nessa parada. E com o aval do Rogério (“Roxéééério”) traduzi não só o Zap como dois volumes do gato Fritz, outros dois do Mr. Natural, além de ter ajudado na preparação de texto do Minha Vida, traduzido pelo Galera. Além dos Crumb, ainda fui tradutor, sozinho, dos dois volumes dos Freak Brothers, do Shelton, lançados pela editora.

Ao saber do anúncio da vinda dos dois, lembrei-me de quando ainda morava numa casa de vila na Vila Mariana e passava madrugadas de dias da semana entre originais em inglês dos quadrinhos, cópias xerocadas dos mesmos com anotações e algumas edições nacionais anteriores – com suas traduções coxais (quase chorei de raiva ao ler, mais de uma vez, “smack” sendo traduzido por “beijinho”). Lembrei de quando fazia o Mateus, a Pri ou o Arthur reler pela quinta vez o mesmo trecho específico, para termos certeza de que a tradução estava correta, ou de fazê-los esperar por duas ou três páginas que deviam ser entregues no dia anterior. Eles sabiam que era esmero – e me orgulho hoje de ter traduzido cada “man…” em final de frase por “bicho…”, de ter abrasileirado bem todas as gírias e de ter incluído um ou outro “altos massa” no meio dos balões.

Depois deles, me aventurei por outras traduças da editora – e além de quadrinhos também me percorri dois livros densos e deliciosos: a coletânea de contos Futuro Proibido (que deveria ter um volume 2, também traduzido, mas que nunca saiu) e o livro Chuva de Estrelas. O primeiro era uma antologia de ficção científica, que me deu o prazer de traduzir Burroughs, Ballard, Gibson, Rucker, Sterling, entre outros, e o segundo foi escrito pelo mesmo Peter Lamborn Wilson que também assinava livros como o libertário radical Hakim Bey e linka diferentes tradições religiosas ou filosóficas (xamanismo, taoísmo, sufismo) pelo mundo cuja iniciação se dá sem mestre e através dos sonhos.

Entrevistaria Crumb e Shelton com prazer, mas só sairia de casa para vê-los se soubesse que não ia pegar fila e que teria lugar marcado. Descer pra Parati para assisti-los então, só com muitas doses de boa vontade. Mas só de saber da vinda simultânea de ambos para o Brasil já foi bom o suficiente por abrir essa janela na memória. Bom saber.

S. Crumb

Falando no Crumb, a Kátia linkou o blog da filha do sujeito, Sophie. Não dá pra fugir: tá no DNA.

That’s life

Mais um Crumb com meu nome na ficha técnica, mas dessa vez a tradução foi do Galera. Eu só revisei a tradução dele, ou seja, tive pouco trabalho. Minha Vida é um álbum inédito no mundo e reúne as egotrips do mister Robert. Coisa fina, como tem sido em geral a edição da Conrad pra quadrinho adulto.

Às completistas de plantão

Quem me conhece que me compre: a capa da revista da MTV deste mês e parte da tradução do recém-lançado Zap Comix levam a mesma assinatura deste sítio. Satisfação garantida ou satisfação garantida.