O quarto filme da série Antes, com Ethan Hawke e Julie Delpy

A cada quase dez anos, o diretor Richard Linklater se juntava aos atores Ethan Hawke e Julie Delpy para contar a história de uma paixão que atravessou décadas entre o norte-americano Jesse e a francesa Céline. A série de filmes Antes – composta pelos títulos Antes do Amanhecer, de 1995; Antes do Por do Sol, de 2004; e Antes da Meia-Noite, de 2013 – foi interrompida pela pandemia, mas não por seus protagonistas. Há quatro anos, Rob Stone, professor de estudos cinematográficos da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, resolveu fazer um estudo com o efeito Kuleshov, que, ao justapor imagens alternadas à de um rosto imóvel, faz com que o público perceba emoções diferentes a partir do contraponto entre o rosto e a imagem mostrada. Ele misturou cenas de duas entrevistas online feitas pelos dois protagonistas dos três filmes feitas separadamente, as emparelhou com a música “Come Here”, de Kath Bloom (trilha de uma das melhores cenas do primeiro filme) e as transformou em uma vídeo-chamada característica do período pandêmico que atravessamos no trágico 2020, criando um quarto filme chamado Antes do Fim, que dá pra ser visto abaixo. Também traduzi e publiquei logo em seguida a descrição que o professor faz do vídeo:  

Pra conseguir um papel em Dazed & Confused, do Richard Linklater

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Um dos primeiros filmes a cantar o revival dos anos 70 ainda no século passado, o excelente Dazed & Confused (abrasileirado como Jovens Loucos & Rebeldes) também foi o primeiro filme de Richard Linklater a ganhar projeção. Muito disso por conta do elenco que ele escolheu para viver a época de sua adolescência, que foi escolhido em testes que agora chegam à reedição caprichada da Criterion. Entre os testes é impossível não destacar o do jovem Matthew McConaughey, que tinha 24 anos em 1993, impagável:

Os outros já rodavam a internet faz tempo, como o de Rory Cochrane…

…o de Wiley Wiggins…

…o de Deena Martin…

…o de Adam Goldberg…

…o de Marissa Ribisi…

…o de Michelle Burke…

…o de Jason London…

…o de Nicky Katt…

…além de dar motivo para dois grandes autores sobre a cultura pop norte-americana escreverem sobre o filme: Chuck Klosterman escreveu sobre sua relação pessoal com o filme e nostalgia em geral enquanto Jim DeRogatis escreve sobre a trilha sonora do filme e a relação daquela história com o rock dos anos 70. Os dois textos estão em inglês.

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Sobre a importância de Richard Linklater

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Um dos diretores mais importantes de sua geração, o norte-americano Richard Linklater talvez não tenha sido reconhecido como tal devido à vastidão de sua obra. São 18 filmes entre o marco Slacker, de 1991, e o ousado Boyhood, deste ano, que incluem uma trilogia existencial (o trio Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite), vários filmes sobre adolescência (Jovens, Loucos e Rebeldes, Suburbia. Escola do Rock e Tape, além de Slacker e Boyhood), dois delírios filmados em animação (sendo um deles, O Homem Duplo, uma ficção científica inspirada em Philip K. Dick), dois sobre beisebol (um deles um documentário), dois filmes de época (Newton Boys e Eu e Orson Welles), um filme contra a fast food, um seriado e um filme para a TV e uma comédia de humor negro que ninguém viu (Quase um Anjo, talvez a melhor atuação de Jack Black).

A amplitude de temas parece dispersar, mas Linklater fala sobre o fim do século norte-americano à luz de sua desiludida geração – sem que soe pessimista ou frustrado, como seus pares. O documentário 21 Years: Richard Linklater dirigido por Michael Dunaway e Tara Wood tenta encontrar sentido por trás da obra do autor em entrevistas com seus principais colaboradores, principalmente os atores Ethan Hawke, Jack Black, Keanu Reeves, Billy Bob Thornton, Matthew McConaughey, Jason Reitman e Julie Delpy e deve ser posto à venda digitalmente ao mesmo tempo em que chega aos festivais de cinema, no próximo mês de novembro.

A dor de ser um beatle

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Ramon linka uma história relacionada ao filme Boyhood (aquele em que o Richard Linklater acompanhou os mesmos atores por 12 anos, para registrar o crescimento dos personagens sem maquiagem nem efeitos especiais) que tem um microspoiler do filme, mas nada que, acredito, atrapalhe a história do filme. Se não quiser saber, não leia mais a partir de agora.

Ele conta que em dado momento da história, o personagem do pai dá ao personagem do filho uma coletânea com músicas da carreira solo dos Beatles. A coletânea de fato existiu, quando o intérprete do pai, o ator Ethan Hawke (eterno alter ego do próprio Linklater) reuniu faixas dos Beatles depois de 1970 e entregou para a filha junto com uma longa carta que o Ramon traduziu lá no Vitralizado. Separei um trecho, mas vale ler a íntegra:

“Li uma história sobre a morte da mãe do John:

Ele era um adolescente revoltado – com um canivete no bolso, cigarro nos lábios e sexo na cabeça. No funeral da mãe desequilibrada e recém-falecida (que ele havia acabado de ficar mais próximo), ele – bêbado e puto – socou um membro da banda e deu o fora. Alguns anos mais novo, o Paul – um moleque que ainda não ligava muito pra garotas, ainda UNCOOL e presente na banda graças às suas habilidades com a guitarra apesar de ser meio infantil – correu atrás do John na rua dizendo: “John, por quê você está sendo tão babaca?”.

O John respondeu, “Minha mãe acabou de morrer, porra!”

E o Paul disse, “Você nunca perguntou sobre a minha mãe.”

“O que tem ela?”

“Ela também está morta.”

Eles se abraçaram no meio da rua. Aparentemente o John disse, “Podemos por favor começar uma porra de banda de rock’n’roll?”.

Essa história respondeu a dúvida presente no meu cérebro ao longo de todo minha vida como ouvinte de música: Se os Beatles estiveram juntos ao longo de apenas 10 anos e os membros da banda eram tão novos ao longo desse período, como eles conseguiram escrever “Help!”, “The Fool on the Hill”, “Eleanor Rigby”, “Yesterday” e “A Day in the Life?” Eles eram apenas caras de 25 anos cercados por garotas em frente aos seus hotéis e com direito ao tanto de champagne que um moleque consegue beber. Como eles conseguiram desenvolver suas mentes para feitos artísticos tão grandiosos?

Eles conseguiram pois estavam sofrendo. Eles sabiam que o amor não dura pra sempre. Eles descobriram isso ainda muito novos.”

Abaixo, a coletânea feita por Hawke que o Ramon reuniu em três playlists do YouTube. E repito: vale ler o post original.

Paul McCartney & Wings, “Band on the Run”
George Harrison, “My Sweet Lord”
John Lennon feat. The Flux Fiddlers & the Plastic Ono Band, “Jealous Guy”
Ringo Starr, “Photograph”
John Lennon, “How?”
Paul McCartney, “Every Night”
George Harrison, “Blow Away”
Paul McCartney, “Maybe I’m Amazed”
John Lennon, “Woman”
Paul McCartney & Wings, “Jet”
John Lennon, “Stand by Me”
Ringo Starr, “No No Song”
Paul McCartney, “Junk”
John Lennon, “Love”
Paul McCartney & Linda McCartney, “The Back Seat of My Car”
John Lennon, “Watching the Wheels”
John Lennon, “Mind Games”
Paul McCartney & Wings, “Bluebird”
John Lennon, “Beautiful Boy (Darling Boy)”
George Harrison, “What Is Life”

John Lennon, “God”
Wings, “Listen to What the Man Said”
John Lennon, “Crippled Inside”
Ringo Starr, “You’re Sixteen You’re Beautiful (And You’re Mine)”
Paul McCartney & Wings, “Let Me Roll It”
John Lennon & The Plastic Ono Band, “Power to the People”
Paul McCartney, “Another Day”
George Harrison, “If Not For You (2001 Digital Remaster)”
John Lennon, “(Just Like) Starting Over”
Wings, “Let ‘Em In”
John Lennon, “Mother”
Paul McCartney & Wings, “Helen Wheels”
John Lennon, “I Found Out”
Paul McCartney & Linda McCartney, “Uncle Albert / Admiral Halsey”
John Lennon, Yoko Ono & The Plastic Ono Band, “Instant Karma! (We All Shine On)”
George Harrison, “Not Guilty (2004 Digital Remaster)”
Paul McCartney & Linda McCartney, “Heart of the Country”
John Lennon, “Oh Yoko!”
Wings, “Mull of Kintyre”
Ringo Starr, “It Don’t Come Easy”

John Lennon, “Grow Old With Me”
Wings, “Silly Love Songs”
The Beatles, “Real Love”
Paul McCartney & Wings, “My Love”
John Lennon, “Oh My Love”
George Harrison, “Give Me Love (Give Me Peace on Earth)”
Paul McCartney, “Pipes of Peace”
John Lennon, “Imagine”
Paul McCartney, “Here Today”
George Harrison, “All Things Must Pass”
Paul McCartney, “And I Love Her (Live on MTV Unplugged)”

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Antes de Antes da Meia-Noite: Celine morre

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Calma que não é spoiler! Não é que a Celine, interpretada por Julie Delpy, que morre no novo filme de Richard Linklater, Antes da Meia-Noite, e sim Amy Lehrhaupt, inspiração do próprio Linklater para a personagem de sua série de filmes. Ao conhece-la em 1989, o diretor passou uma noite caminhando pela Filadélfia e a experiência o fez criar a história inicial do filme. A história é ainda mais triste porque o diretor só ficou sabendo da morte de Amy há pouco tempo – e soube que ela foi vítima de um acidente de motocicleta que aconteceu antes mesmo do primeiro filme ser lançado, disse ao site Moviefone.

Ethan Hawke e Julie Delpy em Antes da Meia-Noite

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Jesse e Celine se conheceram num trem no leste europeu (em Antes do Amanhecer, de 1995), se reencontraram dez anos depois em Paris (em Antes do Pôr-do-Sol, de 2004) e agora passam uma temporada na Grécia com os filhos. Fruto da imaginação do grande Richard Linklater e das atuações de Ethan Hawke e Julie Delpy, o casal euro-americano volta a aparecer no cinema para mais uma longa DR em forma de filme. Antes da Meia-Noite estréia no mês que vem nos EUA e em junho no Brasil. O trailer segue abaixo:

 

Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol… Antes da Meia-Noite

Richard Linklater, Ethan Hawke e Julie Delpy já teriam gravado o terceiro filme sobre o furtivo e bissexto caso entre o escritor norte-americano Jesse e a ativista francesa Celine, contados em Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Por do Sol (2004). O filme foi rodado na Grécia e já está em fase de pós-produção, segundo o site Collider.

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