Retrospectiva OEsquema 2012: Noites Trabalho Sujo
Por muito tempo eu gostei de música a sério – de discorrer sobre discos, dar a maior importância do mundo para listas e critérios de avaliação musicais, a busca do equilíbrio entre o jornalismo e a crítica, do peso de uma resenha -, mas desde que comecei a discotecar de verdade, com o surgimento da Gente Bonita, em 2006, que deixei essa preocupação em segundo plano e passei a me dedicar aos ímpetos mais primitivos da canção, ao aspecto mais passional e primevo da música – a celebração, o êxtase, a dança, a transcendência coletiva. E sempre agradeço por isso – a copiosa tarefa de enumerar argumentos para justificar a ênfase em artista tal ou no disco xis é quase mesquinha, se comparada ao transe grupal atingido durante uma sexta-feira à noite. E se 2011 já tinha se destacado com o surgimento das nababescas ANALÓGICODIGITAL (em que, ao lado do Veneno Soundsystem, promovemos nosso primeiro baile de carnaval e uma festa com a presença do ícone Don Letts nas picapes), este ano foi a vez das Noites Trabalho Sujo me ajudar a enfiar o pé na jaca da história da noite paulistana com uma sexta-feira inacreditável, que pintou de um convite descompromissado do grande Ivan Finotti para se tornar uma festa célebre pela vibe de acabação feliz. O formato de long set ao lado de um amigo convidado surgiu quase sem querer e ajudou a dar o tom dessas noites incríveis – afinal, quem discoteca vai entrando em alfa junto com o público. E ao lado de amigos e comadres consegui expandir a noite de São Paulo para além do espaço-tempo, misturando hits de todas as épocas, de todos os países e de todos os gêneros em momentos de puro delírio na pistinha do Alberta 3. Até os limites da tolerância do próprio Ivan eram testados, quando ele via a pista de sua casa noturna – batizada como uma música do Dylan, com fotos do Mick Jagger e os Ramones espalhados pela casa – se acabando ao som de alguma axé music tocada pelas Awe Mariah, ou quando a Carol Morena tocou A Cor do Som, ou quando Pattoli ou Danilo tocavam “Gangnam Style” ou quando eu desenterrava “I Saw You Saying” dos Raimundos. Mas a infâmia é apenas um dos ingredientes destas noitadas, que ainda contaram com altas doses de 2012 (“Flutes” do Hot Chip tocou desde que apareceu online, além de novas da Cat Power, Nicki Minaj, Frank Ocean, Poolside, remixes da Lana Del Rey, Grimes e Chromatics) e outras tantas da história do rock (quando Rage Against the Machine, Strokes, Cure, Led Zeppelin ou Queen tomavam o controle), equilibrando hits de todas as épocas com clássicos da música brasileira (ah, “Sereia” do Lulu Santos…) – e sempre com o dedo no volume pronto pra abaixa-lo e deixar a galera cantar tudo sozinha. Tudo em prol de uma noite em que a dança, os sorrisos, o xaveco e a catarse tornam-se uma coisa só (basta ver as fotos). Quem conhece, sabe – e pode ir esperando que 2013 promete!
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