A fatia mais doce de seu zappeano Mature Themes, “Only in My Dreams” assiste ao passeio de Ariel Pink pela califórnia ensolarada dos Beach Boys, ao som da rádio AM da época, ecoando surf music, um certo sotaque country e o bucolismo do doo-wop mais branco possível. Tão delicada que nem parece hipster…
Jóia mais brilhante de um disco um tanto opaco – em comparação com os mais recentes, “Lonesome” mostra que o Dr. Dog serve firme como um dos principais bastiões da música tradicional americana, velho cânone que foi adotado pelas bandas de indie rock americano que não entraram na onda de pista de dança puxada pela Nova York dos Strokes e do LCD Soundsystem no início do século. Será que alguém os traz pro Brasil no ano que vem?
A versão pós-rock instrumental que o grupo curitibano submete a triste constatação de Renato Russo ao final do segundo disco do Legião Urbana dá outra leitura ao clássico dos anos 80, que atinge níveis de grandeza, melancolia e desespero apenas cogitados em teoria nas letras do grupo de Brasília, mas nunca sonicamente falando. Até 2012.
Quem achava que o Bonde do Rolê nem chegaria ao segundo disco (como eu), deve ter se espantado (como me espantei) quando ouviu a versão anglófona do trio curitibano para “Baby Doll de Nylon”, do Robertinho do Recife. Contando com o auxílio luxuoso dos Poolside (grande nome deste ano) e de Caetano Veloso, verteram o xaveco pernambucano em um carimbó indie praiano, “Baby Don’t Deny It” faz muito sentido em um planeta que fica mais quente a cada segundo e dentro do bem sucedido TropicalBacanal, um disco que dá uma sobrevida improvável à existência do Bonde.
Céu saiu do fumacê de seu segundo disco rumo a uma trip no deserto acompanhada de uma trupe de ases instrumentais, mas “Falta de Ar” talvez seja o momento mais jamaicano desse road album chamado Caravana Sereia Bloom.
Um feeling africano de verdade, não apenas superficial como o de muitos hipsters que seguem a trilha turista dos Paralamas do Sucesso em “Alagados”, Sinkane encorpa o freak folk com o mesmo groove que o Toro y Moi descobriu no EP Freaking Out. “Lovesick” chacoalha escorregadia e ensolarada, mesmo que tímida e preguiçosa – afinal, hispters são indies, em sua essência – e nem é o grande momento de sua estréia, Mars.
2012 foi um ano de entressafra para os Arctic Monkeys, que, mesmo sem disco novo, lançou dois singles bem sucedidos (a ponteaguda “R U Mine?” e o cover que fizeram para “Come Together”, do Beatles, por ocasião dos Jogos Olímpicos em Londres). Mas ao regravar “Katy on a Mission“, o single que colocou a irrelevante Katy B no mapa pop britânico, num especial para a BBC que o grupo de Alex Turner reforçou seu papel de principal banda de rock da Inglaterra no século 21, trazendo o hit insosso da pista de dança rumo ao palco de pub tão afeito ao grupo. Eles ainda vão longe…
A voz que encantou o mundo com “American Boy” começou 2012 trazendo a clássica Motown para o século 21, numa parceria com a hipster p-funk Janelle Monae em que é impossível ficar parado. Fora que “you don’t know where I am going, and so you think I am lost”, senhor verso, poderia ser subtítulo para o ano inteiro.
Thiago Pethit aos poucos vai se acertando como novo talento da cena paulistana e seu segundo disco, Estrela Decadente, cumpre a promessa que estava incutida em Berlim Texas, seu primeiro disco. Mas se o álbum explora uma temática de palco – entre os bastidores do teatro (olha a Cida Moreira ali) e a ribalta do cabaré (vide o clipe de “Pas de Deux”, que nos apresentou ao disco), é na cândida parceria bilíngüe com Mallu Magalhães que abre uma possibilidade de crescer ainda mais, ao aproximar os restos da MPB à timidez do pop indie.
Apesar do foco de 2012 ter ficado nas travessuras com seu Major Lazer (que além de emplacar uma das músicas do ano, ainda teve tempo de levar Snoop Dogg à Jamaica), Diplo não deixou o pop mais tradicional de lado e, ao lado de um desconhecido de sobrenome famoso (não são parentes), cometeu essa pequena pérola perfeita para tardes ensolaradas e manhãs na praia. Ele pode até ser picareta, mas quando acerta, acerta em cheio.