As 75 melhores músicas de 2012: 41) Jessie Ware – “Wildest Moment”

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A Sade do século 21 faria uma parceria com SBTRKT? Pouco provável, mas foi o que aconteceu com Jessie Ware – que em seu grande single do ano deixa a música eletrônica em segundo plano para narrar uma triste balada sobre brigas e desencontros.

As 75 melhores músicas de 2012: 42) Mahmundi – “Calor do Amor”

O “Calor do Amor” foi a segunda música lançada pela carioca ainda no início de 2012 e acertava ainda mais em cheio no cruzamento dos anos 80 com timbres eletrônicos – passeando por uma Ipanema frequentada pela Marina (antes de ser Marina Lima e perder a voz), Rita Lee pré-Rock in Rio e Júlio Barroso, numa noite quente de verão.

As 75 melhores músicas de 2012: 50) Blur – “Under the Westway”

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A outra música que o Blur lançou em 2012 (além de “The Puritan“) alia duas qualidades da banda a uma de seu líder, Damon Albarn. Ela entra no rol de baladas sobre o cotidiano, lentas incursões introspectivas criadas ao piano que talvez sejam melhores que os hits instantâneos que a própria banda nos faz puxar pela memória, além do papel de cronista londrino, que descreve ruas, bairros, estradas, pessoas naquela obrigação de registrar uma história que não aparece nas manchetes de jornais – justamente por ser mais comezinha e fútil, corriqueira e mundana. Amarrando duas tradições do Blur à própria plural carreira solo, Damon Albarn prefere deixar sua primeira banda como principal veículo de comunicação com seu público, no mesmo ano em que lançou uma ópera sobre um conselheiro real do século 17 e um disco com o Flea e o Tony Allen (o trio que compôs minha música favorita de 2011). Não por acaso o Blur – que está longe do fim – foi uma das principais atrações durante os jogos olímpicos deste ano, realizados em Londres. E “Under the Westway” ainda tem a aceitação da maturidade, a consciência do reduto que é o saudosismo, uma melancolia inglesa rara (principalmente em tempos em que o pop da ilha é composto por dubstep, rockinhos de pista e bandas velhas voltando a todo minuto) que só encontra eco em extremos, como o do Xx ou o do Radiohead. Aqui, o sentimento é trivial como uma música que toca no rádio – algo que também é cada vez mais raro, ainda mais vindo de uma banda de rock.

As 75 melhores músicas de 2012: 49) Tame Impala – “Elephant”

A forma como o segundo disco do Tame Impala foi lançado no segundo semestre de 2012 vai de encontro a todo papo em relação à forma como as pessoas consomem música na era digital – há muita gente disposta a ouvir um álbum inteiro sim, mas ele tem que ser justificado ao menos em termos de qualidade. E o contagotas em câmera lenta que, em três semanas, viu a aparição de “Apocalypse Dreams” seguida desta pesada “Elephant“, o nome do disco, a capa e a ordem das faixas até o vazamento definitivo de Lonerism (com direito a shows no Brasil com músicas novas no meio do caminho), serviu como aquecimento perfeito para um dos melhores discos do ano passado. “Elephant”, truculenta, orgulhosa, repetitiva, funcionava como o antídoto à alta viagem de “Apocalypse Dream”, trazendo a psicodelia de volta à terra, à vida real, às ruas.

As 75 melhores músicas de 2012: 48) Sambanzo – “Capadócia”

Não há como não admirar a redescoberta da música africana que vem acontecendo no centro da música paulistana atual, reunindo talentos e novas celebridades ao redor da pluralidade polirrítmica e da harmonia tranversal da musicalidade do continente negro. É graças a esse não tão súbito interesse por diferentes aspectos de uma arte continental que personalidades como Kiko Dinucci (um dos maiores guitarristas do Brasil atualmente), Thiago França, Marcelo Cabral, Samba Sam e Wellington Moreira podem se encontrar em um projeto como o Sambanzo, nome que batiza o grupo (e que grupo!) liderado pelo sax endiabrado de Thiago. Mas “Capadócia” tem algo que transcende a Etiópia que dá nome ao álbum, o continente e vai encontrar parentesco na new wave dos Talking Heads, justamente em seu período caribenho, entre Fear of Music e o clássico show em Roma, em 1980. Culpa de Kiko, indie em pele de tribalista, que sabe muito bem o ponto em que o pós-punk converge com todo tipo de ritmo. E a cozinha, cubista e espacial, acompanha tudo de perto, escolhendo pontualmente os silêncios da faixa. Um clássico instantâneo.

As 75 melhores músicas de 2012: 47) Curumin – “Selvage”

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Em seu terceiro disco, Arrocha, Curumin finalmente chegou ao equilíbrio perfeito entre Jorge Ben e Stevie Wonder, santo graal que persegue desde o primeiro disco. “Selvage” é só um dos muitos exemplos bem sucedidos nesse último disco, mas destaca-se por sua concisão lírica e rítmica. Vale assiti-la ao vivo na versão do programa Ensaio, abaixo, logo depois da versão para “Ela”, do Gil.

As 75 melhores músicas de 2012: 46) Tennis – “Petition (Vacationer Remix)”

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Eis um ótimo exemplo do poder do remix. Ao diminuir a velocidade do original, o grupo Vacationer deu um ar de grandeza inexistente na versão original da singela “Petition”, do casal-banda Tennis. A mudança sutil é suficiente para torná-la um dos gratos momentos de 2012.

As 75 melhores músicas de 2012: 45) Supercordas – “Mumbai”

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A faixa que abre seu mais recente disco também é o momento central de A Mágica Deriva dos Elefantes – é ela quem nos acondiciona a seu clima de mitologia internacionalista. O disco de 2012 dos Supercordas é repleto de paisagens de países estrangeiros de filmes antigos, cidades mineiras, os quatro elementos, dragões em disparada, lantejoulas, deuses de desenho animado, diários de viagens feitas em sonho, trilhos de trem, violas na selva, o rio São Francisco e o Taj Mahal, bairros orientais, monumentos dadaístas, a Califórnia e o Peloponeso. E é em “Mumbai” o primeiro momento em que a geografia de verdade encontra-se com a da imaginação (“Atlas aos Rifeus”, que verso!) e o cheiro dos incensos que batizam a faixa dão o tom que virá por todo o disco a seguir. A faixa peca apenas pelo abuso do theremin, que quase chega a incomodar – mas isso não atrapalha a jornada.

As 75 melhores músicas de 2012: 44) Superchunk – “This Summer”

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Um dos heróis do underground americano, o Superchunk nunca terminou e continua vivo, em câmera lenta, sem lançar discos, e só fazendo shows, mesmo que não precise – só a grana que o Arcade Fire rendeu à Merge, gravadora da banda, daria para eles deixarem de pensar no grupo, o que felizmente não acontece. Mas basta o Superchunk começar a tocar, que a máquina do tempo mental volta para 1996 e o grupo faz parecer que aquele foi um ano mágico. A voz intacta de Mac McCaughan encaixa-se perfeitamente com as guitarras cinzentas filhotes do hardcore dos anos 80 e a cozinha pós-punk clássica (musa indie no baixo, baterista indomável é uma fórmula imbatível) e ao caminhar por melodias descaradamente pop, como sempre, tornam todos os timbres vivos e ensolarados, mesmo nas canções mais tristes. O que não é o caso de “This Summer” – primeiro single que o grupo lança em quase dois anos e sem nenhum indício de álbum à vista -, afinal a canção é apenas isso: uma saudação à estação do título, “tempo de esquecer”, cantam antes de convidar para “apagar este verão comigo”.

As 75 melhores músicas de 2012: 43) Sexy Fi – “Looking Asa Sul, Feeling Asa Norte”

Renascido como Sexy Fi, o velho Nancy, de Brasília, contou com os préstimos do homem do Tortoise John McEntire para dar corpo a uma obra que já vinha amadurecendo desde o ótimo Chora Matisse, de 2009. No excelente Nunca Te Vi de Boa, passeiam por melodias mais palatáveis, que escorregam macias pelo vocal de Camila Zamith, mas sem tirar o pé do experimentalismo, com doses de noise conversando com timbres africanos, um certo jazz indie que uns dizem que é pós-rock e ritmos sincopados – sem perder a noção de que é apenas uma banda de Brasília, como reforçam em todo o imaginário do disco. “Looking Asa Sul, Feeling Asa Norte” resume bem tudo isso (a partir do título, que traz o melhor momento de uma letra do Soundgarden para a realidade do Plano Piloto), ao cogitar que “ninguém é normal sem medicação”.