O dedilhado no violão de Steve Marion ganha outras dimensões impressionistas graças ao acréscimo de texturas plácidas e sons ambiente, enquanto a letra, que apenas arrasta o título da canção num canto emocionado sem pender para a euforia ou para a introspecção, evoca a única coisa que importa numa paixão.
Uma música sobre a duração do amor, a vida a dois, filhos crescidos… mas quando menos nos damos conta estamos novamente no abismo sônico, no furacão de microfonia causado a partir do encontro do velho Neil Young com seus compadres Crazy Horse, que pegam pesado ou bailam contigo em momentos distintos, escalando um épico elétrico de 17 minutos de estrada. Haja chão, haja guitarra – tudo lá.
Chan Marshall deixou a cantora de bar de blues que encarnou nos últimos anos em um armário junto com as garrafas de uísque e jogou a chave fora ao reassumir a persona indie que cultuava pelo meio da última década do século passado. Mas se a Cat Power original era introspectiva e tristonha como o indie daquela época, a nova ressurge praticamente hipster, uma espécie de irmã mais velha da Grimes. “Cherokee” foi a música que anunciou a nova fase, consagrada no surpreendente Sun, e mesmo não sendo dos momentos melhores lapidados do álbum, é a música que marca o ano para a cantora – autônoma, esotérica, inabalada.
Uma música de Jorge du Peixe liberta de vez Céu ao final de seu terceiro disco, mostrando que a viagem andarilha pelo deserto que se dispôs em seu Caravana Sereia Bloom tem um inevitável lado pernambucano – que, em vez de bater os tambores do mangue beat, prefere deslizar pelo calor da paquera.
No meio do ano, a impenetrável dupla sueca JJ lançou um EP de verão – High Summer – e logo no início, o reggae pálido e esquivo “10” colocava em xeque relações artificiais, revoluções televisionadas, remixes feitos por amigos e conversas sem sentido – numa crítica hippie e triste não propriamente ao novo século digital, mas como suas qualidades são distorcidas pela maioria das pessoas.
Quando o Prince apareceu, no final dos anos 70, proporcionou uma colisão entre new wave e black music que inevitavelmente o conduziu a criar seu próprio gênero musical, com forte ênfase no rock e o olho firme no incipiente hip hop. Mas o que aconteceria se aquele momento desse origem não a uma assinatura musical, mas a um cânone aberto a novas colaborações? George Lewis Jr. responde a essa pergunta com um álbum andrógino e sintético, quase uma resposta fria e classuda ao groove electro do Chromeo, mas com um charme e estilo bem particulares. “Five Seconds” poderia estar na trilha sonora de Top Gun, numa coletânea do Blondie ou num comercial de cigarros Hollywood – mas resolveu dar as caras no apocalíptico 2012, hino antídoto à ironia, resgatando um oitentismo vintage.
Soulzinho setentista via Electric Light Orchestra, o groove manhoso do Breakbot volta a aliar-se com o vocal em falsete do Irfane – dupla que já tinha cometido a melhor música de 2010, com a irresistível “Baby I’m Yours“. A nova parceria não chega tão alto, mas faria a vida das pessoas melhores caso tocasse no rádio.
O produtor de Los Angeles Josh Legg se juntou à vocalista Cheba para um flashback dúbio, que mistura timbres dos anos 70 com um tom solene dos anos 80, cogitando a possibilidade da chillwave ter uma espécie de ancestral perdido. “Fifteen” é precisa e preciosa – dessas faixas que parecem ter sempre existido.
A calibrada que o paulistano Pedro Zopelar dá na bruta “Sun”, que o Caribou fez em 2011, a leva para o terreno do free jazz e da funk music, sem perder o ar etéreo graças a seu vocal evasivo. Uma versão incrível.
Um quartinho de psicodelia californiana com uma dose de belle époque à americana: o transe preguiçoso de “American Daydream” parece uma versão hollywoodiana daquilo que conhecemos por hipster, coberto por inconfundível uma capa de glitter de Los Angeles. Relax…