Radiohead – The King of Limbs em tempo real

, por Alexandre Matias

Download completo, vou experimentar agora. E vou resenhar cada música à medida em que eu for ouvindo, em tempo real. Apertem o play e vão dando reload aí.

“Bloom”
Beats quebrados, timbres alienígenas, estamos na mesma paisagem de Kid A. Mas o vocal de Thom Yorke é cristalino – e aos poucos todo o clima lunar se dissipa em cordas, as palavras se misturam ao simples canto (e Yorke surge duplo, fazendo segunda voz para si mesmo) e se o início da música parecia nos apresentar a um disco inóspito, toda a impressão é desfeita como a noite pelo nascer do sol.

“Morning Mr Magpie”
O ritmo agora é metronômico, preciso, elétrico e eletrônimo, mas minimalista. Guitarras marcam o tempo e flertam, de leve, com o atual namoro do rock independente com a música africana. O vocal segue cristalino e suave, tornando música preguiçosa e ameaçadora sem que uma coisa anule a outra. “Você sabe que deve, mas não…”.

“Little by Little”
Será que King of the Limbs é um disco otimista? A banda cogita a possibilidade de blues, jazz e dubstep serem, no fundo, a mesma música. Ainda mais solar que a música anterior (aumentando a surpresa em relação a um disco alto astral do Radiohead), ela é temperada com efeitos e conduzida pelo voz, que por vezes se entrega ao falsete. Música boa pra dirigir. Na estrada. À noite. Indo pra praia. Sem trânsito.

E, na paralela, a Alê também não quer perder o bonde do zeitgeist

“Feral”
Instrumental, beats atravessados, samples de vocais, groove sintético. “Feral” é torta, eletrônica e quase hermética. Parece uma vinheta esticada, mas pode caber todo um universo.

“Lotus Flower”
Desligue a imagem: sem Thom Yorke dançando para nos distrair (Marvio falou em “Losing My Religion” sem orçamento, eu acho que é mais esse mesmo clipe versão webcam), é possível perceber toda a beleza suave da “faixa de trabalho”. Não é um hit instantâneo, mas é daquelas músicas que você ouve várias vezes sem que isso seja um problema. Qualidade que, hoje em dia, poucos além do Radiohead podem tirar onda.

E a Helô pegou carona na dancinha do Thom e crava: “Justin Timberlake bizarro”. Sim, isso é um elogio.

“Codex”
É a balada do disco, com seu piano pesaroso e onipresente, que barra qualquer outro instrumento (cordas e sopros inclusive) a sair do segundo plano. Yorke puxa o disco para a água, uma de suas paisagens favoritas, e deixa seguir um fluxo quase inconsciente, embora nada abstrato.

Enquanto isso, o Chico Barney propõe outra trilha sonora para a dancinha do Thom:

“Giving Up the Ghost”
A balada ao violão, no entanto, não é bem sucedida quanto a faixa anterior basicamente pela insistência do insistente coro de “don’t hurt me” que atravessa toda a música. A beleza da melodia, por isso, fica presa à repetição da frase, que deve funcionar bem ao vivo justamente por isso.

“Separator”
Termina bem o disco, juntando uma série de elementos que foram dispersos pela audição é uma música com cara de rock clássico e de última música de disco. Termina bem do mesmo jeito que começou.

Veredito por hora:
Com oito faixas, é quase um EP esticado, um grupo de canções que não chega a soar como um álbum, embora tenham uma coesão entre si. Mas não há uma faixa que destaque muito além das outras, um riff memorável, um refrão que cole de cara. Há, sim, uma franca admiração pelo dubstep e uma aula magistral de canto de Thom Yorke – e por isso mesmo King of the Limbs parece mais próximo do disco solo de Thom do que do extraordinário In Rainbows.

Mas isso é uma audição feita de forma errada, na frente do computador, pensando em palavras. Mais tarde (talvez amanhã, hoje à noite tem o LCD, né), ouço o disco direito e isso tudo pode mudar. Por hora, vale uma nota 7. Que, pro Radiohead, é uma nova vermelha.

E você, ouviu? Que achou?

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