Cissy Houston (1933-2024)

Embora tenha entrado para a história por ser a mãe de Whitney Houston, a cantora Cissy Houston, que morreu nesta terça-feira, tem uma longa ficha de serviços prestados à música, muito antes mesmo de sua filha começar a fazer sucesso. Liderou os grupos vocais Drinkard Singers e, seu trabalho mais conhecido, as Sweet Inspirations, com quem gravou com inúmeros artistas, como Otis Redding, Wilson Pickett, Lou Rawls e sua sobrinha Dionne Warwick, além de marcar presença em clássicos como “Son of a Preacher Man” de Dusty Springfield, “Brown Eyed Girl” de Van Morrison, “Ain’t No Way” de Aretha Franklin e “Burning of the Midnight Lamp” do grupo Jimi Hendrix Experience. Ela estava internada vítima do mal de Alzheimer e morreu nesta terça-feira.

Emiliano Queiroz (1936-2024)

Morreu nesta sexta-feira o ator cearense Emiliano Queiroz, mais conhecido pelo papel de Dirceu Borboleta, aspone do vilão Odorico Paraguaçu na novela e depois minissérie O Bem Amado, de Dias Gomes, que extrapolou a obra original e foi parar na Escolinha do Professor Raimundo, do conterrâneo Chico Anysio. Sempre foi um rosto conhecido pelo público das novelas desde que começou a atuar nelas, em 1965. Fez parte do elenco de clássicos do gênero como Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Roque Santeiro, Pecado Capital, Maria Maria, Estúpido Cupido, Pai Herói, Ti Ti Ti, Cambalacho, O Outro, Bebê a Bordo, Top Model, Rainha da Sucata, Barriga de Aluguel, Que Rei Sou Eu?, Deus nos Acuda, A Próxima Vítima, e das séries Tenda dos Milagres, Tereza Batista, Anos Rebeldes, Hilda Furacão, Chiquinha Gonzaga, Sítio do Picapau Amarelo, além de ter participado da primeira versão teatro de O Pagador de Promessas e de ter vivido o travesti Geni na primeira montagem da Ópera do Malandro de Chico Buarque. No cinema esteve no elenco de Navalha na Carne, Dois Perdidos numa Noite Suja, Independência ou Morte, O Grande Mentecapto, Tiradentes, O Xangô de Baker Street e Madame Satã, entre outros. Morreu de ataque cardíaco após passar dias internado num hospital no Rio de Janeiro.

Cid Moreira (1927-2024)

Embora sempre referido como jornalista, Cid Moreira, que morreu nesta quinta-feira, era só um locutor. Sua voz retumbante foi uma das inúmeras a ganhar território nacional graças à supremacia cultural da TV Globo durante a ditadura militar e quase sempre funcionava como a voz do status quo, dando com seu grave timbre a versão oficial para acontecimentos cotidianos. Unanimidade em seu tempo à frente do Jornal Nacional, deixou a bancada do programa para ler a Bíblia em outra emissora, o que diz muito sobre seu papel histórico. Prefiro lembrá-lo quando seu patrão teve de curvar-se a Leonel Brizola e o obrigou judicialmente a ler em voz alta aquilo que boa parte do país sabia ou suspeitava. Assista abaixo:  

Fritz Escovão (1942-2024)

Triste coincidência o fato de um dos fundadores do Trio Mocotó, o grande cuiqueiro Fritz Escovão, nascido Luiz Carlos de Souza Muniz, morrer poucos meses após a morte de seu substituto no grupo, o mestre Skowa. Um ás na cuíca, era peça fundamental no trio que acompanhou Jorge Ben no início dos anos 70 ao lado de seus compadres Nereu Gargalo e João Parahyba e que seguiu fazendo história mesmo após Ben ter mudado de fase. O grupo surgiu em uma das encarnações do bar Jogral, em São Paulo, e desde 1970, firmou-se como uma das principais usinas sonoras brasileiras, acompanhando artistas como Chico Buarque, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho e Cartola em suas passagens pela cidade. O suíngue levanta-defunto característico do trio logo faria turnês em todo o país e no exterior, eternizando seus sucessos em álbuns imortais como Muita zorra (1971), Trio Mocotó (1973) e Trio Mocotó (1977), além de tocar ao lado de Ben nos eternos Força bruta (1970) e Negro é lindo (1971). Um dos maiores nomes do samba-rock, o trio desfez-se no meio daquela década e ressurgiu no início deste século, com o disco chamado Samba-Rock, lançado em 2001, mas Fritz, alegando motivos de saúde, deixou a banda naquele momento, que seguiu com o recém-falecido Skowa em seu lugar. Um mestre que se vai.

Kris Kristofferson (1936-2024)

Kris Kristofferson, que morreu neste sábado, revolucionou a música country sem criar alarde – mesmo porque este papel é um tanto contraditório para um gênero tradicionalmente conservador. Ele já merecia um lugar na história do gênero ao entrar pela porta dos fundos do gênero no final dos anos 60, quando quis chamar atenção de seus ídolos, como quando tentou abordar Bob Dylan quando era faxineiro na gravadora Columbia, ou quando apareceu na casa de Johnny Cash com um helicóptero, quando frilava como piloto no mesmo período. Tais abordagens surtiram efeito e logo ele trazia referências da contracultura sessentista ao centro musical do conservadorismo nos EUA, falando de alcoolismo, sexo fora do casamento e mensagens contra a guerra do Vietnã na época em que o country era a trilha sonora do status quo político daquele país. Alimentou o movimento que mais tarde ficou conhecido como “country fora-da-lei” e musicalmente trouxe elementos do folk hippie para aquele universo musical. Autor de músicas que tornaram-se conhecida nas vozes de outros cantores (como “Help Me Make It Through the Night”, “Sunday Mornin’ Comin’ Down” e “Me and Bobby McGee”, ele também firmou carreira como ator no cinema ao estrelar filmes como Pat Garrett & Billy the Kid (de Sam Peckinpah), Alice Não Mora Mais Aqui (de Scorsese) e Nasce uma Estrela (de Frank Pierson), este último lhe garantiu o Globo de Ouro de melhor ator em 1976. Nos anos 80, criou o grupo Highwaymen ao lado de Johnny Cash, Waylon Jennings e Willie Nelson e sempre esteve ao lado das causas progressistas, mesmo seguindo firme como um ídolo country.

Maggie Smith (1934-2024)

Apesar de apenas ter atingido a fama global quando começou a aceitar papéis no cinema e na TV que encaixavam-se em sua persona de matrona desde o fim do século passado, Maggie Smith, que morreu nesta sexta-feira, já era considerada uma grande dama do teatro inglês desde os anos 60, quando foi descoberta por Laurence Olivier quando havia começado a atuar National Theatre inglês e passou a interpretar peças clássicas sob sua tutela, vivendo fortes personagens femininas do teatro grego, Shakespeare, Ibsen e Noël Coward, atuando ao lado de nomes como Richard Burton, Elizabeth Taylor e Orson Welles e ganhando prêmios por suas performances. Ainda nos anos 70, quando atingiu sua maturidade artística, começou a atuar no cinema e na TV, primeiro em produções inglesas (principalmente comédias e adaptações de Agatha Christie) e depois em filmes norte-americanos (dirigidos por George Cukor, Robert Moore e Alan Pakula, por exemplo). Quando recebe o título de Dama (equivalente feminino do Sir inglês) pela Rainha Elizabeth II em 1990, começa a ser chamada para produções maiores, trabalhando em filmes com Spielberg e na série Mudança de Hábito, que forjaram a imagem pública que a tornou mais conhecida atualmente, ao viver personagens refinadas e esnobes no filme Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman, que foi a inspiração para a série que ajudou a coroa sua reputação anos mais tarde, Downton Abbey, além de ter trabalhado em quase todos os filmes da série Harry Potter.

James Earl Jones (1931-2024)

Morreu uma das vozes mais importantes da história do cinema. Embora fosse reconhecido por seu carisma incomparável e por atuações firmes e emblemáticas, James Earl Jones entrou para a história ao dar voz a um dos grandes vilões do mundo do entretenimento, Darth Vader, que o tornou popular. A princípio ele nem queria o crédito pela voz do pai de Luke Skywalker por considerar um papel menor, mas a popularidade do vilão o fez assumir a dublagem a partir do filme O Retorno de Jedi. Sua inconfundível voz grave o levaria para outras paragens e ele acabou dublando outro pai de heroi, desta vez em animação, quando deu vida Mufasa, pai do protagonista do desenho Rei Leão, além de ser um dublador recorrente nos Simpsons e de ser a voz que diz “This is CNN” no canal de TV norte-americano especializado em notícias Além de atuar em filmes como Campo dos Sonhos, Dr. Fantástico, Jogos Patrióticos, Conan O Bárbaro e nas duas versões de Um Príncipe em Nova York, ele também foi uma das poucas pessoas a ganhar o quarteto de prêmios mais cobiçado do entretenimento norte-americano, faturando um Oscar, um Emmy, um Tony e um Grammy (este último não em música, mas por ter narrado um áudio-livro). A causa de sua morte não foi revelada.

Herbie Flowers (1938-2024)

Você talvez não conheça Herbie Flowers, que morreu nesta segunda-feira, mas certamente ouviu seu baixo. Músico inglês que começou tocando jazz nos anos 60, foi adotado pela geração 70 do rock da ilha britânica e tocou em músicas tão emblemáticas quanto “Space Oddity” do David Bowie (com quem também tocou no clássico Diamond Dogs) quanto “Walk on the Wild Side” de Lou Reed (ele quem inventou o baixo duplo do único hit de Lou a chegar ao topo da parada de vendas, além de tocar por toda a obra-prima Transformer), além de ter sido integrante do T. Rex, ter gravado no melhor disco de Elton John (Tumbleweed Connection), tocado em discos de três Beatles em carreira solo (tocou em Give My Regards to Broad Street do Paul, Somewhere in England, Gone Troppo e Brainwashed do George e Stop and Smell the Roses do Ringo) e trabalhado com nomes como Al Kooper, Olivia Newton-John, Bryan Ferry, Cat Stevens, Roy Harper, David Essex, Camel (tocando tuba), entre outros… Além destes momentos perto do estrelato pop, ele também tinha uma carreira solo que o aproximava de sua primeira paixão musical, o jazz.

Sérgio Mendes (1941-2024)

Sérgio Mendes, que morreu nessa sexta-feira nos Estados Unidos, provavelmente vítima dos efeitos a longo prazo da covid-19, foi o artista brasileiro mais bem sucedido internacionalmente. Embora ainda ofuscado pelo gigantismo de Carmen Miranda, que foi a primeira popstar em escala global do planeta (e não apenas brasileira), o músico, compositor e arranjador fluminense foi quem desbravou o caminho para a bossa nova tornar-se um sucesso mundial, abrindo à facada a estrada que ligava o Rio de Janeiro a Los Angeles, capital da indústria fonográfica nos anos 60. Ele foi para os Estados Unidos ainda em 1961, quando gravou com músicos como Cannonball Adderley e Herbie Mann, tocando bossa nova em shows nos EUA e na Europa antes de Tom Jobim sonhar em compor “Garota de Ipanema”. Fez parte do Sexteto Bossa Nova, que acompanhou artistas brasileiros na fatídica apresentação no Carniege Hall em Nova York e desde então seguiu naquele país. Foi a partir do tranalho do músico nascido em Niterói que mestres da música brasileira como Jobim, João Gilberto, Eumir Deodato, João Donato e dezenas de músicos e intérpretes cruzaram a fronteira rumo ao hemisfério norte, conseguindo trabalhos e talentos reconhecidos no exterior. Mendes tornou-se o maior destes nomes depois de alguns anos já nos Estados Unidos, quando, por sugestão de Herb Alpert, da gravadora A&M, passou a gravar músicas em inglês, além de versões em português cantadas por duas vocalistas, uma norte-americana (Lani Hall) e uma brasileira (Bibi Vogel) no grupo que montou quando saiu da gravadora Atlantic, o Brasil 66. A sonoridade palatável da bossa nova de Mendes aliada aos vocais híbridos das vocalistas deste novo grupo o transformaram em um sucesso gigantesco mesmo para os padrões dos EUA a partir da versão que o grupo fez para “Mas Que Nada”, de Jorge Ben. Era o começo do estrelato internacional de Sérgio Mendes, que lhe garantiram, com o tempo, um Grammy, um Oscar e 14 músicas entre as 100 mais tocadas nos Estados Unidos, além de parcerias com Stevie Wonder, Justin Timberlake e Black Eyed Peas, amizades com Frank Sinatra, Pelé, João Gilberto, Tom Jobim, Mick Jagger, Elton John, Michael Jackson e Burt Bacharach, além de ter sido um dos poucos brasileiros que conheceu Elvis Presley. Um monstro sagrado, vai em paz.

Diana (1948-2024)

Estrela da fase final da Jovem Guarda, Diana, cuja morte foi anunciada nesta quarta-feira, foi um dos grandes nomes da canção romântica brasileira no início dos anos 70, principalmente a partir de seu disco homônimo de 1972, em que, produzida por Raul Seixas, regravou hits estrangeiros em versões brasileiras que até hoje estão em nossa memória, como “Porque Brigamos” (“I Am… I Am Sad”, de Neil Diamond, que foi regravada anos depois por Bárbara Eugenia), “Tudo Que Eu Tenho” (a partir de “Everything I Own”, da banda Bread), “Quero Te Ver Sorrindo” (“When My Little Girl Is Smilling” , de Carole King e Gerry Goffin, “Meu Lamento” (“Voy a Guardar Mi Lamento” de Raul Vazquez), entre outras. Nos anos de estrelato, ela foi casada com Odair José, de quem se separou no início dos anos 80, sendo o quarto casal brasileiro a obter o divórcio legalmente. Nascida Ana Maria Siqueira Iório, ela ainda apresentava-se e havia acrescentado um “h” ao final de seu nome artístico, até ser encontrada sem vida em casa pelo próprio filho, que confirmou a morte da mãe no Facebook.