Baita perda para o rap nacional: Leonardo Irian, o MC Leo do grupo Síntese, faleceu nesta sexta-feira. Fundador do grupo de São José dos Campos ao lado do MC Neto, Leo entrou para a história do rap brasileiro com o disco Sem Cortesia, lançado em 2012, com faixas curtas, de produção crua e sem refrão, que lançou a banda para o resto do país no mesmo ano em que ele descobriu que era esquizofrênico. Esta condição colocou sua carreira em pausa, fazendo o grupo seguir principalmente na voz de Neto, que ainda mantinha o parceiro por perto, levando sua palavra e tentando, quando pode, trazê-lo de volta aos discos e aos palcos, que sofria com internações e até um período que ficou desaparecido em 2020. A causa de sua morte não foi informada.
Morreu nesta segunda um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro. O baiano Evandro Teixeira entrou para a história logo que começou a fotografar no Jornal do Brasil, no Rio de Janeiro, dez anos depois de ter começado a fotografar e seis anos depois de entrar no jornalismo quando, no 1° de abril de 1964, infiltrou-se no Forte de Copacabana, quando os militares golpistas da vez se reuniram para saudar o novo presidente, o marechal Humberto Castello Branco, e registrou a primeira foto do primeiro ditador militar do nefasto período, publicando-a na capa do jornal no mesmo dia. Cobriu a repressão da ditadura militar e os protestos contra esta, incluindo sua clássica foto tirada na Passeata dos Cem Mil, que aconteceu na antiga capital brasileira, em 1968. Em 1973 foi para o Chile onde, além de ser o único fotógrafo a registrar o golpe contra o presidente Salvador Allende, a morte do poeta Pablo Neruda, também testemunhou o assassinato em massa que a ditadura daquele país praticava no principal estádio de futebol local. Era um jornalista ferrenho de sensibilidade ímpar, registrando, quase sempre em preto e branco, acontecimentos históricos, reportagens épicas e detalhes do cotidiano. Morreu aos 88 anos, no Rio de Janeiro, após complicações devido a uma pneumonia. Seu acervo é mantido pelo Instituto Moreira Salles, em cujo site há uma vasta coleção de suas obras. Veja algumas abaixo:
Morreu nesta segunda-feira um ícone do rádio brasileiro – e de uma forma estúpida (caiu no banheiro, bateu a cabeça e não chegou ao hospital a tempo). Dono de um forte timbre barítono que logo seria ultrapassado pela forma de cantar lançada primeiro por João Gilberto, depois Roberto Carlos e finalmente os principais nomes da MPB, ele seguiu sua carreira mantendo sempre aquele padrão, o que fez aproximar-se, com o tempo, de outros ícones do período, como Cauby Peixoto e Agnaldo Timótheo. Sua linda voz encaixava-se perfeitamente como seu ar de galã, que o tornou um verdadeiro astro da música no Brasil durante décadas a fio, fazendo-o circular pelo cinema e pela TV. Um registro que acaba resumindo seu talento está no dueto que fez com Hebe Camargo no filme Zé do Periquito, filme do estúdio Vera Cruz lançado em 1960, escrito, dirigido e estrelado por Mazzaropi. Os dois cantam “Passe a Viver”, de Heitor Carillo, numa cena que funciona como uma cápsula de tempo de um Brasil que ainda não havia se modernizado mas também naõ havia caído na ditadura militar, período que o próprio Rayol talvez seja seu melhor garoto-propaganda.
Morreu nesta segunda-feira o último representante de uma espécie. Quincy Jones equilibrou música e mercado como poucos na história do século 20 e com sua morte um ciclo se fecha. Possivelmente o nome mais importante da história da indústria fonográfica dos Estados Unidos – e só isso resume o peso de sua biografia, como se isso fosse possível. Obrigado!
Uma das principais atrizes da Hollywood desfreada dos anos 70, Terri Garr morreu nesta terça-feira, vítima de complicações de esclerose múltipla, que lhe afligia há décadas. Revelada num episódio da primeira versão de Jornada nas Estrelas, ela participou do filme psicodélico dos Monkees escrito por Jack Nicholson (Head) e do seriado que Sonny Bono e Cher tinham nos anos 60. Na década seguinte, graças à sua atuação carismática que encantava e fazia rir, tornou-se querida da geração de diretores que trouxe o conceito de cinema autoral para os Estados Unidos naquela década, trabalhando com Coppola (A Conversação e Do Fundo do Coração), Spielberg (Contatos Imediatos do Terceiro Grau), Mel Brooks (O Jovem Frankenstein), Carl Reiner (Alguém Lá em Cima Gosta de Mim), Scorsese (Depois de Horas), Sidney Pollack (Tootsie) e Robert Altman (Prêt-à-Porter).
Paul Morrissey, que morreu vítima de pneumonia nesta segunda num hospital em Nova York, sempre será lembrado como o cineasta que deu dinâmica e movimento às experiências cinematográficas de Andy Warhol – que, por ser fotógrafo e artista plástico, trabalhava apenas com imagens estáticas. Ao lado de Warhol, dirigiu filmes de baixo orçamento sobre a vida marginal na maior cidade norte-americana, filmando histórias com hipsters, traficantes, travestis e viciados em drogas em filmes como Flesh (1968), Trash (1970), Heat (1972), Flesh for Frankenstein (1973) e Blood for Dracula (1974). Mas sua associação com Warhol também foi uma conexão com o Velvet Underground e além de ter dirigido com seu parceiro o único documentário sobre a banda quando ela ainda existia, The Velvet Underground and Nico: A Symphony of Sound (assista-o abaixo), lançado no ano anterior do lançamento do primeeiro disco da banda, que é de 1967, também foi empresário do grupo de Lou Reed e John Cale entre 1966 e 1967 e batizou o happening que colocou a clássica banda no mapa da intelligentsia nova-iorquina, chamado de Exploding Plastic Inevitable.
Assista a The Velvet Underground and Nico: A Symphony of Sound abaixo:
Triste saber da morte de um dos nossos maiores nomes das letras, feliz por saber ter sido do jeito que ele planejou, como avisou em sua despedida:
“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”
Esse é imortal mesmo sem precisar de academia nenhuma. Fica entre nós.
Apesar de ter gravado apenas dois discos com o Iron Maiden e de ter sido ofuscado pela entrada de Bruce Dickinson, o primeiro vocalista da banda, Paul Di’Anno, que morreu neste segunda-feira, foi crucial para o grupo ter se destacado na famigerada cena New Wave of British Heavy Metal que despontou no final dos anos 70 na Inglaterra. Di’Anno, que escondia a ascendência brasileira ao transformar o sobrenome Andrews num pastiche de italiano inexistente, mas que depois até assumiu que era torcedor do Corinthians, tinha o gás e a selvageria no palco que fizeram a banda tornar-se conhecida nos primeiros meses em atividade, mesmo não sendo o ideal de vocalista que o líder da banda, o baixista Steve Harris, gostaria. Seu espírito indomável também foi sua ruína – e o excesso de drogas e álcool acabaram por tirá-lo da banda prematuramente. Seguiu no mundo do metal nos anos seguintes, cantando em bandas que tiveram relativo sucesso nos anos 80 (como Gogmagog, Battlezone e Killers, esta formada por ex-integrantes do Iron Maiden) e com sua carreira solo conseguiu fazer shows em todo o mundo, inclusive no Brasil. Nos últimos anos já estava debilitado, andando de cadeira de rodas, mas seguia fazendo shows. Formou o grupo Rockfellas com três brasileiros na formação: Jean Dolabella (ex-Sepultura), Marcão (ex-Charlie Brown Jr.) e Canisso (ex-Raimundos). A causa de sua morte não foi revelada.
Washington Olivetto, que morreu neste domingo, era um publicitário acima da média. Mas mais do que celebrar seus feitos na área – campanhas históricas, personagens icônicos e slogans que até hoje estão em nossas cabeças -, vale reputar duas conquistas que fogem dos certames de sua área: a criação da Democracia Corintiana e a redescoberta de Jorge Ben. Com a primeira recuperou a auto-estima do principal time de São Paulo e criou uma mitologia que até hoje embasa o ser corintiano, ao usar o modus operandi do time no início dos anos 80 – de organização horizontal e participativa – para questionar a ditadura militar. Com o segundo, tirou um dos maiores nomes da nossa música de um ostracismo estético que o deixava para longe do panteão da MPB – e mesmo que “W-Brasil”, o hit que emplacou o nome de sua agência de publicidade nas paradas de sucesso do Brasil, não seja um dos grandes momentos de Ben (embora tenha bordões que citamos até hoje), fez sua carreira voltar a ser falada e tocada, reajustando um correção de curso que o tirou do Olimpo da MPB nos anos 70 para transformá-lo em um artista menor, algo que, graças a Olivetto, ficou para trás. Só por isso, ele já tem seu nome na história.
Ícone do humor brasileiro, Ary Toledo, que morreu neste sábado, era um resistente. Começou na carreira artística ainda adolescente, mas só aos 27 anos passou ao dedicar-se ao humor, afiando um estilo que, em vez de criar personagens ou bordões, como muitos de seus contemporâneos, o tornou um especialista em contar piadas – apimentar e adocicar histórias cômicas com o auxílio de olhares, caras imprevisíveis, silêncios, caras e bocas, quase sempre de conotação sexual e de duplo sentido. Tanto que, 60 anos depois, seguia fazendo exatamente isso, associando seu nome a essa categoria do riso concentrada em pequenas historietas sórdidas. Começou no rádio e logo depois foi para a televisão, além de ter tentado brevemente carreira na música e no cinema ndos anos 60 e foi preso na ditadura militar por causa de uma piada (“quem não tem cão caça com gato, que não tem gato caça com ato”). Era o principal nome de um serviço prestado pela estatal de telefonia brasileira chamado “Disque Piada”, em que o público ligava para um número (em Brasília era 137) para ouvir uma piada nova todo dia, contada por ele. Foi casado com sua eterna musa, a vedete Marly Marley (que faleceu em 2014), por 40 anos.