Kevin Parker só cresce na escala de fodice: no mês passado, organizou um show em cima da hora pra juntar uma grana pra uma amiga, a cantora Felicity Groom, que teve seu carro roubado na cidade-natal do Tame Impala, Perth, na Austrália. Assumiu as baquetas ao lado do baixista Cam Avery, o novo integrante de sua banda, e ao tecladista Cam Parkin, da banda Cosmo Gets e inventou um nome para a banda, Kevin Spacey (a foto saiu do Tone Deaf). E um herói filmou 45 minutos desse show – saca só essa sonzeira…
O que tem na água de Perth?
O mineiro Pedro Paiva, do coletivo Vinil é Arte, selecionou pérolas obscuras de um Caetano Veloso pós-tropicalista, entre o experimentalismo vanguarda e a influência do rock psicodélico, numa mixtape em que quase todas as faixas foram produzidas por Rogério Duprat e que conta com a participações de nomes como Gal, Mutantes, Wilson das Neves, os Brazões e Lanny Gordin. Delírio.
Ben Goldwasser e Andrew VanWyngarden preparam a volta do MGMT ao lado de ninguém menos que Dave Fridmann, que controlou discos de bandas como Flaming Lips e Mercury Rev. O novo disco, batizado apenas de MGMT, chega às lojas em setembro e já teve sua ordem de músicas revelada, bem como o primeiro clipe, ambos abaixo:
E por falar em Tame Impala, tava precisando escrever sobre eles (não só). Cheguei de volta das “minhas férias“, começou a rolar toda aquela onde de protestos e não pude recapitular o que assisti na gringa, nessas duas semanas que estive fora. Começo essa retrospectiva agora, lembrando alguns dos shows que vi no velho continente quando passei esses dias fora do ar – alguns desses shows que vi passarão pelo Brasil esse ano e uns deles merecem o bis. Primeiro comento alguns shows do Primavera para depois falar do festival como um todo – e do show do Neil Young. Mas começo pelo Tame Impala, um dos shows mais importantes da edição do evento nesse ano, da carreira da banda e de 2013 – lembrando que o Tame Imapala é um desses que volta ao Brasil ainda este semestre:
Todas estes adjetivos vêm do fato de que o Tame Impala foi o primeiro grande show do festival catalão. O Primavera começa com shows esporádicos nas noites anteriores à abertura oficial, que aconteceu numa quinta-feira e a banda de Kevin Parker marcava justamente este início, afinal era a primeira grande atração em seu palco principal. Em nítida ascendente evolutiva, é possível ver que a intimidade dos músicos com o palco e com a platéia ultrapassou aquela timidez simpática de seu líder que assistimos nos shows aqui no Brasil, há um ano. Kevin não ri mais de vergonha, mas de orgulho do que está fazendo em pleno 2013 – revivendo os anos áureos da psicodelia como se o Lennon de 67 tocasse com o Pink Floyd de 72. Não é mais uma referência ou uma citação – Kevin SABE que pertence a esse cânone technicolor com a grande vantagem de já ter visto o que de ruim pode acontecer com uma banda de rock clássico pelos motivos mais mesquinhos – dinheiro, mulher, álcool e drogas. Ele vive o sonho psicodélico da infância perdida como se ela nunca tivesse sumido – e o brilho da inocência pudesse chegar à maturidade intacto.
Ao contrário disso, ele entrega sua banda à fluidez do idioma lisérgio elétrico sessentista, intercalando riffs e solos como se tais fraseados instrumentais não fossem elementos à parte na estrutura da canção. Uma das grandes diferenças do Tame Impala que vimos no Brasil em agosto de 2012 para o Tame Impala no Primavera este ano era o fato de que a banda se sente mais à vontade como instrumentistas, não se prendendo necessariamente às canções. O show começou com o riff de “Led Zeppelin” que não deixou a canção começar – em vez disso, a introdução da faixa tornou-se apenas uma introdução à próxima música, “Solitude is Bliss”. E seguiu assim, com a banda criando pequenas vinhetas e alongando compridas jams sempre para voltar para suas músicas mais sólidas (principalmente as do segundo disco, Lonerism, que não foi tocado ao vivo nas apresentações daqui, fora “Elephant” e “Apocalypse Dreams”, as únicas faixas que haviam vazado na época).
A sinergia musical entre os cinco integrantes da banda é conduzida também pela guitarra (e pela presença de palco) de um Kevin cada vez mais seguro de si e dos rumos que tem tomado. É visível perceber que estamos frente a uma banda com um futuro brilhante pela frente, não é preciso muito esforço para imaginar que o terceiro disco talvez possa superar o impacto dos dois primeiros.
Mas basta o presente para sentirmos esperança – não no futuro do rock ou no da música pop, mas esperança pura e simples a partir do fato de que ainda há gente boa disposta a passar boas vibrações para mais gente e melhorar nossa estada neste planeta. E se essas vibrações vêm como o timbre de uma guitarra psicodélica, melhor ainda.
Fiz uns vídeos no show, saca aí embaixo. Há até o momento farofa-brasil quando o Mutlei puxou o corinho de “PROGUÊ, PROGUÊ” no momento mais “Set the Controls to the Heart of the Sun” do disco, procuraê:
O Lucio acaba de confirmar a segunda vinda do Tame Impala para o Brasil, dia 16 de outubro, com ingressos a R$ 180, no Cine Jóia, em São Paulo.
O que me lembra de falar do show deles que eu assisti no Primavera, guentaê…
Os quatro Beatles foram ao último show da turnê do Jimi Hendrix Experience na Inglaterra em 1967, no dia 4 de junho, no teatro Saville em Londres, um domingo. Na quinta anterior, dia 1°, o grupo havia lançado seu mítico Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, cumprindo a autopromessa que era a invenção da psicodelia inglesa. O próprio Paul McCartney deu uma cópia ao maior guitarrista de todos os tempos, poucas horas antes do show de domingo. Eis que Hendrix resolve abrir a noite com:
Recentemente, num show em Orlando, o próprio Paul lembrou-se desse evento, que referiu-se como “um dos maiores tributos” à sua carreira:
(E um parêntese final, sobre o vídeo acima: Paul conta isso após encerrar “Let Me Roll It” com dois minutos incríveis de solo elétrico em homenagem ao próprio Hendrix, provando que, além de tudo, o velho Paul também é um deus da guitarra.)
E o clipe novo do Yo La Tengo?
Demais.