A dupla de indie folk paulistana Onagra Claudique é a atração de hoje no Prata da Casa do Sesc Pompéia. O esquema é aquele de sempre: chega uma hora antes do show (que começa às 21h) e retira seu ingresso de graça na bilheteria. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto sobre a banda:
Duas novas tradições correm em paralelo na músicaclaramente acústica brasileira e pouquíssimas vezes se cruzam. De um lado, há uma MPB influenciada pelos violões e clima pastoril de uma música mineira que começa no Clube da Esquina e que, vez por outra, flerta com certo indie rock mais introspectivo e tímido. Do mesmo jeito, há uma safra de bandas indies brasileiras que, como parte de um movimento global, redescobre os prazeres da música acústica através da música folk norte-americana ou britânica. Entre as poucas intersecções, os paulistanos do Onagra Claudique destacam-se por explorar por completo este horizonte de acordes maiores e texturas claras, com pouco sotaque urbano. Formado por Roger Valença e Diego Scalada, o grupo lançou seu primeiro EP – A Hora e a Vez de Onagra Claudique – este ano, após gravá-lo em São Paulo, sob a produção de Mauro Motoki, do Ludov, e masterizá-lo no Sterling Sound, em Nova York. O resultado soa tão Fleet Foxes quanto Lô Borges, tão Bon Iver quanto Rosie & Me, mesmo que cantando sempre em português.
E hoje no Prata da Casa a Kika lança seu primeiro disco, Pra Viagem (que pode ser baixado na íntegra em seu site) – e o show promete. Os ingressos começam a ser distribuídos às 20h e o show, de graça, rola a partir das 21h. Abaixo, o texto que escrevi sobre ela para o prpjeto. Vamo?
Dub, afrobeat, samba, reggae: São Paulo vive um 2012 que mistura gêneros musicais negros de forma muito fluida, em que os tambores da África encontram a manha brasileira e a ginga caribenha num caldeirão de grooves que quase sempre descamba para a catarse de arranjos polirrítmicos e celebração percussiva. A cantora e compositora Kika, no entanto, transpõe essa expectativa e compacta toda exuberância em seu canto macio e pequeno, mas cheio de autoridade e firmeza. Criada sob as bençãos do estúdio Traquitana e do produtor Victor Rice – duas instituições do novo groove paulistano -, ela gravou seu primeiro disco, Pra Viagem, disponível para download gratuitamente, com uma seleção de músicos que fazem parte do filé mignon desta atual safra paulistana – como Anelis Assumpção, Dustan Gallas, Kiko Dinucci e músicos da banda Bixiga 70. Mas ela nunca deixa o holofote e conduz calmamente seu baile, gingando tranquila enquanto canta com uma naturalidade própria.
Vamos assistir à transformação de uma banda? A partir de seu recém-lançado Lóvi (download gratuito aqui, dá pra ouvir o disco aí embaixo também), o Dead Lover’s Twist Heart de Belo Horizonte começa a explorar as profundezas dos ritmos do Brasil, com o lançamento de seu segundo disco hoje, no Prata da Casa.
O show começa às 21h e os ingressos, gratuitos, começam a ser distribuídos com uma hora de antecedência no Sesc Pompéia. Abaixo, o texto que escrevi sobre a banda para o projeto:
Minas Gerais, no imaginário brasileiro, remete a paisagens pastoris, clima bucólico e espírito artesanal. Mas sua capital, Belo Horizonte, passa longe desta descrição – é uma pequena metrópole com o espírito urbano característico de qualquer grande cidade do planeta. Por isso é inevitável que a música que caracterize a cidade seja elétrica e moderna. Neste sentido, a banda que melhor representa essa face da capital mineira é o quarteto Dead Lover’s Twisted Heart, o grupo que mais lota o inferninho rocker local chamado A Obra. O grupo exibe influências que vão desde o rock primal de bandas como Stooges e New York Dolls ao novo rock de bandas inglesas e norte-americanos como Strokes e Franz Ferdnand, com alguma pitada de folk e country, e é responsável por shows incendiários e apaixonantes, que já são clássicos da cena independente mineira. Seu primeiro disco – DLTH – foi lançado em 2010 e a banda aos poucos prepara-se para lançar seu novo trabalho, com participações de nomes tão diferentes quanto Graveola e o Lixo Polifônico e do bardo Odair José, e que marca uma nova fase para o quarteto, que agora também canta em português.
Não vou no Prata da Casa de hoje porque vou ao Rio acompanhar o Prêmio Multishow – mas com muita pena de não poder assistir ao show do Café Preto, projeto dub do grande Bruno Pedrosa e do Canibal dos Devotos do Ódio. Você já sabe o esquema do Prata, no Sesc Pompéia, né? A partir das 20h os ingressos, gratuitos, começam a ser distribuídos e o show começa pontualmente às 21h. Abaixo, o texto que escrevi sobre o Café Preto para o programa.
O que acontece quando um dos DJs mais promissores de Recife encontra-se com uma lenda do hardcore pernambucano? A banda Café Preto é fruto dos primeiros experimentos que o DJ e produtor Bruno Pedrosa começou a realizar no meio da década passada, quando se dedicou a levar a música de nomes da nova cena pop do Recife para o mundos dos remixes. Em 2006, lançou Transformer, disco que retrabalhava a obra de nomes familiares dos amantes da nova música pernambucana (Silvério Pessoa, Bonsucesso Samba Club, Eddie, Mombojó, Mundo Livre S/A, DJ Dolores, Erasto Vasconcellos). Foi quando encontrou Cannibal, vocalista e fundador do Devotos do Ódio, a principal banda de hardcore do estado e um dos principais nomes da cena punk brasileira desde os anos 90. Ele já vinha pensando em expandir seus horizontes para o lado da música jamaicana e em conversas com Bruno criou o Café Preto, dedicado inteiramente à vertente mais psicodélica da ilha de Bob Marley, o dub. O grupo ainda conta com a presença do produtor e músico Pi-R, que fazia parte da banda experimental eletrônica Chambaril, entre outros instrumentistas, e teve o primeiro disco mixado por Victor Rice, talvez o principal produtor do gênero no Brasil. O primeiro disco, já disponível para download no site da banda, conta com participações especiais e a capa assinada por Jorge du Peixe, da Nação Zumbi, e H.D. Mabuse, o “ministro da tecnologia do mangue beat”.
Hoje tem o Circo Motel, da ótima “Sunshine” acima, no Prata da Casa do Sesc Pompéia. O show começa às 21h e os ingressos começam a ser distribuídos uma hora antes. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto.
O Circo Motel, de São Paulo, é dessas bandas que sofrem com definições musicais. A audição descuidada pode rotulá-los como sendo representante do insosso gênero chamado “pop rock”. Mas basta dar atenção às músicas de seu primeiro disco, Sobre Coiotes e Pássaros, lançado no ano passado, para perceber que eles vão além da música pop grudenta ou do rock domesticado. Entre os acordes e as letras é possível perceber referências de música latina, dance music, psicodelia, blues, samba, soul e MPB – não é à toa que listam os Mutantes, os Rolling Stones, Jorge Ben e Tim Maia como seus faróis musicais. E são mais um dos nomes em ascensão da atual cena paulistana, que abriga tanto rockers de jaquetas de couro a emepebistas de brechó, experimentalistas cabeçudos e ratos de sebos de disco. E é nesta encruzilhada, quando a Augusta encontra o Bixiga, que o Circo Motel acende umas velas para dar sorte, iluminar o caminho, se aquecer e criar um clima.
O setembro do Prata da Casa começa com o primeiro lançamento do selo de Emicida, chamado Laboratório Fantasma, que é a banda Mão de Oito – que teve seu disco de estréia produzido pelo Ganjaman. O show começa às 21h e os ingressos – gratuitos – começam a ser distribuídos uma hora antes, no Sesc Pompéia. Abaixo, o texto que escrevi para o projeto.
Como quase todas as bandas, o Mão de Oito começou tocando músicas alheias e escolheu beber na fonte da música brasileira para dançar, caçando a essência de artistas tão diferentes quanto Roberto Carlos, Luiz Melodia e Chico Science. Mas aos poucos foram descobrindo seu próprio som e afinando suas influências em composições próprias que aos poucos os colocam no mesmo cânone dos artistas que eram inspirações iniciais. Os paulistanos foram curando seu próprio somo autoral e, misturando grooves mansos, letras apaixonadas e suingue maneiro, e aos poucos incluíam influências estrangeiras, que vão desde a black music que inspirou seus primeiros ícones até o bom e velho rock clássico, passando por outras referências de balanço, de Fela Kuti a Bob Marley. As coisas ficaram sérias mesmo quando foram escolhidos pelo rapper Emicida para ser o primeiro lançamento de seu próprio selo, o Laboratório Fantasma. Vim, o primeiro EP, já está disponível para download através da página da banda no Facebook e foi teve a produção regida pelo maestro Daniel Ganjaman, do Instituto, um dos nomes mais respeitados da nova música brasileira.
A Gang é a coisa mais legal que saiu de Belém desde que a capital paraense vive seus dias de “a nova Recife” (e isso já tem uns cinco, seis anos…). E o esquema do Prata você sabe qual é – o show é de graça, às 21h, no Sesc Pompéia e os ingressos começam a ser distribuídos uma hora antes. Esse é imperdível! Abaixo o texto que escrevi sobre a apresentação:
O hype ao redor da cena paraense aconteceu antes mesmo de ela estar pronta, por isso foi possível observar sua evolução numa espécie de reality show visto à distância. O tecnobrega vem sendo festejado desde o início da década passada, mas só há pouco tempo começou a produzir artistas que conseguem sair das fronteiras do estado. E se Gaby Amarantos hoje é autora de música de abertura de novela da Globo, o principal nome para se ficar de olho é a Gang do Eletro, um projeto que começou com dois dos principais nomes da cena do tecnobrega – o MC Marcos Madeirito e o DJ Waldo Squash. Juntos, redesenharam o velho tecno como um novo eletro – que tem menos a ver com o techno de Detroit ou o electro filho instrumental do hip hop e mais com designações típicas locais. O “eletro” do grupo remete mais ao sufixo de “eletrodoméstico” do que a um gênero musical, e juntos com os MCs Keyla Gentil e William, eles apontam para a música paraense do futuro, mesmo que com bases simples e letras diretas. “Treme!”, gritam ao comandar a massa.
E hoje no Prata da Casa tem o Afroeletro, que, apesar do nome, bebe mais na música nordestina do que no eletro em si – como descrevo no texto que escrevi sobre a banda para o projeto do Sesc. Para ir no show, às 21h, basta chegar no Sesc Pompéia com até uma hora de antecendência para retirar o ingresso (o show é de graça). Vamo aê?
O quinteto paulistano é mais um dos representantes da redescoberta da música africana que vem acontecendo no início desta nova década – e pode enganar a começar pelo próprio nome, já que o sufixo “electro” remete ao batidão pós-hip hop dos anos 80 que serviu de combustível para uma cena dance music – quase sempre com vocalistas geladas – na década passada. Mas em vez de uma incursão pelas sonoridades eletrônicas modernas, a viagem proposta pelo grupo liga o continente africano ao nordeste brasileiro, quando o groove de guitarras secas, baixo no contratempo e percussão polirrítmica se encontram com o tambor de crioula do Maranhão, pontos de candomblé, cantos de capoeira, versos de cavalo-marinho do Pernambuco e até rimas de rap tipicamente paulistano. Seu primeiro disco foi lançado no início do ano e reúne integrantes do Bixiga 70, a guitarra afromacarrônica do paulistano Kiko Dinucci e a presença do pernambucano Siba, num caldeirão de ritmos e melodias que ampliam ainda mais a presença da música africana no Brasil do século 21.
E o hoje o Prata da Casa recebe O Terno, que está lançando seu primeiro disco, batizado 66, neste começo de semestre. Sabe como funciona o Prata, né? Chega lá pelas 20h que é quando os ingressos (gratuitos) começam a ser distribuídos – e o show rola pontualmente às 21h. Vamo lá? Abaixo o texto que escrevi sobre o trio pro programa do projeto:
O jovem trio paulistano é um dos muitos grupos da cidade que estabeleceram suas raízes nos mesmos anos 60 que viram os Beatles e a invasão britânica nos EUA, a Motown e o nascimento da soul music, o tropicalismo e a jovem guarda no Brasil. Esse território é fértil há muitas décadas e não só bandas de São Paulo vêm beber nessa fonte; o rock gaúcho, por exemplo, é outro clássico exemplo deste parentesco musical. N’O Terno, liderado pelo filho do Mulheres Negras Maurício Pereira, Tim Bernardes (Guilherme Peixe no baixo e Victor Chaves na bateria completam o grupo), essa referênca passa para a metalinguagem e a citação à década surge tanto em disco quanto em letra – vide o primeiro disco, batizado apenas de 66, que também é o nome da primeira faixa trabalhada pelo grupo, que brinca com a dicotomia entre a nostalgia e a modernidade em letras como “Me diz meu Deus o que é que eu vou cantar? Se até cantar sobre ‘me diz meu Deus o que é que eu vou cantar’ já foi cantado por alguém?”.
Quem encerra a programação do Prata da Casa de julho é a Maíra Freitas, pianista de primeira, que fica entre a música instrumental, o jazz, a bossa nova e o samba. O show começa às 21h, no Sesc Pompéia, e os ingressos começam a ser distribuídos uma hora antes. Abaixo, o texto que escrevi para o show dela.
O samba sempre esteve associado a instrumentos de corda (como violão ou cavaquinho) e percussão, mas o piano nunca foi um parente distante – afinal ele é, essencialmente um instrumento de cordas e de percussão e foi através dele – e do violão de João Gilberto – que o gênero transmutou-se na bossa nova. Maíra Freitas, pianista de formação clássica, lembra desta conexão ao dividir o holofote entre seu instrumento e sua bela voz, que apesar de nos remeter para as praias cariocas dos anos 60, também nos envia tanto para o samba de roda quanto para os antigos sambas-enredos, influências que vieram do berço, uma vez que seu pai, Martinho da Vila, revolucionou ambas searas. Sua abordagem, no entanto, é quase de câmara, como pede sua formação original. Mas isso não deixa o calor do gênero de fora, nem o suíngue macio que escorre entre seus dedos, pelas canções.