Vida Fodona #599: Eu avisei

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Já já volta o sol.

Douglas Germano – “Babaca”
PJ Harvey + John Parish – “Dance Hall at Louse Point”
Haim – “Summer Girl”
Police – “Can’t Stand Losing You”
Guaxe – “Desafio do Guaxe”
Sexy Fi – “Looking Asa Sul, Feeling Asa Norte”
De Leve – “Largado”
Glue Trip – “Lucid Dream”
Angel Olsen – “All Mirrors”
SZA + Tame Impala – “Together”
Mombojó – “Adelaide”
O Terno – “Pegando Leve”
Ava Rocha – “Doce é o Amor”
Metá Metá – “Angolana”
Spoon – “Shotgun”
Billie Eilish – “All the Good Girls Go to Hell”

Os melhores shows internacionais de 2017

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Fui convidado pelo Guia da Folha para escolher quais foram os grandes shows gringos em São Paulo neste ano – só pude escolher as apresentações que aconteceram na cidade, por isso alguns dos meus shows favoritos de 2017 (Aphex Twin e John Cale na Inglaterra, The Who, Nile Rodgers e Grandmaster Flash no Rock in Rio) não entraram na lista. Os três shows – e o pior “show” do ano – que escolhi foram os seguintes:

PJ Harvey, no Teatro Bradesco
“Finalmente o indie rock recebe tratamento de gala.”

Kamasi Washington, no Sesc Pompeia
“Um vulcão free jazz – com os pés no hip hop.”

Acid Mothers Temple, no Sesc Belenzinho
“Vórtice de psicodelia garageira rumo a outra dimensão”.

O pior do ano:
O preço ridiculamente alto de quase todos os shows internacionais e a inacreditável taxa de (in)conveniência, uma forma bem direta de chamar o público de trouxa.

Mais detalhes neste link.

Vida Fodona #561: Até Agora Tudo Certo

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Continuando o combinado.

Led Zeppelin – “In the Light”
Evinha – “Esperar Pra Ver”
Bárbara Eugenia – “Vou Ficar Maluca”
Pere Ubu – “Modern Dance”
Mr. Twin Sister – “In the House of Yes”
Durutti Column – “Jacqueline”
Rodrigo Ogi – “Nuvens”
Rimas + Melodias – “Origens”
Coruja BC1 – “Modo Foda-Se”
Racionais MCs – “Você Me Deve”
Curumin – “Boca de Groselha”
Letrux – “Coisa Banho de Mar”
Courtney Barnett + Kurt Vile – “Over Everything”
Far from Alaska – “Cobra”
PJ Harvey – “The Community Of Hope”
PJ Harvey – “The Ministry Of Defence”
PJ Harvey – “The Words That Maketh Murder”
PJ Harvey – “Down by the Water”
PJ Harvey – “50 ft Queenie”

Ave PJ Harvey

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A deusa inglesa faz um show impecável e pode mudar o paradigma dos shows de rock no Brasil – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.

Antes mesmo do show extra que a cantora e compositora inglesa PJ Harvey fez nessa terça-feira em São Paulo começar, os presentes sabiam que estavam prestes a testemunhar algo histórico. Não apenas o show em si, segunda vinda de uma das principais artistas contemporâneas ao Brasil, mas o contexto em que ele se encaixava, tirando o nome mais importante do meio de um festival com várias outras bandas (o Popload Festival, que acontece nesta quarta) e pondo-a em um palco mais que adequado, perfeito, para uma apresentação daquele porte. O público era veterano – numa faixa etária entre os trinta e os cinquenta – e claramente todos passaram parte considerável de suas vidas escutando som alto e indo para shows e festivais insalubres para ver seus artistas preferidos ao vivo. É uma mentalidade que tem mudado, mas fãs de rock no Brasil ainda são vistos como adolescentes que topam qualquer roubada para encarar shows que realmente querem assistir – desde pagar ingressos com valores descolados da realidade brasileira a se submeter a condições precárias e mal-ajambradas apenas para satisfazer objetivos de cunho emocional.

A situação anterior àquele show era inversa: grande parte do público sequer havia pago para assistir ao espetáculo, que em vez de cobrar dinheiro, preferiu pedir para os fãs trocarem seus ingressos por trabalhos de assistência social. Um modelo de negócios radical, uma vez que dentro do recinto não era possível ver nenhuma marca patrocinadora. E o show aconteceu num teatro que, afora uma precisa consideração de um mago moderno (“teatro de shopping é gaveta“) atendia necessidades que o público brasileiro de rock nem sabia que tinha.

A sensação era de estar num evento de gala, mesmo que o público usasse, em sua maioria, jeans, tênis e camiseta (de banda). A atmosfera poderia ser vista como sisuda ou convencional demais para um show desta natureza, mas era apenas uma sensação que vinha de décadas assistindo a shows de rock no Brasil que não levavam o público em consideração. No teatro, com lugares marcados, visibilidade perfeita, som intacto, estávamos prontos para assistir não apenas a um show de rock de uma artista importante, mas um espetáculo transcendental de uma das maiores artistas da virada do século.

Baseado em seus dois discos mais recentes (Let England Shake de 2011 e The Hope Six Demolition Project de 2015, de fortes tons políticos), o show começou com um leve atraso de quinze minutos e trouxe todos os nove músicos que a acompanham em suas apresentações no exterior: Alain Johannes, Alessandro Stefana, Enrico Gabrielli, James Johnston, Jean-Marc Butty, Kenrick Rowe, Terry Edwards, Mick Harvey e John Parish subiram ao palco enfileirados como uma banda marcial, mantendo o clima solene e cívico que embala os discos mais recentes de Polly Jean. Revezando-se entre vários instrumentos, a banda se moldava em diferentes formações, que poderiam ter quatro guitarras, três saxofones (inclusive um tocado pela cantora) ou três teclados simultâneos, uma bateria desconstruída que por vezes retomava o aspecto de banda militar (acompanhada de acordeão, flautas e violino), vocais de apoio de timbre grave que mantinham o tom patriótico da noite – o de uma pátria sem nação, sem fronteiras, cuja abordagem política era essencialmente humanista.

Todo esse altar hierático perdia seu sentido protocolar assim que PJ fazia o ar vibrar com sua voz. Sua presença magnética recolhia-se aos momentos em que se calava – ela mesma indo para trás dos músicos por diversas vezes para fazer-se coadjuvante nos trechos instrumentais -, mas bastava ela se aproximar do microfone que a tensão política se dissipava para ganhar contornos ainda mais grandiosos e a solenidade tornava-se ritual, cerimonial.

PJ Harvey não é uma diva, nem uma musa. Ela não é uma mulher num pedestal esperando ser admirada, apenas uma inspiração por sua presença irresistível. Ela é um agente de transformação, uma maestra de sentimentos que canaliza o inconsciente coletivo em suas canções. Ela também não é uma sacerdotisa num ritual pagão que converge diferentes sensações (o sagrado feminino, a majestade da canção, a tradição bretã, as dores do mundo, a resistência, o blues). Todos os nove homens que a cercam se apequenam à sua voz e a força feminina surge arrebatadora de suas cordas vocais e da forma como se movimenta no palco.

PJ Harvey é uma deusa. Toda de preto, ela encarna nossos anseios e ilusões, nossas esperanças e vontades, nossa força e inspiração em palavras cuspidas, gestos de exaltação, cantos hipnóticos, mantras celestiais, dancinhas sedutoras, letras que acertam o fígado, olhares que atravessam o público. É como se ela pudesse olhar nos olhos de todas as pessoas naquele teatro, acertar o fundo de suas almas com questões que nos esquivamos de responder. O público, completamente embevecido por sua presença catártica, assistia pasmo a um repertório concedeu poucos momentos à nostalgia (quatro músicas do século passado – “50 ft Queenie”, “The River”, “Down By the Water” e “To Bring You My Love”, todas ao final do show – e três da década passada – “Shame”, “White Chalk” e “Dear Darkness”) e reforçava a mensagem de seus discos mais recentes: que o importante é o humano, não o institucional. Que o que sobra é a civilização, não são marcas nem o dinheiro. Que deveríamos viver a cultura e a arte, sublimes, não a política e a economia, rasteiras.

Deusa de seu próprio ritual, ela se dirigiu verbalmente poucas vezes ao público (dois “obrigada” e um “minha banda” em português antes de apresentar o público), mas nem precisava falar. Sua mensagem é ela mesma, sua oração é sua presença e estávamos todos boquiabertos concordando, “amém”. E certamente parte da magia deste ritual veio das condições perfeitas de temperatura e pressão que foram apresentadas neste show que, acredito, começa a mudar o paradigma dos shows de rock no Brasil. O melhor show do ano (da década?) até aqui.

PJ Harvey 2017: “But no angel came…”

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Depois do par de canções (“A Dog Called Money” e “I’ll Be Waiting”) que lançou para reforçar sua turnê pelos Estados Unidos, PJ Harvey segue lançando novas músicas como uma extensão natural de seu The Hope Six Demolition Project, lançado no ano passado. Cada vez mais preocupada com as questões políticas globais, ela vem aos poucos transformando seus discos em uma versão musicada de um jornalismo cada vez mais ausente, jogando luz sobre temas que não são tão discutidos quanto deveriam. É o caso do recém-lançado single “The Camp”, feito em parceria com o músico egípcio Ramy Essam e o colaborador de longa data John Parish sobre a crise dos refugiados no oriente médio, especificamente no Líbano. O clipe é composto por imagens feitas pelo fotógrafo inglês Giles Duley e não tem meios termos em relação ao tema abordado.

E não custa lembrar que o Lucio acaba de confirmar a presença de PJ Harvey em seu Popload Festival, dia 15 de novembro (com Phoenix, Daughter, Neon Indian e Carne Doce).

Vida Fodona #557: Muita música de 2017

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Demorou, mas eis o primeiro VF de maio…

Beto Cajueiro – “Sistema da Vida”
Boogarins + John Schmersal – “A Pattern Repeated On”
War on Drugs – “Thinking of a Place”
Haim – “Right Now”
Fleet Foxes – “Fool’s Errand”
Ney Matogrosso + Nação Zumbi – “Amor”
Black Lips + Yoko Ono – “Occidental Front”
Angel Olsen – “Who’s Sorry Now”
Whitney – “You’ve Got A Woman”
Tiê – “Mexeu Comigo”
Amber Coffman – “No Coffee”
Lana Del Rey + Weeknd – “Lust for Life”
Johnny Jewell – “Stardust”
LCD Soundsystem – “American Dream”
PJ Harvey – “A Dog Called Money”
Curumin – “Boca de Groselha”
Rincon Sapiência – “Ponta de Lança (Verso Livre)”
BaianaSystem + Yzalú – “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”

PJ Harvey 2017: “Everything is staged, that’s how it is”

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Em meio à turnê norte-americana de seu disco do ano passado, PJ Harvey lança um single com duas músicas que sobraram das sessões do ótimo The Hope Six Demolition Project, “A Dog Called Money” e “”, ambas carregadas com o mesmo sentimento político pesado e melancólico, embora cada uma delas corra para um caminho diferente – a primeira é mais impositiva, a segunda mais bucólica:

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As 75 Melhores Músicas de 2016 – 21) PJ Harvey – “The Wheel”

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“Hey little children don’t disappear”

Os 75 Melhores Discos de 2016 – 28) PJ Harvey – The Hope Six Demolition Project

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A jornada da sacerdotisa.

Vida Fodona #542: Trazer o sol

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Concentração.