O projeto mais ambicioso de Francis Ford Coppola existe e começa sua história pública nesta edição do festival de Cannes. Megalópolis é um daqueles clássicos malditos projetos cinematográficos que andava mais no campo das ideias do que mundo real, que por diferentes motivos nunca parecia realizar-se. Idealizado desde que o diretor norte-americano encerrou sua fase de ouro no final dos anos 70, quando terminou Apocalypse Now, seu épico sobre o fim do império norte-americano à luz da queda do império romano parecia ser um destes inúmeros filmes que entram para a história do cinema sem nunca terem realmente acontecido, como o Napoleão de Kubrick, O Idiota do Tarkovsky, o Leningrado de Sergio Leone, o Montanhas da Loucura do Del Toro, o Kaleidoscope de Hitchcock, o Em Busca do Tempo Perdido do Visconti, o Gershwin do Scorsese, o Batman: Ano 1 do Aronofsky, o Gênesis do Bresson, o Super-Homem do Tim Burton, o Duna do Jodorowsky, a Liga do Justiça do George Miller, Kill Bill 3 ou a biografia do Howard Hughes que o Nolan ia dirigir com o Jim Carrey. Só a simples materialização de um filme considerado literalmente lendário já é digno de palmas – e se seu realizador é ninguém menos que Coppola, as palmas deveriam se estender por horas. Aos 85 anos, o lendário diretor que redefiniu o cinema norte-americano ganha uma aposta que todos achavam que ele já havia perdido, mesmo que perca dinheiro com o filme – e o fato de ter colocado centenas de milhões de dólares do seu próprio bolso na execução da obra também é outro fato digno de nota. Leve em conta que ele fez isso numa idade que todos acham melhor parar de trabalhar, mostrando seu compromisso com a arte e com a própria obra. Mesmo que o filme seja uma bomba, ele já é motivo para comemorarmos: lendas podem acontecer mesmo quando prometidas há muito tempo. Aí você dá uma olhada nas cenas e no texto do trailer que ele lançou e…
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A vida de excessos do genial Paulo César Pereio chegou ao fim na tarde deste domingo, quando esse ícone do cinema brasileiro cedeu à complicações hepáticas que lhe levaram às pressas para o hospital neste fim de semana. Morando desde o início da pandemia no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro, entidade gerida pelo amigo Stepan Nercessian, ele andava mais recluso e bem distante da imagem pública de boêmio incansável que o eternizou. “Construo este mito para ser pouco incomodado”, ele contou ao jornalista Geneton Moraes Neto em entrevista em 2010. É uma espécie de self-art. Pereio, na terceira pessoa, é obra minha. Posso ser considerado no Brasil uma celebridade. As pessoas me reconhecem na rua. Mas posso me dar ao direito de sair sozinho por aí, subir morro, andar na banda podre e na baixa sociedade, tranquilamente. Sei como não ser vítima disso. Conheço atores brasileiros que têm de fingir que são outra pessoa para sair na rua”.
Nascido em Porto Alegre, ele mudou-se para o Rio nos anos 50, onde participou de algumas montagens de teatro moderno (como Esperando Godot em 1958 e a clássica versão de Zé Celso Martinez Corrêa para a Roda Viva de Chico Buarque em 1968) e logo foi puxado para o cinema. Estreou em 1964 no filme Os Fuzis de Ruy Guerra e fez uma participação breve Terra em Transe de Glauber Rocha, em 1967. A partir dessa época e pelos anos 70, tornou-se uma constante em filmes brasileiros, atuando em produções como Os Marginais, O Homem Que Comprou o Mundo, A Lira do Delírio, Chuvas de Verão, Os Inconfidentes, Bang Bang, A Dama do Lotação, Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia, Rio Babilônia e Toda Nudez Será Castigada, entre dezenas de outros – foram quase 60 filmes.
Misto de Humprey Bogart com Jean Paul Belmondo, Pereio fazia personagens que se confundiam com sua persona pública, um galã da pesada, sensível e truculento, que criava problemas e despertava paixões por onde passava. Trabalhou com os maiores nomes de nosso cinema (Cacá Diegues, Andrea Tonacci, Hector Babenco, Neville de Almeida, Joaquim Pedro de Andrade e Arnaldo Jabor), além de circular tanto pela turma do Cinema Novo quanto da pornochanchada com a mesma desenvoltura. Também fez carreira na publicidade (com sua voz grave tornando-se sinônimo de algumas marcas) e na TV, quando trabalhou em produções da Globo como Gabriela, Roque Santeiro, Anos Dourados, A Viagem, Presença de Anita e Carga Pesada. Foi amigo pessoal de Nelson Rodrigues e dirigiu sua penúltima peça (O Anti-Nelson Rodrigues, 1974), além de ter sido o foco do documentário Peréio, Eu Te Odeio, dirigido por Allan Sieber e Tasso Dourado em 2013. Viveu como quis, morreu como pode. Um bastião da nossa cultura e também o retrato de uma época.
Não sou propriamente fã do saudoso Pereio, mas é inevitável reconhecer seu talento. Sua atuação intensa e indomável transforma qualquer cena em que ele atue num épico dramático de proporções simultaneamente caricatas e gigantescas – esteja em um filme clássico brasileiro ou batendo boca em um boteco qualquer. E em nenhum filme ele está tão bem quanto no clássico Bang Bang, que Andrea Tonnaci dirigiu em 1971, que figura entre os melhores filmes brasileiros na minha opinião. Só a cena de abertura, um clássico em si mesma, em que ele discute com um taxista de forma completamente improvisada, já vale o filme inteiro e funciona como uma analogia do que Tonnaci – e o próprio Pereio – estava fazendo no cinema (a anarquia completa do personagem principal) em relação à formalidade da linguagem no Brasil (o monte de explicações dadas pelo coadjuvante para não conseguir fazer o que está sendo pedido). Um momento único da sétima arte, puro delírio. Obrigado, Pereio.
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A Netflix acaba de anunciar a sexta temporada de Black Mirror, série que funciona como um termômetro sobre nosso nível de paranoia sobre o mundo em que habitamos no início do século digital. O anúncio, no entanto, joga os próximos seis episódios para um futuro ainda distante, 2025, e a única referência antecipada é que um dos capítulos será a continuação do episódio USS Callister, em que o programador Robert Daly (vivido por Jesse Plemons) inventa uma realidade fictícia em que o escritório em que trabalha é uma nave espacial e que ele é o Capitão Kirk de sua própria Jornada nas Estrelas. Vai vendo o teaser abaixo… Continue
O Oscar é um jogo de cartas marcadas, a voz da indústria e é bem provável que seus filmes e cineastas favoritos nunca foram agraciados com a estatueta, mas a premiação tem seus momentos, como este discurso do inglês Jonathan Glazer, autor do excelente Zona de Interesse, que ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro. Pra mim é o melhor filme da temporada e não apenas por mostrar a Segunda Guerra Mundial de um ponto de vista apenas sonoramente explícito ou por sua visão de vídeo-arte para um assunto tão delicado, mas mais especificamente por usar o Holocausto para metáfora para outros tempos, inclusive agora. E isso não diz respeito apenas ao genocídio em Gaza ou à ascensão do neonazismo, como o diretor fez questão de frisar em seu discurso, mas sobre todos nós que vivemos no conforto de nossos lares, vizinhos de torturas, tragédias, massacres e todo tipo de violência, fingindo que não perguntamos se aquele escapamento que estourou na rua não pode ser um tiro – esteja você em qualquer lugar do planeta. Se há um filme para ser visto atualmente, este é Zona de Interesse.
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Prometido há mais de vinte anos, finalmente sai em outubro deste ano (e já em pré-venda) o tão aguardado The Moon and Serpent Bumper Book of Magic ou, como bem traduziu o compadre Érico Assis, com toda propriedade, “Almanacão de Férias Mágicas da Lua e da Serpente”. Bumper book é o nome em inglês para livros enormes de passatempos feitos para crianças passarem as férias e sua versão brasileira foi trazida para o Brasil por Maurício de Souza em seus Almanacões de Férias da turma da Mônica, nos idos do século passado. A diferença é que este calhamaço tem a grife do mestre dos magos Alan Moore, que vinha trabalhando com seu mentor Steve Moore (que lhe abriu as portas dos quadrinhos para o pupilo ainda nos anos 70, quando Alan começou a assinar uma tira no semanário Sounds), desde o início do século a partir dos experimentos com magia que vinha fazendo em performances ao vivo ao lado de seu The Moon and Serpent Grand Egyptian Theatre of Marvels. Steve faleceu em 2014, mas Alan seguiu o trabalho ao lado de cinco de seus artistas favoritos, Kevin O’Neill, John Coulthart, Steve Parkhouse, Rick Veitch e Ben Wickey, concebendo um manual ilustrado de magia em capa dura e com mais de 350 páginas que traz encantamentos, guias de viagem para dimensões alienígenas, uma dissertação sobre o tema (“Adventures in thinking”), biografias de 50 magos históricos desde a última era glacial e “o significado definitivo da lua e da serpente que torna transparente os sempre obscuros segredos da magia, da felicidade, do sexo, da criatividade e do Universo conhecido ao mesmo tempo em que explica por que estes símbolos lunares e ofídios aparecem com tanta proeminência no peculiar nome desta ordem”, que data de 150 anos antes de Cristo. Ou seja, pura diversão!
Ao apresentar seu Favelost neste sábado no Sesc Avenida Paulista, Fausto Fawcett reuniu uma banda que deu um sabor ao mesmo tempo novo e retrô ao seu poema épico e decadente sobre a megalópole do terceiro mundo. Ao lado do casal Leela (Bianca Jhordão e Rodrigo Brandão, ambos empunhando guitarras, Bianca às vezes arriscava-se no theremin), ele substituiu a cozinha de uma banda de rock pelos sintetizadores de Paulo Beto, soando simultaneamente dance e rock e deixando sua verborragia apocalíptica, ir rumo à psicodelia dançante da Manchester do final dos anos 80, a famigerada Madchester, mas com o tempero sensual, decadente e brasileiro característico de sua poética. Misturando samples de Rolling Stones, Led Zeppelin, Bee Gees e “Please Don’t Let Me Be Misunderstood” no meio de pérolas de seu repertório como “Facada Leite Moça”, “Santa Clara Poltergeist”, “Drops de Istambul” e “Caligula Freejack”, ele ainda recebeu a presença de Edgard Scandurra e Fernanda D’Umbra, com quem tocou “De Quando Lamentávamos o Disco Arranhado” da banda desta última, o Fábrica de Animais. O espetáculo ainda teve os visuais do diretor Jodele Larcher e a reverência ao hit imortal “Kátia Flávia”, revisitado com direito a parte dois, quando a protagonista sai do submundo cão para assumir o “supermundo cão” fazendo OnlyFans para agentes de inteligência e do crime organizado em troca de segredos de estado. E, de repente, em 2024, as hipérboles de Fausto não parecem tão exageradas quanto eram no século passado. Showzaço.
#faustofawcett #sescavenidapaulista #trabalhosujo2024shows 20
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Mais uma música – e um clipe – do próximo disco de Kim Gordon, The Collective, que sai no começo do mês que vem (e já está em pré-venda). Como a primeira faixa (“Bye Bye“), esta “I’m a Man” mantém o clima de trap com beats insistentes, timbres distorcidos e vocal falado na sua cara e também tem um clipe estrelado pela filha de Kim, Coco Gordon Moore. Assista abaixo: Continue
Lembra que semana passada eu falei que o The Smile, projeto paralelo de Thom Yorke e Jonny Greenwood, ia promover sessões de cinema pelo mundo para divulgar seu próximo disco, Wall of Eyes, e que eles não haviam incluído o Brasil na lista? Pois esse problema foi resolvido pelo Cineclube Cortina, que conseguiu colocar São Paulo na lista de exibições do grupo, na mesma segunda-feira 22 de janeiro em que o filme passará em Paris e em Tóquio. A sessão inclui clipes do Smile e do Radiohead dirigidos por Paul Thomas Anderson, além da possibilidade de ouvir o disco, que sai só no dia 26, quatro dias antes do lançamento. Além do disco e da sessão audiovisual (que também inclui imagens do trio em estúdio, também filmadas pelo PTA), ainda haverá merchandising inédito do grupo à venda, desde camisetas, cassetes e até um fanzine. Ainda não há informações sobre venda de ingressos, mas a sessão já está no site oficial do Smile e deve ser por lá que o link pra comprar os ingressos antecipadamente deve surgir.
Acabou de sair, de surpresa: um teaser perfeito para segunda temporada de uma das melhores séries no ar atualmente que nem anuncia a tão esperada data de estreia, mas cutuca uma de suas questões centrais, que também funciona como uma boa provocação para começarmos o ano novo (e assistir à primeira temporada de Severance a tempo): você sabe o que faz?
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O Rodrigo Ortega me chamou e eu falei sobre o tempo que convivi com o PC Siqueira pro Estadão.
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