Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

“You shone like the sun…”

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Escrevi lá no meu blog no UOL sobre a influência de Syd Barrett, que completaria 70 anos hoje, na música e na cultura atual, que pode ser sentida até hoje.

O último carnaval de Thiago França

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O incansável Thiago França queimou a largada e deu a partida no carnaval 2016 ao lançar no primeiro dia do ano o primeiro disco de marchinhas de sua inacreditável Espetacular Charanga do França. O saxofonista assumiu o papel de puxador de bloco de rua e chamou uma turma da pesada para se juntar ao seu coro, incluindo nomes como Rodrigo Campos, Tulipa Ruiz, Clima, Luiz Chagas, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Juliana Perdigão, Douglas Germano, Tika, entre outros. As composições têm títulos como “Marchinha do Pitbull (homo pitbullicus)”, “Gourmetizada”, “Cara do Apetite” e “Ferro na Boneca” e trazem o astral das velhas marchinhas para o século vinte e um: “Eu sou compositor, preciso dar o meu parecer sobre a coisa, senão não faz sentido pra mim”, ele me explica. “O repertório clássico é maravilhoso, realmente é, mas também porque dialoga com a nossa memória. A gente cresceu cantando, mas muitos assuntos precisam ser revistos, atualizados. Não quero ficar o resto da vida cantando “se a cor não pega, mulata quero seu amor”, por mais que seja um sucesso, que cumpra a sua função de fazer o povo cantar, é ofensivo. Aqui em SP estamos inventando nosso carnaval, tá tudo no começo. Os blocos mais tradicionais têm 10 anos, é muito pouco! Por que não criar do nosso jeito, como a gente acredita?”

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A preocupação política com o carnaval vem estampada no título do disco, colocado para download no site do músico, que chama-se O Último Carnaval de Nossas Vidas: “Tem dois sentidos: um, no sentido de brincar o carnaval como se não houvesse amanhã, se entregar, se permitir sem julgar, experimentar, se jogar mesmo; todo carnaval tem potencial pra ser histórico. O outro, é que, em se tratando de São Paulo, com essa onda conservadora que vem por aí, o nosso direito de fazer a festa tá sempre ameaçado. se a gente não fizer direito e não cuidar do que é nosso pode ser que seja mesmo o último carnaval de nossas vidas.” A seguir o resto da entrevista que fiz com Thiago:

Conta a história da ideia da Charanga até a realização dela no carnaval do ano passado.
Em 2013, quando a banda surgiu, já fazia uns anos que havia me distanciado de tocar samba no dia a dia, e a vontade era retomar esse repertório, fazer um furdúncio no pré-carnaval. Mas a sonoridade do sopro com a percussão, sem instrumentos harmônicos, me impactou tanto que imediatamente eu comecei a compor pra essa formação, e entendi que seria mais um projeto constante. Mesmo tendo o Pimpa tocando bateria, eu falo “percussão”, porque ele é um grande percussionista, essa linguagem tá impregnada no jeito dele de tocar, é por isso.
Imediatamente, todo mundo começou a pedir um bloco da Charanga. A princípio fui reticente, não imaginava que pudesse rolar tão bem quanto rolou. Queria que fosse tudo acústico, no chão, sem carro, sem equipamento, e não imaginava que teria quorum. Daí numa brincadeira com um grandessíssimo fundo de verdade, no finalzinho de 2014, fiz uma convocação via Facebook pro bloco, e a resposta foi imediata e muito positiva, tanto de músicos afim de tocar quando de gente querendo ajudar a coisa a acontecer. Foi lindo, desfilamos com a rua lotada, quase 2.500 pessoas, com uns 20 sopros e mais uns 30 percussionistas. Cumprimos nosso trajeto debaixo de um dilúvio bíblico e ali, debaixo daquela água toda, o Espetacular Bloco da Charanga virou pra mim um compromisso definitivo.

O que dá pra esperar da saída da Charanga esse ano?
Cara, não sei. Ano passado eu imaginei umas 400 pessoas, deu 2.500. Esse ano, o pessoal tá dizendo que vai ter mais gente. Só vamos saber depois que passar… Mas a idéia é a mesma. não tem patrocínio de cerveja de milho transgênico, não tem carro de som, é a gente no chão, todo mundo junto e misturado. Mas esse ano vai ter corda pra proteger a banda, pra evitar contar demais com a sorte como foi o ano passado.

O carnaval em SP tá melhorando?
Sim. Em comparação com os outros carnavais que conheço, Rio, Salvador e Recife, aqui o pessoal ainda é mais contido, se fantasia pouco. A retomada, aqui, passa muito por um lance político, de ocupar espaços públicos, da demanda por cultura, por eventos gratuitos ao ar livre, pra gente poder sair de casa, tirar o limo do apartamento. Esse lado a gente já aprendeu, mas agora precisa desenvolver mais o lado musical, artístico: compor, se fantasiar, começar um movimento cultural. Ainda tem muito pouco músico/artista envolvido nessa parte de criação, e é um terreno vasto, frutífero, muita coisa boa pode surgir disso.

E a Space Charanga, toca no carnaval?
Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que a gente faça o SpaceFreeBloco no sábado, tocando coisas absurdas, pode ser que não. A Space é um mistério…

E o que mais você tem feito com previsão de lançar esse ano?
Depois do carnaval a gente lança a continuação do disco da Charanga, outro compacto com 4 músicas, como foi o primeiro, com repertório não-carnavalesco. Tem o disco do meu duo de sax barítono e bateria com o Sergio Machado. Deve rolar também pro meio do ano o terceiro do Metá Metá. Pro primeiro semestre é isso, mas ainda tem 2015 rendendo assunto, foram 4, entre eles o Coisas Invisíveis, que assinei como Sambanzo, você viu? E um projeto de rap com o Síntese. Mas certamente a gente vai inventar mais coisa.

Tudo Tanto #015: O salto de Mariana Aydar

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Escrevi sobre o impressionante Pedaço Duma Asa, o disco mais ousado de Mariana Aydar, na última edição do ano da minha coluna da revista Caros Amigos.

Sem rede de segurança
Mariana Aydar arrisca-se como nunca em seu disco Pedaço Duma Asa e o resultado surpreende

Não espere a Mariana Aydar sorridente e solar. Mesmo que seu novo disco – Pedaço Duma Asa – comece com as palavras “Mamãe, papai”, elas soam mais como desafio e desprendimento do que colo e porto seguro. Sua voz soa implacável e imponente, mas sem deixar de expor fragilidades e sutilezas própria do universo que se propôs a retratar.

Pedaço Duma Asa é o mergulho que Mariana deu na obra de Nuno Ramos, artista plástico que cada vez mais vem se firmando como um dos principais compositores da nova música paulistana. Quase sempre em parceria com seu dupla Clima, a obra de Nuno começou a ser investigada por Rômulo Fróes e pouco a pouco conquistou diferentes compositores e intérpretes que estão reinventando a música brasileira. Mariana foi uma das pioneiras.

“Gravo o Nuno desde o segundo disco, gravei duas no meu segundo disco e uma no terceiro”, ela me conta. “Mas eu deixei, por exemplo, passar ‘Barulho Feio’ – eles me mandaram pra gravar no terceiro disco e eu não gravei. Deixei passar e fiquei super arrependida”, comenta sobre a música que acabou batizando o disco de Rômulo de 2014.

A imersão aconteceu por convite de uma série de eventos realizados pelo Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro, chamado Palavras Cruzadas, em que o diretor Marcio Debellian convida artistas de diferentes mídias para se encontrar no palco através do texto. Ao ser convidada, Mariana nem piscou e pensou imediatamente em Nuno: “São canções que já estavam muito comigo.”

E ao entrar em um universo formado por nuvens na cara, dores cegas, cães, olhos gordos, aves pretas, defeitos, bumbos furados, serpentes, ciscos no olho, sambas tristes, solidão, agogôs quebrados, mortalhas e jardins de sal ela não poderia entrar solar como nos seus primeiros disco. E a armadura para atravessar este cenário ríspido foi criada com dois velhos cúmplices: o marido Duani e o amigo Guilherme Held.

Juntos, eles criaram uma sonoridade crua e distante, mas ao mesmo tempo intensa e emotiva, usando poucos pilares: a percussão de Duani, que se entrelaça com linhas de baixo sintetizado programadas pelo marido de Mariana,, a guitarra lisérgica de Gui Held – que ecoa simultaneamente a psicodelia inglesa e o pós-tropicalismo do início dos anos 70 – e a voz de Mariana, cada vez mais segura de si. “Eu vejo muito esse disco como um disco de samba, ele tem um DNA de samba”, explica.

“Acho que essa sonoridade sairia independente do que eu fizesse agora”, ela explica. “A gente vem a construindo, eu, o Duani e o Gui Held junto com o Letieres (Leite, maestro e arranjador baiano), desde o Cavaleiro Selvagem. Mas dá pra pra espremer mais coisa dela. Qualquer coisa que eu fosse fazer agora eu já teria essa formação: a guitarra e os três tambores.”

O casamento desta musicalidade com a temática de Nuno Ramos é precisa, ao mesmo tempo em que atemporal e despatriada. Embora faça questão de se definir como uma artista de música brasileira, Mariana não encontrar fronteiras territoriais em seu universo particular: “A gente brinca que esse caminho é afromântrico. Eu queria fazer uma coisa mais minimalista, bem simples, com poucos instrumentos. E vi que cabia ali. Quando eles (Nuno e Clima) me mandavam as músicas, eu já entendia elas desta forma. E quando eu mostrava para o Duani, ele puxava um batuque e em seguida o Gui vinha com a guitarra.”

É o disco mais ousado da carreira de Mariana e também seu grande salto no escuro – e a ousadia de trabalhar sem rede de segurança não diz respeito apenas à musicalidade. É também o primeiro disco independente dela, que até então havia lançado discos pela gravadora Universal.

“Mas eu sempre tive muita liberdade em grande gravadora, embora sempre tivesse aquela coisa de ‘a música pra rádio’, essas coisas…”, explica. “E nesse disco… Não cabia. Não podia nem fazer isso com a gravadora, porque eles sei que eles investem e esperam um retorno. E eu não vou fazer uma música desse disco pra tocar na rádio. E eu vejo esse disco como um projeto pessoal. A gravadora é uma parceria, e acho que ainda é uma força. Eu não descarto a possibilidade de trabalhar com uma gravadora, se for uma coisa legal pro meu trabalho e se eu tiver essa autonomia que eu sempre quis. E o bom é que se não tiver, a gente tem esse outro caminho, independente.”

O selo, mais uma parceria com o marido, chama-se Brisa, o mesmo nome da filha dos dois, que nasceu em 2013. Mas não foi lançado apenas para este projeto, nem para os próprios trabalhos dela: “Sempre tive vontade de lançar artistas que eu gosto”, conta, “Tem um cara que eu quero muito fazer o disco pra lançar pelo selo Brisa que é o Dió de Araújo, que tem um trio que chama Trio Xamego, que é super tradicional, de forró, e ele tem músicas maravilhosas. Tem uma música que se chama ‘Boto Azul’ que ele me mostrou num forró e eu fiquei, ‘gente, o que que é isso!’. Eu queria muito fazer um disco dele, mas ele tá relutando um pouco, ele quer fazer um disco de forró e eu tô falando pra ele que o disco só vai sair se não for de forró”.

Vamos esperar.

O desafio de J.J. Abrams

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Escrevi lá no meu blog no UOL como o maior mérito do diretor J.J. Abrams não foi originalidade – e sim fazer as pessoas voltarem a acreditar na saga Skywalker.

Para além das primeiras impressões do Episódio VII

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Escrevi lá no meu blog no UOL sobre as questões que O Despertar da Força levantou sobre velhos e novos personagens.

As 75 melhores músicas de 2015: 1) Siba – “Marcha Macia”

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“Acorda amigo…”

As 75 melhores músicas de 2015: 2) Drake – “Hotline Bling”

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“Do you used to call me on my cell phone…”

As 75 melhores músicas de 2015: 3) Unknown Mortal Orchestra – “Ur Life One Night”

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“Just for one night”

As 75 melhores músicas de 2015: 4) BaianaSystem – “PlaySom”

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“Já ouviu é dejavú”

As 75 melhores músicas de 2015: 5) Jamie Xx + Young Thug + Popcaan – “I Know There’s Gonna Be (Good Times)”

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“I wanna control you like voodoo”