Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Como foi o Baile de Carnaval Noites Trabalho Sujo 2016!

Tudo Tanto #016: Um 2015 espetacular

tudotanto2015

Na edição de janeiro da minha coluna na revista Caros Amigos, eu escrevi sobre o grande ano que foi 2015 para a música brasileira.

A consagração de 2015
O ano firmou toda uma safra de artistas que lançou discos que reverberarão pelos próximos anos

Alguma coisa aconteceu na música brasileira em 2015. Uma conjunção de fatores diferentes fez que vários artistas, cenas musicais, produtores e ouvintes se unissem para tornar públicos trabalhos de diferentes tempos de gestação que desembocaram coincidentemente neste mesmo período de doze meses e é fácil notar que esta produção terá um impacto duradouro pelos próximos anos. O melhor termômetro para estas transformações são os discos lançados durante este ano.

Os treze anos de espera do disco novo do Instituto, o terceiro disco pelo terceiro ano seguido do Bixiga 70, os seis anos de espera do disco novo do Cidadão Instigado, o disco que Emicida gravou na África, um disco que BNegão e seus Seletores de Frequência nem estavam pensando em fazer, o surgimento inesperado da carreira solo de Ava Rocha, o disco mais político de Siba, o espetacular segundo disco do grupo goiano Boogarins, os discos pop de Tulipa Ruiz e Barbara Eugênia, a década à espera do segundo disco solo de Black Alien, o majestoso disco primeiro disco de inéditas de Elza Soares, os quase seis anos de espera pelo disco novo do rapper Rodrigo Ogi, dos Supercordas e do grupo Letuce e um projeto paralelo de Mariana Aydar que tornou-se seu melhor disco. Mais que um ano de revelação de novos talentos (o que também aconteceu), 2015 marcou a consolidação de uma nova cara da música brasileira, bem típica desta década.

São álbuns lançados às dezenas, semanalmente, que deixam até o mais empenhado completista atordoado de tanta produção. É inevitável que entre as centenas de discos lançados no Brasil este ano haja uma enorme quantidade de material irrelevante, genérico, sem graça ou simplesmente ruim. Mas também impressiona a enorme quantidade de discos que são pelo menos bons – consigo citar quase uma centena sem me esforçar demais – e que foram feitos por artistas jovens, ainda buscando seu lugar no cenário, o que apenas é uma tradução desta que talvez seja a geração mais rica da música brasileira. A quantidade de produção – reflexo da qualidade das novas tecnologias tanto para gravação e divulgação dos trabalhos – não é mais meramente quantitativa. O salto de qualidade aos poucos vem acompanhando a curva de ascensão dos números de produção.

Outro diferencial desta nova geração é sua transversalidade. São músicos, compositores, intérpretes e produtores que atravessam diferentes gêneros, colaboram entre si, dialogam, trocam experiências. Não é apenas uma cena local, um encontro geográfico num bar, numa garagem, numa casa noturna, num apartamento. É uma troca constante de informações e ideias que, graças à internet, transforma os bastidores da vida de cada um em um imenso reality show divulgado pelas redes sociais, em clipes feitos para web, registros amadores de shows, MP3 inéditos, discussões e textões posts dos outros.

A lista de melhores discos que acompanha este texto não é, de forma alguma, uma lista definitiva, mesmo porque ela passa pelo meu recorte editorial, humano, que contempla uma série de fatores e dispensa outros. Qualquer outro observador da produção nacional pode criar uma lista de discos tão importantes e variada quanto estes 25 que separei no meu recorte. Dezenas de ótimos discos ficaram de fora, fora artistas que não chegaram a lançar discos de fato – e sim existem na internet apenas pelo registros dos outros de seus próprios trabalhos. E em qualquer recorte feito é inevitável perceber a teia de contatos e referências pessoais que todo artista cria hoje em dia. Poucos trabalham sozinhos ou num núcleo muito fechado. A maioria abre sua obra em movimento para parcerias, colaborações, participações especiais, duetos, jam sessions.

E não é uma panelinha. Não são poucos amigos que se conhecem faz tempo e podem se dar ao luxo de fazer isso por serem bem nascidos. É gente que vem de todos os extratos sociais e luta ferrenhamente para sobreviver fazendo apenas música. Gente que conhece cada vez mais gente que está do seu lado – e quer materializar essa aliança num palco, numa faixa, num mesmo momento. Esse é o diferencial desta geração: ela vai lá e faz.

Desligue o rádio e a TV para procurar o que há de melhor na música brasileira deste ano.

Ava Rocha – Ava Patrya Yndia Yracema
BNegão e os Seletores de Frequência – TransmutAção
Barbara Eugênia – Frou Frou
Bixiga 70 – III
Boogarins – Manual ou Guia Prático de Livre Dissolução de Sonhos
Cidadão Instigado – Fortaleza
Diogo Strauss – Spectrum
Elza Soares – Mulher do Fim do Mundo
Emicida – Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa
Guizado – O Vôo do Dragão
Ian Ramil – Derivacivilização
Instituto – Violar
Juçara Marçal & Cadu Tenório – Anganga
Juçara Marçal, Kiko Dinucci e Thomas Harres – Abismu
Karina Buhr – Selvática
Letuce – Estilhaça
Mariana Aydar – Pedaço Duma Asa
Negro Leo – Niños Heroes
Passo Torto e Ná Ozzeti – Thiago França
Rodrigo Campos – Conversas com Toshiro
Rodrigo Ogi – Rá!
Siba – De Baile Solto
Space Charanga – R.A.N.
Supercordas – A Terceira Terra
Tulipa Ruiz – Dancê

O Despertar da Força em versão Lego

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Linkei o trailer da nova versão do jogo Lego Star Wars, inspirada no Episódio VII de Guerra nas Estrelas lá no meu blog do UOL – e cheguei a conclusão que eu assistiria tranquilamente a um filme inteiro disso se fosse lançado no cinema.

Toda a maldade de Darth Vader

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Escrevi lá no meu blog no UOL sobre Rogue One, o primeiro filme da série Guerra nas Estrelas fora das trilogias, que trará uma versão ainda mais cruel do clássico vilão.

De volta à estaca zero

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Escrevi lá pro meu blog no UOL sobre o porquê de Arquivo X ter preferido descartar alienígenas em sua décima temporada.

Baile de Carnaval Noites Trabalho Sujo 2016!

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As experiências psíquico-sônico-físicas proporcionadas pelo centro de pesquisas Noites Trabalho Sujo mais uma vez entram no módulo anual de exercícios e testes realizados em condições extremas de satisfação e prazer. O estudo antropológico-medicinal conduzido no laboratório psicodélico Trackertower desta vez recebe seus participantes depois de uma exposição intensa à noventa e seis horas de energia orgônica extravasada na cara. Depois de quatro dias de descoordenação motora e alucinações etílicas, que testam os limites da extroversão em nossos convidados, atravessamos a última madrugada do carnaval paulistano deste ano movimentando sistemas circulatórios, neurônios, quadris e espasmos de enzimas de estímulo e animação. Os experimentos começam logo à entrada, quando os convidados são recepcionados pelo pós-doutorado em expansão cerebral química Ricardo Spencer, que acelerará partículas sonoras buscando referências em suas raízes soteropolitanas. No pavilhão azul, o grupo de pesquisadoras Awe Mariah, formado pela antropóloga social Heloísa Lupinacci, a controladora psíquica Mariana Gouveia, a coreógrafa mental Fernada Pappalardo e a exploradora rítmica Luise Federman, testa os limites da compreensão e do ritmo submetendo os presentes a doses maciças de registros musicais ativadores do inconsciente. A pós-graduanda em comportamento digital Ana Paula Freitas junta-se à apresentação do grupo de pesquisadoras num encontro inédito neste lado do Equador. No outro auditório, dois dos três fundadores do instituto de pesquisas culturais Veneno Soundsystem desmancham preconceitos e desconcertam estereótipos ligados às civilizações latino-americanas, africanas, caribenhas e do oriente médio. O pesquisador de continentes Peba Tropikal traz sua coleção de registros raros em acetato enquanto o escritor Ronaldo Evangelista demonstra improvisos musicais de décadas passadas. Os dois recebem o renomado correspondente Ramiro Zwetsch, do laboratório Radiola Urbana, que hoje atua na indústria artesanal fonográfica em seu enclave Patuá Discos, que substitui a ausência do doutor arranjador Maurício Fleury, atualmente em excursão pela Europa com o coletivo psíquico-rítmico Bixiga 70. E encerrando as atividades, o centro de pesquisa realizador do encontro, o trio de cientistas intergaláticos intraplanetário Noites Trabalho Sujo, extrai a energia restante dos participantes, convertendo o desgaste físico em combustível para outras tantas horas de excitação e êxtase. Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral também fazem questão de frisar a importância da fantasia nesta madrugada, para que o experimento possa atravessar camadas cerebrais ativadas também pelo questionamento visual. Como de praxe, a participação no evento requer obrigatoriamente o envio dos nomes de quem quiser se submeter a tais experiências pelo correio eletrônico noitestrabalhosujo@gmail.com.

Baile de Carnaval Noites Trabalho Sujo 2016!
Terça, 9 de fevereiro de 2016
No som: Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral (Noites Trabalho Sujo), Helo Lupinacci, Fe Pappalardo, Mari Gouveia e Lu Federman(Awe Mariah), Ana Freitas, Ricardo Spencer, Ramiro Zwetsch, Ronaldo Evangelista e Peba Tropikal (Veneno Soundsystem)
A partir das 23h45
Trackertower: R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
Entrada: R$ 30 só com nome na lista pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com (e chegue cedo – os 100 que chegarem primeiro na Trackers pagam R$ 20 pra entrar)

Holy Ghost à toda

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Sem lançar músicas novas desde 2013 (ano passado só empacotaram um monte de remixes na coletânea Work for Hire), a dupla nova-iorquina Holy Ghost, formada por Alex Frankel e Nick Millhiser, anuncia um curto EP de quatro faixas para o final de abril. E o fazem mostrando o clipe da irresistível faixa-título, “Crime Cutz”. Coisa fina.

Um bloco chamado Rita

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Estive no desfile do Ritaleena por Pinheiros no fim de semana passado e o alto astral era idêntico ao das músicas da musa inspiradora do bloco. A segunda apresentação do bloco acontece nessa sexta de noite, no Bailee Ritaleena, sem a magia de ser ao livre e de dia, mas igualmente folião (maiores informações aqui). Conversei com a Alessa Camarinha, uma das idealizadoras do bloco, sobre sua curta história, o carnaval de rua em São Paulo, a conexão direta do Ritaleena com a própria Rita Lee e o futuro da festa, a curto e longo prazo.

Conta a história do bloco.
Foi uma idéia minha e da Yumi Sakate de maneira bem espontânea. Fomos algumas vezes para o Rio pular carnaval com nossas amigas e adoramos as dinâmicas dos blocos de rua. Nos pegávamos perguntando porque esta prática não existia em São Paulo – existia sim, nós é que não sabíamos direito. Daí passamos a frequentar bastante o pré-carnaval de São Paulo, principalmente o bloco Nóis Trupica Mas Num Cai, que realiza concursos de marchinhas. Pensamos então em nos escrever com uma marchinha feminista, ficamos pensando em como homenagear as mulheres e também valorizar a cidade… E todos os pontos nos levaram a Rita Lee. A marchinha a gente nunca inscreveu, mas o bloco rolou.

Como foi o desfile do ano passado?
O ano passado foi uma loucura, nossa expectativa de público eram de 300 pessoas e apareceram 7 mil. Enfrentamos muitos desafios sobre como fazer a logística toda funcionar, foi um intenso aprendizado. Este ano já estavamos mais preparados para o crescimento, tivemos entre 10 e 12 mil pessoas no desfile de rua no dia 30 de janeiro.
Foram 40 músicas de todas as fases da Rita Lee adaptadas para ritmos carnavalescos como frevo, carimbó, marchinha, ciranda, e uns mais atuais como o funk carioca. Difícil foi pensar em como acomodar cada música para o arranjo não ficar forçado, foi um grande desafio. O percussionista Abuhl Jr. me ajudou bastante nestas transições. Este ano sentimos que conseguimos assentar e desenvolver com calma estas transições, porque o volume de material é muito grande. Ano passado terminamos o percurso e ainda tinha metade do show pra tocar. O show de rua do Ritaleena dura quatro horas, às vezes mais…
Os figurinos também são parte fundamental do bloco, todos os integrantes vão vestidos com temas das músicas dela, é um jeito de revisitar as personagens que ela criou, o Doce Vampiro, o Índio Pelado pintado de verde de “Baila Comigo”, a guerreira Bwana. É um pouco criar com a criatura e não com o criador. O bloco tenta dar vida a estas poéticas, mais sobre o que as músicas falam do que um relato biográfico documental da vida da Rita.

E como foi o crowdfunding do bloco para este ano?
Crowdfunding é uma tática de guerrilha. Dá um super trabalho, neste ano a gente fez uma campanha super engraçada inspirada em virais da internet, foi um sucesso de público, mas é dificil converter likes em doações mesmo. Ainda é a única maneira que o bloco se financia. Este ano conseguimos um patrocínio de uma cervejaria que ajudou a complementar o financiamento. Mas na hora inicial do “Vamos fazer” a gente só tem o crowdfunding como ponto de partida. Tivemos duas campanhas bem sucedidas, mas tem muita gente que não sabe como os blocos são custeados, as vezes acham que a gente ganha dinheiro da prefeitura, quando não é verdade. Ainda dependemos do crowdfunding.

Carnaval 2016 pra vocês vai ser só o desfile de pré-carnaval e a festa mesmo?
Temos o Bailee Ritaleena na sexta e estamos examinando a possibilidade de fazer outro show no pós-carnaval. Mas este ano fizemos um ensaio geral no Bar Brahma antes do desfile, coisa que no ano passado não aconteceu.

A Rita já sabe do bloco?
A Rita Lee sabe do bloco sim. Ano passado mantivemos contato com a empresária dela. Ela nos agradeceu a homenagem numa nota que saiu na Monica Bergamo da Folha. Este ano conseguimos que um amigo dela subisse no trio e filmasse toda a multidão cantando músicas dela e gritando “Rita Lee eu te amo” e mandasse para ela por whatsapp. Foi demais! Todos anos a família Lee recebe religiosamente camisetas do bloco. Queríamos muito um alô mais pessoal dela, mas respeitamos muito a privacidade dela. Não queremos incomodá-la.

O que vocês têm achado dessa retomada do carnaval de rua? O quanto isso é político?
Achamos maravilhoso. A idéia de reconquista do espaço público em São Paulo não é exclusiva do carnaval, isso já faz um tempo, iniciativas como o Festival Baixo Centro, as movimentações do Largo da Batata, as manifestações de junho, fomentaram um pensamento de ocupar a rua do qual o carnaval também pertence. Porém, não podemos deixar de lembrar que é carnaval, e o sentido do carnaval também é a zueira e nela suas transgressão. O carnaval precisa ser espontâneo, vemos alguns blocos tocar muito na tecla do “retomada do espaço publico” mas de maneira protocolar, quase encaretando a coisa.

E depois do carnaval, hibernam até o ano que vem ou têm outros projetos?
Essa é uma boa pergunta. O Bloco Ritaleena é essencialmente um projeto de carnaval, não existe pretensão de usar peruca vermelha o ano todo, muito acontece sob demanda. Mas temos vontade de acordar da hibernação ano que vem um pouco antes…

Eis o Donato Elétrico!

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E o Ronaldo finalmente revelou o tão aguardado Donato Elétrico, o disco novo disco do mestre João Donato, seu primeiro disco de inéditas neste século, que foi produzido pelo próprio menino veneno. Ronaldo reuniu um time de feras que inclui pesos pesados da música moderna brasileira, como Guilherme Kastrup, Daniel Pires, Marcelo Dworecki, Mauricio Fleury, Mauro Refosco, Décio 7, Douglas Antunes, Bruno Buarque, Cris Scabello, Anderson Quevedo, Zé Nigro, Gustavo Ruiz, Laércio de Freitas, Cuca Ferreira, Daniel Gralha, Daniel Nogueira, Marcelo Cabral, entre outros para plugar o señor groove na mesma frequência de discos como Donato/Deodato e A Bad Donato. O site do disco, que deve ser lançado no início de março, já está no are além da capa e a ficha técnica também dá a seguinte ordem das novas músicas:

“Here’s J.D.”
“Urbano”
“Frequência de Onda”
“Espalhado”
“Tartaruga”
“Soneca de Marreco”
“Combustão Espontânea”
“Resort”
“Xaxado de Hércules”
“G8”

Filmei três destes sons (“Tartaruga”, “Combustão Espontânea” e “G8”) quando Donato esteve no Rock in Rio e dá pra ver a empolgação do moleque de 80 anos pirando nos teclados elétricos, grande trunfo deste novo disco, desde já um dos grandes discos de 2016. Feel the drama:

Joy Division, Tame Impala, Pixies e Bowie caindo no carnaval

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E onda dos remixes de carnaval não para: desta vez são edits com sabor pernambucano, feitos por um certo Lee Pesaka, que botou ícones indies pra sacudir o esqueleto. Primeiro Joy Division na quarta-feira de cinzas, depois Bowie dançando ladeira abaixo, Pixies e uma metaleira enfurecida e um Tame Impala pronto pra fazer acontecer.