Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
O primeiro single do trabalho solo de Evandro Fióti, irmão e empresário de Emicida, sai nesta sexta-feira – mostrei um preview da faixa “Gente Bonita” no início da semana, além da primeira vez em que ele tocou o samba “Vacilão” ao vivo. Agora segue em primeira mão a capa do EP, que sai só em maio, e foi inspirada na clássica série de coletâneas de música brasileira lançada nos anos 70, o que dá uma ideia do que esperar do disco.
O vocalista do R.E.M. Michael Stipe anda recluso desde o fim de sua banda, em 2012, fazendo esporádicas aparições aqui e ali. A mais recente delas foi nesta quarta-feira, no programa do Jimmy Fallon, em que ele apresentou uma versão apenas ao piano para o clássico “The Man Who Sold the World”, de David Bowie.
Chamei a Clarice Reischtul, que organizou o excelente volume O Fabuloso Quadrinho Brasileiro de 2015, uma das recompensas para quem quiser comprar a primeira edição da revista Trabalho Sujo, para falar sobre a importância de publicações impressas em tempos de mídias digitais. O crowdfunding da revista segue suspenso, mas a partir do mês que vem tem novidades.
Uma das principais revelações da música brasileira no ano passado, o rapper Rico Dalasam aos poucos prepara o bote para pegar 2016 de jeito. “Sem dúvida, 2015 foi um ano muito bom e importante para mim: recebi elogios do Gilberto Gil, abri o show do Criolo no Circo Voador, me apresentei no Royal Vauxhall Tavern em Londres, e ainda fui citado pela Vogue NY como uma referência de moda. Além de ter ficado feliz com essa repercussão, vejo o trabalho com o EP Modo Diverso completando o seu ciclo e o início de uma nova etapa. Foi um momento importante e agora estou com o foco nos próximos passos”, me explicou em entrevista por email.
E sua primeira novidade de 2016 é algo que tanto fecha o ciclo do ano passado quanto acena para o novo estágio: um remix para a excelente “Riquíssima“, feito pelo Mahal Pita, do BaianaSystem, que você ouve em primeira mão no Trabalho Sujo.
Mahal Pita é um dos produtores do primeiro álbum de Rico, que já está sendo gravado e que deve sair entre maio e junho deste ano.
A atenção ao redor de Rico foi para além de seu inegável talento, muito pelo fato de ele ter sido um dos primeiros rappers brasileiros – talvez o primeiro? – a assumir sua homossexualidade, tema que aos poucos deixa de ser tabu no meio do hip hop. Mas ele não teme cair num estereótipo: “O rótulo ajudou sim, mas sempre calculei que ele teria uma vida útil e duraria durante uma fase da carreira. Hoje, vivo essa curva onde a música equilibra com o comportamento. Assim, o estereótipo vai perdendo força.”
Ele é otimista em relação à atual cena rapper paulistana: “Vejo alguns artistas numa busca de estar em dia com o amanhã. Acho isso positivo, somos maiores quando prezamos pelo cantar para o máximo de pessoas, sem criar música com a presunção de que ela vai atingir o perímetro das nossas intenções.” O rumo do próximo disco ainda está em aberto, mas será que dá pra ter alguma previsão do que vem por aí a partir do que Rico tem ouvido? “Tenho escutado Punjabi e música indiana, que eu me identifico demais. Também ouço várias nuances do forró, arrocha, baião, xote e os de sempre, como como Mary J. Blige e Djavan…”
Fui ao show do Iron Maiden na semana passada e falei sobre o segredo do sucesso da banda inglesa lá no meu blog no UOL.
O maestro norueguês da space disco Lindstrøm reaparece no horizonte ao anunciar mais um EP para julho deste ano – e a faixa “Closing Shot” mostra que ele não está pra brincadeira.
A parceria entre a ex-vocalista do Stereolab Laetitia Sadier e a banda pernambucana Mombojó começa a render os primeiros frutos, que é o caso do clipe da faixa que batiza o EP que compuseram e gravaram juntos no verão passado no Recife, “Summer Long”.
Que pedrada! Esse Duas Cidades do Baiasystem tem cumbia, ghetto tech, dancehall e samba-reggae, tudo no talo, tudo misturado, guitarras em fúria, vocais endiabrados, letras políticas e beat pesadaço pra não deixar ninguém parado. Eles lançaram esta semana primeiro no Deezer, saca só aí embaixo, e semana que vem chega em todas as plataformas de streaming. Minhas favoritas são a latina “Cigano” (com Siba na rabeca), a enfurecida “Calamatraca”, a hipnótica “Panela” e o reggão “BarraAvenida”.
2016 tá foda demais!
O sucesso de Emicida é uma parceria fraterna: enquanto Leandro rima e dá a cara a tapa pelos palcos da vida, seu irmão Evandro Fióti administrava sua carreira, construindo as fundações de seu escritório a partir de CDs vendidos de mão em mão no metrô. Hoje o escritório Lab Fantasma é um pequeno império, que administra as carreiras de Emicida e Rael e se tornou uma distribuidora digital, além de referência para uma nova geração de rappers pelo Brasil que viu que é possível ser bem sucedido artisticamente e nos negócios ao mesmo tempo. Como Emicida, Fióti sempre esteve envolvido com música e além de habilidoso violonista agora começa a colocar suas mangas artísticas de fora, ao anunciar o lançamento de seu primeiro EP ainda essa semana. Já gostei de cara por causa do título do trabalho: Gente Bonita (que era o mesmo nome da festa que eu fazia com o Luciano Kalatalo entre 2006 e 2010). Ele já mostrou o teaser do novo trabalho:
“Foi tudo orgânico”, me conta o novo artista: “Antes de montarmos a Lab, eu e o Leandro sempre se encontrava pra fazer algumas coisas. Mesmo trabalhando, quando eu fazia a produção de estrada, eu levava o violão e íamos compondo quando dava, mas as coisas foram ficando cada vez mais apertadas e isso deixou de ser possível. Porém, duas das parcerias que tenho com ele nesse disco já existem aproximadamente há oito anos, e eu até insisti algumas vezes pra ele lançar ‘Gente Bonita’ porque todo mundo a quem eu mostrava a música gostava. É um outro lado do Emicida como compositor que acho que vai surpreender o público. Mas na verdade Deus escreve certo por linhas tortas, ainda bem que ele não me ouviu e deixou mesmo para eu gravar porque essa música é linda.”
A música acabou batizando o novo disco: “O projeto não tinha nome no começo, mas depois me dei conta de que essa faixa sintetizava tudo o que eu queria passar, acho que é uma das letras mais fortes do trabalho. Dentro do estúdio, com os músicos, me veio esse nome. Tem a ver com a ideia que quero transmitir e até com o momento que eu estou vivendo, de um exercício de me apegar mais às coisas boas e positivas. E tem a ver também com uma coisa de enxergar o melhor nos outros; gente bonita são todas as pessoas que toparam estar comigo no projeto, colaboraram para que eu chegasse a este ponto. E num contexto mais amplo espero que sirva como uma mensagem positiva para todos que se identificarem com a faixa, para o povo da periferia, nosso povo, que todo dia precisa buscar motivação para levar a vida do jeito que ela é. Mesmo com todas as adversidades, continua sendo um povo alegre, feliz e bonito.”
Mas não é um disco de rap, já adianta: “Quem espera um disco de rap vai dar com os burros n’água!”, ri o compositor-empresário. “É um disco para que ouçam e pensem, reflitam e se divirtam. Ficou bem fincado nas raízes da música brasileira, está bem brasuca e isso reflete o meu gosto musical, me vejo nele inteiro, quem me conhece de longa data também vai compreender isso mais facilmente. Quem só conhece o Emicida vai ter a oportunidade de conhecer esse lado mais compositor dele também. Esse disco é vida que segue. Eu senti a necessidade de gravar essas músicas e fazer algo que as pessoas me cobravam há muito tempo, fui lá e fiz, sendo público do Emicida ou não, espero que as pessoas sintam e se identifiquem com a mensagem musical do trabalho. Estamos passando dias tão difíceis que vejo neste disco a possibilidade de as pessoas verem como nosso povo e nossa música são ricos e lindos e que isso sirva de combustível na luta diária de cada um. Se conseguir isso, já estou satisfeito. E quem não gostar não precisa falar nada, pode ir ouvir o que gosta.”
Também gravei a primeira vez que Fióti apresentou uma música ao vivo deste novo disco, quando juntou-se ao Rodrigo Ogi, ao Kiko Dinucci e ao Thiago França para tocarem o samba “Vacilão”, que estará no EP, num show de Ogi na Casa de Francisca.
“Gente Bonita”, a primeira faixa de trabalho, será lançada oficialmente nesta sexta-feira, dia 1° de abril. Não é mentira. O disco todo aparece em maio.