Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Marisa Paredes (1946-2024)

Morreu nesta terça-feira um dos maiores nomes do cinema espanhol. A musa Marisa Paredes tinha meros 78 anos de idade e estava prestes a estrear uma nova peça quando sofreu um ataque cardíaco nesta madrugada e não resistiu, como contou seu companheiro, o cineasta Chema Prado, que foi diretor da Filmoteca Española. Ela atuou em 75 filmes, trabalhou com o mexicano Guillermo del Toro (A Espinha do Diabo, 2001) e com o italiano Roberto Benigni (A Vida é Bela, 1997), mas foi com seu conterrâneo e amigo Pedro Almodóvar que teve seu nome eternizado na história do cinema, em filmes emblemáticos do diretor espanhol como Maus Hábitos (1983), De Salto Alto (1991), Tudo Sobre Minha Mãe (1999), A Pele Que Habito (2011) e, claro, a performance mais memorável da atriz no filme A Flor do Meu Segredo (1995). Saiu deste plano mas seguirá eterna graças ao velho amigo, que soube extrair grandes momentos de sua arte.

Sebadoh de volta aos palcos!

Sábado passado viu a volta aos palcos do Sebadoh, lendário power trio do indie rock norte-americano liderado pelo gênio Lou Barlow, que passou por aqui outro dia tocando baixo no Dinosaur Jr, a banda que o apresentou ao panteão que hoje representa. Há cinco anos sem tocar deste lado do planeta (seus últimos shows foram nos meses antes da pandemia em 2020, quando passaram pelo Japão, Austrália e Nova Zelândia), o trio formado por Lou, Jason Loewenstein e Bob D’Amico apresentou-se como parte das atrações da décima terceira edição do concerto beneficente SMooCH, que arrecada fundos para um hospital infantil em Seattle, num mesmo evento que ainda teve a banda Nudedragons, formada pelos ex-integrantes do Soundgarden (o nome da banda nova é um anagrama da antiga) Kim Thayil, Matt Cameron e Ben Shepherd, que ainda contou com a participação do ex-integrante dos Guns N’ Roses Duff McKagan nas duas últimas músicas. O show do Sebadoh contou com clássicos como “Not Too Amused”, “Careful”, “Happily Divided”, “Magnet’s Coil”, “Rebound”, “License to Confuse”, “Skull”, “Soul and Fire”, “Two Years Two Days” e “Beauty of the Ride” e algumas das músicas foram filmadas por fãs na plateia. Agora só falta eles continuarem a fazer shows pra ver se dão um pulinho por aqui de novo…

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Vida Fodona #831: Dezembro de 2024 tá intenso

…e tá longe do fim!

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Todo o show: Thurston Moore + Lee Ranaldo + Steve Shelley em Nova York (6.12.2024)

Claro que tinha algum herói na plateia para registrar o improv que resultou da reunião entre Thurston Moore, Lee Ranaldo e Steve Shelley que aconteceu no início deste mês. Olha que maravilha…

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Trabalho Sujo Apresenta Manu Julian, Lauiz e Thales Castanheira tocam o primeiro disco do Portishead

Por motivos de força maior, este show foi adiado para o dia 21 de janeiro, uma terça-feira – e todos que compraram ingressos antecipadamente serão ressarcidos através do site de compras.

O ano está chegando no fim, mas ainda não acabou, por isso conseguimos reunir mais uma vez Manu Julian, Thales Castanheira e Lauiz para uma segunda apresentação de Matar Um Homem Morto, em que celebramos os 30 anos do emblemático Dummy, o primeiro disco do Portishead, no dia 18 de dezembro. É a primeira vez que a Porta recebe a sessão Trabalho Sujo Apresenta, num espetáculo multimídia que conta com a minha direção e visuais feitos por Danilo Sansão e pela própria Manu. O disco de 1994 inaugurou o gênero trip hop e conta com músicas emblemáticas como “Sour Times”, “Mysterons”, “Glory Box” e “Roads” na mesma ordem do disco, trazendo aquela encruzilhada entre jazz, soul, trilha sonora de cinema dos anos 50, dub e funk para o século 21. A Porta fica no número 95 da rua Horácio Lane, entre os bairros Vila Madalena e Pinheiros, e os ingressos já estão à venda neste link.

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Dois irmãos

Foi histórica a apresentação que Caetano Veloso e Maria Bethania fizeram neste domingo no estádio do Palmeiras, quase encerrando a grandiosa turnê que os dois irmãos montaram para celebrar sua parceria e trajetória em quase duas horas ininterruptas com quatro dezenas de canções, mas ficou faltando um tanto para que ela se tornasse épica à altura das duas carreiras. O repertório irregular parecia mais privilegiar temas caros às duas biografias do que seus principais sucessos, escolhendo músicas que o público não conhecia para abordar assuntos como Bahia, terreiro, Mangueira ou Gal Costa do que passar por músicas emblemáticas das carreiras dos dois (até agora não me conformo de não ter ouvido Caetano cantar “Maria Bethania” que compôs no exílio em Londres para a irmã ao lado da própria). E escolhas menos óbvias não chegaram a acrescentar tanto à noite, embora certamente Caetano tenha justificativas apolíneas para tais opções – e por mais que “Gita” de Raul Seixas (por quê?), “Vaca Profana” e a versão para a o hit “Fé” da novata Iza soem deslocadas, nada justifica a inclusão da horrorosa “Deus Cuida de Mim”, louvor gospel crente que parece mais uma caricatura de música do que uma bela canção (não é possível que não haja uma música evangélica melhorzinha para referendar a improvável celebração de Caetano à ascensão dessa corrente religiosa no Brasil). Felizmente logo em seguida Bethania veio com uma sequência de pérolas que ergueu a noite ao status que esperávamos ao enfileirar “Brincar de Viver” com “Explode Coração”, “As Canções Que Você Fez Pra Mim” e “Negue”, mostrando porque é uma das grandes damas da canção brasileira esbanjando voz e carisma. Caetano também estava bem e teve seus momentos (como a versão para “Você é Linda” irretocável), mas nenhum tão catártico quanto tal sequência da irmã. A noite terminou com a celebração familiar “Reconvexo”, que foi emendada como “Tudo de Novo”, uma passagem rápida por “Sampa” e uma “Odara” versão discoteca que embalou bem o público na saída. Mas fora a citada sequência de músicas de Bethania, durante todo o resto do show fiquei pensando na surra de hits que Gil dará em sua versão estádio no ano que vem (mesmo que nos entube os projetos dos mil filhos). Ficou um gostinho de quero mais…

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Mais uma vez, Jards Macalé

Infelizmente não tivemos Desaniversário neste sábado por motivos alheios à vontade de fazer festa, mas o consolo do cancelamento abrupto foi poder assistir à mais uma apresentação do mestre Jards Macalé, desta vez no Sesc Pinheiros, novamente defendendo seu disco mais recente, Coração Bifurcado, à frente de uma banda composta apenas por mulheres, com Ifatóki Maíra Freitas (nos teclados), Navalha Carrera (na guitarra), Cris Daniel (no baixo), Aline Gonçalves (nos sopros), Victoria dos Santos (na percussão) e Flavia Belchior (na bateria). E além do repertório de seu disco do ano passado, ele inevitavelmente passeou por diferentes clássicos, seja sozinho ao violão (quando, mais uma vez, contou a história do telefone secreto de João Gilberto, antes de tocar a linda “Um Abraço do João”), seja acompanhado da banda, quando visitou marcos pessoais como “Hotel das Estrelas” e “Soluços”, entre outras. E é tão bom ver o monstro sagrado do alto de seus 81 anos passear seu instrumento, parente tanto de João Gilberto quanto de Jorge Ben, colocando o violão como um instrumento jazzístico a favor das canções. Inspirador, como sempre.

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Kraftwerk ♥ Tony Hawk

E o Kraftwerk que chamou o Tony Hawk para anunciar sua nova turnê pela América do Norte no ano que vem? Não há muitos detalhes sobre o que seria a parte multimídia da série de 25 shows que o grupo fará entre os Estados Unidos e o Canadá para comemorar o cinquentenário do disco que formatou o grupo alemão para as massas, Autobahn, lançado em 1975. Mas o comercial em que Hawk puxa um quarteto de skatistas trajados como o grupo alemão à moda do disco The Man Machine (ao som de um mix de faixas do grupo como “Trans-Europe Express”, “The Robots” e a faixa-título do disco aniversariante) para descer sincronizado num half pipe abre possibilidades cênicas e visuais incríveis para o grupo, que não anunciou nenhuma novidade sobre como estas apresentações diferem das recentes – só abriu as vendas de ingressos da turnê, que possivelmente continuará no ano que vem com datas na Europa, mas será que chega por aqui? Tomara…

Assista ao trailer abaixo:  

Desaniversário | 14.12.2024

Infelizmente não teremos a última Desaniversário nesse sábado pois a prefeitura da cidade impediu a realização devido a um evento no estádio — e só fomos avisado neste sábado. Nos vemos em 2025!

O que você vai fazer neste sábado? Vamos à última edição de 2024 da nossa frenética Desaniversário, comigo, Clarice, Claudinho e Camila colocando todo mundo pra se acabar de dançar e aliviar a tensão desse fim de ano intenso! E não tem desculpa: a festa começa e termina cedo pra gente ter tempo de descansar depois de ficar algumas horas chacoalhando os quadris ouvindo nossos hits do coração. A festa começa às 19h e vai até a meia-noite, sempre no querido Bubu, que fica na marquise do Estádio do Pacaembu. Vem dançar com a gente!

Hermeto Pascoal: “Viver é a maior fonte, sem fim, de alegria e de prazer”

“Viver é a maior fonte, sem fim, de alegria e de prazer”: ouvir Hermeto Pascoal, do alto de seus 88 anos, dizer isso no meio de mais uma de suas apresentações catárticas com mais de uma hora e meia de duração, é daquelas inspirações motivacionais que renovam a energia vital de qualquer indivíduo que sinta seu coração bater no peito. Mesmo com um breve momento fora de circulação para resolver questões de saúde, incidente felizmente já resolvido e que parece tê-lo reenergizado, o maior nome vivo do jazz brasileiro está encerrando um 2024 de ouro ao lançar o belíssimo Para Você, Ilza (disco réquiem sobre a presença sentimental da eterna companheira que batiza o disco, falecida no início do século, que fez o maestro ganhar um Grammy Latino), seguir em turnê pelo Brasil e pelo exterior e assistir ao relançamento em vinil de alguns de seus clássicos, como Em Som Maior (1965), lançado com o trio que tinha com by Humberto Clayber e Airto Moreira, o Sambrasa Trio, e Lagoa da Canoa Município de Arapiraca (1983). E antes de encerrar o ano passou pelo Sesc Pompeia para três apresentações neste fim de semana com sua Big Band, regida pelo tecladista de seu conjunto habitual, André Marques, e que ainda conta com dois integrantes daquele grupo, o saxofonista Jota P. e o filho de Hermeto, o percussionista Fábio Pascoal. Liderando um grupo que contava com baixo, guitarra, bateria, percussão, piano, teclado e quinze integrantes na metaleira (cinco trombonistas, cinco trompetistas e cinco saxofonistas e flautistas), o repertório da noite é centrado no disco Natureza Universal, que gravou com essa formação em 2017. E Hermeto praticamente não encosta no teclado à sua frente, emanando frequências que se traduzem em música em instrumentos improvisados (como a clássica chaleira com bocal de trompete no pico e um reles copo d’água), o próprio canto inventando palavras, momentos de filosofia musical pura em alguns intervalos e apenas sua própria presença magnética, regendo aquele ambiente de sonoridade universal em que a adoração pela musicalidade se mistura com um otimismo radiante que nos faz perceber a beleza da vida, extraindo toneladas de tensão dos ombros do público que lotou o teatro nessa sexta – e vai lotar sábado e domingo, que já têm ingressos esgotados. Um ótimo jeito de amaciar o peso deste fim de 2024.

Assista abaixo: