Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Os 75 discos de 2024 que mais curti: 73) Adorável Clichê – Sonhos que Nunca Morrem

“É difícil aceitar que somos feitos de coisas que deixam cair por aí”

Ouça abaixo:  

Os 75 discos de 2024 que mais curti: 74) Amyl and the Sniffers – Cartoon Darkness

“I am sick of promising everyone that I am the same as others”

Ouça abaixo:  

Os 75 discos de 2024 que mais curti: 75) Illuminati Hotties – Power

“I want to be where you are, I want to feel your power”

Ouça abaixo:  

Os 75 discos de 2024 que mais curti

2024 finalmente acabou e posso começar minha contagem regressiva dos 75 discos mais importantes do ano pra mim. Não faço essa lista desde a pandemia e resolvi trocar o critério: não são os melhores discos do ano (até porque não dá pra usar essa régua de um ser melhor que o outro em arte), são os discos deste ano que mais curti ouvir. Vou postando aqui até o fim do mês, do 75⁰ ao 1⁰, como sempre misturando discos brasileiros e nacionais porque eu também não gosto de fazer essa distinção.

Feliz 2025 com o Yo La Tengo!

A tradição indie mais sólida de virada do ano aconteceu maravilhosamente mais uma vez em Nova York, quando o Yo La Tengo reuniu-se a amigos, ídolos e fãs para a celebração do Hanukkah em oito shows consecutivos no Bowery Ballroom, onde se reúnem desde 2017, para comemorar a data festiva em shows épicos que mudam todas as noites. Não foi diferente na virada deste ano, quando, a partir do dia 25 de dezembro, passaram a elencar camaradas em shows de mais de uma hora em que o grupo tocou suas próprias músicas, além de passar por clássicos do indie rock. Este ano, a primeira noite abriu com a já tradicional versão para “Rock and Roll All Nite” do Kiss (em que subvertem o refrão para “Rock and roll eight nights and party a week and a day) para receber Mac McCaughan do Superchunk no bis em versões para músicas dos Ramones, Angry Samoans, Circle Jerks, Fugs e o próprio Superchunk (o hino “Slack Motherfucker”). Na noite 2 o grupo recebeu o humorista Fred Arminsen, que tocou bateria num bis que teve músicas do Black Flag, Velvet Underground e Flo & Eddie. No dia 27, o tecladista do Wilco, Pat Sansone, juntou-se ao grupo por todo o show, que ainda teve um bis dedicado aos Modern Lovers, com a presença do baixista da banda, Ernie Brooks. No dia 28 foi a vez de reunir os Soft Boys de Robyn Hitchcock para um bis dedicado à banda (e versões de Beatles e Velvet). O dia 5 contou com Steve Shelley do Sonic Youth na bateria (e MJ Lenderman, que abriu a noite, tocando uma versão de Dylan), e integrantes do NRBQ para um bis dedicado ao grupo. No dia 30 se dedicaram a músicas menos tocadas de seu repertório e Mark Ribot e Alan Litch como convidados. Na véspera do ano novo foi a vez de convidar a Sun Ra Arkestra para uma celebração indie free jazz encerrando a festa no primeiro dia de 2025 com Kimberley Rew, autor do hit “Walking on Sunshine”, e a mãe do guitarrista Ira Kaplan, Marilyn, cantando “My Little Corner of the World”. Uma celebração e tanto que garante que 2025 começou bem! Veja alguns vídeos abaixo:  

Tô no Bluesky

Saí do Twitter de vez e entrei no Bluesky: me segue lá. Feliz ano novo!

Adilia Lopes (1960-2024)

“A minha história
é outra
E começa agora
Estou sempre
a começar”

E no calar do ano quem nos deixa é a poeta portuguesa Adília Lopes, pseudônimo de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, que apareceu na década de 80 e sai deste plano com parcos 64 anos. Escritora dos detalhes e da vida cotidiana, ela buscava a beleza nos pequenos gestos, publicando livros quase que anualmente como se soubesse que a produção cultural lhe tornasse ainda mais viva. “A minha poesia é uma epopeia da vida menor. Não é a descoberta do caminho marítimo para a Índia. É o caminho do corredor de minha casa entre a sala onde escrevo e leio e a cozinha. É doméstica. É feminina”, disse em entrevista recente à revista Quatro Cinco Um.

O manifesto Brat

E Charli XCX acaba de compartilhar uma espécie de manifesto de seu disco do ano quando, ainda em 2023, rascunhou o que planejava fazer com o próximo disco, que já era batizado de Brat e vinha envolto desde o início em uma estética própria – inclusive neste próprio manifesto, publicado em CAPS LOKI. Publiquei a tradução abaixo:  

Jimmy Carter (1924-2024)

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter viveu um século e morreu sendo celebrado como um dos políticos mais populares do fim do século – e por mais que tenha denunciado o genocídio palestino e ajudado nomes progressistas de fora de seu país (como o nosso Brizola), ele só fez isso depois que deixou o cargo. Na Casa Branca, tornou o clima da Guerra Fria ainda mais pesado que nos anos 70 e pavimentou o caminho para o neoliberalismo crescer ainda mais na década seguinte de seu mandato. Ele podia ser gente boa, mas ainda era um presidente dos Estados Unidos, como todos os outros.

O Baile de Debutantes do Cultura Livre

Fui convidado pro baile de debutante do Cultura Livre, quando o programa liderado pela comadre (e cocapri) Roberta Martinelli celebrou uma década e meia de resistência cultural no ar, trazendo as principais transformações da música brasileira deste período para um palco cada vez mais raro a elas mesmas, tanto na rádio quanto na TV aberta. O aniversário também marcou a volta de edições do programa com plateia, algo que não acontecia desde antes da pandemia, quando a última convidada foi ninguém menos que Elza Soares. Para fechar esse ano, Roberta convidou Céu, que também percorreu este mesmo período desbravando tais transformações, sejam artísticas, comerciais ou de formato. Não custa lembrar que o programa começou na rádio AM e encontrou na internet uma forma de se aproximar ainda mais do público e dos artistas antes de chegar a TV, com a própria Roberta sempre caçando brechas e inventando possibilidades, parcerias e oportunidades com seu carisma verborrágico para fazer o que queria: trazendo o melhor da música brasileira para um espectro eletromagnético que cada vez mais a ignora. O programa foi gravado no fim do mês passado e que só agora foi ao ar, por isso resolvi publicar só agora o vídeo que filmei quietinho num canto (mostrando a íntegra de um programa que depois é editado, incluindo as conversas que Roberta puxava com o público quando não estavam gravando), respeitando um embargo tácito entre amigos para não atravessar a publicação do programa em si, que teve como convidada a grande Céu, que teve um 2024 ótimo ao lançar, com alarde, seu Novela, importante disco para sua carreira depois da pandemia. E pilotando uma banda afiadíssima, a cantora e compositora paulistana deslizou mais um show cinco estrelas, sem parar nenhuma vez durante todo o programa (como é de praxe neste formato), para refazer trechos apenas da última música da tarde, “Reescreve”. Queria aproveitar a oportunidade não apenas para parabenizar Roberta por esse trabalho maravilhoso que ela vem fazendo quixotescamente há anos (e eu bem sei suas duras penas), transformando a utopia artística que ela sonha numa realidade musical desfrutada por milhares de pessoas no Brasil e no mundo, como para agradecê-la por seguir nessa resistência cultural que prefere fazer do que simplesmente discutir caminhos possíveis – e isso nos últimos dias de seu inferno astral, nos ensinando inclusive a extravasar emoções sem pudor. Valeu, Rô! Quinze anos é pouco, pode vir que tem mais – e vamos juntos!

Assista abaixo: