Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.
Thurston Moore volta a dar notícias lançando não apenas mais um disco solo, mas um disco triplo, reunindo três apresentações ao vivo livremente improvisadas. Spirit Counsel apresenta, portanto, três obras de microfonia elétrica suspensas a partir de três pontos de partida distintos. O primeiro disco, Alice Moki Jayne, contempla a influência sonora que três grandes primeiras damas do free jazz, Alice Coltrane, mulher de John Coltrane, Moki Cherry, mulher de Don Cherry, e Jayne Cortez, mulher de Ornette Coleman, tiveram no trabalho do guitarrista do Sonic Youth, numa sessão gravada na Bélgica, este ano. O segundo disco, 8 Spring Street, foi batizado a partir do endereço em Nova York em que Thruston conheceu um de seus maiores faróis sonoros, o guitarrista no wave Glenn Branca, e foi gravado na Inglaterra, também este ano. Spirit Counsel encerra com o disco Galaxies, em que rege uma orquestra de 12 guitarristas, inspirada em um poema do mestre do space jazz Sun Ra de mesmo nome, e foi gravado ao vivo em Londres, no ano passado. Os três discos vem acompanhado de um livro que registra, em textos e fotos, o processo de criação, composição e apresentação das três peças sonoras – que podem ser ouvidas abaixo.
O disco já está à venda.
Quem foi criança nos anos 80 vibrava com as aventuras do carro Supermáquina, veículo futurista dirigido pelo ator David Hasselhoff que alimentava sonhos de consumo infantis alimentados pela indústria automobilística. O canastrão, que anos depois foi um dos protagonistas de outra série nostálgica, Baywatch, agora realiza seu sonho e lança seu primeiro disco solo, um álbum new wave cheio de versões de hits do passado com participações especiais inusitadas. Open Your Eyes traz Hasselhoff cantando músicas como “Lips Like Sugar” (do Echo & The Bunnymen), “Heroes” (de David Bowie), “Sugar, Sugar” (dos Archies) e o standard “Sweet Caroline” com colaboradores tão díspares quanto o repertório, como a banda A Flock of Seagulls, Todd Rundgren, Steve Cropper e Ministry (!!). Ele antecipou uma das faixas – a versão para “Head On”, do Jesus & Mary Chain, gravada ao lado do guitarrista do grupo Cars, Elliot Easton, e o resultado ficou até legal: sem as guitarras dos irmãos Reid (substituída por uma parede de ruído sintético, uma guitarra meio surf music e um solo horroroso) e a faixa ressurge como uma pérola new wave.
O disco será lançado no dia 27 de setembrol.
Enorme prazer receber nesta terça-feira, dia 24 de setembro, no Centro da Terra, o encontro de dois compadres que há tempos colaboram juntos e bolaram uma apresentação conjunta inédita. Colagem faz os repertórios de Jonas Sá e Thiago Nassif se entrelaçar fazendo um acompanhar o outro em suas canções, apontando para o futuro próximo das duas carreiras – Nassif está finalizando seu mais novo disco, batizado de Mente, enquanto Jonas já começa a pensar em seu futuro trabalho, que deve se chamar Monstro. Os dois são acompanhados no palco por Rodrigo “Grassmass” Coelho e a apresentação começa às 20h (mais informações aqui). Conversei com a dupla para saber o que eles imaginaram para esta terça.
Um fã inglês chamado Joe perguntou ao Nick Cave, em seu site, quando teríamos um próximo disco. E Nick Cave respondeu:
“Caro Joe,
Você pode esperar um disco novo na semana que vem.
Chama-se Ghosteen.
É um disco duplo.
A parte 1 consiste de oito canções.“The Spinning Song”
“Bright Horses’
“Waiting For You”
“Night Raid”
“Sun Forest”
“Galleon Ship”
“Ghosteen Speaks”
“Leviathan”A parte 2 consiste em duas longas canções, conectadas por uma peça falada.
“Ghosteen”
“Fireflies”
“Hollywood”As canções do primeiro disco são os filhos.
As canções do segundo disco são seus pais.
Ghosteen é um espírito em migração.Amor, Nick”
A idílica e fantasiosa capa do disco de Nick Cave ao lado de seus Bad Seeds – com flamingos e um unicórnio – e seu título ambíguo, um trocadilho com as palavras fantasma e adolescente, parecem apontar para a continuação de Skeleton Tree, disco que estava sendo gravado quando Nick Cave soube da morte do filho de 15 anos, Arthur.
A gravadora inglesa Warp, uma das principais referências musicais das últimas décadas, anuncia a comemoração de seu trigésimo aniversário lançado uma caixa com dez vinis cheia de raridades, com mixes, documentários, apresentações ao vivo e outras pérolas de um elenco que inclui nomes como Aphex Twin, Flying Lotus, Oneohtrix Point Never, LFO, Bibio, Mount Kimbie, Seefeel, entre outros. E o anúncio vem com uma das raridades mais esperadas pelos fãs: a versão na íntegra da Peel Sessions que o grupo Boards of Canada gravou em 1998 – que virou um EP em vinil lançado no ano seguinte, mas que teve de ser recolhido pois uma das faixas, “XYZ”, teve problemas com a utilização de direitos autorais alheios. A sessão ao vivo na BBC contou com quatro faixas ao vivo – “Aquarius”, “Happy Cycling”, “Olson” e a referida faixa problemática, que agora ressurge inclusive como teaser da caixa, direto no YouTube:
A caixa já está em pré-venda (e custa 150 dólares) e, além dos 10 vinis com raridades dos principais nomes do selo (veja abaixo), ainda traz peças impressas (oito cartazes feitos pela dupla ucraniana de fotógrafos experimentais Synchrodogs, quatro offsets, entre outros) e dez adesivos.
Aphex Twin
Peel Session 2
10 de abril de 1994
“Slo Bird Whistle”
“Radiator (Original Mix)”
“p-string”
“Pancake Lizard”
Bibio
WXAXRXP Session
21 de junho de 2019
“Haikuesque”
“Petals”
“All the Flowers”
“Lovers Carvings”
Boards Of Canada
Peel Session
21 de julho de 1998
“Aquarius (Version 3)”
“Happy Cycling”
“Olson (Version 3)”
“XYZ”
Flying Lotus
Presents INFINITY “Infinitum” – Maida Vale Session
19 de agosto de 2010
“MmmHmm”
“Golden Axe”
“Tea Leaf Dancers”
“Drips”
Kelly Moran
WXAXRXP Session
“In Parallel (acoustic)”
“Helix 2 (TransAcoustic)”
“Interlude 1”
“Love Birds (acoustic)”
“Radian (TransAcoustic)”
LFO
Peel Session
20 de outubro de 1990
“Take Control”
“To The Limit”
“Rob’s Nightmare”
“Lost World”
Mount Kimbie
WXAXRXP Session
21 de junho de 2019
“You Look Certain (I’m Not So Sure) (feat. Andrea Balency)”
“Delta”
“Marilyn (feat. Micachu)”
“Made To Stray”
Oneohtrix Point Never
KCRW Session
23 de outubro de 2018
“Love In The Time Of Lexapro”
“RayCats”
“Toys 2”
“Chrome Country”
Plaid
Peel Session 2
8 de maio de 1999
“Housework”
“Kiterider”
“Elide”
“Lazybeams”
Seefeel
Peel Session
27 de maio de 1994
“Rough For Radio”
“Starethrough”
“Vex”
“Phazemaze”
Entre os dias 17 e 18 de fevereiro de 1969, Bob Dylan e Johnny Cash estiveram no mesmo estúdio, gravando músicas próprias além de versões de músicas alheias. Era meio que um ensaio para a participação de Dylan no programa que Cash tinha na ABC, que aconteceria meses depois – e o encontro, registrado, nunca havia sido lançado. Essa reparação está sendo feita no décimo quinto volume das Bootleg Series de Dylan, que será lançado no dia 1° de novembro e já está em pré-venda.
Bob Dylan (featuring Johnny Cash) – Travelin’ Thru, 1967 – 1969: The Bootleg Series Vol. 15 ainda mostra que o encontro de Dylan e Cash ainda teve a participação de outro nome ilustre da era de ouro do rock norte-americano – ninguém menos que Carl Perkins (o autor de clássicos como “Blue Suede Shoes”, “Matchbox”, “Everybody’s Trying to Be My Baby” e “Honey Don’t”, entre outras), que participa de cinco faixas, além de incluir gravações dos discos John Wesley Harding, Self Portrait e Nashville Skyline, todos do final dos anos 60, quando Dylan distanciou-se do rock psicodélico e pesado da época para abraçar a country music. O disco ainda traz a gravação do programa de Dylan e Cash, além de um sarau com o tocador de banjo Earl Scruggs, na casa do escritor e jornalista Thomas B. Allen (autor do livro que inspirou o filme O Exorcista). Uma primeira raridade foi revelada com o anúncio do novo volume da série de piratas oficializados, com a faixa “I Pity The Poor Immigrant (Take 4)”.
Abaixo, a capa e a ordem das músicas do próximo disco de Dylan.
Disco 1
17 de outubro de 1967
Columbia Studio A, Nashville
Gravações do disco John Wesley Harding
“Drifter’s Escape – Take 1 (Alternate Version)”
“I Dreamed I Saw St. Augustine – Take 2 (Alternate Version)”
6 de novembro de 1967
Columbia Studio A, Nashville
Gravações do disco John Wesley Harding
“All Along the Watchtower – Take 3 (Alternate Version)”
John Wesley Harding – Take 1 (Alternate Version)”
“As I Went Out One Morning – Take 1 (Alternate Version)”
“I Pity the Poor Immigrant – Take 4 (Alternate Version)”
“I Am a Lonesome Hobo – Take 4 (Alternate Version)”
Bob Dylan: vocais, guitarra e gaita
Charlie McCoy: baixo
Kenneth Buttrey: bateria
13 de fevereiro de 1969
Columbia Studio A, Nashville
Gravações do disco Nashville Skyline
“I Threw It All Away – Take 1 (Alternate Version)” (lançada originalmente no The Bootleg Series, Vol. 10: Another Self Portrait)
“To Be Alone with You – Take 1 (Alternate Version)”
“Lay Lady Lay – Take 2 (Alternate Version)” (lançada originalmente como um bônus para quem comprasse o disco Together Through Life na pré-venda)
“One More Night – Take 2 (Alternate Version)”
“Western Road – Take 1 (Outtake)”
14 de fevereiro de 1969
Columbia Studio A, Nashville
Gravações do disco Nashville Skyline
“Peggy Day – Take 1 (Alternate Version)”
“Tell Me That It Isn’t True – Take 2 (Alternate Version)”
“Country Pie – Take 2 (Alternate Version)”
Bob Dylan – vocais, guitarra, piano e gaita
Kelton D. Herston, Norman Blake, Charlie Daniels, Wayne Moss (10 & 12): guitarras
Bob Wilson: piano, órgão
Peter Drake: guitarra pedal steel
Charlie McCoy: baixo
Kenneth Buttrey: bateria
Disco 2
17 de fevereiro de 1969
Columbia Studio A, Nashville
The Dylan-Cash Sessions
“I Still Miss Someone” – Take 5 (por Johnny Cash e Roy Cash, Jr.)
“Don’t Think Twice, It’s All Right”/”Understand Your Man – Rehearsal” (por Bob Dylan e Johnny Cash)
18 de fevereiro de 1969
Columbia Studio A, Nashville
The Dylan-Cash Sessions
“One Too Many Mornings – Take 3”
“Mountain Dew – Take 1” (por Bascom Lamar Lunsford e Scott Wiseman)
“Mountain Dew – Take 2” (por Bascom Lamar Lunsford e Scott Wiseman)
“I Still Miss Someone – Take 2” (por Johnny Cash e Roy Cash, Jr.)
“Careless Love – Take 1” (tradicional, arranjada por Bob Dylan e Johnny Cash)
“Matchbox” (por Carl Perkins)
“That’s All Right, Mama – Take 1” (por Arthur Crudup)
“Mystery Train” (por Junior Parker)/”This Train Is Bound for Glory – Take 1″ (por Woody Guthrie)
“Big River – Take 1” (por Johnny Cash)
“Girl from the North Country – Rehearsal”
“Girl from the North Country – Take 1”
“I Walk the Line – Take 2” (por Johnny Cash)
“Guess Things Happen That Way – Rehearsal” (por Jack Clement)
“Guess Things Happen That Way – Take 3” (por Jack Clement)
“Five Feet High and Rising – Take 1” (por Johnny Cash)
“You Are My Sunshine – Take 1” (por Jimmie Davis e Charles Mitchell)
“Ring of Fire – Take 1” (por June Carter e Merle Kilgore)
Disco 3
February 18, 1969
Columbia Studio A, Nashville, TN
The Dylan-Cash Sessions
“Studio Chatter”
“Wanted Man – Take 1”
“Amen – Rehearsal” (por Jester Hairston)
“Just a Closer Walk with Thee – Take 1” (tradicional, arranjada por Bob Dylan e Johnny Cash)
“Jimmie Rodgers Medley No. 1 – Take 1” (Inspirada em “Blue Yodel No. 1 (T for Texas)”, “The Brakeman’s Blues (Yodeling the Blues Away)” e “Blue Yodel No. 5 (It’s Raining Here)”, todas por Jimmie Rodgers)
“Jimmie Rodgers Medley No. 2 – Take 2” (Inspirada em “Waiting for a Train”, “The Brakeman’s Blues (Yodeling the Blues Away)” e “Blue Yodel No. 1 (T For Texas)”, todas por Jimmie Rodgers)
Bob Dylan: vocais e guitarra
Johnny Cash: vocais e guitarra
Carl Perkins: guitarra
Bob Wootton: guitarra
Marshall Grant: baixo
W.S. Holland: bateria
1° de maio de 1969
Ryman Auditorium, Nashville
Ao vivo no The Johnny Cash Show
Originalmente transmitido pela emissora ABC no dia 7 de junho de 1969
“I Threw It All Away” (inclusa no DVD The Best of the Johnny Cash TV Show: 1969-1971, lançado em 2010)
“Living the Blues”
“Girl from the North Country” (inclusa no DVD The Best of the Johnny Cash TV Show: 1969-1971, lançado em 2010)
Bob Dylan: guitarra e vocais
Johnny Cash: guitarra e vocais
Norman Blake e Charlie Daniels: guitarras
Peter Drake: guitarrra pedal steel
Bob Wilson: piano
Charlie McCoy: baixo
Kenneth Buttrey: bateria
3 de maio de 1969
Columbia Studio A, Nashville
Gravações do disco Self Portrait
“Ring of Fire (Outtake)” (por June Carter and Merle Kilgore)
“Folsom Prison Blues (Outtake)” (por Johnny Cash)
Bob Dylan: guitarra e vocais
Fred F. Carter e Norman Blake: guitarras
Charlie Daniels: guitarra e baixo
Bob Wilson: piano
Peter Drake: guitarra pedal steel
Charlie McCoy: gaita e baixo
Kenneth Buttrey: bateria
Delores Edgin e Dottie Dillard: vocais de apoio
17 de maio de 1970
Na casa de Thomas B. Allen, Carmel, em Nova York, com Earl Scruggs
“Earl Scruggs Interview”
“East Virginia Blues” (por A.P. Carter) (inclusa no documentário Earl Scruggs: His Family and Friends, de 1971)
To Be Alone with You
“Honey, Just Allow Me One More Chance” (tradicional, arranjada por Bob Dylan)
“Nashville Skyline Rag” (lançada anteriormente no disco Earl Scruggs Performing with His Family and Friends)
Bob Dylan: guitarra e vocais
Earl Scruggs: banjo
Randy Scruggs: violão
Gary Scruggs: baixo elétrico
Recapitulando…
Ana Frango Elétrico – “Promessas e Previsões”
Juliana Perdigão – “Só o Sol”
Beabadoobee – “I Wish I Was Stephen Malkmus”
Erik Batista – “Nvvem (Canção pra Vida Adulta)”
Neiva – “Pra Si”
Metronomy – “The Light”
Bárbara Eugenia – “Perdi”
Céu – “Coreto”
Taylor Swift – “I Think He Knows”
Karina Buhr – “Nem Nada”
Siba – “O Que Não Há”
Lulina + Maurício Pereira- “O Que é o Que”
Tyler the Creator – “Are We Still Friends?”
Lana Del Rey – “Hope Is A Dangerous Thing For A Woman Like Me To Have-But I Have It”
Douglas Germano – “Tempo Velho”
Elza Soares – “Lírio Rosa”
Em mais uma colaboração para a UBC, conversei com Dinho dos Boogarins, Bonifrate, Fábio Golfetti e Bento Araújo sobre a tradição psicodélica brasileira e como ela se manifesta na atual fase do gênero.
Uma nova onda
Bandas como Boogarins e O Terno bebem na fonte da Tropicália, de Novos Baianos e Mutantes; artistas e especialista comentam
Uma discreta renascença vem acontecendo no underground brasileiro. Puxada por bandas de rock tão diferentes – e, de alguma forma, parecidas – como os cariocas Supercordas (que, no fim de 2016, encerraram seu trabalho como grupo mas seguem em carreiras solos), os paulistanos d’O Terno e os goianos Boogarins, uma nova onda psicodélica vem se formando durante esta década que chega ao fim. Dialoga, assim, com uma tradição que remonta a mais de meio século de produção musical.
A definição deste gênero é um tanto ampla, uma vez que psicodelia não resume um certo tipo de instrumentação, um estilo musical ou uma natureza sonora específica. É claro que nasce do rock e de seu trio de instrumentos básicos – baixo, guitarra e bateria -, mas espalha-se por teclados, inclui música eletrônica, efeitos de pós-produção, noise e microfonia, diferentes formas de se cantar e até metais, madeiras e cordas.
Seu rótulo vem de um termo que nem à música está propriamente associado: o nome “psicodelia” foi cunhado pelo psicólogo inglês Humphry Osmond, que estudava drogas alucinógenas nos anos 50 e precisava de um nomenclatura para designar os efeitos de elementos químicos que alteravam a noção da percepção da realidade dos indivíduos que os utilizavam. Osmond recorreu à Grécia antiga e recuperou um termo que resumia a expressão oculta do cérebro humano, tornada pública através de tais substâncias – “psicodelia”, dizia o estudioso, “é o que a mente revela”.
O termo tornou-se popular à medida em que o uso daquelas drogas, ainda legalizadas, se expandia. Uma delas, a dietilamida do ácido lisérgico (mais conhecida pelo nome em alemão Lysergsäurediethylamid, depois reduzido à sigla LSD), tornou-se carro-chefe daquele novo movimento farmacêutico e psicólogo, liderado pelo acadêmico Timothy Leary, que aos poucos espalhava-se pela sociedade na década seguinte aos seus primeiros estudos.
À medida que experiências alucinógenas eram descritas por poetas, escritores e estudiosos, outros artistas começaram a fazer uso daquelas drogas e a expressar-se à luz daquela descoberta. Aquela nova onda de experimentações teria eco principalmente na música, quando bandas de rock em diferentes continentes começaram a explorar as fronteiras musicais do gênero. Grupos como os Beatles, Pink Floyd, Rolling Stones, Grateful Dead, Jimi Hendrix Experience, Jefferson Airplane, The Doors, Byrds e Love mudaram a paisagem musical dos anos 60.
No Brasil, o principal nome daquele período foi o grupo paulistano Mutantes, que aos poucos abriu as portas para uma nova safra de artistas que começaram a experimentar aquela nova forma de se fazer música – e não necessariamente através da utilização daquelas drogas, que começavam a ser proibidas pelos governos. A própria Tropicália tem influência psicodélica (especificamente do clássico dos Beatles neste gênero, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, de 1967), que espalhou-se pelos discos posteriores de artistas como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé.
Mas, além destes nomes de maior destaque, outros artistas ultra-alternativos – como Módulo 1000, A Bolha, Casa das Máquinas, Paulo Bagunça e a Tropa Maldita, Damião Experiença, Sidney Miller, Flaviola e o Bando do Sol, Os Baobás, Moto Perpétuo, A Barca do Sol, Veludo, O Bando, O Som Nosso de Cada Dia, Som Imaginário, Spectrum, Suely e Os Kantikus, Marconi Notaro, Guilherme Lamounier, Ave Sangria – ajudaram a reforçar a transformação nos anos 70.
No mesmo período, nomes como Egberto Gismonti, Luiz Carlos Vinhas, Arthur Verocai, Zé Ramalho, Pedro Santos, Marcos Valle, João Donato e até Jorge Ben Jor experimentaram aquela sonoridade, que também atingiu o grande público graças a artistas como Novos Baianos e Secos e Molhados.
Mas, a partir dos anos 70, a psicodelia brasileira tornou-se uma espécie de clube secreto, recebendo novos sócios à medida que eles lançavam discos que iam ao encontro das tendências musicais da época, como o grupo paulistano Violeta de Outono, nos anos 80, o porto-alegrense Júpiter Maçã, nos 90, e o maceioense Mopho, já nos 2000.
Líder do Violeta, o guitarrista e compositor Fabio Golfetti associa a psicodelia a uma fase de descobertas musicais na transição da adolescência à fase adulta. “A arte psicodélica está muito ligada a um lado místico e subjetivo, que sempre está em evidência”, afirma, lembrando que há também um desdobramento com a música tribal e eletrônica, que se mistura em grandes eventos por todo o mundo.
O século 21, principalmente por conta da volta dos discos de vinil e da cornucópia de MP3 que vinha pela internet, fez esta história ser redescoberta através de discos raros e esquecidos. “Creio que a conexão é total dessa garotada com o que tivemos de produção tropicalista, dos pernambucanos malucões e tal”, conta o jornalista Bento Araújo, autor de dois volumes sobre a discografia psicodélica brasileira, “Lindo Sonho Delirante: 100 discos psicodélicos do Brasil (1968-1975)” e “Lindo Sonho Delirante vol.2: 100 discos audaciosos do Brasil (1976-1985)”. “Hoje, qualquer moleque dessas bandas sabe quem foi Lula Côrtes. As referências são fortes.”
Assim, surge esta segunda onda psicodélica, quase meio século após a primeira, que reúne artistas tão diferentes – e de diversos lugares do Brasil – como os brasilienses Joe Silhueta, Almirante Shiva e Rios Voadores, os paulistas da Bike, Trupe Chá de Boldo, Rafael Castro, Garotas Suecas, Cérebro Eletrônico e Applegate, a capixaba My Magical Glowing Lens, os cariocas Tono, Castello Branco e Do Amor, os gaúchos Catavento, o pernambucano Tagore, os goianos Orquestra Abstrata e Luziluzia, além dos já citados Supercordas, Boogarins e O Terno. É uma cena musical dispersa e sem cidade de origem, mas que torna-se cada vez mais forte – além de reforçar a influência de cinquenta anos de experimentações sonoras no Brasil.
“Acho que há ondas de psicodelia na música brasileira, e algumas contribuições aparecem como que entre essas ondas, carregando uma chama daquilo numa fase não tão favorável”, descreve Pedro Bonifrate, líder do Supercordas. “A nova onda na certa é a mais rica, a meu ver. Meio que um portal que os Boogarins abriram e que encheu o ar de novos sons, novas bandas, e renovou a esperança de jovens artistas em fazer sua música ser ouvida por mais que um punhado de gente.”
Bonifrate mesmo acaba de anunciar seu próximo projeto ao lado do vocalista dos Boogarins, Dinho Almeida, uma dupla chamada Guaxe. Inevitavelmente psicodélica.
“A gente vem da onda do pessoal que teve mais facilidade pra se gravar e, a partir disso, começou a experimentar”, explica Dinho, que é guitarrista do Boogarins. “Eu já tinha banda, mas nunca tinha gravado minha banda antiga, aí eu conheci o Benke (Ferraz, outro guitarrista dos Boogarins), que já estava se gravando, de um jeito muito maluco, cheio de efeitos, que me lembrava de umas coisas que eu gostava, que faziam experimentações, como Júpiter Maçã e Mutantes. Acho que essa possibilidade de produções mais malucas dentro da música brasileira está acontecendo. Vários discos que não são psicodélicos têm sons bacanas e gente tentando experimentar. Essa é a maior força disso que chamam de nova psicodelia, o ponto mais positivo é essa onda de inovação e experimentação, independente de ser psicodélico ou não.”
Nessa sexta-feira acontece mais uma sessão Trabalho Sujo Apresenta na Unibes Cultural e é com imensa satisfação que anuncio o encontro de dois grandes nomes da geração sub-20 da cena musical de São Paulo: a inquieta Sophia Chablau, acompanhada de sua banda niilista Uma Enorme Perda de Tempo, recebe o doce Chico Bernardes em um encontro que pretende expandir as fronteiras da musicalidade dos dois artistas e explorar seus repertórios em outros formatos. O show começa às 20h, os ingressos estão sendo vendidos neste link e há mais informações sobre o evento aqui.
Filha de pais filipinos, a inglesa Bea Kristi, que atende pelo pseudônimo de Beabadoobee, já entrou em nossos corações ao dizer que queria ser o líder do Pavement em um single que carrega o nome do mestre Malkmus. Mas não basta citar o nome: o senso melódico, as guitarras relaxadas e uma letra evasiva sobre aquela fase da vida em que tudo parece não importar fazem “I Wish I Was Stephen Malkmus” puxar uma cadeira para que a jovem sente-se na mesa da Courtney Barnett.