Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

Cine Ensaio: Bacurau, Parasita e um tenso 2019

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Lá vou eu falar de cinema de novo: desta vez criei o Cine Ensaio, ao lado do compadre André Graciotti, em que discutiremos filmes de um ponto de vista mais amplo que sua própria história. E começamos falando do agora, reunindo Bacurau e Parasita para falar sobre como o tenso 2019 também se traduz em dois de seus principais filmes, traçando paralelos e pontos em comuns entre o filme brasileiro e coreano que vão além da catarse, da violência e do desejo de vingança em suas superfícies. A apresentação acontece na próxima quinta, dia 5, às 20h, na Unibes Cultural (do lado do metrô Sumaré), e também falaremos sobre outros filmes do ano que também traduzem estes sentimentos à tona, como Odisseia dos Tontos, Era Uma Vez em Hollywood e Coringa. Os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Cine Ensaio: Bacurau, Parasita e um tenso 2019
Cine Ensaio
5 de dezembro de 2019
Unibes Cultural
Rua Oscar Freire 2500
Ao lado do metrô Sumaré
(11) 3065-4333
R$ 20

E essa versão do Mercury Rev tocando “Planet Caravan”?

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Não conhecia essa versão da balada psicodélica “Planet Caravan” do Black Sabbath que o Mercury Rev gravou numa Peel Session em 2001.

Dica do Mumu.

Sophia Chablau: Tá Todo Mundo Doido

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Enorme satisfação de encerrar a temporada 2019 do Centro da Terra com o jovem grupo paulistano Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, que promove, nesta quarta-feira, dia 4 de dezembro, o happening Tá Todo Mundo Doido , às 20h (mais informações aqui). O acontecimento conta com as participações dos produtores Benjamim Sallum e Letricia e do trombonista e percussionista William Sprocati Tocalino (Teto Preto) e eu conversei com a Sophia sobre a possibilidade de tentar entender o que pode acontecer nesta noite.

Guilherme Kafé: Muitas, Muitas Casas

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Continuando a última semana de programação de música no Centro da Terra, é um prazer receber o guitarrista, cantor e compositor paulista Guilherme Kafé, que traz seu espetáculo Muitas, Muitas Casas para o palco do Sumaré nesta terça, dia 3 de dezembro de 2019 (mais informações aqui). Guilherme traz as músicas de seu primeiro disco solo, lançado neste ano, e terá as participações da cantora Flor e do músico e cantor François Muleka. Conversei com ele sobre esta apresentação.

Um papo com Karina Buhr

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Conversei com a cantora e compositora pernambucana Karina Buhr sobre o lançamento de seu novo álbum, Desmanche, em uma entrevista feita para a edição de novembro da revista da UBC – que pode ser conferida também no site deles.

Percussão protagonista

Em seu quarto álbum, Desmanche, a cantora e compositora Karina Buhr canta o peso dos tambores e da situação política no Brasil de 2019

Karina Buhr é sucinta quando pergunto quais as principais inspirações para seu quarto álbum, o recém-lançado Desmanche: “Os tambores e o Brasil”. A explicação vem da situação que nosso país vem passando, às trevas dos novos governos, e da velha paixão de Karina pela percussão, colocada em primeiro plano neste seu quarto álbum. “A ideia foi quebrar totalmente com o que vinha fazendo. Mudei completamente a formação da banda e o modo de gravar, foi uma ruptura”, explica.

Desmanche marca a volta da percussão como elemento central em sua composição.
Meu instrumento é o ritmo, todas as músicas que faço partem daí. Nos outros meus três discos solo os tambores foram tirados no momento dos arranjos, embora a ideia rítmica tenha sido mantida. Alguma coisa no espírito que ia pra um lado mais rock fazia isso acontecer naturalmente. Dessa vez resolvi mudar isso e não só manter as percussões nos arranjos finais, como trazer ela de volta comigo pro palco e tirar a bateria. A percussão sempre foi um elemento central nas minhas composições, mesmo não quando não estão aparentes.

Desmanche é um disco político em vários níveis, não apenas no sentido de um disco de protesto.
Sim, na poesia dele tem a violência do estado racista, o descaso com a moradia da população e o respeito ao chão embaixo dos pés. Em “A Casa Caiu” falo de movimentos por moradia e também do crime de Brumadinho, “Sangue Frio” fala da violência do Estado, “Temperos Destruidores” é sobre as das guerras do mundo “por tempero e deuses”, “Lama” fala da realidade de uma cidade, Recife, de festa e violência. Mas também tem um lado manso, que acho que é o ponto de sobrevivência, um banho num rio de uma outra dimensão, coração transposto e não um leito de rio, “Vida Boa é a do Atrasado” é leve, uma brincadeira, “Chão de Estrelas” fala de festa, tem um mistura de tensão e calma.

Qual o papel da cultura e da música especificamente para enfrentar o desmanche cultural que os atuais governos estão implementando no Brasil?
Acho que a música, qualquer tipo de arte tem o poder de levar a gente pra dentro, de tirar da realidade e ao mesmo tempo de dar forças pra enfrentá-la e também instigar as pessoas pra troca de ideia e pra ação. No momento em que pessoas estão juntas num show, falam sobre letras e músicas e filmes uma potência enorme é gerada e mudanças significativas acontecem. Por mais que isso por si só não resolva nada, mexe como mentes, com ideias, move as coisas. É difícil falar sobre isso no Brasil porque vivemos um apartheid e a música não tem como ficar fora desse contexto. Tem música que é considerada melhor, tem passinho e funk criminalizados, Rennan da Penha preso por fazer girar cultura, diversão e dinheiro na favela. É assunto que não cabe numa resposta de entrevista.

Resumindo a década em uma música

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Camilo Rocha e Guilherme Falcão, em seu podcast Escuta, do jornal Nexo, perguntaram para vários críticos e jornalistas qual canção resumia os anos 10 e eu fui um dos convidados, ao lado dos ilustres Daniel Ganjaman, Spartakus Santiago, GG Albuquerque e Amanda Cavalcanti. O programa pode ser ouvido abaixo:

https://soundcloud.com/escuta-nexo/19-a-musica-dos-anos-2010-parte-2-os-ritmos-da-mudanca

Participei da segunda parte do programa, a primeira contou com as participações de Iza, Sarah Oliveira, Guigo do Quebrada Queer, Ana Morena e Dani Ribas:

https://soundcloud.com/escuta-nexo/18-a-musica-dos-anos-2010-parte-1-hits-da-depressao

Marcelo Cabral: Motor

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Imensa satisfação receber mais uma vez Marcelo Cabral no palco do Centro da Terra neste fim de temporada 2019. O músico e compositor paulistano, que apresentou a temporada de improviso livre Influxo Cabralha em abril deste ano, ele volta ao teatro do Sumaré reinventando seu único disco solo Motor, lançado no ano passado e que só teve duas apresentações ao vivo, nesta segunda-feira, dia 2 de dezembro, acompanhado de ninguém menos que Juçara Marçal e o guitarrista Guilherme Held, além de ter colagens livres feitas ao vivo pela artista plástica Manuela Eichner (mais informações aqui). Conversei com ele sobre a expectativa deste novo trabalho, sobre sua volta ao Brasil depois de morar um ano em Berlim e dos próximos trabalhos.

A volta dos que foram

Pappon e Volta, em Maastricht. Holanda, 1994

Pappon e Volta, em Maastricht. Holanda, 1994

Ambos no hemifério norte, cada qual em um continente, Cadão Volpato e Thomas Pappon criam seu primeiro projeto conjunto pós-Fellini, batizado apenas com seus sobrenomes. Volpato & Pappon começou há cinco anos com Thomas, que já está em Londres há quase três décadas, brincando com samples e os dividindo com Cadão, que ainda morava em São Paulo, num processo parecido com o do disco mais recente do Fellini, Amanhã é Tarde, de 2002. De lá para cá, compuseram cinco canções e nesse meio tempo, Cadão mudou-se para Nova York, tornando a dupla central do clássico grupo indie paulistano ausente de seu país no momento mais bizarro de sua história. E é assim, exilados do Brasil, que lançam, nas plataformas digitais, seu primeiro EP, batizado ironicamente com o título de uma das faixas, “Eles Ressuscitarão”. Bati um papo com os dois por email sobre este novo projeto.

Como este Volpato & Pappon começou?
Cadão – Acho que foi em 2015. A ideia do Thomas era fazer algo diferente do Fellini, mais experimental.
Thomas – Há 4 anos, voltei a fazer música aqui em casa, em Londres, comecei a brincar com um sample do Quarteto em Cy. Achei que podia servir para algo tipo Fellini, e o Cadão topou fazer letra e voz. Ele estava em Sao Paulo. Mandei a música, ele fez a letra, gravou a voz num iPhone ouvindo a música no fone de ouvido, e me mandou a voz. Eu mixei, acrescentei umas coisas.
Cadão – Começamos com… “Dinheiro” – claro, tudo foi sempre uma mera questão de…. Ele me mandou a música, eu fiz a letra e gravei no celular. Mandei de volta e ele fez o trabalho todo. Simples assim.
Thomas – Fizemos quatro canções em quatro anos. Nesse ano, achei que estava na hora de lançar isso de algum jeito, e que, para um EP, precisávamos de mais uma música.
Cadão – Lembro que a sensação foi sempre mais ou menos a mesma ao receber as músicas ao longo dos anos – a última, “Tudo tem seu tempo”, chegou aqui em Nova York em maio de 2019, e foi a que mais demorou para sair – e é a de que gosto mais no momento -: espanto. O Thomas sempre me surpreende.
Thomas – Insisti com o Cadão, que nesse meio tempo se mudara para Nova York, para retomar uma musica que a gente havia abandonado. Assim, rolou ‘Tudo Tem Seu Tempo’. Et voilà.
Cadão – Acho que os arranjos que ele fez para as cinco músicas são notáveis, estão em outro patamar da evolução de um talento que sempre admirei muito. E ele também sabe ser engraçado e devotado à ideia, toques naturais do Fellini.

A composição remota inspirou a criação?
Thomas – Acho que sim. O ‘Amanhã é Tarde’ foi criado assim, funcionou bem. A diferença é que, naquela vez, o Cadão veio a Londres pra gravar as vozes aqui em casa. Dessa vez foi tudo remoto.
Cadão – Não a distância, mas a composição em si. Porque sempre foi assim: a música primeiro, depois a letra. A música dita o que ela quer – e às vezes ela é uma tirana. O importante é que o barato de compor em dupla continua intacto.

O fato de vocês serem brasileiros exilados deste Brasil do final dos anos 10 influenciou no projeto?
Thomas – Difícil ser categórico nessa resposta. Será que a distância influencia? No caso do Cadão, o ‘exílio’ foi recente. Eu estou há 28 anos fora do Brasil, mas tenho fortes laços emocionais e culturais com o país. E em música, tudo o que faço é pensado como MPB. É onde enquadro Fellini, The Gilbertos e Pappon & Volpato. Por outro lado, sim, os dois ouvem bandas e artistas de fora. O Cadão curte Patti Smith, Bob Dylan, adora os poetas beat – deve ter sido uma das razões para curtir a ideia de morar em Nova York. E tudo isso tá no EP.
Cadão – Bom, eu estou em Nova York há dez meses, o Thomas já perdeu a conta do tempo em que está na Europa. Mas para mim o tempo tem passado como um jato – “O tempo envelhece depressa”, segundo o Antonio Tabucchi. Minha impressão é de estar longe há anos. Então, acho que “exílio” pode ser um definidor, porque muita coisa ficou para trás, incluindo um país. Note que uma das músicas já fala de Nova York. Outra (“Dinheiro”), parece não ter um país. Outra (“Eles Ressuscitarão”), recorda velhos verões. Outra diz: “Eu sempre estive longe”. E assim por diante. Tudo é muito sincero, podes crer.

Há planos de fazer shows?
Cadão – Não me parece que eles ressuscitarão. No entanto, quem sabe o cara não vem a Nova York e a gente arruma alguma coisa aqui, na raça, como fizemos em 1990 – e como está na música “Nova York 90”? Amanhã nunca se sabe.
Thomas – Não pra tocar essas musicas, elas são meio ‘intocáveis’. Mas outro dia consideramos— e curtimos — a ideia de fazer um show numa livraria em Nova York, e outro num cafe aqui em Londres. Em duo: voz e violão. Tocando musicas do Fellini. O saco é ter de ir atrás para agitar essas coisas.

A benção, Seu Mateus Aleluia

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Em mais uma colaboração para a revista Trip, conversei com o mestre tincoã Mateus Aleluia às vésperas do lançamento de mais um álbum solo e de ter um documentário falando sobre sua trajetória (Aleluia – O Canto Infinito do Tincoã, previsto para dezembro), além de trazer em primeira mão o clipe da música “Confiança”, poema de Agostinho Neto, “o patrono da liberdade angolana, o primeiro presidente de Angola livre”, que ele mesmo musicou. Saca lá.

Outra da Grimes

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O disco novo da Grimes, Miss_Anthrop0cene, só sai no ano que vem, mas ela aproveita o fim de ano pra esquentar ainda mais as expectativas e lança mais um novo single, “My Name is Dark”:

É a melhor música do disco novo que ela mostrou até agora (além de “We Appreciate Power“, “Violence” e “So Heavy I Fell Through the Earth“). O mais curioso é que as músicas que ela mostrou até aqui não diferem tanto do seu trabalho anterior, que ela diz odiar atualmente. Vai entender…