Por Alexandre Matias - Jornalismo arte desde 1995.

A vida é feita de escolhas e tive que ficar com o Planet Hemp a ir ao Morumbi ver a primeira apresentação que Dua Lipa fez de sua nova turnê no Brasil. E perdi a oportunidade de vê-la cantando músicas da Timbalada ao lado de Carlinhos Brown e Caetano Veloso. Mas a passagem de Dua Lipa pelo Brasil está rendendo para além desta primeira apresentação e falo mais sobre isso em breve. Mas será que consigo vê-la no Rio sábado que vem? Quem poderá cantar com ela nesse show? Façam suas apostas! Eu aposto no Gil!
#dualipa #caetanoveloso #carlinhosbrown #timbalada #morumbi

Não foi brincadeira o que o Planet Hemp fez em seu show de despedida neste sábado, no estádio do Palmeiras. No mesmo ano em que celebram os 30 anos de seu disco de estreia, o grupo decide pendurar as chuteiras no maior show que fizeram em sua carreira e foi impressionante ver que o estádio lotar para compartilhar a Última Ponta (título do show) com eles. O show começou com vinte minutos de dados históricos que misturavam eventos da história recente do Brasil (da ditadura militar ao plano Collor), eventos ligados à maconha no país e a história do próprio Planet Hemp, que só aumentou a expectativa para o início do show, incendiada pelo grupo com “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Ex-Quadrilha da Fumaça”, “Fazendo a Cabeça” e “Raprockandrollpsicodeliahardcoreragga”, pesando a mão desde a introdução. E por mais que estejamos acostumados às presenças de Marcelo D2 e BNegão, vê-los juntos no palco ergue suas personalidades para um outro patamar – estamos vendo super-heróis, personagens de desenho animado e protagonistas históricos bem na nossa frente, com suas personalidades opostas e complementares. Isso aumenta ainda mais quando vemos quem são os músicos que estão ao redor deles – de Daniel Ganjaman nos teclados aos DJs Castro e Zégon, além do fundador Formigão e os jovens Planet Pedrinho e Nobru, é um supergrupo carismático no nível do Parliament/Funkadelic – tornando a noite ainda mais emotiva. Entre rodas gigantescas de pogo, celebração a grandes compadres de sua história (da casa de shows Garage a Chico Science) e densas nuvens de fumaça branca, a apresentação se estendeu por mais tempo que deveria – duas horas e meia de show é tempo pacas, ainda mais depois de mais de uma hora de BaianaSystem – mas veio com uma carga de emoção que até o fã mais enlouquecido da banda não estava preparado. E nem estou falando das participações de João Gordo (no bis), Seu Jorge (que tirou onda ao tocar flauta na instrumental “Biruta”), Emicida e Pitty (estes dois últimos vislumbrando eles mesmos fazer seus próprios shows em estádio), mas da presença-surpresa do próprio Mister Niterói, Gustavo Black Alien, que vem passando por uma má fase e por isso não esteve na turnê final do grupo. O anúncio da presença de Gustavo só não foi o melhor momento da noite porque logo em seguida o próprio começou a rimar, reforçando ainda mais o aspecto mitológico, uma vez que três dos principais MCs do Brasil estavam juntos no mesmo palco depois de tanto tempo. A vibração do sábado terminou tão alta que acho pouco provável que este seja mesmo o último show do grupo. Devem tirar um tempo pra descansar mas mostrando, nesse sábado, que o Brasil tem seu Rage Against the Machine pronto para entrar na briga. É só chamar.
#planethemp #allianzparque #trabalhosujo2025shows 265

A noite era do Planet Hemp, mas o BaianaSystem apavorou na abertura do show A Última Ponta, em que os veteranos rappers do Rio de Janeiro despediram-se dos palcos no sábado passado. Recém-chegado dos Estados Unidos com um Grammy Latino no bolso, o grupo baiano pisou no palco do estádio do Palmeiras como se fosse a atração principal. Num show multimídia com direito a banda completa – incluindo sopros -, o grupo não se intimidou com as dimensões gigantescas da noite e fez um show à altura, casando sua usina de som com imagens e palavras de ordem no telão da noite. E mais impressionante do que a química entre os músicos, sua intimidade com as multidões e o dínamo humano chamado Russo Passapusso (de onde esse cara consegue tirar tanta energia e carisma ao mesmo tempo?) foi a forma como casou imagens com músicas sem precisar enfileirar inúmeros dados ou informações verborrágicas sem deixar o público esquecer que está num show (viu Massive Attack?). Com participações especiais de ouro (BNegão, velho companheiro da banda desde os primórdios, esteve no início do show, que ainda contou com a presença fulminante do sagaz Vandall em “Ballah de Fogoh”), o grupo não teve dificuldades em domInar a plateia fazendo todo mundo chacoalhar sem parar alem de, o tempo todo, saudar a importância do Planet Hemp em sua história, usando o grupo como deixa pra um dos momentos mais bonitos e intensos da noite, quando, no meio de “Lucro (Descomprimido)”, Russo invocou a imortal “Cadê o Isqueiro?” de Mr. Catra convocando todos a erguerem suas tochas – mas não os celulares e sim os isqueiros – fazendo milhares de chamas amarelas surgirem no meio do público em vez das luzes brancas das telas de celular, tão comuns nos shows atualmente – e com elas a névoa branca. Foi o maior e mais intenso show do BaianaSystem que vi – e mostram que eles já estão prontos para uma nova fase. E não tocaram “Playsom”! Só vem!
#baianasystem #allianzparque #trabalhosujo2025shows 264

Já tem programa para este sábado? Pois pode incluir nossa deliciosa festa no Bubu, quando eu, Camila, Claudinho e Clarice transformamos o restaurante que fica na marquise do estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/nº) na nossa querida pistinha, com direito a hits de todas as épocas pra fazer todo mundo dançar sorrindo! E lembre-se que é uma festa de adulto, que tem hora pra começar (cedo, às 19h) e pra acabar (também cedo, meia-noite), pra que todos possam curtir o domingo numa boa. Vem dançar com a gente!

Mais um Inferninho Trabalho Sujo no Redoma com outro primeiro show de um artista iniciante. Dessa vez quem deu início à carreira autoral no palco do Bixiga foi a cantora e guitarrista Isadora Sartorato, que mostrou suas próprias canções pela primeira vez em público, misturando referências que vão do rock progressivo à música brasileira dos anos 70, passando por rock desse século e pela música pop. Um bom termômetro para a apresentação foram as versões alheias que ela trouxe pro show, que começou com uma Marina Lima pouco lembrada (a excelente “Gata Todo Dia”), um Radiohead ousado (“Jigsaw Falling Into Place”) e uma versão jazzy pra uma música da Anitta (“Meiga e Abusada”), fazendo todas casar com suas novíssimas canções.
Depois foi a vez da banda Devolta Ao Léu voltar ao palco do Redoma, com uma mudança considerável na formação, uma vez que seu guitarrista e seu baixista dessa vez eram os integrantes de outra banda que também já passou pelos nossos palcos, a Saravá. Na verdade a apresentação foi uma versão menor de um show que as duas bandas fazem coletivamente, que eles chamam de Saravéu, só que com ênfase nas canções do Devolta. Essas vêm com a voz maravilhosa de Bru Cecci, que além de tocar teclado também tocou guitarra por algumas músicas, trocando de instrumento com o guitarrista da Saravá, Joni Gomes, enquanto o baixista Roberth Nelson se enturmava absurdamente com Rafa Sarmento, o excelente baterista da Devolta. Eles ainda puderam fazer algumas músicas da Saravá, mostrando o dueto de vozes entre Joni e Bru, que deve estar no disco de estreia da banda, que esta sendo gravado. Showzão!
#inferninhotrabalhosujo #devoltaaoleu #isabellasartorato #redoma #noitestrabalhosujo #trabalhosujo2025shows 262 e 263

Vamos a mais uma edição do Inferninho Trabalho Sujo no Redoma e mais uma vez trago novíssimos artistas para o palco do Bixiga. A primeira delas é a banda Devolta ao Léu, formada por Bru Cecci (voz e teclado), Rafa Sarmento (bateria), Eduardo Rodrigues (guitarra) e Leo Bergamini (abaixo), que já tocou na festa e volta aos palcos do Inferninho misturando referências que vão do rock experimental à música brasileira, misturando referências que vão de Itamar Assumpção a Erasmo Carlos. A outra artista é uma estreia pra valer: embora a guitarrista Isabella Sartorato já tenha subido em alguns palcos, essa é a primeira vez em que sobe num para mostrar suas próprias canções, que misturam rock, música experimental, música pop e jazz fusion acompanhada de uma banda formada por Francisco Nogueira (baixo), Jampa (bateria) e Lucas Paulo (teclas). Antes, entre e depois das bandas eu ponho o som da noite. Os ingressos já estão à venda neste link.

“Quando os caminhos se confundem é necessário voltar ao começo”. Com um verso tirado da introdução de sua primeira mixtape Pra Quem Já Mordeu um Cachorro por Comida, até que Eu Cheguei Longe…, Emicida começa a preparar sua volta ao imaginário coletivo brasileiro – e chamou o compadre DJ Nyack para essa nova fase. Zerou seu Instagram deixando apenas fotos antiquíssimas com o DJ (uma de 2011, outra de 2014) antes de anunciar a mixtape Emicida Racional VL3 – As Aventuras de DJ Relíquia e LRX, em que os dois fazem mashups de faixas antigas do Emicida com clássicos dos Racionais MCs, apenas no Soundcloud, no Bandcamp, no YouTube ou pra download no site do Nyack. E assim, com seus respectivos pseudônimos (LRX sendo a sigla para Loco Revolucionário X, usado pelo próprio MC), os dois casam “Boa Esperança” com “Capítulo 4, Versículo 3”, “Levanta e Anda” com “Homem na Estrada”, “Papel, Caneta e Coração” com “Vida Loka pt. 1”, “Ooorra” com “Vida Loka pt. 2” e “Voz Ativa” com “Triunfo” (essa última invertida, com vocais dos Racionais sobre a base do Emicida, a mais fraca das cinco por sinal). É meio truque, mas funciona – algumas das cinco faixas têm sobrevida para além da mera novidade – e coloca Leandro como veterano do rap ao mesmo tempo em que prepara terreno para uma nova fase. Pode vir.

Muito bom reencontrar os irmãos Cavalera canalizando a energia que, triinta anos atrás, mudou a história da música pesada antes do show do Massive Attack na quinta passada. Muitos questionaram o fato do próprio grupo inglês ter escolhido Max e Iggor Cavalera para abrir sua única apresentação em São Paulo, mas como viu-se no show do Massive Attack logo em seguida, o impacto do volume alto – cossanguíneo do metal dos irmãos mineiros – foi uma das tônicas da noite. Acompanhados de Igor Amadeus (o filho de Max cujo batimento cardíaco ainda no útero abre o disco homenageado no show, o fundamental Chaos A.D., de 1993) no baixo e Travis Stone na guitarra solo, os Cavalera mostraram porque são uma instituição do metal mundial – e, como disse ao início, é bom revê-los juntos fazendo o que sabem melhor: Iggor descendo o braço metronomicamente como um dos maiores bateristas do gênero e Max transbordando carisma gritado, incendiando o público com um vocal absurdamente intacto, em seus clássicos “Refuse/Resist”, “Slave New World”, “Biotech is Godzilla”, “Propaganda”, “Territory” e “Manifest”. Infelizmente o show foi encurtado devido a um atraso da produção, o que nos privou de ouvir a versão do grupo pra “Sympton of the Universe” do Black Sabbath, que eles vêm tocando nesse show, mas ao menos pudemos ouvir “Roots Bloody Roots”, do disco seguinte do grupo, de 1996, pra fechar o repertório no talo.
#chaosad #cavaleraconspiracy #sepultura #maxcavalera #iggorcavalera #trabalhosujo2025shows 260

Há pouco mais de um mês a dupla Magdalena Bay vem conduzindo um interessante experimento pop, lançando, quase semanalmente, duas músicas novas. Nessa sexta-feira eles chegam com mais duas (a doce “This Is The World (I Made It For You)” e a etérea “Nice Day”) que se juntam ao conjunto de seis músicas que lançaram há pouco tempo (pra quem não tá anotando, “Black-Eyed Susan Climb”, “Unoriginal”, “Paint Me A Picture”, “Human Happens”, “Second Sleep” e “Star Eyes”). Com oito músicas eles já têm um EP tranquilamente, talvez até um álbum, mas falta da um título comum que entrelace essas canções para além da estética visual, enunciada no clipe de “Second Sleep” e seguida nas artes de cada uma das músicas. Mas precisa ser uma obra conjunta? É uma fase de transição? Sobras do disco passado ou prenúncios de um novo álbum? Lançando músicas com pouco intervalo de tempo, os dois encontram uma forma esperta de manterem-se em público sem necessariamente estarem fazendo shows ou alimentando as redes sociais. É um bom teste sobre como mostrar um novo trabalho para seu público e tentar ampliá-lo sem precisar realizar um grande evento, como a expectativa do lançamento de um novo álbum ou nova turnê. O mais importante é que as músicas são boas e vasculham novos aspectos do universo musical da banda – elas são o centro dessa discussão, não há truque, gracinha ou sacada pra vender o que eles sabem e gostam de fazer.

Luiza Lian e Bixiga 70 retomam a parceria que iniciaram no final da década passada, quando colaboraram num single conjunto que seria o prefácio do disco que a cantora paulistana lançaria no ano seguinte, caso a pandemia não tivesse adiado seu ótimo 7 Estrelas | Quem Arrancou o Céu? por três anos. Os dois artistas voltam a se reencontrar em momentos completamente distintos, mas reconectando-se num show conjunto a partir do single “Alumiô”, que faz parte da programação do aniversário de 120 anos da Pinacoteca de São Paulo. O show acontece neste domingo, às 16h, no Parque da Luz (que, por sua vez, completa 200 anos!), e é de graça! Mais informações aqui.